Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 16
Brincando de gato e rato




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– Você está todo molhado. – Erick disse, assim que Maxxcy entrou no Salão que o rapaz ocupava com a princesa – Estava chovendo lá embaixo?

– Não, eu que resolvi tomar banho vestido mesmo. – ironizou o moreno, ainda apertando os cabelos molhados, tentando retirar deles o excesso d'água. Erick riu do mau-humor do outro enquanto Nihany levantou-se com uma toalha, pronta a ajudar aquele que amava, secando seus cabelos e expondo seu pescoço nu. Maxxcy era o único ser daquele castelo (com exceção dos que estavam presos nas estufas) que não usava o Colar da Vida, a maldita coleira que cada ser vivo aprisionado ali portava. O símbolo de Era que tornava todos ali uma posse de sua Rainha.

Tocou o próprio colar, sentindo-o frio. Diferente de todos os outros, o seu não parecia pulsar, nem desprender calor. Estava tão morto quanto seu coração.

Cap 15 – Brincando de gato e rato

– Eu não acredito que dormi com você de novo. – Draco resmungou, tentando levantar-se de novo, sem sucesso, pois Chikage ainda agarrava seu moletom com força, o rosto ainda escondido no peito do loiro – Ei, meu braço está dormente, Chikage, acorda. Ai, eu não acredito nisso! – disse o loiro, jogando a cabeça no travesseiro e fitando o teto de sua cama.

Que situação doida era aquela na qual tinha se metido, de novo?

Passou a mão pelo rosto, jogando a franja para trás, não querendo imaginar que bela cena era aquela na qual tinha se enfiado. Por que trouxera o japonês para a sua cama mesmo? Devia era tê-lo deixado na sala!

Olhou para baixo, observando a massa de cabelos castanhos que se espalhava por seu peito, as pontas repicadas dos cabelos longos faziam cocegas suaves em seu pescoço e apesar de não poder reclamar do peso de Chikage, a ideia de ter o amigo dormindo com a cabeça em seu peito era quase desconfortável.

– Chikage, acorda. – ele repetiu, dessa vez sem se mexer. Que horas seriam? Será que alguém já tinha acordado? Felizmente hoje era sábado e eles não tinham aula. Tentou esticar o braço dormente, em vão – Você me põe em cada uma. – reclamou, mas Chikage continuou apagado e no fim, Draco desistiu.

Uma hora ele acordaria, não?

Nem percebeu quando pegou no sono novamente, os dedos enrolados nas madeixas castanhas do oriental.

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O corredor estava vazio.

Era como se todos os alunos estivessem nas aulas, mas se todos estavam nas salas porque ele estava ali, andando sozinho?

Deu uma meia-volta em torno de si mesmo, olhando para trás. Nada. Nem mesmo os quadros se moviam, nenhum fantasma passava, nem as escadas se mexiam. Voltou a andar e o barulho leve de seus passos pareciam ecoar no corredor. Era uma sensação estranha. Muitas vezes andara sozinho pelo castelo a noite, completamente oculto pela capa da invisibilidade, invisível para todos, mais de uma vez cruzou os corredores desertos de alunos, mas nunca o fizera durante o dia. Nunca o fizera sem temer os passos de alguém, de Filch ou de Madame Nora, sem temer Pirraça. Agora ansiava por sons, mas não ouvia nada, por mais que aguçasse os ouvidos.

Desceu escadas, espiou salas de aula, salas vazias, corredores menores, contudo não encontrou nada nem ninguém. Tanto a Enfermaria como o Salão Principal, desertos. Chamou Dobby, e nada aconteceu.

Coçou a cabeça e girou o corpo pela enésima vez. A luz das janelas refletiam nas pedras, tapeçarias e quadros imóveis, parecia um cenário de filme. Onde estava todo mundo? Não era como se quase mil alunos pudessem sumir do nada! Pensou em subir para a Torre da Grifinória, mas suas pernas estavam cansadas. Sentia-se como se tivesse caminhando por horas e cada passo mais parecia ser um enorme esforço. Seu corpo estava pesado. Caminhou lentamente em direção as mesas das Casas, sentando na posição contrária, com as pernas para fora da mesa, os olhos passando distraídos demais pelas mesas vazias do Salão. Mesmo nos natais mais vazios que passara ali (nunca esqueceria que eram em exatamente 13 pessoas no natal de seu terceiro ano. Professoar Trelawney deixara a data inesquecível!) nunca vira antes aquelas mesas tão abandonadas.

Cansado, apoiou os cotovelos na mesa e inclinou a coluna para trás, esticando o corpo dolorido. Admirou o céu refletido no teto mágico vislumbrando um entardecer bonito. Havia algo de muito triste em ver um entardecer daqueles sozinho.

Acertou a coluna, voltando a posição ereta, apertando os olhos para reparar um detalhe antes despercebido. As mesas tinham uma fina camada de pó. Não a vira antes! Olhou para os braços, para a mesa na qual os apoiara, para as mãos levemente sujas, para a camada meio brilhante agora que a luz do sol entrava pelas janelas e a iluminava. Olhou para o chão e percebeu a mesma camada fina. Torceu o pescoço para os lados mais uma vez, agora dominado por uma sensação de abandono. Não estava simplesmente sozinho, estava sozinho num lugar que claramente havia sido abandonado por todos há pouco tempo. Quis levantar-se num pulo, mas seu corpo cansado protestou e ele voltou a inclinar-se para trás com um suspiro.

Onde estavam todos era a pergunta que ressoava em sua mente, o que havia acontecido e por que ele estava ali sozinho?

São coisas da guerra. Mesmo os mais seguros fortes caem. E todos fogem. E as pessoas ficam sozinhas, sozinhas para lutar por elas mesmas. Para morrer sozinhas.

Harry deu um pulo na cadeira, os olhos arregalados com o susto. Ele conhecia aquela voz e conhecia o dono dela, mas sua reação ao perceber o fato foi tirar os óculos e esfregar os olhos, tentando se livrar da alucinação. Recolocou os óculos e voltou a encarar o rapaz loiro em pé a sua frente, há mais de duas mesas de distância. Havia algo de diferente nele...

Malfoy, o que faz aqui? O que aconteceu? – perguntou desconfiado. Desconfiado de seus próprios olhos e sentidos.

Sempre desinformado de tudo. Mesmo quando tudo envolve você. – ele disse, virando a cabeça para o lado, fitando as portas de entrada, então continuou, sem olhar para o moreno – Nas guerras não se frequentam escolas, frequentam-se exércitos. As pessoas lutam, Potter, não importando sua idade. São soldados jovens demais. Você passou um ano tentando informar a todos que havia uma guerra do lado de fora desses muros. Conseguiu. E todos fugiram. Dumbledore está velho e você é novo demais. O segredo da guerra é atacar o ponto seguro das pessoas. Hogwarts foi esse lugar por anos, e durante toda a guerra passada. Acha que não seria o primeiro lugar a ruir? O palco da nova batalha? É bem clichê, na verdade. Aqui começa a vida de muitos bruxos, aqui começou a vida daquela que iniciou essa guerra, aqui tudo acaba.

Então porque ainda estamos aqui?

Por que você é o herói do mundo bruxo, Potter. – e agora os olhos de Malfoy finalmente o encaravam – É natural que fique para lutar. E como os grandes heróis acabe sozinho num canto quando deixar de ter valor.

O que quer dizer?

Seu valor está em vencer, Harry. – e agora sua voz também mudara, estava um tom mais baixa – Uma vez que vença... as pessoas te apoiam. Te idolatram. Morrem por você. Mas quando se vence... você perde seu valor. E se sair um dedinho da linha, se escolher o que elas não aceitam... acaba sozinho. É bem simples, na verdade.

Harry queria retrucar, e teria o feito se sua boca não estivesse pateticamente aberta e sua voz sumida. Balançou a cabeça numa negativa, tentando ordenar os pensamentos. Ele estava sozinho. E Malfoy falava coisas lógicas demais. Mas havia alguma coisa ali muito errada. Ergueu o olhar, encarando o loiro. Ele estava com o corpo reto, mas seus ombros estavam caídos. Eles parecia abalado. Não parecia o mesmo de sempre. A franja caia nos olhos. E eram nos olhos que estavam a maior diferença. Havia um brilho ali. Um brilho antigo que ele nunca notara.

Por que você está aqui? – conseguiu enfim perguntar.

Por que será...? – o loiro devolveu e Harry olhou ao redor novamente, procurando pelos amigos. Sabia que eles estariam ali, Rony e Hermione nunca o abandonariam, nunca o deixariam sozinho, nunca o faziam, por mais que ele dissesse que resolveria tudo sozinho, os dois o seguiam. Eles não o teriam abandonado. Não havia como Malfoy estar ali e não os dois.

Por que você está aqui? – insistiu, agora mais nervoso. Onde estavam Rony e Hermione?

Eu sempre estive aqui, Harry. – o loiro disse então e sua voz estava quase sumida, tanto que o grifinório duvidou ter mesmo ouvido-a – De uma forma ou de outra, eu sempre estive aqui. Perto e longe. Sempre. Você é que nunca me viu.

Harry pulou na cama, acordando assustado, sem saber que acordava junto com Chikage, que abria os olhos sonolentos e observava em volta, tentado localizar-se, pois não se lembrava de ter ido para a cama. Harry afastava os cabelos dos olhos e ofegava, assustado com as sensações que o sonho já quase esquecido despertava no mesmo momento no qual Chikage sentava na cama e esfregava os olhos, tentando acordar. Sua mente tentando lembrar quando fora a última vez que dormira tão pesado sem tomar a poção do sono, sem sucesso. E enquanto Rony batia nos ombros de Harry e perguntava o que acontecera, Draco ria dos cabelos desarrumados do japonês ainda pouco desperto. Chikage não sabia quando Draco acordara e Rony não sabia como consolar Harry, mas os dois sabiam sorrir e dizer bom dia ou que estava tudo bem. E enquanto Harry sorria aliviado pela presença sempre constante do amigo, Draco sentia as bochechas corarem e desviara o olhar, comentando, sem jeito, que Chikage falava ao dormir.

E como Rony, Draco também não sabia reproduzir as palavras ditas pelo amigo no sono, mas sabia que eram parte importante do quebra-cabeça que era a situação que os envolvia, palavras importantes cujo significado desconheciam, mas traduziam perfeitamente as últimas ações de ambos. Fosse essa dormir no colo do amigo ou xingar um certo loiro que conseguira se tornar, literalmente, seu pesadelo.

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Chikage espreguiçou-se sentindo o ar frio que entrava pela janela. Não via a hora da primavera chegar! Adorava ver a vida voltando, as flores surgindo e o calor suave do sol. Eram coisas simples, mas depois de passar três anos vivendo numa terra morta, tinham adquirido outro significado.

Pela janela, via alguns alunos jogando quadribol e outros poucos brincando na neve, mas não via a aluna que procurava.

"Vai ver, ela está no Salão Comunal da sua casa" – pensou. Talvez devesse deixar para falar com ela no dia seguinte, não é como se tivesse algo urgente para dizer. Virou-se, pronto para descer até a cozinha quando a viu um andar abaixo, sozinha.

Sorriu e dirigiu-se a escada mais próxima, pulando os degraus e caindo na frente dela de um jeito suave, assustando-a.

– Céus, Chikage! De onde você surgiu?! – Hermione reclamou e, diferente do que o oriental esperava, ela ficou zangada – Devia parar de aparecer assim do nada. Um dia vai matar um do coração.

– Gomen, gomen [1]. É que queria te entregar uma coisa e fiquei com medo de perdê-la de vista.

– Hm... e não podia esperar?

– Ah, para que perder tempo, não? Aqui está, achei que gostaria disso. – Chikage disse, estendendo a mão e entregando a garota um livro novo.

– Obrigada. – ela disse, sem se surpreender. Quase sempre ganhava livros (e gostava disso), o único quê de inesperado nisso fora o autor do presente. Virou-o, lendo o título da capa – "Olhos azuis"?

– É, conhece?

– Não. Nunca ouvi falar.

– É um romance. Foi um dos primeiros livros que li! Estava mexendo nas minhas coisas e achei. Nunca conheci alguém que o tenha lido e pensei, bom, se você gostar da história, poderíamos conversar sobre ela!

– Claro, seria legal. Assim que terminar de lê-lo, te aviso. – a garota respondeu, sorrindo. Sem perceber que a cada dia, sorria mais, principalmente quando estava na presença do oriental. Talvez por que ele sorrisse demais.

– Ok! Espero que goste. – Chikage disse, posicionando-se ao lado da garota e começando a andar a seu lado. – Onde estão seus amigos?

– Treinando quadribol – ela disse, percebendo que o fato de que ele a acompanharia deixava-a nervosa. Não irritada ou desconfortável, mas ligeiramente sem graça. Desde quando se sentia assim? – Posso te fazer uma pergunta?

– Claro!

– Como você consegue ser amigo de Malfoy? – ela perguntou, parando por um momento para poder olhar para ele. Chikage não parecia surpreso com a pergunta. Na verdade, esperava por ela.

– Draco não é a pessoa que você imagina.

– Não? Mas foi ele mesmo que criou a imagem que temos dele. – Hermione retrucou, lembrando-se das diversas vezes que o sonserino lhes importunara – Ele parece estar sempre tentando ser o mais desagradável possível.

– Já ouvi falar muito dessa rixa entre vocês. E, conhecendo Draco, não duvido que ele tenha passado dos limites vez ou outra, mas, Hermione, ele não me parece esse cara que vocês descrevem.

– Nem parece a pessoa que você descreve.

– Então, um de nós está completamente enganado. – Chikage disse, com um sorriso. E parecia estranho ele sorrir enquanto ouvia alguém falar mal de seu amigo – Ou... cada um de nós conhece uma faceta dele. E as pessoas, não são personagens planos, onde podemos conhecê-las por completo e até prever suas ações por meio de alguns comportamentos repetitivos. As pessoas são seres complexos, que muitas vezes possuem várias faces. Eu não duvido que Draco possa ser uma pessoa irritante quando quer, mas o conheço bem o suficiente para dizer que ele pode muito bem, ser um bom amigo.

– Não consigo imaginá-lo sequer sendo agradável. – a garota disse, sem conseguir esconder o tom desdenhoso de sua voz.

– Será que não está se deixando levar por um pré-julgamento feito por quando ele ainda era uma criança? – Chikage perguntou, seus olhos fixos nos dela e por mais que agora se desse bem com ele, Hermione ainda se sentia sem graça com esse olhar fixo que ele por vezes lhe dirigia.

– Como assim?

– Bom, você o conheceu quando tinham 11 anos. Agora tem 16. Muitas coisas podem mudar em 5 anos. Duvido que você seja exatamente a mesma pessoa que era. Duvido que ele seja e tenho certeza que eu não sou mais. Então, fico pensando se podemos julgar você ou ele pelo que eram, e não pelo que são.

E Hermione chegou a abrir a boca para responder, para dizer que Malfoy sempre tinha sido o mesmo rapaz maldoso e preconceituoso, mas não conseguiu. Por que parando para pensar, as implicâncias dele haviam diminuído consideravelmente nos últimos anos, não?

– Sabe, Hermione, eu acredito que não podemos julgar uma pessoa pelo que ela foi. Não podemos esperar que alguém pague a vida inteira por erro passado. Todos nós erramos, em menor ou maior grau, e todos estamos sujeitos a nos arrepender e a mudar. Mas se mantivermos as magoas e memórias passadas fixas, não veremos essas mudanças. E eles podem ser tanto para melhor, quanto para pior.

– Diz isso só por causa de Malfoy?

– Não. Digo isso porque é algo no qual acredito. E quando penso nessa guerra, penso também em quantas mortes podiam ter sido evitadas se as pessoas aprendessem a perdoar. Mas também se soubessem manter seus olhos abertos. Abertos o suficiente para ver que o amigo a seu lado não é mais um amigo. Ou o inimigo não ocupa mais esse posto.

– Você... está muito reflexivo. Esses pensamentos não são muito profundos para alguém de 16 anos? – Hermione brincou, sentindo-se ansiosa por desfazer o clima sério que havia se formado entre eles. Esse clima a pressionava.

– Às vezes, a vida nos coloca em situações que nos forçam a crescer, a mudar. A guerra é uma dessas situações, mas elas podem ocorrer de forma menos drástica também. Você pode ir morar sozinho ou fazer amizade com pessoas mais velhas ou sabias! As possibilidades são muitas! Você mesmo é mais madura que a maioria das meninas da sua idade.

– Você também é. Mas antes de te conhecer, achava que você era um idiota. – a garota confessou, sentindo-se envergonhada em admitir isso. Ele, às vezes, mexia demais com seus sentidos.

– Ora, veja só! Alguém enganou a senhorita Granger!

– Não seja bobo! – ela exclamou, virando o rosto para o lado para esconder as bochechas coradas.

– Estava brincando. Primeiras impressões, nem sempre estão certas.

– Mas Malfoy...

– Perceber que está errado e admitir o erro também faz parte do amadurecimento. Aceitar seus erros não é fácil, mas negá-los para sempre não te leva a lugar nenhum. – disse Chikage, esperando alguns segundos para então concluir sua ideia, de forma brincalhona – Tenho um amigo que me diz isso o tempo todo! Chego a achar que ele me vê como uma pessoa mais teimosa do que eu sou na realidade.

– E você é teimoso?

– Ah, depende! Posso ser muito teimoso. Mas acho que no geral, estou aberto a novas opções. Apesar de ele não concordar muito comigo. E você, é teimosa?

– Hm... às vezes – ela respondeu, ciente de que era mais teimosa do que gostaria de admitir.

– Esse seu amigo, parece ser uma pessoa sabia.

– Eu diria que ele está mais para velho – brincou, pensando no quanto ele era novo se comparado com Maxxcy e Erick. Tudo bem que Maxxcy tinha só 28 anos, mas ele há muito já era adulto. Principalmente se levasse em conta que na família deste, as pessoas dificilmente passavam dos 30... – Mas não conte a ele que eu disse isso! Ele odeia quando eu o chamo de velho.

– E você parece fazer isso só para provocar!

– Claro! Afinal, sou teimoso e infantil, lembra?

– Você não tinha incluído o infantil.

– Bom, ainda sou um adolescente! Adolescentes são infantis, bobos e tem uma tendência natural em não ver as consequências do que fazem – brincou.

– Essa frase também é dele?

– Não, era do meu tio. Ele nos dava tanto sermão que sinto arrepios só de ouvir um! E me odeio quando pego fazendo o mesmo. Me sinto um velho chato e mal-humorado! Veja só, crise de meia-idade em plena adolescência! Depois, quando dizemos que certas coisas nos traumatizam, nos chamam de exagerados.

E diante de tanto exagero, só restou a Hermione rir.

Desde quando ela não ria assim? Como se tudo no mundo estive bem?

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Depois de jogarem por quase 2 horas, o time da Grifinória estava cansado. Não era um treino oficial, apenas jogavam por jogar, mas como há muito tempo não tinham um tempo para treinar direito, todos pareciam empenhados em fazer o seu melhor e era ótimo ver como mesmo assim, divertiam-se!

Harry desceu da vassoura com as bochechas coradas pelo vento frio, mas sorrindo como há muito tempo não fazia. Para o moreno, voar era uma terapia e ele se perguntava por que voava tão pouco ultimamente.

– Cara, foi um ótimo jogo! – Harry exclamou, sorrindo como há dias não fazia! – Precisamos fazer isso mais vezes!

– É, sem precisarmos falar de estratégias e pontos. – Katie disse, entregando a Harry a goles – Não que isso seja ruim, mas é tão bom jogar sem precisar se preocupar.

– É, precisamos mesmo fazer isso de novo. – Rony disse e Harry ficou feliz de ver a confiança do ruivo. Tinha percebido como o "treino informal" tinha feito bem ao amigo, ele parecia muito menos nervoso e até mais confiante.

– Vamos fazer, não é, Harry? Agora, quem está a fim de almoçar logo? – perguntou Gina ao que todos confirmaram. Um banho rápido e um almoço eram mais que bem vindos e tudo o que faltava para deixar o domingo deles ainda melhor! E Harry não via a hora de subir para a Torre da Grifinória e passar o resto da tarde jogando snap explosivo e quem sabe até um pouco de xadrez.

Neste dia tão bom, só uma coisa incomodava o moreno. Mas ele não queria estragar seu dia pensando nela e exatamente por isso, durante o percurso aos vestiários, ele evitou ao máximo olhar para a cabana de Hagrid. Se olhasse, lembraria de sua próxima detenção e não queria estragar seu dia pensando nas loucuras sádicas de Alois Trancy. Deixaria para pensar nisso amanhã, quando o céu não estive tão azul e o dia não parecesse incrivelmente bom.

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Sentia o rigor do inverno ceder lentamente a aproximação da nova estação. Ainda estava muito frio e a neve cobria o chão, mas finalmente podia ver um pouco de verde aqui e ali. As árvores pareciam mais vivas, as trilhas menos fechadas e os pássaros mais felizes, mesmo que a floresta ainda parecesse adormecida.

– A floresta é proibida aos alunos. Principalmente em tempos de guerra. Não sabia disso? – a voz da garota o interrompeu e surpreendeu, mas não o assustou. Na verdade, o fez sorrir. No vazio da trilha, a voz dela fluiu sem eco e ele observou como o silêncio e a solidão em nada a afetavam.

– E o que você faz aqui? – ele perguntou, encostando-se em uma árvore e cruzando os braços e os tornozelos.

– Estava colhendo sementes de andros. Elas só aparecem nessa época do ano e eu gosto delas. – ela disse, sem alterar-se, no rosto uma expressão completamente indiferente, os cabelos loiros ao vento. – E você, o que faz aqui?

– Eu simplesmente gosto do sol. – respondeu, sem se preocupar em fingir. Não adiantava fingir para ela. Nem Dumbledore parecia enxergar como ela.

– Você tem uma voz diferente. É meio rouca. – ela disse com a simplicidade de quem comenta o tempo. Mal olhava para ele. E ele gostava disso.

– E você tem olhos que parecem ver demais. – e, para aqueles olhos, ele não conseguia fingir, para ela, suas máscaras pareciam ser inúteis. E quando a mentira é inútil, só restava descer do palco e assumir sua verdadeira face.

– Assim como você. – Luna disse, erguendo-se do chão, espanando para longe a neve presa nos joelhos, para só então olhá-lo nos olhos.

E Chikage riu.

Aquela risada rouca e descontraída que poucos ouviam.

– Você é realmente... única.

– Poderia dizer o mesmo de você.

E dessa vez, ele sorriu. De forma quase maldosa. Divertindo-se com a situação inusitada. Descruzou os braços e jogou os cabelos para trás. Seus olhos pareciam brilhar mais, sem a franja ocultando-os.

– Você não tem medo de mim. – disse. Não era uma pergunta.

– E deveria?

– O que você acha? – Chikage perguntou. Na face levemente erguida, uma expressão que ninguém ali já havia visto. Uma expressão que ele dirigia a poucos.

Luna guardou na bolsa as sementes que colhera e batera as mãos uma na outra, tirando a terra e a neve. Parecia pensativa.

– Você é perigoso. – ela disse, ainda concentrada nas próprias mãos – Mais perigoso do que qualquer um aqui. – e agora seus olhos grandes demais estavam fixos nos dele – Mas você não é mau.

– Como pode ter certeza?

E seus olhos eram olhos de predador.

– Não posso. – ela disse, com um dar de ombros – Mas você não é mau.

– Você pode estar enganada.

– Se você fosse mau... Já teria se livrado de mim há muito tempo.

– Talvez não mexer em você seja vantajoso para mim.

– Você é um bom ator. – ela disse, aproximando-se – Mas não é tão bom assim.

– O que quer dizer?

– Que sua atuação tem um ponto fraco.

– Que seria?

– Isso, cabe a você descobrir. – ela disse, passando reto por ele e indo embora, sem olhar para trás.

Chikage então fechou os olhos, sorrindo de forma descontraída.

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Pirraça não gostava muito das noites, eram tediosas demais. Não tinha a quem encher, alunos a denunciar, não tinha o que fazer e nem podia dormir! Às vezes, ele dava sorte e passava alguns minutos infernizando Filch ou Madame Nora, mas hoje não parecia ser um desses dias. Sem nada mais para fazer, só lhe restava compor uma música que ninguém gostaria enquanto flutuava pelo castelo, tirando objetos do lugar e batucando em alguma armadura.

Estava distraído, por isso demorou para ouvir os sons de passos. Parou o que fazia, prestando atenção para localizar a origem do som. Era alguém sem medo de ser apanhado, pois seu sapato fazia um toc toc sonoro. Parecia uma mulher de salto. Seria alguma aluna namorando?!

Animado com a possibilidade de assustar alguém, Pirraça disparou na direção do som, atravessando duas paredes antes de parar de forma abrupta diante da figura desconhecida.

Era uma moça com ares indianos. Alta, com olhos, cabelos e pele cor de chocolate. Usava roupas que pareciam sair de alguma festa de Halloween de tão coloridas e esquisitas e, apesar de ser visivelmente jovem, com certeza não tinha mais idade para ser aluna.

Ela andava de forma despreocupa pelo castelo e possuía nas mãos um caderno fino de capa preta e, na outra mão, uma bola de cristal tão pequena que mais parecia um lembrol. Ignorando a presença dela, nas paredes, os quadros dormiam despreocupados.

Pirraça estava pronto para gritar e dar seu alarme de aluno fora da cama, mas algo naquela moça o fez manter-se quieto. Assim como Kakinouchi, havia algo nela que o paralisava. Ele odiava admitir, mas sentia medo deles. Muito medo. E uma vontade louca de sair imediatamente dali!

Então por que não saia? Por que sentia-se preso ali?

– Tive muito trabalho para fugir dos olhos da Nick então espero que não seja um misero Poltergeist a me atrapalhar. – ela disse, sem sequer olhar em sua direção.

– Garanto que este Poltergeist não pretende fazer isso. – Pirraça sussurrou, apavorado diante de sua voz, tão fria quanto farpas e de sua própria realidade: não conseguia se mexer.

– Então, posso presumir que você nunca me viu? – ela perguntou, sorrindo de forma cruel.

– Com toda certeza, my lady.

– Conto com isso então. – disse, segundo antes de Pirraça sentir-se livre para disparar teto acima.

Se tivesse ficado, teria ouvido-a dizer "agora só preciso manter Maxxcy longe", mas ele não ficou. E nem teria se importado. Não sabia quem era Maxxcy ou a Nick e nem queria saber! Naquele momento, tudo o que ele queria, era voltar a derrubar coisas, batucar armaduras, atrapalhar alunos e cantar. E esquecer de uma vez por todas daqueles olhos escuros tão aterrorizantes. Olhos que pareciam queimar.

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Para uma manhã de segunda, estava muito frio! E pensar que no dia anterior, até o sol aparecera um pouco! Devia haver uma lei que proibisse aulas nas manhãs geladas! Sentia que se saísse do Castelo, congelaria! E olha que gostava do inverno!

Fechou o último botão do casaco, emburrado. Odiava acordar cedo e odiava mais ainda ter que sair da cama naquele frio!

Desceu as escadas do dormitório mal-humorado, encontrando um Chikage sorridente lá embaixo.

– Como é possível alguém ter tanta energia a essa hora da manhã? – Draco resmungou, ainda bocejando.

– E porque tanto mau humor? – Chikage perguntou, pegando na mão do outro e saindo de forma saltitante pelo corredor das masmorras. E essa energia toda só fazia o loiro sentir ainda mais vontade de voltar para a cama.

– Hoje é o dia que saberei quando terei que cumprir minha detenção com Potter.

– Hm... e o que vocês dois vão ter que fazer?

– Não te contei?

– Ainda não.

– Vamos ter que ajudar Hagrid a cuidar de uma ninhada de não sei o quê por uma noite inteira! Só espero que não seja nada potencialmente perigoso, mas conhecendo aquele cara, não estranharia se ele nos desse filhotes de dragão para alimentar.

– Dragões! Eu gosto de dragões! São fofos, mas não tenho uma boa relação com eles. Tenho a impressão que ao me verem eles pensam "churrasco!" e isso não é muito agradável. Mesmo que pelo meu tamanho, eu não passe de um aperitivo.

– Fofos? Desde quando dragões são fofos?

– Mas eles parecem lagartinhos mal-humorados com asas! E...

– Quando adultos, podem te devorar com uma só dentada! – Draco cortou e Chikage riu. Porque isso era tudo o que ele podia fazer no momento. Não podia impedir Draco de passar por mais uma detenção, não podia impedi-lo de estar junto de Potter, não podia acalmar seu coração em pânico.

– É só uma noite, com sorte, vocês vão dormir a maior parte do tempo e só terão que se preocupar em ver, de tempos em tempos, se eles também estão dormindo.

Só podia tentar aliviar o medo com frases que de fato não surtiam efeito algum...

– Quem sabe... – disse o loiro, inconscientemente largando a mão do amigo e passando um dos braços pelos seus ombros – Mas acho que não sendo nada que nasça com dentes, já fico feliz.

Preso mais uma vez a sensação de que não podia fazer nada.

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– Senhor Kakinouchi, posso falar com você?

Chikage, que estava terminando de colocar seus pergaminhos e livros na mochila, levantou a cabeça e olhou fundo nos olhos de Trancy, o professor era um dos poucos que nunca pedia para conversarem após as aulas.

– Claro, sem problemas. – respondeu o oriental, sem esconder sua surpresa. Trancy era alguém que ele não conseguia prever, o que o deixava num estado de alerta constante.

Trancy sorriu, mas ao ver que Draco pretendia continuar na sala, completou:

– A sós, por favor, senhor Malfoy. Aliás, creio que o assunto não lhe interessará. – Trancy disse com seu costumeiro sorriso maldoso. Muitos alunos comparavam o jeito "feliz" de Chikage e Alois e todos, com exceção de Luna, concordavam que enquanto o japonês parecia sempre feliz, Trancy sempre parecia a serpente pronta para o bote.

– Tudo bem, Draco, eu te vejo depois. – Chikage disse, dando um leve tapinha no braço do loiro antes de se dirigir ao professor de DCAT com passos calmos que ocultavam por completo seu estado de alerta. Luna não estava errada quando dizia que enquanto Alois Trancy era uma cobra sem máscaras, Chikage Kakinouchi era o lobo sob pele de cordeiro.

– "Tudo bem"? – Trancy disse assim que ambos ficaram sozinhos – Quem escuta até acha que ele está te protegendo de algo.

– Foi só um jeito de falar. – Chikage disse com um dar de ombros – Depois, Draco não tem uma experiência muito boa com o senhor.

– Nada que ele não tenha merecido. Bom, vamos, me acompanhe, por favor.

– Para onde? – perguntou, já seguindo o professor para fora da sala – Não vamos para a sua sala?

– Não, não por hora. – Trancy disse, guiando o jovem oriental até o 2º andar até que parassem na frente de uma enorme águia de pedra – Dumbledore vai participar da conversa.

– Fiz algo errado? – Chikage perguntou, e ninguém desconfiaria da inocência em sua voz. Nem mesmo Dumbledore. Mas Alois Trancy estava muito acostumado com víboras para acreditar.

– Isso é você quem responderá. – Trancy falou, enigmaticamente – Sorvete de limão.

Ao ouvir a senha a enorme águia se moveu, abrindo o caminho que os levaria até a sala do diretor. Chikage só havia estado naquela sala uma vez e não gostou muito da ideia de voltar tão cedo. Estava com um mau-pressentimento.

Sobre o que eles queriam falar?

Teria feito algo errado?

Tentou repassar suas últimas ações, sem encontrar algo que indicasse porque Dumbledore gostaria de vê-lo. Ele não tinha feito nada de errado, não aprontava mais e tinha até mesmo equiparado suas notas as de Hermione...

Então, por que?

Jogou os cabelos para trás, levemente tenso. Não podia marcar bobeira justo agora!

Sua surpresa só aumentou ao ver, diante de si, não apenas Dumbledore, mas também Severo Snape. Minerva McGonnagal, Pomona Sprout e Filius Flitwick.

É, seja lá o que tivesse feito, tinha sido grave.

– Boa tarde, professores. – disse, fazendo uma leve mesura oriental. Os olhos correndo de forma discreta pelo ambiente, tentando achar alguma pista sobre o motivo de ter sido chamado e o porquê de tantos professores. A mente, trabalhando depressa.

– Boa tarde, Kakinouchi. Queira sentar-se, sim. – Alvo disse, no rosto um sorriso simpático que não acalmou o oriental. Alguma coisa muito errada estava acontecendo ali e ele não fazia ideia do que era. E ele odiava ficar no escuro.

– Bom, aconteceu alguma coisa? – resolveu perguntar, após sentar-se, decidindo que o melhor era agir antes que fosse acuado. Não deixou de notar que fora posto num semicírculo, de frente a todos os professores.

– Senhor Kakinouchi, achamos algo que acreditamos que lhe pertença. – o diretor voltou a falar, tirando de cima de sua mesa um fino caderno de capa preta – Conhece isso?

– Meu diário! – Chikage exclamou, estendendo uma mão para pegar o objeto, que lhe foi entregue. Será que era ele a causa do problema? Não, não podia ser só isso, mesmo que tivessem lido, as confissões de um adolescente nunca reuniriam os mais importantes professores da escola – Nossa, onde o encontraram? Faz um mês que estou procurando por ele!

– Então, confirma que isso lhe pertence? – Flitwick perguntou, no rosto uma expressão atipicamente séria.

– Sim, ele é meu. Algum problema? – perguntou, receoso.

– Mais de um eu diria. E seu conteúdo parece ser um deles. – Alois disse, cruzando os braços e recostando o tornozelo direito no joelho esquerdo. Chikage o olhou fixamente, não acreditando que alguém realmente conseguira ler suas anotações. Será que havia escrito algo muito incriminador?

– Vocês leram? Wow, isso é muita invasão de privacidade! – reclamou, tentando ganhar tempo. Mas que beleza! Além de terem achado seu diário, tinham lido-o! Não apenas tinham quebrado seus feitiços de proteção como ainda sabiam ler amárico! E ele que pensava que esta era uma pobre língua desconhecida por quase todos! Que droga!

– Senhor Kakinouchi. – Minerva começou – Por que escreve em dois idiomas? Quem vê pensa que é japonês, mas as palavras lidas não possuem nenhum significado. E amárico não é uma língua popular ou conhecida. Onde a aprendeu?

– Aprendi amárico quando fui adotado e mudei para a Etiopia. Era o idioma oficial deles e ninguém mais falava japonês lá. Mas eu não queria esquecer meu idioma natal e pensei que este era um bom método de conservá-lo. – respondeu o japonês com um dar de ombros e um sorriso. Sabia que estava numa situação delicada, mas não podia se deixar abalar ou poria tudo a perder. Precisava pensar. E rápido! E enquanto isso, precisava ganhar tempo – Então, escrever assim é puro costume. Não vi problema algum nisso já que isso é um diário, não é como se eu fosse emprestá-lo para alguém! Ou como se mais alguém precisasse saber o que escrevo.

– Isso explicaria os feitiços repelentes que ele continha? – Flitwick perguntou.

– Bom, sim. – respondeu com outro dar de ombros. A calma que aparentava destoando por completo de seu coração acelerado. Será que o que os tinha atraido eram seus feitiços de proteção? – Podem me dizer qual é o problema? Não acho que eu tenha feito algo incomum. Nenhum adolescente gosta que leiam seu diário. Feitiços de proteção e "códigos" são bastante comuns.

– De fato, não fez. – Dumbledore disse – Mas temos más experiências com diários contendo poderosas magias de proteção.

– Poderosas? Ah professor, sem exageros, por favor! Os feitiços que usei são bastante simples! – mentiu – Nem imagino quantos alunos aqui não escondem as mais diversas informações com os mesmo feitiços.

– Esses feitiços e truques adolescentes podem enganar muitas pessoas, mas não professores acostumados a elas. – Sprout disse, e ela também parecia mais séria que o costume – Kakinochi, por favor, não nos substime, os feitiços que usou não são simples.

– Podem não ser comuns aqui, mas são simples. – Chikage insistiu, ansioso por sair daquela sala. Sentia-se em pleno julgamento. E talvez, estivesse mesmo – Mas não entendo, por que me chamaram aqui? O que eu fiz é errado? Parece que estou sendo julgado por algo, mas não acredito que tenha feito nada de errado. Quebrei alguma regra, foi isso?

– Não, não. Você tem se comportado muito bem, é estudioso, bom aluno e não causa problemas. – Dumbledore disse, encarando os olhos verdes. Chikage sustentou o olhar facilmente – O que nos intrigou não foi apenas as magias de proteção que usou ou o fato de escrever em "código", mas também o conteúdo por você descrito.

– O conteúdo?

– Sim. – Alvo explicou, olhando-o de forma curiosa. Ele estar curioso a estar bravo era um bom sinal? – Mais do que os relatos do dia a dia de um adolescente, seu diário parece mais um monte de informações sobre os professores e alunos de Hogwarts.

Ok, como fugir dessa? Passou a mão pelos cabelos, buscando uma solução para o problema.

– Gosto de escrever sobre as pessoas que conheço. Me ajuda a guardar detalhes importantes, como aniversários e gostos pessoais. Não tenho boa memória auditiva. Vocês o leram inteiro?! – precisava de tempo! Precisava saber o que os tinha intrigado e desfazer a intriga! Precisa ser o mais dissimulado possível! Ah, como queria ter a capacidade de mentir e dissimular que Maxxcy que tinha!

– Sim, lemos. – Snape finalmente manifestou-se – E não achamos uma única informação pessoal sua. Seu "diário" não diz nada sobre você, apenas contém informações de nós, professores, e alunos. E a descrição de alguns feitiços aprendidos. Sendo assim, não vejo que problema existe em termos lido. Por que parece tão revoltado?

– Talvez o problema esteja no fato de que um diário é algo pessoal. – Chikage retrucou, fechando o caderno com raiva – E ninguém gosta que leiam suas anotações pessoais. Muito menos gostamos de ter de explicar o que nem deveria ter sido lido. Eu não fiz nada de errado! Apenas escrevi o que penso sobre as pessoas que conheço. Não planejei nada de errado, não quis machucar alguém, não ofendi. Então, por que devo explicar o que só deveria dizer respeito a mim?

– Entendemos seu ponto de vista, Kakinochu. – Minerva voltou a falar, e ela o olhava com cuidado e isso não era bom. Dentro todos ali, era ela a pessoa que mais gostava dele – Mas deve concordar que há dizeres bastante estranhos aí. Principalmente os referentes a...

– Não há nada demais aqui além da minha impressão pessoal sobre alguns colegas. – Chikage disse, defendendo-se – Anotei coisas que achei interessantes, nunca imaginei que teria que explicá-las a alguém! E nem acho justo ter de fazê-lo! Ou agora a escola vai instituir um novo decreto que nos proíbe de escrever o que pensamos?

– Você sabe que está exagerando, não? – Minerva falou, mas Chikage a interrompeu. Há tempos o ataque se tornara sua única defesa. Ele não sabia agir de outra forma.

– Não acho. Algum de vocês gostaria de estar no meu lugar? Gostaria de ter que explicar seus pensamentos íntimos a uma comissão inteira? Cada um escreve o que quer! Desde que não esteja planejando um crime, não há mal algum nisso!

– Entendo que esteja chateado... – Minerva recomeçou, abrindo a brecha que Chikage tanto esperava. Agora era aproveitá-la e fugir dali. O mais depressa possível!

– Sim, estou mesmo. Afinal, vocês sabiam que isso era meu e que era pessoal. Terem lido não é diferente de terem invadido meu quarto e vasculhado minhas coisas. Entendo que estamos em guerra, mas se estou sob alguma suspeita, preferiria que falassem comigo e não que tirassem conclusões precipitadas tendo como ponto de partida um caderno bobo. Entendo que os feitiços de proteção que usei sejam incomuns e tenham atraído a atenção de vocês, mas isso não justifica que o tenham lido e partilhado as informações entre vocês.

– Voltando aos feitiços em questão, você geralmente se defende dizendo que aprendeu os feitiços diferentes que conhece em Zefir, não? – Alois perguntou, sorrindo de forma sádica.

– Não apenas em Zefir. Meu tio trabalhava com fusão mágica. Conheci muita coisa com ele. – Chikage disse, mantendo a história de sempre.

– Hmm, interessante. Então, apenas parte de seu conhecimento inédito é fruto do seu período em Zefir? – Alois perguntou e Chikage sentiu que tinha caído numa armadilha. E por isso mesmo, evitou olhar para os lados e sustentou o olhar do professor.

– Sim. Acho que posso dizer que sim. – respondeu, percebendo, logo em seguida, que assinara sua condenação.

– Hmm, de fato, isso é muito interessante. Sabe por quê? – Alois perguntou, sua voz falsamente doce – Estive em Zefir durante as férias de inverno, fui encontrar um conhecido. E então descobri uma coisa muito interessante. Ao que parece, você nunca estudou lá. Engraçado, não? Porque os históricos escolares são mágicos e só podem ser preenchidos por um professor, sem que dado algum seja adulterado, mas temos um histórico seu, com notas e a assinatura de um professor. Um homem chamado Maxxcy Sorcerer que diz lecionar Maldições, mas o professor de Maldições de Zefir se chama Lee Yoon Sung.

É, agora a coisa tinha ficado feia.

Como Nihany não vira essa chegando? Ela vira que iam pedir o histórico e por isso Maxxcy o preenchera, afinal, ele era mesmo um professor e as notas e informações contidas ali eram verdadeiras. Mesmo que ele nunca tenha pisado em Zefir era o suficiente para enganar a magia de proteção. Então, como ela não vira essa bomba chegando?

E agora?

– Maxxcy Sorcerer pode ser o nome ocidental dele. – disse, passando a mão nos cabelos, tenso. Sentindo-se encurralado, Chikage olhou para baixo. Tinha que arranjar um jeito de sair dessa situação. Essa situação tinhaque ter uma saída. Se Nihany não pudera alertá-lo, era porque ela tinha um bom motivo. Era porque ela confiava que ele podia sair dessa sozinho.

E se ela confiava nele, então ele faria valer essa confiança.

Se não havia uma saída, ele criaria uma.

– É por causa disso que estou aqui, com todos vocês? – perguntou, já sabendo a resposta. Falava devagar, tentando por as ideias em ordem. Quantas coisas ele precisava explicar? E quantas ele podia englobar numa mesma história?

– Por que mentiu, Kakinochi? – Minerva voltou a perguntar – E como conseguiu isso? Pode nos responder? – percebia o olhar decepcionado da professora e ficou chateado. Não queria decepcioná-la, pois gostava dela.

– Por que achei que não me aceitariam se eu contasse a verdade. – disse, abaixando a cabeça em sinal de derrota. Precisava ser o mais humilde possível. Precisava ser o mais verdadeiro possível para que acreditassem no que diria a seguir.

– E que verdade seria essa? – Dumbledore perguntou. E agora, era melhor ele começar a rezar.

– Não estudei em Zefir... – disse, encolhendo-se sutilmente na cadeira. Estava com medo, mas agora esse medo era bom, pois ajudaria a convencê-los de suas palavras – Mas não menti porque queria enganá-los nem nada assim, foi porque achei que não me aceitariam aqui se eu falasse a verdade.

– E que verdade seria essa? – Minerva perguntou, mas Chikage não notou nenhum tom preocupado em sua voz. Mais uma prova de que dessa vez, ele tinha tudo para falhar.

Fechou os olhos, mentalmente acertando os últimos detalhes de sua história. Lembrando o porquê estava ali e o porquê não podia ser desmascarado agora. Não podia.

– Quando minha família morreu, há três anos... Não sei se contei sobre minha família, mas meu tio... ele não trabalhava mais com fusão mágica quando morreu, já fazia alguns anos que só desenvolvia feitiços que precisasse para o seu dia-dia. Quando morreu, meu tio era aliado de uma ONG bruxo-trouxa que trabalhava em áreas de refugiados de guerra, fossem mágicos ou não. – Chikage disse, não conseguindo deixar de impedir as lembranças de virem – Cresci em acampamentos, em meio as mais diversas criaturas e vendo meu tio e os homens da ONG brigarem com traficantes, soldados e organizações governamentais. Eles não brigavam porque queriam, mas porque essa era a única forma que tinham de sobreviver. Aprendi a brigar muito cedo. Aprendi muita coisa nessa época, quase todas do tipo que não se ensinam em escolas. Quando minha família morreu, eu não tinha para onde ir e me vi como uma espécie de cativo daqueles homens que eu aprendera a não temer.

– Foram esses homens que mataram seu tio? – Sprout perguntou e Chikage notou a piedade em sua voz. Não gostava que sentissem pena dele, mas agora não ia desprezar nada que pudesse usar em vantagem própria. Respirou fundo e deu início a sua mentira, que não era tão mentirosa assim.

– Sim. Eles eram traficantes, traficantes bruxos. Iam me matar, mas descobriram que eu também era um bruxo e por isso ficaram comigo. Fui educado por eles, para ser um deles. Aprendi muita coisa ruim nessa época. Muita mesmo. Vi atrocidades, me rebelei, tentei fugir, desisti várias vezes. Até que conheci Maxxcy. Ele era professor de um pequeno instituto no Canadá e estava de férias com a família. Ele gostou de mim e no tempo em que passou comigo, me ensinou muito, me deu documentos, dinheiro e me ajudou a fugir. Mas me ajudar não significava que ele quisesse ficar comigo. Eu precisava de um lugar para ficar e que lugar seria melhor que uma grande escola? – Chikage respirou fundo, tomando folego enquanto relembrava suas palavras e procurava por pontas soltas.

– E porque mentiu dizendo vir de Zefir? – Dumbledore perguntou, de forma suave e Chikage percebeu que finalmente tinha conseguido uma chance de escapar, pois tinha vencido suas desconfianças.

– Porque as leis inglesas são muito duras com bruxos estrangeiros, principalmente numa época de guerra. Sem um histórico, eu teria que fazer uma prova e como esconder que quase tudo o que eu sabia era de Magia Negra? Eu fiquei com medo. Fiquei com medo das entrevistas e das perguntas, fiquei com medo de ser mandado embora. É incrível a burocracia que temos que enfrentar para entrar na Inglaterra hoje e o quanto é absurdamente fácil ser expulso antes mesmo de entrar.

– Por que Hogwarts? – Snape perguntou, sério – Por que escolheram uma escola que está num país em guerra?

– Era a melhor opção. Não havia vaga para mim no Instituto de Salem. Durmstrang não aceita sangue-ruins, Zefir não aceita alunos novos com mais de 13 anos e eu não falo francês, nem queria ficar na África, não quando finalmente sai de lá. Hogwarts tem renome, era acessível, não está sob ataque. Apesar dos pesares, era a melhor opção.

– Então, você está sozinho? – Minerva perguntou.

– Maxxcy às vezes me escreve para saber se estou bem. – Chikage contou e, passando a mão pela capa preta de seu diário, completou – Eu sinto muito mesmo por ter mentido. Eu não queria, mas fiquei com medo. Não queria voltar aquela zona de tráfico, guerras e mortes. Eu sei que às vezes me atrapalho, erro tudo, que não estou no nível dos meus colegas, mas eu realmente não queria ir embora. Não tenho para onde ir. Estou velho demais para a maior parte dos orfanatos, mas ainda sou novo demais para trabalhar e me manter sozinho. Fiquei perdido.

– Isso justifica então sua discrepância acadêmica. Sabe muito de algumas coisas, muito pouca de outras – Flitwick ponderou em voz alta e Chikage soube que estava perto de conseguir. Será que ele tinha mesmo se livrado dessa encrenca?

– Nunca aprendi magia de forma curricular. Era tudo pela necessidade. E vocês não imaginam quanta porcaria aprendemos nesse meio. Quanto mais forte e mais proibida a magia, mais ela vale no mercado negro.

Isso era verdade e todos eles sabiam. Chikage ficou em silêncio, deixando que eles absorvessem sua história. Pelo menos, agora estava explicado como ele sabia tantas coisas diferentes e lhe faltavam tantos conhecimentos básicos. Só esperava que sua história fosse suficiente boa para que lhe deixassem ficar. Não queria nem imaginar o que Era faria se ele fosse expulso antes de completar o período que ela lhe ordenara ficar.

– Será que vocês podem me desculpar por isso? – perguntou, fazendo sua melhor cara de menino arrependido.

Nem ele próprio percebeu o quanto realmente queria ficar ali. O quanto queria que sua história fosse verdadeira.

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Ver Harry sorrir era uma alegria! Não acreditava que finalmente o garoto estava conseguindo voltar a ser feliz. Depois de tantas crises de mau humor, era muito bom ver o amigo enfim, parecendo tranquilo.

Não que antes Harry não estivesse tentando ser mais amigável, há dias sentia que o moreno parecia determinado em não se deixar abalar por seus problemas, mas por mais que tentasse, se esforçasse, sorrisse e interagisse, Hermione percebia que sua alegria não era verdadeira. Harry queria estar bem, mas não estava. E não poder fazer nada para ajudá-lo a machucava. Sabia que a vida era assim, e muitas vezes tudo o que a pessoa precisa é de um tempo para absorver o que acontecia com ela, e ser o menino-que-sobreviveu não era nada fácil! Harry parecia possuir um imã natural de problemas e enfrentar tudo o que vinha acontecendo devia ser, no mínimo, estressante. Por isso, vê-lo sorrir de verdade lhe fazia tão bem!

Tinha ficado preocupada quando Hagrid dissera que já estava tudo pronto para que ele e Malfoy iniciassem sua detenção na sexta à noite. Imaginara os piores cenários, com o moreno irritado e xingando Malfoy sem parar, mas ele parecia absurdamente tranquilo frente a ideia de passar uma noite inteira com Malfoy.

Pensando bem, isso era estranho...

Harry nunca ficaria tranquilo diante dessa possibilidade!

Principalmente depois da última detenção que tiveram juntos.

Esse Trancy podia ser mais criativo do que Umbrigde! Gostaria de saber de onde ele tirava suas detenções (Harry com certeza diria que era de algum livro sobre torturas). E porque insistia tanto em manter Harry e Malfoy juntos.

Não que Dumbledore não falasse sempre da necessidade de todos se unirem e superarem seus preconceitos, mas ninguém nunca tinha feito nada contra a visível rivalidade entre as casas verde e vermelha. De certa forma, muitos professores até mesmo fingiam não perceber a hostilidade entre os alunos. Mas Alois Trancy parecia determinado a lutar contra essa rivalidade. E era estranho que justo ele se importasse com isso porque ele parecia não se importar com ninguém além de si mesmo.

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Chikage só percebeu que estava com a respiração presa quando enfim passou pela gárgula de pedra que fechava a entrada da sala do diretor.

– Não acredito que escapei. – sussurrou para si mesmo, passando as mãos pelo rosto e tirando os cabelos da face enquanto olhando para cima – Que medo.

Respirou fundo, como se, junto com o ar, expulsasse também a tensão e massageou os ombros.

– Você foi muito bem.

Chikage sorriu ao ouvir a voz atrás de si.

– Não está um pouquinho tarde para você aparecer? – perguntou, sem olhar para trás.

– Mas você se virou muito bem sozinho.

– Não faço ideia de como consegui sair dessa enrascada. Por que não me avisaram antes? Eu podia ter pensado em algo mais convincente, sei lá...

– Porque Nihany sabia que você conseguiria sair dessa sozinho – Maxxcy disse, aproximando-se do oriental – Ainda assim Erick queria te mandar uma mensagem, mas tivemos alguns probleminhas lá em cima. Enfim, o que importa é que deu certo.

– Probleminhas? Que probleminhas? – Chikage perguntou, tentando virar-se para encarar o amigo, mas Maxxcy impediu o movimento colocando uma mão em sua cintura – O que aconteceu?

– Nada preocupante – disse o mais velho, com um dar de ombros, puxando os cabelos castanhos e prendendo-os num coque mal feito, para então começar a massagear os ombros tensos do amigo – Erick caiu numa pegadinha boba. Usou um feitiço de levitação num objeto azarado que explodiu. Claro que ele não se machucou, mas ficou com os cabelos queimados e xingando o mundo. Isso distraiu Nihany e ela perdeu a visão da viagem de Alois Trancy. Quando percebeu, ainda tínhamos tempo de impedir, mas eu não cheguei a tempo. Meu primo estava tendo um piti idiota e eu tive que ficar bajulando a anta. Sabe, isso de ficar bancando o pobre primo obediente é um saco.

– E porque você faz isso? Não era melhor deixar sua família de vez? Você os odeia.

– Porque faz 20 anos que estou representando o bom menino e não vou largar tudo por causa das crises histéricas dele. Os tenho na palma da mão e eles nem percebem que fazem apenas o que eu quero – o moreno explicou. Não era como se bancar o santo lhe fosse difícil. Bastava sorrir e fingir que gostava deles, e todos acreditavam. Os manipulava tão bem que chegava até a ser chato! Se não fosse sua irmã (que nunca caia nas suas), poderia dizer que tinha a família inteira nas mãos. Mas ela que se cuidasse. Estava viva porque era útil, mas assim que deixasse de ser a descartaria facilmente. Não seria o primeiro acidente que forjava para apagar seus parentes imprestáveis. E não seria o último. O último estava previsto a anta do seu primo. E pensar que quando crianças eles tinham sido amigos. Mas a morte de Dynn estava meticulosamente planejada para ser a pior possível. E enquanto isso, ele seria o melhor primo do mundo! Por que a melhor vingança é aquela que comemos fria.

– Eles são sua família... – Chikage arriscou o comentário, mas não o completou. Nunca entendera como o professor podia desprezar tanto sua própria família.

– Para mim, não valem nada. O único que valia ali era Brian – Maxxcy resmungou, soltando os cabelos do oriental e enfim olhando para ele – Mas o que importa é que deu tudo certo. Nihany tinha dito que você conseguiria, você sabe se virar sozinho muito bem.

– Tive medo. Achei que ia falhar, que eles iam me pegar. Que iam me expulsar. Fiquei pensando no porque Nihany não tinha me avisado que eles sabiam que nunca estive em Zefir. Pensei se tinha acontecido algo com ela. Se ela estava chateada comigo. Pensei em tantas coisas! Fiquei perdido.

– É normal ficarmos dependentes dos olhos dela, eles são uma segurança, mas não podemos contar com eles o tempo todo. E se ela estiver ocupada vendo outra coisa? Depois, são vários os motivos que podem nos impedir de passar um recado a tempo.

– Imaginei que fosse algo assim. Mas ok, o que importa é que deu certo! Nem sei como consegui pensar em tudo tão rápido.

– Prática, meu querido, prática. Quantas vezes já fomos abordados por uma Rainha Má enfezada só procurando uma desculpa para nos amaldiçoar? – Maxxcy caçoou, fazendo Chikage rir! Rir de verdade. Ambos sabiam que era exatamente este dom que tinham de rir das dores que Era lhes infligia que tanto irritava os bruxos malditos. Eles não deviam ter a audácia de rirem! Eles não deviam ter a audácia de serem felizes! Eram mestiços, pela Nick!

Mas eles conseguiam rir. Conseguiam sobreviver. Conseguiam passar por cima de todas as berlindas nas quais caíam. E quando Maxxcy passava seus braços pelos ombros de Chikage, andando com ele para fora dos corredores movimentos, onde qualquer um poderia vê-los, o mais jovem colocava a mão sobre a do outro, que estava em seu ombro, e a apertava. Ele sorria feliz por estar ali, protegido pelo mais velho. Ele se sentia bem! E toda a tensão que sentira momentos antes parecia ser coisa do passado.

Como era possível que mestiços pudessem ser tão... descaradamente felizes?

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Alois olhava pela janela de Dumbledore. Como todos naquela sala, estava pensativo. Já tinham discutido muito sobre o que ocorrera sem chegar a um consenso.

Como sempre, alvo acreditava que o rapaz merecia uma chance. E ele não podia negar que se o que ouviram era verdade, ninguém ali tinha o menor motivo para expulsar o japonês.

Mas e se não fosse?

Tinham discutido muito o assunto e o garoto tinha conseguido aliados de peso. E ele próprio não podia se considerar um inimigo. Pessoalmente, não tinha nada contra o japonês. Era um bom aluno, não causava problemas e não passava de um adolescente. Mas havia algo naqueles olhos que o deixava intrigado. Muito intrigado! Era como se seu sexto sentido gritasse que havia algo estranho ali! O pior era não fazer ideia do que era esse algo. Severus achava que o problema estava na habilidade mágica do garoto, mas Alois não acreditava que fosse isso. Como Alvo mesmo dissera, alunos talentosos não eram raros e diferente do que qualquer um poderia pensar, não nutria nenhum problema com pessoas, de alguma forma, superdotadas. Admirava Alvo, Minerva, Severus, Filius e Pomona. Tinha verdadeiro interesse por alunos que demonstrassem raro talento mágico. Sentia seu ego inflar ao pensar que ajudara esses pequenos bruxos a crescerem, que colocara ao menos um tijolinho na construção de seus conhecimentos.

Mas havia algo naquele oriental que o deixava alerta, como se fosse entrar em batalha a qualquer momento! E Alois Trancy odiava essa sensação porque odiava a ideia de se por em perigo. Sua integridade física era o que mais prezava e por isso mesmo nunca se arriscava, não se sua vida não dependesse disso.

– Então, o que faremos? – Sprout perguntou, quebrando o silêncio – Vamos manter o garoto?

– Não acho que temos razões para expulsá-lo. – Minerva disse, ocultando muito bem sua preferencia pelo jovem sonserino – Mas gostaria muito de saber sua opinião, Trancy, já que foi você que levantou as duvidas sobre ele.

Ao ouvir a pergunta, o loiro suspirou e, enfim, virou-se aos presentes. Não tinha muito mais o que acrescentar.

– Não tenho nada mais a dizer. Pessoalmente, nem sequer o puniria pela mentira de ter estudado em Zefir. Se a história dele for verdadeira, e acredito que seja, ele teria muito problema para entrar no país. Sem moradia fixa, sem um responsável legal, sem documentos e ainda conhecendo tanta magia negra. Se dissesse a verdade, acho que sairia do Ministério direto para os covis de Voldemort.

– É o mais provável. – disse Severus. A preocupação que sentia sobre o possível interesse do bruxo sobre Chikage já era antiga. Ele vinha ocultando o que podia, mas sabia que cedo ou tarde, o Lord se interessaria pelo talento raro do oriental – Pelo menos, agora temos certeza sobre a origem do conhecimento dele. Se for pensar assim, nem mesmo os feitiços que ele usou para ocultar o diário são estranhos.

– Então, a menos que alguém tenha um motivo, ficaremos com ele. – Dumbledore disse, pondo fim a questão quando ninguém se pronunciou – Mas teremos que ver a questão das férias de verão. Pelo visto, o garoto não tem para onde ir.

– Principalmente quando o mais provável é que ele fique com Malfoy – Minerva disse, preocupada. Não tinha nada contra a amizade dos garotos, mas tinha muita coisa contra a aproximação de Chikage com Bellatriz Lestrange.

– Não acho que seja um problema, Minerva. – o loiro disse, voltando a olhar para a paisagem branca do lado de fora. O ano não tinha nem duas semanas ele já estava cansado – Aquele garoto sabe se defender muito bem. Ele é bom em sobreviver e tenho dó daquele que tentar forçá-lo a fazer o que não quer.

E Alois tinha razão.

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Lédi estava furiosa. Como Chikage podia ter escapado? Como?

Maldito japonês!

E ela que tivera todo o cuidado com os detalhes! Armara cada um, plantara ideias, até os olhos da Nick ela tinha despistado e para quê? Para que o maldito fosse desmascarado e ainda assim ele conseguira se safar! Maldito mentiroso! Como ele conseguia?

Irritada, a morena pegou a bola de cristal e a atirou na parede, vendo o cristal partir-se e espalhar pelo chão negro.

– Maldito Chikage. – reclamou a mestiça, mordendo a unha do indicador. Andava pelo quarto como se estivesse presa numa jaula. Mas se ele achava que ia se dar bem, estava muito enganado. Ela ainda tinha um Ás na manga e ele não demoraria a causar estrago – Esse jogo mal começou. Vamos ver até quando você consegue se esquivar. Vamos ver.

Ao que tudo indicava, ela teria que dar outro pulo às terras britânicas.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Nota: [1] Gomen, gomen – Gomen é desculpe em japonês, então a tradução seria "desculpe, desculpe".
*
N/A: Mais uma vez, começo pedindo desculpas pelo atraso monstro. Muita coisa aconteceu na minha vida esse ano e escrever foi algo realmente difícil. Sei que é chato esperar tanto e realmente sinto muito por isso.

Quanto a esse capítulo, não tenho muito o que dizer, as coisas estão começando a acontecer, a tranquilidade está acabando e uma grande tempestade vem aí! E para aqueles que acham que algo vai acontecer nessa detenção, estão certos! Uma surpresa não muito boa aguarda nosso querido casal! =P
*
Agradecimentos: A todos que vem comentando e me incentivando tanto, não tenho palavras para agradecer pelo apoio! Por isso, deixo-lhes meus mais sinceros agradecimentos! Espero não decepcionar vocês! Então, muito obrigada mesmo! É por vocês que escrevi esse capítulo!



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