23 de Dezembro de 2013. Faltavam dois dias para o natal. Aquela época do ano de novo, época de família, de união, me perguntava como seria o natal de Thalia esse ano. Eu tinha acordado cedo, hoje seria o funeral de Zeus. Minha amiga estava acabada, nem tivera tempo de dar um último abraço no pai. O que pensava ter sido apenas mais uma briga, acabou em tragédia.

O acidente ocorreu de manhã. Quando Zeus percebeu que sua filha não tinha dormido em casa, deduziu na hora que ela estaria na casa do namorado, e foi buscá-la. No caminho, um carro que vinha na contra mão, perdeu o controle e o pegou em cheio. Não restou nada da Mercedez que ele dirigia, e o corpo estava quase irreconhecível. Segundo o que Thalia tinha me dito, o caixão vinha lacrado.

Percy e eu passamos boa parte da noite com ela, viemos embora quando era quase 4h, que foi o horário que Thalia conseguiu adormecer. Nós dois também fomos pegos de surpresa. Parecia ser mentira, parecia que amanhã, quando eu fosse na casa de minha amiga, Zeus estaria lá, lendo seu jornal e tomando café. Mas ambos sabíamos que isso não aconteceria.

Fiquei pronta as 9h, e esperei Percy vir me buscar. Meu pai estava em casa também, e estava desolado. Parecia perdido, não conseguia acreditar nisso. Ele e minha mãe estavam conversando na sala enquanto eu comia alguma coisa na cozinha, Fiz questão de ir de preto. Uma blusa de manga longa, calça escura e meus All Stars. Não demorou muito até que eu escutasse a campainha tocar. Ouvi a porta abrir e meu pai dizer.

– Ela está na cozinha, entre.

Fui para a sala e avistei Percy também todo de preto, com um buquê de flores nas mãos. Seus olhos pareciam tão cansados quanto os meus. Corri até ele e lhe dei um abraço. Meu pai estava perto, então não arriscaria lhe dar um beijo.

– Vocês já vão? - meu pai perguntou tentando segurar as lágrimas.

– Sim, vamos ficar com Thalia. - respondi.

– Certo, mais tarde... eu apareço por lá. - ele me disse e voltou a se sentar no sofá com a minha mãe.

Me sentia horrível por ver meu pai naquele estado. Ele estava triste, afinal Zeus era seu amigo, e não tinha nada que pudessemos fazer para mudar isso. Percy segurou minha mão e fomos até seu carro. Estava frio, então eu achei melhor pegar um casaco. A neve já não caia mais, mas se encontrava por todo chão. Entrei no carro e fechei a porta. Percy fez o mesmo.

– Não dá pra acreditar. - ele me disse.

– Pegou todo mundo de surpresa. - eu disse tentando não chorar.

Percy, notando que eu não estava muito bem, chegou mais perto e me deu um beijo no rosto.

Eu tinha tanto medo. Aquele acidente me fez pensar. E se algo assim acontecesse a mim? Ou até a Percy? Numa hora você está lá. com seus amigos, rindo, e no outro, por um erro dos outros, já não se encontra mais entre os vivos. Poderia ter sido meu pai. Ele sempre viaja deste jeito. Não quis nem pensar naquela possibilidade. Senti um arrepio estranho. Percy ainda me encarava. Fiquei feliz por ele estar ali, ao meu lado.

Alisei seu rosto com a mão e o beijei. Ele se surpreendeu um pouco, mas me beijou também. Ele podia não ser a pessoa mais romântica do mundo, mas eu sabia que sempre estaria ao meu lado. Eu o amava, e sabia que ele me amava também. Apesar de quase nunca Percy demonstrar isso com palavras, eu podia notar por seus gestos. Apesar da tristeza daquele dia, pelo menos eu o tinha por perto.

Parei o beijo e olhei em seus olhos. Eles estavam um pouco marejados, assim como os meus também deviam estar. Sorri e lhe dei um selinho.

– É melhor nós irmos. - eu disse esfregando os olhos.

– Sim, vamos. Thalia precisa de nós.

Concordei e ele ligou o carro.

Fomos rumo ao cemitério local. Logo eu avistei Thalia aos prantos nos braços de Jason, que também parecia muito nervoso. Percy estacionou o carro e saímos para encontrá-los. Ao me ver, minha amiga correu até mim, me dando um abraço apertado, ela chorava muito. Acabei chorando junto. Não conseguia ver ninguém chorando sem em emocionar junto.

– Annie... ele se foi... é tudo minha culpa... - Thalia me dizia entre soluços.

– Calma, Thalia... não fale desse jeito... - tentei me mostrar calma, mas não tive sucesso, eu também mal conseguia falar.

Senti que mais alguém tinha nos abraçado. Olhei para o lado e me deparei com um par de olhos verdes, que agora estavam vermelhos de tanto chorar.

– Não tenho mais ninguém... Primeiro minha mãe, e agora... - minha amiga disse novamente, mas não conseguiu terminar.

– Você tem a gente, Thalia. Eu, Annabeth, Nico, Jason... nunca estará sozinha. - Percy disse enquanto nos abraçava.

Eu admirava muito sua capacidade de falar, mesmo em momentos como aqueles, de extrema tensão. Continuamos abraçados por um tempo, até que Thalia finalmente se acalmou. Ela estava com os olhos muito vermelhos, e com olheiras fundas na parte inferior dos olhos. Provavelmente não dormira nada.

– Eu o amava, sinto tanto por não ter dito isso antes... - ela me disse voltando a chorar.

– Ele sabia, Thalia, mesmo você não dizendo, ele sabia. E tenho certeza que ele te ama também. - lhe disse sentindo as lágrimas voltarem.

Ela me lançou um sorriso forçado e eu segurei sua mão. Escutei um choro que vinha de trás de mim. Me virei e fiquei surpresa ao ver Hera quase se acabando de chorar em cima do caixão onde estava o corpo. Apesar de nunca ter gostado dela, fiquei mal ao vê-la tão triste. Jason estava ao lado de Piper, que também o consolava como podia.

O enterro foi bem triste. Fiquei o tempo todo segurando a mão de minha amiga. Eu sabia que ela precisava de mim naquele momento. Porque amigo de verdade é isso, é estar ao seu lado em todos os momentos, desde o mais alegre até o mais triste. Ele pode saber de todos os seus defeitos e mesmo assim te amar incondicionalmente. É saber o que se passa dentro de você sem que você precise dizer uma palavra sequer. É nunca te abandonar. E eu nunca abandonaria Thalia.

O caixão foi enterrado debaixo de muitas lágrimas. Meu pai estava de óculos escuros, ele pensou que talvez assim poderia esconder suas lágrimas, mas ele estava enganado. Fiquei feliz ao vê-lo ao lado de minha mãe, Dominique nem sequer deu as caras. Eu sempre tivera esperança de vê-los juntos novamente.

Depois do enterro e de todas as declarações de carinho, perguntei para Thalia se ela queria ficar em casa, mas ela insistiu em ficar com Jason e Hera, todos estavam muito abalados.

– Tem certeza, amiga? Você sabe que pode ficar em casa, se quiser. - eu disse.

– Tenho sim, Annie. Vou ficar com meu irmão e Hera hoje, mas mesmo assim obrigada.

Dizendo isso, ela me deu um último abraço. Depois foi a vez de Percy abraçá-la.

– Sabe o meu número e o número da Annie, qualquer coisa, é só ligar. - ele lhe disse.

Thalia apenas forçou um sorriso e foi encontrar seu irmão. Percy me abraçou por trás, ele devia ter percebido que aquele enterro tinha mexido comigo. Ficamos um tempo assim, só abraçados, sentindo o vento bater em nossos rostos. Algumas lágrimas escaparam, mas eu consegui limpar todas.

– Filha, vou levar seu pai para casa e talvez fique um pouco por lá, você vem também? - a voz de minha mãe interrompeu meus pensamentos.

Me virei para ela e notei que ela e meu pai estavam de mãos dadas. Naquele momento, torci para que Dominique não estivesse em casa.

– Eu vou depois, mãe. Vou dar uma volta com Percy e esfriar minha cabeça. - eu disse tentando disfarçar minha alegria.

Atena me deu um leve sorriso e foi com meu pai para o carro. Olhei para Percy e ele tinha um sorriso dicertido nos lábios.

– Acha que eles podem se acertar? - lhe perguntei.

– Tudo é possível quando se trata de Frederick e Atena.- ele me disse rindo - Mas então, para onde quer ir?

Pensei por um minuto, mas fui interrompida pelo barulho de meu estômago roncando. Percy deu risada e me disse:

– Vem, vamos para minha casa, minha mãe provavelmente fez um almoço delicioso.

Deu risada também. Não poderia recusar um almoço feito por Sally. Concordei e nós fomos. E Percy estava certo. Ao chegar lá, Sally estava assando um frango, o cheiro vez com que meu estômago revirasse. Me perguntei, enquanto almoçava, se ela sabia que Percy e eu tínhamos nos acertado.

– Seu pai foi no enterro, Annabeth? - Sally me perguntou.

Terminei de mastigar a comida que estava em minha boca e repsondi:

– Sim, mas ele não estava muito bem, minha mãe o levou para casa. - dizendo isso, olhei para Percy com um sorriso maroto. Sally pareceu entender do que se tratava.

– Torço para que eles se acertem. Aliás, não só eles.

Percy se engasgou com o suco quando sua mão disse isso. Senti que meu rosto tinha corado. Me foquei na comida para não demonstrar o quanto nervosa eu estava. Sally apenas deu risada com aquela cena.

Depois daquele constrangedor almoço, Percy e eu fomos para seu quarto conversar um pouco. Era um quarto muito organizado para um menino. Era melhor até do que o meu. Me sentei em sua cama e vi um livro em cima do criado-mudo.O peguei e não fiquei muito surpresa.

– Harry Potter e o Cálice de Fogo, de novo? - lhe perguntei rindo.

Ele tomou o livro de minhas mãos e o guardou na estante.

– Claro, ler é bom. - ele disse envolvendo minha cintura.

Não perdi tempo, envolvi seu pescoço e o beijei. Pude sentir a urgência de seus lábios. Percy então parou de me beijar e olhou no fundo de meus olhos.

– Annie, aquilo que você disse ontem... sobre querer que eu fosse o seu primeiro... é verdade? - ele me perguntou corando um pouco.

Senti que também estava vermelha.

– É sim, Percy. - respondi constrangida.

– E... você está pronta? - ele perguntou segurando minha mão.

Não consegui responder. Afinal, eu ainda não sabia se estava pronta ou não. Seria com ele, disso eu tinha certeza, só não sabia ao certo quando. Desviei meus olhos dos de Percy e encarei o chão. Ele então tocou meu queixo e fez com que eu erguesse minha cabeça, para olhá-lo nos olhos novamente.

– Eu vou esperar o seu tempo Annie, saiba disso. - Percy disse, fazendo com que um sorriso se abrisse em meu lábios.

Ficamos o resto da tarde jogando video game. E Percy é muito bom, pelo menos melhor do que eu ele é. Comemos cupcakes azuis e namoramos um pouco. Ele me contou que pretendia contar para sua mãe sobre nós dois esta noite, mas tinha certeza que, de alguma forma, Sally já sabia disso. Passei a tarde em sua casa, e me esqueci completamente de minha mãe. Mas torcia para que ela estivesse se divertindo tanto quanto eu.

Por volta das 8h, Percy me levou para casa. Fiquei surpresa ao ver que ela estava vazia. Subi para meu quarto e tomei um banho quente, coloquei meu moletom velho e fui para a sala assistir alguma coisa. Mas, para variar, não tinha nada de bom para assistir. Desliguei a TV mas continuei deitada no sofá. Mandei uma mensagem de boa noite para Thalia e esperei que ela respondesse. Eu estava cansada, meus olhos estavam pesados. Quando estava quase pegando num sono, escutei barulho de porta abrindo. Me levantei num pulo e dei de cara com Atena, minha mãe, toda descabelada, com os saltos em sua mão e com um sorriso bobo no rosto.

– Mãe? - eu disse. Ela deu um pulo ao me ver.

– Annabeth?

– Mãe!

– Annabeth!

Ficamos nos encarando por um tempo. Ela me olhava assustada e eu a olhava curiosa. Tinha uma ideia de onde ela poderia ter ido e voltado daquele jeito.

– Sem perguntas. - ela me disse apenas e subiu para seu quarto.

Comecei a dar risada sozinha. Parece que sua noite tinha sido muito proveitosa. Apesar da perda de Zeus, hoje tinha sido um dia muito bom. Minha mãe que o diga.