A Little Help escrita por giuguadagnini


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Eu nem sei como começar as notas desse capítulo.
Desapareci por um baita tempo e nunca mais dei as caras por aqui!
GENTE, MIL DESCULPAS!!!
Eu fui fazer intercâmbio de três semanas na Inglaterra nas férias de julho e, desde que cheguei, nunca mais tive tempo pra nada a não ser estudar feito uma condenada para recuperar todos os dias que eu perdi de aula.
Mas graças a Deus, hoje peguei meu boletim e passei de trimestre! HEEEEEEEY :DDD
Desculpem por não avisar antes da viagem que eu ia ficar fora por um tempo, eu me desorganizei muito e acabou que nem deu de deixar um aviso aqui :/
Enfim, para os que estão afim de saber de A Little Help e não dos meus problemas, hahaha, eu mais uma vez fiz um capítulo grandão, então estou pensando em dividi-lo em dois de tamanhos mais razoáveis.
Pois bem, a novidade é que eles não são do ponto de vista do Nott, e sim de outros personagens. Ainda é da noite da festa, e eu achei legal passar para vocês o que eles estavam sentindo.
Bom, vou deixar vocês lerem. Acho que ficou bem emocionante, ainda mais se vocês lerem escutando as músicas.
Então é isso, meus amados. Desculpa por todo esse transtorno, juro que vou tentar melhorar daqui pra frente.
Boa leitura :DDD



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POV Gina Weasley

[California King Bed – Rihanna]

Eu só precisava chegar em casa. Só isso.

Só mais algumas muitas quadras, queridinha – cantarolou minha consciência, insuportável como sempre.

Ugh. Se pelo menos eu pudesse andar mais rápido ou talvez me teletransportar como em um desses filmes de ficção, minha vida seria tão mais fácil... Eu já havia perdido a conta de quantas vezes tinha me desequilibrado em cima destes malditos sapatos de salto, o que não melhorava em nada o fato de eu já estar me sentindo patética.

“Acho que alguém está ficando de pernas bambas” – a voz de Nott me veio à cabeça, causando ao mesmo tempo uma conhecida queimação no estômago.

Idiota.

Idiota, idiota, idiota.

Juro que ainda conseguia senti-lo me abraçando e respirando de encontro ao meu pescoço mesmo a quatro quadras de distância da casa de Hermione.

Odiei minha memória por estar repassando cada momento com tanta intensidade a cada segundo. Raiva era o que eu estava sentindo, ou pelo menos era o que eu queria sentir, já que nunca soube lidar com qualquer tipo de tristeza.

Senti meu rosto molhado na região abaixo dos olhos e forcei-me a andar mais rápido. Eu só precisava chegar em casa. Rápido.

A rua estava escura, silenciosa, aparentemente vazia. Bom, nada de estranho, afinal era isso que se esperava de uma rua quando se era quase quatro da manhã.

Ao virar uma esquina, um arrepio percorreu minha espinha. No fim da rua, um grupo de garotos com suas motos riam alto, aparentemente mais bêbados que eu. Parei de andar imediatamente, pensando que seria uma péssima ideia passar por eles sozinha, com um vestido curto e sem nenhuma proteção. Quando já ia dar meia volta, um deles pareceu me notar, pois gritou:

– Ei gatinha, o que você tá fazendo aí sozinha?

Estremeci. O grupo de garotos deu risadas e assovios.

– Vem fazer companhia pra gente, princesa! – gritou outro, que foi rapidamente apoiado pelos amigos.

Apenas ignore. Continue andando. Mude de rua. Não dê ouvidos. DÊ O FORA DAÍ!

– Vai se fazer de surda, docinho? – um garoto moreno tomou a frente. – Não tem problema, não. Nós gostamos de garotas difíceis!

– E de ruivas também! – gritou um loiro, piscando um dos olhos.

Dei meia volta, completamente assustada. Andei o mais rápido que pude, tentando ao máximo desaparecer na escuridão.

Respire, não entre em pânico.

Um barulho muito alto de motor de moto roncando foi tudo o que eu consegui ouvir antes que o grupo de garotos me cercasse. Parei abruptamente, meu sangue parecia ter congelado nas veias.

– Tá fugindo da gente, princesa? – o moreno desceu da moto, me analisando de cima a baixo.

– Me deixem em paz – foi tudo o que eu consegui dizer, e me surpreendi por minha voz ter saído sem tremer.

– Mas a gente não tá fazendo nada – disse o loiro, também se aproximando. – Ainda.

Todos no grupo riram, o que me deixou ainda mais assombrada. Agora que estavam mais perto, eu conseguia contar quantos garotos eram. Um grupo de seis motoqueiros contra uma garota de vestido e salto alto... eu estava pra lá de encrencada.

– Andou chorando, é? – um deles tentou tocar meu rosto, mas desviei do jeito que pude. – Me diz quem foi que borrou sua maquiagem.

– Pode ter certeza que a gente não vai te fazer chorar – um garoto de touca lambeu os lábios, fixando o olhar nas minhas pernas.

– Eu não estava chorando – eu puxei meu braço quando um deles tentou pegá-lo.

– Você mente muito mal, gatinha – o moreno se aproximou, ficando a minha frente. – Quer ir a um lugar legal?

– Não, obrigada – eu fui seca e grossa, tentando abrir passagem entre o moreno e o loiro. – Eu só quero ir pra casa.

– A gente te deixa em casa – falou o de touca, me fazendo recuar. – É só subir na minha moto.

Os seis foram me cercando cada vez mais, me mantendo presa pelo meio. Todos tinham sorrisos maliciosos nos lábios, seus olhos brilhavam de um jeito quase sombrio.

Pronto, vou ser estuprada e morta por um grupo de motoqueiros, foi o que eu pensei. Ninguém nunca mais vai saber de mim e...

– Ei! – alguém de fora gritou. – Deixem ela em paz!

Batendo a porta de um carro com força, Draco foi vindo em direção ao grupo. Jesus, o que Draco Malfoy estava fazendo aqui?

– E quem é você? – o moreno peitou Draco, esse que o peitou de volta.

– Alguém que vai quebrar a tua cara se você ousar tocar na minha namorada! – Draco o empurrou para o lado, conseguindo abrir caminho para segurar meu braço.

MINHA NAMORADA? Que negócio é esse? Esse garoto pirou?

– Olha só, que moleque abusado – o moreno disse em falsete. – Tá afim de briga, é?

Comecei a empurrar Draco para trás, para a direção do carro.

– Vamos embora.

– E você vai sair assim, sem nenhum soquinho, fracote? – o garoto de touca provocou Draco, que nesse momento havia trancado o passo no chão, me impedindo de empurrá-lo para o carro.

Draco sorriu de um jeito irônico, pronto para comprar a briga.

– Não seja burro – eu sussurrei no seu ouvido, tentando empurrá-lo novamente. – São seis contra um.

– Eles fizeram alguma coisa contigo? – Draco quis saber, discreto.

– E no que isso importa? – eu respondi do mesmo jeito. - Vamos embora!

– Eles fizeram? – Draco não saiu do lugar. Sua voz foi tão firme que deu medo até em mim.

– Não, não fizeram. Só agiram feito babacas.

Draco ficou apenas encarando os seis garotos. Alguma coisa me dizia que ele não acreditava totalmente em mim.

– O que você tá olhando, moleque? – um dos garotos avançou em Draco, que me segurou atrás das suas costas. – Perdeu alguma coisa na minha cara?

Draco riu.

– Na verdade, eu perdi sim.

– Ah é? – o garoto franziu as sobrancelhas, lançando um olhar quase psicopata para Draco. – E o que foi que você perdeu, mariquinha?

– O meu punho – e dizendo isso, Draco socou o maxilar do garoto, que cambaleou para trás quase que imediatamente.

Todos os garotos começaram a se armar para a briga, fechando as mãos em punhos e trincando os dentes.

– Entra no carro – Draco ordenou.

– Mas... – eu tentei rebater.

– Entra. Na. Porra. Do. Carro – disse ele, pausando a cada ponto.

Fazendo a volta por trás, eu entrei no banco do carona. Os seis garotos cercaram Draco que, por algum motivo idiota, estava sorrindo.

– Manda ver – disse ele, estalando o pescoço em um gesto rápido.

Comecei a me desesperar mais e mais. Draco podia ser forte, mas aqueles garotos também eram. E o pior, eles eram seis. SEIS!

Dois dos motoqueiros avançaram para cima de Draco ao mesmo tempo. Draco desviou para o lado e os dois garotos acabaram se chocando um com o outro, acertando seus socos na pessoa errada.

Foi a vez do moreno. Ele encarou Draco por um momento e então lhe acertou uma cotovelada na boca. Draco, mexendo o maxilar de um jeito esquisito, foi pra cima dele, dando-lhe dois socos, um no queixo e outro na altura das costelas. O moreno caiu, gemendo de dor.

Os três garotos restantes não hesitaram em partir para cima de Draco, todos juntos. O loiro tentou dar-lhe uma rasteira, mas Draco não caiu. Pelo contrário, ele o empurrou para cima do outro garoto com um chute na altura do diafragma.

Comecei a ficar quase descontrolada dentro do carro. Todo meu corpo estava tenso, retesado. Minha mão estava fechada de um jeito tão forte que minhas unhas já haviam marcado a palma, quase fazendo um buraco em meia lua.

Só restava o garoto de touca. Draco desviou de um soco certeiro no estômago, mas não conseguiu evitar um no nariz. O garoto da touca riu, mas foi surpreendido por um soco na orelha e um chute no meio das pernas.

O garoto de touca caiu no chão, mas todos os outros já estavam se preparando para um novo round. Draco deu uma recuada, os garotos pareciam cada vez mais putos da cara.

Foi então que o som de uma sirene de polícia soou ao longe, talvez a apenas algumas quadras de distância. Comecei a ficar aliviada, vendo um pouco de desespero estampado no rosto dos motoqueiros, mas então me dei conta de que eu e Draco também estaríamos encrencados. Menores de idade, bêbados e dirigindo um carro.

Merda.

– Vamos dar o fora – disse o garoto moreno, puxando o de touca pela gola da jaqueta.

– Mas...

– Eu não quero me envolver com a polícia de novo, Jake, e acho que você também não!

Então o garoto de touca se chamava Jake. De qualquer jeito, ele e os outros cinco logo trataram de arrancar com as motos dali, desaparecendo feito fumaça no final da rua.

Draco entrou no carro e fechou a porta atrás de si mesmo com um baque rápido. Ele respirou fundo e acabou se engasgando.

– Seu nariz está sangrando – eu o avisei, levantando seu queixo um pouco mais do que o normal.

– Droga – ele fechou os olhos com força, os abriu e ficou olhando para baixo, como que tentando enxergar o próprio sangue. – Acho que tem uma camisa no banco de trás. Você consegue pegar?

Olhei para trás, tentando enxergar qualquer coisa em meio a escuridão do carro, e vi alguma coisa amassada em um canto. Devia ser a tal da camisa. Esticando o braço e me apoiando um pouco no braço de Draco, consegui pesca-la com a ponta dos dedos.

– Pegou? – perguntou Draco.

– Peguei – dobrei a camisa do jeito mais confortável que pude e encostei com cuidado no nariz dele. – Incline a cabeça para trás, vai estancar mais fácil.

– Nah, dá tudo na mesma – ele tirou a camisa da minha mão e ficou segurando por si próprio.

– Por que você tem que ser sempre tão teimoso? – eu voltei a inclinar sua cabeça para trás. – Você não precisava brigar com aqueles caras!

– Shiu, fica quieta – Draco falou baixinho, arregalando um pouco os olhos.

Naquele momento eu escutei novamente a sirene da polícia. Desta vez parecia vir mais de perto, talvez estivesse a poucos metros do carro de Draco.

– Vem aqui – ele me puxou para perto do nada, o que me fez arregalar os olhos também.

– O que você está fazendo? – eu tentei me distanciar, mas Draco não deixou.

– Aparências, Weasley. O que você acha que o policial vai pensar quando passar por aqui e vir meu caro estacionado no meio do nada?

– O que? – eu ainda não havia entendido. Draco bufou.

– Para todos os efeitos, somos um casal muito apaixonado. Policiais não pedem para casais apaixonados pararem o que estão fazendo, e não fazem o teste para ver se estamos bêbados... Tá dando pra entender?

– Tá – eu disse contrariada, ainda meio lerda. – Mas você não precisa ficar tão em cima de mim.

– Aguenta um pouco, tenho certeza de que não está sendo nenhum sacrifício – falou Draco, irônico.

A sirene foi ficando cada vez mais alta, Draco manteve-se onde estava. Eu nunca havia ficado tão perto dele antes, nunca sequer imaginei que um dia eu estaria no carro dele, depois de ele ter enfrentado seis motoqueiros só para me tirar de uma fria, vendo seu rosto manchado de sangue.

– Você está com a maior cara de pavor – disse ele para mim, um sorriso estava contido no canto dos seus lábios. – Tenta sorrir um pouco, os policiais tem de pensar que você está se divertindo.

Forcei um sorriso, mas ele não durou nem meio segundo. Draco, fazendo uma cara de “nossa, quanto esforço, menina” começou a me fazer cócegas.

– Para Draco! – minha voz saiu risonha, quase tão risonha quanto uma Lilá da vida quando pensa que meu irmão é o namorado mais fiel do mundo.

– Isso, continua – Draco assentiu com a cabeça, não parando de mexer seus dedos na minha barriga.

Ri, porque era isso que eu estava sendo forçada a fazer, mesmo de uma maneira divertida. Comecei a fazer cócegas nele também, que se contorcia de um lado para o outro tentando fazer com que eu parasse.

O carro da polícia passou pelo carro de Draco bem devagar, como que checando para ver se não havia nada de errado. Draco fixou seu olhar no meu, um olhar cúmplice. De repente, o olhar se tornou urgente.

– Eles não podem ver meu nariz sangrando – ele apenas movimentou os lábios, não emitindo som algum.

– Me abraça – foi o que me veio à mente. – Esconda seu rosto.

Draco hesitou por um momento, franzindo as sobrancelhas.

– Anda logo, eles estão olhando – eu o puxei pelo pescoço para cima de mim, não dando nem tempo para o garoto pensar uma segunda vez.

Draco ajeitou como pôde os seus braços ao meu redor, sempre cuidando para não me apertar de mais. Foi um abraço estranho, quase frio. Nós dois estávamos tensos, duros, quase congelados.

A sirene foi ficando mais baixa, indicando que o carro da polícia se afastava. Com o canto dos olhos eu podia ver as luzes azuis e vermelhas em cima do carro irem desaparecendo na escuridão.

Por algum motivo engraçado, Draco ainda não havia me largado, assim como eu não havia me afastado dele também. Quando eu tomei a iniciativa, ele pareceu se lembrar de que tinha de sair de cima de mim também, o que o deixou um pouco envergonhado.

– Certo – disse ele, girando a chave na ignição. – Vou te levar pra casa.

– - -


[Fix you – Coldplay]

Draco estacionou o carro em frente a minha casa com uma freada para lá de desnecessária.

– Desculpe – disse ele, levando a mão ao nariz. – Ai, que merda.

– Tudo bem, um pouco de inércia não mata ninguém.

– Inércia? – ele sorriu ao mesmo tempo em que disfarçava uma careta de dor.

– É, aquela Lei de Newton que diz que todo corpo que está em movimento tende a permanecer em movimento, assim como todo o corpo que está em repouso tende a permanecer em repou...

– Por que você está cuspindo física em cima de mim às quatro da manhã? – Draco deu aquele sorriso afetado.

Foquei meu olhar para baixo, ficando claramente sem graça. Draco tossiu e, quando voltei a olhar para ele, seu nariz estava sangrando bastante.

– Antes que você tenha uma hemorragia, não quer entrar um pouco e tentar estancar isso?

– Nah, agora isso já para – disse ele, fazendo pouco caso.

– Draco, ele podia ter quebrado seu nariz...

– Mas não quebrou... eu espero.

– Mas podia. – eu frisei, o que o fez olhar para mim de um jeito mais sério. – Anda, vem comigo. Vamos colocar um pouco de gelo nisso antes que seu nariz fique do tamanho de uma batata.

Como ele continuou se fazendo de teimoso, arranquei a chave da ignição e saltei para fora do carro.

– Gina! – Draco veio atrás de mim, meio derrotado.

– Eu não vou deixar que você chegue na casa da Hermione todo sujo de sangue, Draco. Já devem estar preocupados por você ter sumido do nada, imagina quando te virem desse jeito!

Ele, todo contrariado, me seguiu até a porta. Com todo o cuidado do mundo, tentei abrir sem fazer barulho, o que deu certo, pelo menos até o momento em que Draco tropeçou no tapete de entrada.

– Shiiiiu!

– Desculpe – ele sussurrou de um jeito forte.

– Sussurre mais baixo! – eu o puxei para dentro, de modo que ele veio praticamente trotando até mim. – Essa é a moral de sussurrar, serve para que os outros não te escutem! Meus pais estão dormindo lá em cima.

– Foi mal – disse ele mais baixo e mais pausado, quase como se houvesse um ponto final entre o foi e o mal.

– Venha, vamos para a cozinha – eu comecei a guia-lo pelo pulso, torcendo mentalmente para que ele não confundisse minha sala de estar com um caminho cheio de obstáculos.

Felizmente, Draco sentou à mesa da cozinha sem mais problemas. Andei até o freezer e comecei a procurar pelas fôrmas de gelo, mas adivinhe minha cara quando às encontrei vazias, ainda dentro do congelador? Ah, isso sempre me tirava do sério. Será que era trabalho demais recolocar água antes de guardar?

Olhei para o balcão e encontrei dois copos com um restinho mínimo de bebida, com toda certeza alcoólica. Harry e Rony com certeza estiveram bebendo aqui antes de ir pra casa de Hermione. Eu podia sentir um cheiro quase dissipado de whisky.

Mas isso era dar bandeira demais, não acha? Com meus pais em casa, os dois foram esquecer logo de colocar os copos na pia? Não que meus pais já não soubessem que esses dois bebiam – até porque isso seria coisa de gente que quer se enganar -, mas minha mãe sempre foi crítica em relação ao álcool, fora que ela sempre considerou Harry uma pessoa que não faz esse tipo de coisa. Contraditório, ela se enganou completamente.

Bom, pelo menos a garrafa aqueles dois levaram para não deixar suspeitas maiores.

– Algum problema? – perguntou Draco, me dando um susto. Juro, eu já tinha até esquecido de que ele estava ali.

– Ahn, não... – eu disfarcei, desviando o olhar para ele. – Por quê?

– Bom, você está na frente desse freezer tem uns dois minutos e, se não tem uma passagem secreta para Nárnia aí dentro, eu não sei exatamente o que você está fazendo aí parada até agora.

E de novo, eu fiquei sem graça. Esse garoto devia achar que eu era maluca. Olhei para o freezer e lembrei que as fôrmas de gelo estavam vazias. Droga. Eu teria de improvisar.

– Mas o que é isso? – Draco segurou o pacote de ervilhas congeladas que eu havia jogado para ele.

– Ah, é só um presentinho que a Feiticeira Branca, de Nárnia, mandou para você colocar no seu nariz – eu quase podia tocar no exagero de ironia que saiu da minha boca.

– Fala sério – ele ficou encarando o pacote de ervilhas e, então, derrotado, vendo que eu estava mesmo falando sério, encostou de leve no nariz.

– Inclina a cabeça para trás – disse eu. -, se não isso nunca vai parar de sangrar.

– Tá bom, mãe – disse ele, recostando a cabeça na parede à contra gosto.

Ok, essa já era a terceira vez que ele fazia piadinhas comigo, mas decidi não revidar. Se eu estava em segurança, na minha casa, era tudo porque ele chegou na hora certa pra me tirar de uma enorme enrascada.

– Quer café? – perguntei.

Fiquei tão entretida preparando a coisa toda, colocando água na cafeteira, procurando duas canecas e o açucareiro que mal notei que ele não havia respondido.

Olhei-o meio que disfarçadamente, com medo de que tivesse dormido, mas ele só estava quieto – estranhamente quieto -, com uma expressão contida nos olhos. O pacote de ervilhas congeladas já não estava mais sobre seu nariz, ele apenas o segurava entre as duas mãos como qualquer pessoa teria feito.

Quando ia perguntar se estava tudo bem, se estava se sentindo tonto ou qualquer coisa assim, o café ficou pronto. Dividi o líquido fumegante entre duas canecas grandes, uma vermelha e outra azul clara.

– Vai querer açúcar ou...?

– Meus pais estão se separando.

Olhei para ele, paralisada. Os cubos de açúcar deslizaram entre meus dedos e caíram na minha caneca, fazendo um bloop nada discreto.

Eu não estava esperando por isso. Com toda certeza, não. Para se ter uma ideia, eu não sabia nem o que dizer, muito menos como deveria agir.

Draco fixou seu olhar no chão. Ele não parecia nada bem. Nada, nada bem. Será que ele estava guardando isso pra si mesmo há muito tempo? Será que estava realmente explodindo a ponto de contar pra mim – logo para mim – algo tão pessoal?

Decidi não tomar nenhuma decisão imediata, escolhi o silêncio, ao que Draco respondeu do mesmo jeito, pelo menos por um tempo. Coloquei alguns cubos de açúcar na sua caneca e a levei até a mesa, deixando-a na sua frente. Sentei na cadeira mais próxima à dele, ainda pensando no que deveria dizer.

– Estou fodido – disse ele, do nada, quando eu levava minha caneca à boca.

– Não é culpa sua – eu devolvi o café à mesa, sem tomar um gole sequer.

– Minha família é feita de aparências, Gina. Querendo ou não, mesmo que eu não tenha nada a ver com isso, a maior parte da culpa cai sobre mim, porque eu sou “o neutro” naquele campo de batalha que eu chamo de casa.

Eu segurei sua mão, que estava sobre a mesa. Ele ficou tenso, mas não recusou o toque.

– Não é sua culpa – eu apertei seus dedos, tentando transmitir conforto. – Não importa o que eles te façam acreditar, Draco, não é sua culpa.

Ele abaixou a cabeça, quase encostando o queixo ao peito. Sua respiração começou a ficar irregular, como se ele estivesse com dificuldade para colocar o ar para dentro e para fora.

– Meu pai mal para em casa e, quando para, sempre arranja um motivo para sair. Ele briga com a minha mãe por qualquer motivo besta, só para ter uma desculpa para ir embora sempre que quiser. Acho que ele anda tendo algum caso com outra mulher, sei lá. E isso me dá tanta raiva.

Ficamos em silêncio por um momento, ele respirando com dificuldade e eu absorvendo aquilo tudo. Jamais pensaria que tudo isso estava acontecendo com esse garoto, nunca sequer pensaria que os Malfoy tinham problemas familiares. Eles sempre pareciam perfeitos quando apareciam nas revistas na parte das festas mais famosas da cidade, sempre deram a impressão de que tinham a vida perfeita, o filho perfeito e a casa perfeita.

– Já tem muito tempo que isso acontece? – perguntei, arrastando a xícara de café para o centro da mesa para poder me aproximar dele, que continuava contendo soluços.

– Uns oito meses, eu acho – disse ele, passando a mão pelo cabelo de um jeito meio desesperado. – E pode durar por mais oito, e mais oito e mais oito se tudo seguir do mesmo jeito. E eu só... eu só estou cansado de não me sentir bem na minha própria casa.

E com isso, ele perdeu a batalha contra a qual estava lutando até agora. Uma lágrima escapou de seus olhos, marcando seu rosto como uma gota de chuva escorrendo pelo vidro da janela.

Eu nunca havia visto Draco chorando, nunca na minha vida inteira. Ele sempre era o irônico, o sarcástico, o que usava de tudo para fazer piadas, e não o garoto que escondia tudo o que estava acontecendo para se fazer de bem na frente dos amigos.

– E... – ele soluçou forte, tentando conter outra lágrima. – E hoje, quando eu estava saindo para comprar as bebidas para a festa, ele não estava lá de novo, mas minha mãe estava. Eu sei que ele passou a tarde toda no escritório dele, nos ignorando completamente, e depois de discutir com a minha mãe, ele saiu. Eu já me acostumei de escutar as brigas deles do meu quarto, então nunca desço para assistir de perto, até porque é sempre do mesmo jeito: eles discutem, meu pai arranja desculpas, faz minha mãe se sentir um lixo e depois vai embora.

Draco parou por um momento para respirar fundo e, então, continuou.

– E aí, quando eu finalmente desci, lá pelas seis da tarde, pronto para sair e comprar as coisas para a festa, encontrei minha mãe na cozinha, colocando maquiagem sobre um roxão em seu rosto.

Arregalei os olhos, prendendo a respiração por um segundo. Isso chegava a ser inacreditável de tão absurdo. Não parecia ser verdade.

– E eu fiquei me perguntando, quantas vezes ela já havia feito isso sem eu ao menos perceber. Eu nunca notei, Gina. Meu pai bate na minha mãe! Eu deveria ter notado. Eu devia!

Draco deixou a postura de lado e seus ombros deram uma caída, só deixando mais claro como ele estava frágil.

– Draco... – eu nem sabia o que dizer depois de isso tudo.

Foi então que ele se permitiu chorar, chorar de verdade na minha frente. Ele não aguentava mais reprimir todo aquele sentimento ruim, todo aquele peso de ser sempre o forte em todas as situações.

Levantei da cadeira e parei a sua frente. Meus olhos já estavam marejados. Tudo aquilo havia me deixado chocada. Ele levantou o rosto para me olhar, seus lábios tremiam levemente. Estendi a mão, esperando que ele segurasse. Ele demorou, mas acabou segurando. O fiz ficar de pé e o abracei, porque era isso que faziam comigo quando eu chorava quando era pequena. Draco também me abraçou, mas não foi um abraço estranho como o do carro, foi um abraço forte e cheio de mágoas. Draco tremia seu peito de encontro ao meu, soluçando forte perto do meu pescoço.

– D-Desculpa – gaguejou ele, do nada. – Eu não devia ter te feito ouvir tudo isso.

– Não peça desculpas. Não é bom ficar guardando isso pra si mesmo. Você acaba explodindo depois.

– E eu explodi em cima de você – ele se afastou do abraço devagar.

– Você não explodiu comigo, só esvaziou um pouco do peso que estava te matando.

– Pelo tempo que estou guardando isso, eu já deveria estar morto.

Sentei no chão da cozinha, esperando que ele fizesse o mesmo.

– E você nunca falou com o Blaise eu com o Nott sobre isso?

– Eu não conseguia – confessou ele, juntando-se a mim no chão. – Não é o tipo de conversa que nós temos, sabe. O Blaise e o Nott, na maioria das vezes, só falam merda. Não que eu não fale também, mas eu tenho vergonha. Eles não parecem ter muitos problemas em casa e já se acostumaram a me ver desse jeito também.

– E a Hermione? – eu perguntei, o que o fez sorrir um pouquinho.

– Eu gosto dela – disse Draco. – E é exatamente por isso que eu não contei. Não quero enche-la com meus problemas. Ainda nem somos namorados, não dá pra contar ainda.

– E quando você vai a pedir em namoro? – eu o cutuquei, o que fez o rir um pouquinho.

– Logo, eu acho – ele olhou para baixo, envergonhado. – Ela me faz bem, mesmo que a gente viva se provocando. As coisas sempre foram assim entre nós dois, desde o primário.

Eu ri, Draco me acompanhou.

– E você e o Nott? – questionou ele, o que fez meu estômago dar uma cambalhota.

– O que tem? – eu tentei disfarçar.

– Eu sei que ele fez merda – Draco me olhou como se pudesse enxergar minha alma.

– E como sabe disso?

– Sei porque ele desceu as escadas feito um verdadeiro desesperado atrás de você, dizendo que precisava te achar. Eu te vi saindo mais cedo, e nada faria o Nott chorar se não você.

Agora meu estômago havia feito um duplo mortal carpado.

– Ele chorou?

– Feito um bebê – Draco me deu um sorriso sincero.

Fiquei em silêncio por um tempo, apenas pensando em tudo o que tinha acontecido nos últimos dez minutos. Draco havia se aberto comigo e ainda tentava resolver meus problemas com o Nott. O que ele estava fazendo? Confiando em mim?

– Por que está me falando tudo isso? – indaguei, voltando a olhá-lo.

Ele retribuiu o olhar.

– Porque eu sinto que você não me vê como uma pessoa perfeita. De algum modo, eu acho que manter imagem na sua frente não funciona.

Fiquei quieta, novamente sem saber o que falar.

– E quanto ao Nott, eu falei àquilo para que você não vá logo pegando raiva dele para sempre só porque ele tentou avançar o sinal contigo. Sei que “ele estava bêbado” não é desculpa suficiente, mas tente entende-lo. Ele é um garoto.

– Grande coisa, que ele é um garoto – eu comecei a me irritar, mas Draco me cortou.

– Ele era um garoto que costumava transar pelo menos uma vez por semana, fosse com quem fosse – Draco lembrou-me. – E ele mudou, e mudou por você.

Agora eu que estava com vontade de chorar. De novo.

– Eu sei que você está com raiva dele agora, mas acredite em mim, ele está se esforçando muito contigo. Ele errou tentando forçar a barra? Sim, ele errou. Mas quem é que não erra?

– Isso é diferente, Draco. – eu tive de me impor. – Eu não estou pronta pra esse tipo de coisa, e foi mais que apavorante quando ele se mostrou a fim de continuar mesmo que eu tivesse dito não. Eu perdi a confiança nele ali, sabe. Quebrou tudo.

– Não exagere – Draco segurou minha mão. – Eu sei que você gosta dele, e eu sei que ele também gosta de você, e se vocês têm isso, vocês podem consertar tudo o que vier a quebrar. Só não deixe a raiva te cegar por muito tempo. Ele está destruído. Teria te seguido sem camisa pela rua se eu não tivesse impedido.

– Você tem razão – disse eu e uma esperança tomou os olhos de Draco. – Eu estou com raiva.

A tal esperança dele murchou, mas ele esboçou um sorriso.

– Nenhuma raiva dura pra sempre, principalmente se um dia ela já foi amor.

Aquela frase ficou na minha cabeça, quase como se tivesse um ponto de eco bem no meio da minha cozinha. Todas aquelas palavras entravam e entravam pelos meus ouvidos, forçando-me a acreditar nelas.

Eu deveria acreditar?

– Acho que somos amigos agora – Draco segurou minha mão. – Você devia acreditar em mim.

Fiquei em silêncio, apenas pensando. Quando ia responder um “tudo bem”, uma voz irrompeu atrás de nós dois.

– Gina?

Minha mãe estava parada na porta da cozinha com um roupão florido e o cabelo ruivo bagunçado. Draco soltou minha mão e nós dois levantamos como raios, rápidos e culpados.

– Ouvi um barulho aqui em baixo, pensei que fosse algum ladrão – minha mãe cruzou os braços em um gesto de frio e nos olhou com carinho. Draco estava branco de susto. – Você não ia dormir na casa da Hermione hoje, filha?

– Ia, mas a gente brigou – eu inventei, esperando que Draco seguisse a deixa.

– Aí eu a trouxe pra casa – disse o loiro, dando um sorriso curto.

– Brigaram? – minha mãe parecia horrorizada. – Por quê?

– Ahn... a gente só se desentendeu – eu tentei acalmá-la. – Nada demais.

Então nós três ficamos pairando por um silêncio muito incômodo. Minha mãe olhava para Draco, Draco olhava para minha mãe e depois para mim e eu tentava fazer com que os dois parassem de fazer aquilo.

– Vocês estão com fome? – perguntou minha mãe, vendo que Draco estava para lá de desconfortável.

Por que será que minha mãe sempre oferecia algo para comer quando a situação ficava estranha?

– Ah, não, não – respondeu Draco, ficando sem graça. – Na verdade, eu tenho que ir. Está um pouco tarde.

Ri, porque o “pouco tarde” de Draco significava cinco horas da manhã.

– Eu te levo até a porta – eu fui empurrando-o para fora da cozinha.

– Ahn, boa noite Sra. Weasley – Draco acenou e me acompanhou até a porta.

– Que cagaço! – ele riu, colocando a mão na nuca.

– Imagine só se fosse o meu pai – eu ri junto, e então notamos que estávamos fazendo barulho demais.

– Shhhhh – nós fizemos juntos um para o outro, o que acabou provocando mais risadas no final.

Draco se despediu de mim com um “tchau, tenho que ir” e seguiu até o carro. O hilário foi que ele ficou parado na frente dele, apenas mexendo nos bolsos das calças.

– Você ficou com a minha chave! – ele gritou.

Já esperando por isso, eu já havia as pegado assim que passamos pelo hall de entrada, então só as arremessei para ele. Draco as pegou no ar e acenou para mim de dentro do carro, dando um último “até mais”.

Voltei para dentro me sentindo um pouco melhor, afinal, aquilo havia sido engraçado. Quando cheguei à cozinha, minha mãe estava com o pacote de ervilhas congeladas nas mãos.

– Como isso veio parar aqui? – ela indagava sozinha.

– Não tenho a menor ideia – eu respondi, pegando minha xícara de café. – Deve ser coisa do Rony.

Minha mãe sorriu, balançando a cabeça de um lado para o outro.

– É impressão minha ou eu atrapalhei alguma coisa? – ela me olhou inquisitivamente ao mesmo tempo em que sorria.

– Claro que não! – eu gritei.

– Shhhh, seu pai está dormindo! – disse ela, voltando a guardar as ervilhas no congelador.

Bebi meu café e coloquei o de Draco na pia.

– Tem certeza? – minha mãe insistiu.

– Tenho mãe – eu ri baixinho, imaginando como seria esquisito ter qualquer coisa além de amizade com Draco. – Ele é só meu amigo. E além do mais, ele namora a Hermione.

Minha mãe me encarou com alívio no rosto.

– Ah sim, ainda bem. Eu prefiro muito mais seu outro amigo, aquele que veio aqui há um tempo e disse que mergulhou a cabeça na fonte do parque.

Sorri, me lembrando daquele dia. Eu e Nott éramos só amigos naquela época.

– Ele sim combina com você! – disse minha mãe, apontando um dedo para mim. – E além do mais, acho que ele foi o único que aceitou um pedaço da minha torta até agora!

Ri, vendo como minha mãe pensava nas coisas. Um sentimento me preencheu naquele momento: saudade. Dei boa noite para minha mãe e subi para o meu quarto. Me aprontei para dormir e, quando deitei, fiquei observando meu celular.

Novamente fui até meus contatos e fiquei olhando para a foto dele, intitulada como “O cara mais lindo do universo”.

Eu queria ligar, mas ainda estava com um pouco de raiva. Apaguei a luz do abajur e esperei que Draco estivesse certo.

“Nenhuma raiva dura pra sempre, principalmente se um dia ela já foi amor.”



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Notas finais do capítulo

O que acharam? Seria isso o início de uma grande amizade? E essa Molly, coisa mais linda, lembrando do Nott? AAAAWN *-*
E então? Perdi o talento em ficar sem escrever por todo esse tempo?
Me digam o que acharam, eu estou precisando de um pouco de motivação! hahaha
Já já eu posto mais um. Adivinhem de quem será o ponto de vista dessa vez?
HMMMMMMM
Ah, nem adianta fazer muito mistério, acho que está bastante óbvio >< .
Bom, isso é tudo para o capítulo 23! Vejo vocês no próximo, amores.
Beijão ♥
P.S. Me deixem um review, estou com saudades de vocês!!!
P.S.S. Sorry pela montagem meeeega malfeita :p



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