Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 15
Apoie-se em mim. O valor de um amigo




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Maxxcy dormia no colo de Nihany. Provavelmente, ali era o único lugar onde conseguia dormir tranquilamente, sem preocupar-se com nada. Mesmo em seus sonhos, sentia os carinhos dela em seus cabelos.

A confiança que tinha nela não tinha limites e o mesmo valia para a jovem princesa. O que não dizia para ninguém é que Erick também gozava de tal confiança. E não só ele. Para alguém que não amava, ele confiava demais. Mas como poderia agir diferente quando Chikage e Marahmy entregam suas vidas em suas mãos sem pestanejar?

Erick dizia que quando se confia em alguém, é natural ter sua confiança de volta. Ele não acreditava nisso (ou não trairia sua família), mas talvez, para aqueles três, isso fosse verdade.

Cap 14 – Apoie-se em mim. O valor de um amigo

Harry olhou com aflição o último aluno sair das Masmorras. Pronto, estava sozinho agora com Trancy e Malfoy. A pior combinação possível! Pelo menos, Malfoy também parecia genuinamente alarmado! Na verdade, nunca vira o sonserino tão tenso. Poderia até dizer que ele estava mais pálido que o normal.

Ótimo, bom saber que Trancy também apavorava o outro.

– Muito bem, vocês dois, aproximem-se – Alois disse, guardando os frascos entregues pelos alunos na bolsa (uma imensa bolsa-mochila roxa! Tão chamativa quanto o detestado professor) – Vamos, vamos, não queremos que cheguem atrasados na próxima aula, não?

Harry engoliu em seco, olhando uma última vez para a porta que podia ser sua salvação. Será que sair correndo ainda era uma opção?

"Você enfrenta Voldemort, mas foge de Alois Trancy?" – disse aquela vozinha irritante no fundo de sua mente – "Mas é claro! Voldemort quer me matar. Trancy quer me torturar!" – respondeu a si mesmo – "Onde está sua coragem grifinória?"

Não sabia.

"Talvez tenha fugido, correndo de medo do sorriso dele" – pensou – "Talvez eu devesse ter ido com ela"

Mas não fora. E agora parecia tarde demais para correr (Será?). Virou-se, finalmente encarando o professor de DCAT e, erguendo o queixo (tentando ostentar uma coragem e determinação que não sentia), andou com passos firmes até sua mesa.

Ele iria castigá-lo? Que tentasse! Ia mostrar a ele que não havia feito nada de errado! Dera seu melhor na poção e até interagira com Malfoy! Conversara com ele ao invés de estuporá-lo! Devia era ganhar um premio por isso e não uma detenção! E que as boas maneiras que fossem para a p*** que as pariu porque não ia ser obrigado a passar nem um minuto mais junto de Malfoy!

Ai, ai, por que será que ele tinha tanta coragem para enfrentar bruxos adultos e que realmente queriam machucá-lo, mas tremia diante daquele sorriso?

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Quando Chikage chegou a mesa da Sonserina para jantar, Draco já estava sentado com Pansy e um mal-humorado Goyle. A garota parecia entusiasmada com alguma ideia que com certeza não tinha o mesmo efeito sobre o loiro (que, Graças a Nick, não parecia estar muito abalado. Chikage ficara bem preocupado com o que Trancy poderia querer com os dois rivais). Aproximou-se dos três com seus típico "andar feliz" e até riu ao saber que a animação da colega era devido a aproximação do dia dos namorados (daqui a um mês! Meninas eram ansiosas mesmo!) e que ela tinha se encarregado da festa na Sonserina. Ninguém mencionava Trancy ou o porque ele mantivera Draco e Potter na sala e Chikage optou por também não mencionar o assunto, assim, conformou-se em ouvir os detalhes da festa que a colega descrevia com um sorriso animado.

– E poderemos...

– Para que festejar o dia dos namorados? – Draco interrompeu o monologo da amiga, perguntando, pela décima vez (Chikage contou), a utilidade de uma festa como aquela. O loiro parecia meio mal-humorado e furava sem parar a pobre fruta que escolhera de sobremesa. A essa altura, a coitada já parecia uma geleia.

– Ora, porque é divertido – Pansy retrucou, pela terceira vez (não ouvira as outras sete vezes nas quais o loiro fizera a mesma pergunta), como se aquilo fosse mais do que óbvio – E você também vai gostar.

– Não vejo a menor graça – ele retrucou com acidez.

– Eu gosto da ideia. Nunca comemorei um dia dos namorados antes – Chikage disse, enquanto atacava sua segunda taça de doce fazendo os presentes pensarem que ele definitivamente comia demais para o seu tamanho.

– Nunca? – perguntou a garota, quase horrorizada, debruçando-se na mesa e igonrando o loiro novamente.

– Nunquinha.

– Nossa! Mas você já namorou? – ela perguntou, curiosa. Tudo bem que Chikage não dava muita atenção a nenhuma colega em especial, mas era tão popular! Pansy tinha certeza que ele devia ter uma longa lista de ficantes.

– Não.

– Prefere ficar a namorar? – quis saber Goyle, atacando seu quinto pedaço de bolo. Incrivelmente, Goyle ainda falava com ele, mesmo depois do nariz quebrado de Crabbe (que sempre passava pelo japonês resmungando frases como "você me paga", "ainda pego você" e "espero só". Para sua tristeza, Chikage parecia nunca ouvi-lo).

– Na verdade, não – respondeu o oriental, negando levemente com a cabeça – Mas não posso dizer com conhecimento de causa, só fiquei com uma garota até hoje.

– Nossa, isso é uma surpresa! – Pansy exclamou. Então, como se tivesse tido uma ideia de repente, perguntou – Ei, como é o Dia dos Namorados no Japão?

– Nem inventa, Pansy... – Draco começou, mas a garota, mais uma vez, o ignorou.

– Hum... bem diferente daqui, acho – Chikage respondeu, ainda com a colher na boca – Pelo que você diz, aqui homens e mulheres dão presentes um ao outro. Flores e doces, normalmente. No Japão, o presente é quase sempre chocolate e é dado pelas garotas. Para o cara que se gosta, o namorado ou marido é dado o Honmei Choco, chocolate do amor. Se for caseiro, melhor ainda. É também uma forma comum de se declarar. Por isso, é comum os meninos medirem sua popularidade tendo por base a quantidade de chocolates recebidos. E há também o Giri Choco, que é para o pai, irmãos, chefes ou melhores amigos, por isso, pode ser traduzido como chocolate obrigatório. Nestes é comum vir escrito a palavra giri, para que o cara não interprete errado.

– E os meninos não dão nada em troca?

– No dia não. Mas 30 dias depois tem o White Day, o dia do chocolate branco, que é quando os meninos retribuem, normalmente com chocolates brancos, o chocolate recebido pela namorada ou a garota a qual aceitam namorar.

– Nossa, se fosse assim aqui, você e Draco receberiam mais chocolates do que qualquer um! – Pansy exclamou, ainda inclinada na mesa.

– Draco pode ser, mas eu duvido muito.

– Não? Por que acha isso? – perguntou a garota, no rosto uma expressão puramente curiosa.

– Não precisa dar uma de modesto, cara. Isso é irritante – resmungou Goyle, finalmente parando de comer e aparentando estar chateado. De que adiantaria uma festa de dia dos namorados para ele? Nada. Ainda continuaria sem uma namorada ou um presente.

– Mas não é modestia! Se querem saber, eu nunca recebi nem um chocolate de Dia dos Namorados.

– Nunquinha?! – e Chikage teve vontade de rir da reação exagerada da garota. As pessoas costumavam chamar Pansy de cruel, sem nem imaginar que ela tinha um lado bem infantil.

– De ninguém? Nem da sua irmã? – Draco perguntou curioso, manifestando-se pela primeira vez (sem que fosse para reclamar) e parando de trucidar sua pobre sobremesa.

– Não, não. E Ju-chan não era japonesa, ela nem conhecia esse costume.

– Mas você é tão popular aqui – Pansy refletiu, sem perceber, ou dar importância, ao fato do outro ter uma irmã. Sua curiosidade pela vida do oriental era bem pouca.

– Pois é, isso foi uma surpresa! Eu nunca fui popular antes! E com certeza não era nada popular na minha ex-escola – "E se alguém de lá me desse algo, estaria enfeitiçado, tenho certeza" – completou em pensamento.

– Sabe, eu adorei essa ideia. Podiamos fazer algo assim na Sonserina...

– Não inventa, Pansy – Draco reclamou, enfim, descartando sua sobremesa torturada.

– Podiamos! Temos a Dedosdemel em Hogsmeade e um passeio para lá bem no final de semana! Seria bem divertido. Vou ver com as meninas! – disse a garota, levantando-se da mesa numa euforia atípica e saindo rapidamente do Salão Principal, sem ver a expressão de desagrado do loiro.

Draco só esperava que ela não resolvesse decorar o Salão Comunal também.

– Ela gosta de você.

– Hã?

– Ela gosta de você – Chikage repetiu.

– Isso todo mundo sabe – Goyle resmungou, pegando sua mochila e levantando-se, pois gostava de chegar cedo ao Salão Comunal e assim pegar os melhores lugares. – Vou indo, vocês já vão?

– Daqui a pouco – Draco respondeu enquanto Chikage mostrava a taça de doce inacabada. Goyle entendeu e saiu do Salão Principal, deixando os dois amigos sozinhos – Eu já sei sobre Pansy, ela já me disse.

– E vocês tentaram ficar juntos? – Chikage perguntou.

– Não. Eu gosto muito dela, mas não dessa forma. Eu lhe disse isso. Mas fui com ela no Baile de Inverno do 4º ano – Draco contou com um suspiro. Para ele a garota era especial, mas de uma forma diferente. Não queria machucá-la, mas também não queria namorá-la.

– Hum... mas você sabe que ela não deixa outras garotas chegarem perto de você, né?

– Sei, mas não digo nada porque não me incomoda, realmente – Não era como se ele gostasse de alguma de suas colegas mesmo. E já que não conseguia retribuir os sentimentos da amiga, se mantê-lo longe de outras a fazia feliz, que assim fosse.

– Sabe quando cheguei aqui, até estranhei. Achei que vocês namoravam, mas você não parecia nada incomodado por ela ficar andando comigo. Depois pensei que ela fosse do tipo "namorada chiclete" e que você estava aliviado por ter um tempo sozinho. Então percebi que vocês apenas tem uma amizade diferente. Mas você sabe que isso a machuca, não?

– Só tenho duas opções: continuar seu amigo ou me afastar. Então, deixei que ela escolhesse o que a machucava menos.

– E o que vai fazer quando você se apaixonar?

– Com sorte, ela já estará apaixonada por outro. Eu não lhe dou esperanças.

– Bom, com ela afastando todas as garotas, realmente fica difícil arranjar alguém – Chikage disse, levando outra colher de doce a boca e lambendo-a de forma quase indecente – Cara, amor platônico é um saco, né? Séria tão mais fácil se pudéssemos escolher quem amar.

– Nem me fale – Draco resmungou, seus olhos procurando inconscientemente por Harry, sentado de costas para ele. Ah, como queria poder esquecer aquele moreno! Estava tão cansado de ter seus pensamentos sempre presos no grifinório.

Nesse momento, Harry olhou para trás, o que fez Draco abaixar a cabeça, fingindo pegar um copo de suco. Droga, ainda não tinha forças para encarar os olhos verdes. Percebeu o olhar questionador de Chikage frente a seu silêncio repentino e isso o fez pensar se devia aproveitar a oportunidade.

Chikage ainda não havia perguntado nada. Nem mesmo perguntara o que Trancy tinha dito (diferente de Pansy e Goyle, que tinham lhe enchido de perguntas). Chikage sempre o deixava falar primeiro. E já havia contado o que estava acontecendo com ele, e Draco queria retribuir a confiança. Não era uma troca. E se fosse, que se danasse! Ele queria fazer isso.

Suspirou, antes de falar baixo e rápido, antes que mudasse de ideia novamente.

– Tomei um fora.

Chikage parou por um ou dois segundos. Sua expressão neutra, mas o loiro sabia que ele tinha entendido. Ele sempre entendia, por mais lacônicas que fossem suas palavras.

– Posso fazer uma pergunta? – Chikage perguntou de forma suave, encarando os olhos cinza.

– Duvido que possa me constranger mais do que já fez até hoje. Pode.

– Quando tomamos um fora, é natural sofrer, chorar, perder a fome e todos esses sintomas dos apaixonados. É uma das coisas que mais dói. E você visivelmente está bastante triste ultimamente. O que me faz pensar que você gostava mesmo dela. Então, porque você se recusa a sentir essa dor? Você não é do tipo insensível. Me falou dos seus pais, de sua tia, mas porque pode sofrer por eles e não por ela? Não que deva gostar mais dela ou qualquer coisa do gênero... Ok, estou divagando de novo. A pergunta é: porque você não pode sofrer ao tomar um fora de alguém que provavelmente gostava de verdade? Para mim, alguém que consegue agir como se nada tivesse acontecido não gostava de verdade.

Nunca tinha pensado por esse lado.

– Não foi bem assim. Sempre soube que eu não tinha a menor chance. Sinto-me um idiota por gostar de alguém que sei que me odeia. E por continuar gostando. Não queria lhe dar mais esse gostinho, só isso.

Chikage olhou para baixo, brincando com o fim de seu doce, demorando um pouco para responder – Por mais que saibamos que não temos chance alguma, acredito que sempre há aquele fiozinho de esperança, aquele "se" que alimentamos, mesmo inconscientemente. Acho que é por isso que muitos dizem que não é possível desencanar de alguém de verdade antes de tomar um fora. Doí, todos sabem, e tem que ser muito insensível ou sádica para ficar feliz com o sofrimento de alguém que gosta de você. Draco, você gostaria de alguém assim? Que sentisse prazer com sua tristeza? Acha mesmo que alguém assim vale a pena?

Draco não respondeu. Apenas abaixou a cabeça, pensando. As palavras de Chikage tinham o dom de atingi-lo. E ainda não sabia se isso era bom ou não.

– Pelo menos, você enfim se libertou disso.

– Será? – Draco murmurou. Seus sentimentos por Potter não haviam ficado mais fracos, mesmo depois de tudo. Será que ele masoquista? Ou somente um idiota?

– Bom, você sempre pode tentar uma segunda vez – Chikage respondeu. Finalmente terminando sua sobremesa.

– Nunca – respondeu o loiro, irritado só com a possibilidade. Nunca mais falaria com Potter. Ia era ignorar o outro! Ignorá-lo por completo. E só precisava convencer seu coração disso.

Só precisar convencer a si mesmo que podia não pensar em Harry. Mas como não pensar em alguém que não se consegue esquecer?

– Se você diz – e agora eles levantavam. Draco não percebeu os olhos de Potter fixarem-se nos dois, nas mãos dadas dos dois enquanto deixavam o Salão Principal – Mas, sabe, ela deve ser meio doida.

– Por quê?

– Quem em sã consciência te rejeitaria?

– Sério, isso soou muito estranho – Draco resmungou, desviando o olhar, sentindo-se um tanto quanto envergonhado. Chikage às vezes falava cada coisa!

– Você acha?

– Sim – respondeu, tentando, em vão, ignorar o calor que surgia em seu peito dolorido.

– Bom, eu sou estranho, não? – disse, sorrindo. E então voltou a caminhar, de uma forma exageradamente feliz, quase saltitante, balançando levemente as mãos de ambos, como que para irritá-lo.

Draco então se perguntou, se esquisitice era contagioso.

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Lédi Crow era a única menina mestiça que se atrevia a ocupar um lugar de bruxa maldita no Castelo de Era. E tinha muito orgulho disso. Ascendera da posição de simples escrava sozinha e chegara onde estava com muita luta e esforço. Não tinha um único amigo ali (não desde que Syren, sua melhor e única amiga havia sido assassinada) e se orgulhava de não possuir um ponto fraco.

Andava sempre de modo altivo, queixo erguido e olhar atento, sempre pronta para amaldiçoar qualquer um que se julgasse superior a ela (ou seja, todos). Odiava a todos e a qualquer um e, principalmente, odiava os mestiços do Castelo, aqueles três que achavam que eram alguma coisa só porque tinham caído nas graças da Nick. Odiava a alegria e a força de Maxxcy, o sorriso de Chikage e a indiferença de Erick, odiava os três por eles se darem tão bem. Odiava-os por serem felizes ali.

Sabia que muitos pensavam que sua raiva era por nunca ter sido convidada a se unir ao Trio Mestiço, mas não se importava com isso. O que os outros pensavam não a afetava (ou não sobreviveria ali), tudo o que lhe importava era sobreviver. Por ela e por Syren, que nem um túmulo recebera (afinal, não passava de uma escrava). E era por Syren que ela subia as longas escadas negras, era por sua amiga albina que nunca fora nada mais do que uma idiota feliz que acreditava que um dia teria um dono agradável que ela agora evocava uma magia proibida.

Por que Syren, não tivera um dono agradável, que não sobrevivera para ser dela, enquanto Chikage sobrevivera para ter Yukina. E exatamente por isso, ela se vingaria. E se ninguém ali tinha coragem de enfrentar diretamente o bichinho de estimação da Nick, ela provaria que nisso também era muito superior a eles.

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– Ei, Mione, o que está lendo? – Harry perguntou, sentando do lado da amiga, que tinha um livro nas mãos.

– Um livro de contos – a garota respondeu, sem tirar os olhos das páginas – Onde está Rony?

– Brigando com Gina – respondeu o moreno, com um suspiro – Ele não gostou de saber que ela está com o Faustus.

– Com o Faustus? – ela perguntou, finalmente levantando o olhar – Não era o Comarc?

– Disse bem, era. Mione, seja sincera, Gina está mesmo trocando demais de namorado ou sou eu que estou sendo exagerado?

Diante da pergunta, a garota abaixou o livro, marcando a página com o dedo, e umedeceu os lábios antes de responder, de forma cuidadosa.

– Eu acho que ela está no direito dela, Harry. Gina é muito bonita e muitos garotos querem namorá-la. E como ela não gosta de nenhum, é normal que não se mantenha com eles. Você não pode culpá-la por tentar. Se ela está trocando demais de namorados. Bom, para mim, sim. Mas isso porque eu não consigo agir assim. Não sou extrovertida, e nem popular. Só que, Harry, há uma diferença entre concordar que ela está mesmo trocando muito de namorado e entre achar isso errado. Quanto a Rony, bom, ele só está sendo ciumento.

– Mas se ela não gosta deles, por que sai com eles?

– Mas quem garante que ela não virá a gostar? – Hermione perguntou e Harry sabia que a amiga percebera muito bem sua surpresa diante da pergunta. Por que Gina não podia se apaixonar por outra pessoa? – Harry, o que você sente em relação a Gina?

E, por um minuto, Harry pensou em fazer-se de indignado e responder o que sempre respondia a si mesmo "ela é a irmãzinha do meu melhor amigo", mas... não o fez. Ele apenas olhou fundo nos olhos castanhos, antes de desviar o olhar e resolver que era hora de se abrir com a amiga. Porque ele vinha procurando por uma oportunidade dessas a semana toda e não sabia quando outra surgiria. Fez um gesto com a cabeça, chamando-a para acompanhá-lo para fora do Salão Comunal, ao qual ela retribuiu com um aceno afirmativo. Só quando os dois estavam do lado de fora, caminhando pelos corredores desertos, ele voltou a falar.

– Eu não sei bem, Mione. Minha cabeça está uma confusão danada. Nem eu sei o que está acontecendo comigo.

– Desde quando está se sentindo assim, Harry?

– Desde que percebi que estava olhando demais para a Gina – ele disse, com um suspiro – Não sei quando comecei a reparar nela, mas de repente, ela estava lá. E eu conseguia ver porque tantos meninos a desejam e eu a queria também. Mas ela é a irmã do Rony! E devo ter dito tantas vezes a mesma coisa que quando percebi, já não a olhava mais. Mas não gosto dessa troca frequente de namorados dela.

– Você ficou com ciúmes – Hermione disse, depois de pensar um pouco – Ela não era sua namorada e você não gostava dela, mas ela é a irmã do Rony e de certa forma você também se sente responsável por ela. Além disso, Gina sempre foi apaixonada por você, e você sabia disso. Descobrir que você não é mais o centro do mundo de alguém é sempre um baita golpe na autoestima. Então é natural que você tenha ficado enciumado.

– Não... eu não... – Harry tentou argumentar, antes que as palavras de Hermione fizessem sentido em sua mente. Ele estava com ego ferido? Só porque Gina, que gostara dele desde os 11 anos havia desistido desse amor sem esperanças e partido para outra? Por mais que quisesse dizer não, isso tinha uma lógica danada!

– Harry, quando você reparou em Gina pela primeira vez? Não na irmãzinha do Rony que ficava vermelha cada vez que você olhava para ela, mas na Gina mesmo?

– Não sei... em algum momento do ano passado, acho.

– Ou seja, apenas depois que ela não gostava mais de você, pois estava namorando.

– É, acho que sim.

– E como você se sente sobre o fato dela namorar? Tem ciúmes? – ela perguntou, e quando Harry assentiu com um movimento de cabeça, continuou – Quando a vê com algum garoto, o que sente é parecido com o que sentia quando via Cho com Cedrico?

– Não... acho que não.

– Então, Harry, sinto em informar, mas eu não acho que você esteja apaixonado pela Gina. Ou algum dia esteve.

Harry assentiu, continuando a caminhar com o olhar baixo.

– Harry, Gina sempre esteve ali, então não é incomum que você só tenha reparado que um dia ela poderia não estar quando outro se interessou por ela – Hermione disse, abrindo a porta de uma sala/depósito vazia e caminhando com Harry até um banco abandonado, no qual os dois sentaram – Mas o fato de perceber que podia perdê-la também não implica em amor. Você não se apaixona por alguém apenas porque outra pessoa reparou no quanto ela é atraente.

– Mione, quem você acha que a Gina amava? – Harry perguntou, lembrando-se então de um pequeno flash de um sonho antigo.

– Como assim?

– Quem você acha que a Gina amava? Eu, o Harry, ou o Harry Potter?

Hermione fixou seu olhar no seu por um instante, mais uma vez, processando as palavras ditas, pensando sobre elas, e provavelmente achando mais significados do que ele teria conseguido.

– Harry, você é Harry e é Harry Potter. Não pode ser um, sem ser o outro. Não importa o quanto você não se sinta um herói, ou o quanto você não queira sua vida divulgada, ou o quanto você não deseje regalias. Por que você sempre as terá. É como... dizer que não entende as pessoas que são obcecadas em serem bonitas. É fácil criticar fulana porque ela vive de regime, passa maquiagem ou muda seu cabelo. É muito fácil dizer que ela não está conseguindo ser ela mesma se você é magro e é bonito. Se você não precisa se preocupar com dietas porque seu peso nunca muda, se você não tem que se preocupar em se arrumar porque as pessoas vão te olhar mesmo de moletom. E por mais que você tente você nunca vai saber o que é sentir vergonha porque pôs uma blusa mais justa ou porque lhe nasceu uma espinha no nariz.

– Não sei se...

– Não entende? Por mais que você odeie que as pessoas se importem com sua vida, você nunca vai saber o que é ser ignorado, Harry. As pessoas gostam de atenção. Gostam de elogios e gostam de serem notadas. E para muitos, a forma como você obteve tudo isso, também não é justo.

– Meus pais morreram, Mione – Harry argumentou, como sempre fazia quando tocavam no assunto.

– Sim. E os de mais quantos? Quantos aqui não tem pais por causa da guerra? E quantos os têm, mas não podem ficar perto, como Neville? Ele também os perdeu – ela retrucou, fazendo-o pensar numa verdade que inconscientemente já havia aceitado – Harry, o que quero dizer é que você é Harry Potter tanto quanto é Harry. Você tem muitas características que são suas, e fariam parte de você independente de qual fosse seu sobrenome ou sua criação. Mas também há muito de você que foi desenvolvido exatamente por ser Harry Potter – ela disse, vendo como Harry abaixava a cabeça, pensando.

Será que ele seria muito diferente se não houvesse essa guerra? Se tivesse tido seus pais? E adiantava pensar nisso, agora? Isso mudaria alguma coisa?

– Agora, quanto a Gina. – Hermione continuou – Bom, eu não posso dizer com certeza, mas acho que Gina amou justamente essa mistura. Claro que quando ela te conheceu ela tinha uma ideia sobre você. Você era o menino-que-sobreviveu e um herói. É fácil amar os heróis. E estava ali, do lado dela! Mas então, ela te conheceu, Harry. E ela continuou te amando. Acho que isso só foi possível porque ela tinha uma ideia de você que muito correspondeu com a realidade. Não houve uma quebra de ilusão, houve uma confirmação. Se o ponto inicial disso não foi bem você... Bom, quando você se interessou pela Cho, você a conhecia?

– ... Não...

– Mas você gostou dela. Você criou uma imagem dela e gostou dessa imagem. E daí se essa imagem foi criada a partir de um livro ou uma idealização própria? Você gostava da Cho, mesmo raramente tendo falado com ela e pouco a conhecendo. E o que aconteceu quando vocês ficaram juntos? Ela te decepcionou. Não foi de propósito, mas simplesmente...

– Não era o que eu esperava...

– E não deu certo. Eu não acho, Harry, que a Cho não teve culpa, e não acho que você não teve culpa. Havia muita coisa envolvida. Mas todo relacionamento tem muita coisa envolvida. Se você se apaixonasse por Gina, haveria também. Haveria toda uma família que você ama e que te ama, mas que poderia perder se as coisas dessem errado.

– Eu pensei nisso. Tive medo disso.

– Acho que qualquer um teria – Hermione disse, passando um braço pelos ombros do amigo – Mas todo relacionamento envolve um risco, Harry. Ele já começa quando você não sabe se será ou não correspondido.

Harry concordou, apoiando a cabeça no ombro da amiga, pensando em suas palavras.

– Sabe, Harry – ela continuou, acariciando seus cabelos revoltos – Eu não acho que pensar nisso vai alterar alguma coisa. Eu realmente acredito que Gina gostou de você. E que você gosta mesmo dela. Mas não da mesma forma. Isso. Não é culpa de ninguém, não é errado e, infelizmente, não há nada que se possa fazer a respeito. Quanto a você sentir ciúmes dela, ah, isso é normal. Todos sentem ciúmes daqueles que gostam.

– Sim, acho que sim – Harry disse, sorrindo – Eu sentirei muito ciúmes do rapaz que ficar com você. Porque não terei mais você do meu lado o tempo todo. Obrigado, Mione. Por estar sempre aí. Não importa a besteira que eu faça, você nunca sai do meu lado.

– E não pretendo sair – ela disse, apoiando sua cabeça na dele. Deixando que um silêncio confortável preenchesse o ambiente. Ainda havia muito a ser dito, muito a ser conversado e um assunto em particular que Harry queria muito discutir com ela, mas não mais naquele momento.

Então, num movimento instintivo Harry passou os braços pela cintura da amiga, fechando os olhos e apreciando o carinho que esta lhe fazia nos cabelos. Eles nunca tinham se abraçado assim (ele nunca tinha abraçado alguém assim!) e Harry finalmente pode perceber o quanto um colo podia ser reconfortante. E o quanto sentia falta desse simples ato de carinho.

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Desligou o chuveiro e levou as mãos aos cabelos castanhos, apertando-os, tentando retirar o excesso de água antes de puxar a toalha e secar rapidamente o corpo. Era impressionante como sentia frio fácil! Ou não, se levasse em conta o calor infernal ao qual se acostumara no seu antigo lar. Só depois de estar com o corpo seco levou a toalha felpuda aos cabelos fartos tentando, sem sucesso, secá-los também.

O vapor já se dissolvia quando abriu a porta do boxe ainda de olhos fechados, sentindo a pele arrepiar devido ao vento frio e ao caminho que as pequenas gotas de água que escorriam dos fios castanhos faziam em seus ombros e peito.

– Maxxcy? – exclamou surpreso, ao abrir os olhos e dar de cara com o amigo moreno – Quando você chegou aqui?

– Há menos de um minuto. Quantas vezes vou ter que lembrá-lo da importância disso, Chikage? – o mais velho perguntou, erguendo a mão para que o japonês visualizasse o colar de pedras coloridas que segurava – E se você sabe a importância disso, como presumi que saiba, pode me dizer o que isto estava fazendo jogado na sua cama? Ou terei que repetir, de novo, que não deve nunca afastá-lo de você? O que está esperando, perdê-lo?

– Hã... Não... É que vim tomar banho e...

– Trouxesse-o com você! Pela Nick, Chikei, você não é mais criança, quantas vezes vou ter que repetir o que isso significa? – Maxxcy resmungou, sem mudar a expressão. Mas sua voz estava grossa e um tanto rude e o japonês sabia que ele estava bravo.

– Ah, bom – Chikage disse, sem jeito por estar tomando a mesma bronca de novo. A toalha esquecida por sobre seus ombros, os cabelos molhados ocultando os olhos verdes – Não estamos no Castelo Negro e... não achei que tinha perigo.

– Não achou? – Maxxcy perguntou, sua voz oscilando entre a surpresa e a indignação. E pensar que ele achava que Brian dava problemas! O primo podia ser teimoso, arrogante e persistente demais, mas pelo menos nunca fora inocente. E Maxxcy tinha muita dificuldade para lidar com a inocência de Chikage. Preferia mil vezes mais lidar com a sagacidade e crueldade do pequeno moreno que praticamente criara e que assistira morrer quando tinha apenas 14 anos. E tudo por quê? Por que o outro acabara se apaixonando. Às vezes, Maxxcy odiava o maldito alemão que lhe roubara uma das únicas pessoas no mundo que ele verdadeiramente gostava. A única pessoa em sua família que merecia sua consideração.

– Desculpa – Chikage disse ao ver Maxxcy fechar os olhos e pressionar a base do nariz com o indicador e o polegar, gesto que conhecia bem e normalmente queria dizer "esse garoto é burro ou o quê?"

– Vamos pegue isso – o moreno disse, estendendo a mão enluvada. Chikage obedeceu e resgatou o pesado colar – E nunca mais o deixe longe de você. Não importa o motivo. Pela Nick, Chikei, quantas vezes terei que dizer que sua vida é esse colar?

– Você deu o seu a Nihany.

– Porque ela é a minha vida – o professor disse, avançando um passo e cortando a distância entre eles, puxando a toalha verde que havia sido esquecida e começando a secar de modo rude os cabelos castanhos – E não fique tanto tempo assim molhado. Você fica gripado com muita facilidade.

Chikage sorriu, aproveitando o raro momento de carinho de Maxxcy, mas não conseguiu conter um ai quando este passou a camiseta limpa por sua cabeça de forma brusca.

– Doeu – reclamou, enquanto passava os braços pelas mangas e Maxxcy retirava os cabelos úmidos de dentro da camiseta, fazendo com estes um coque mal feito.

– Culpa sua – retrucou o moreno, prendendo seu cabelo sem o auxilio de um elástico. Chikage nunca tinha entendido como o outro conseguia tal façanha! Aliás, só por conseguir prender seu cabelo Maxxcy já mereceria uma medalha! – E coloca logo isso.

– Sim, sim – o menor respondeu, levando o objeto até o pescoço e prendendo o fecho do grande colar, feito com 7 pedras retangulares de 4x5 cm, cada uma de uma cor, presas por argolas de metal prateado. Era bonito, mas parecia pesar tanto quanto o seu significado.

– E, por favor, nada mais de deixá-lo jogado por aí. Entenda de uma vez que só porque está fora do Castelo Maldito não quer dizer que está seguro. E que se qualquer um pegar isso aí terá, literalmente, sua vida nas mãos. O que tem de tão difícil em aceitar isso?

– O fato de que isso não passa de uma coleira?

– Bom, você é um bruxo de Era. E qualquer um que viva naquela terra morta está encoleirado. Dê graças por usar uma coleira de bruxo maldito ao invés de uma de escravo, animal ou bicho de estimação.

– Eu não me importaria que ficasse com ele enquanto eu estou aqui.

– Mas eu me importaria. Nunca confie sua vida a outro, não importa quem seja. E não confie em mim a esse ponto. Não importa o quanto eu seja sincero com você ou mesmo goste de você, eu o mataria se fosse preciso. Sabe disso.

– Sim, eu sei – Chikage disse, olhando para as pedras que agora adornavam seu pescoço. Conhecia bem o moreno e sabia que Maxxcy não era capaz de amar e que a única pessoa que lhe importava no mundo era Nihany. Mas também sabia que além da princesa, o moreno estimava apenas mais 4 pessoas: Erick, ele mesmo, a pequena libiana Mahramy (tão falsa quanto o próprio professor) e seu falecido primo Brian. Todas as outras pessoas tinham para ele o mesmo valor: nenhum – Mas sabe, ele não é nada fácil de disfarçar, já que é imune a magia.

– Por isso mesmo lhe demos isso – Maxxcy disse, puxando a pequena gargantilha de courino do bolso, colocando-a sobre o colar de pedras. Chikage sentiu quando o lacre de proteção foi ativado – Sabe que o visual carregado ficou bem em você?

– É, mas eu vivo levando bronca dos professores por isso.

– Ignore – respondeu o mais velho, com um dar de ombros, verificando se a gargantilha ocultava por completo o colar de pedras – E termine de se vestir!

– Hai, hai [1] – respondeu o oriental com um sorriso, pegando sua cueca e calças. Ainda bem que trancara a porta do banheiro. Com certeza teria muito o que explicar se fosse surpreendido por alguém. Mas não tinha muita certeza de como explicaria o fato de estar sozinho num banheiro, vestindo somente uma camiseta e acompanhado de um homem mais velho (isso sem contar os trajes de motoqueiro que Maxxcy usava sempre que estava fora do Castelo Negro: calças justas de couro, assim como botas de cano alto, luvas e jaqueta preta).

– Então, como andam as coisas? – perguntou o moreno encostando-se no gabinete do banheiro e cruzando os tornozelos, finalmente mudando de assunto – Você já está melhor?

– Na medida do possível, sim. Mas meus pesadelos voltaram – respondeu o mais novo, fechando o zíper da calça roxa que vestia. E sorrindo! Porque, por mais louco que aquilo soasse, mesmo sabendo que Maxxcy não conseguia gostar das pessoas, que ele era frio, sádico, manipulador e cruel e não sabendo o que o amigo vira nele, Chikage confiava no moreno mestiço. Mesmo que isso não fosse esperto da sua parte, ele confiava. Tocou levemente a gargantilha que ocultava o símbolo de sua prisão. O objeto que continha dentro de si sua própria vida. Sentia seu calor junto com a certeza de que o entregaria nas mãos do homem a sua frente sem hesitar. Pois, de forma figurada ou não, sua vida pertencia a ele. A ele, a Erick e a Nihany. E não tinha nenhum valor sem os três. Nem para si mesmo.

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– Então cara, o que foi que Trancy queria com você e Malfoy? – Rony perguntou ao entrar no dormitório e ver Harry na cama – Aliás, onde você estava? Não te vi quando cheguei.

– Estava conversando com a Mione.

– Ah! Sobre o quê?

– A minha nova detenção – Harry disse, com um suspiro – É, cara, ganhei mais uma detenção.

– Que droga! O que aquele doido do Trancy tem na cabeça? – Rony xingou e Harry ficou feliz pela solidariedade demonstrada pelo amigo – Não me diga que ele vai acorrentar vocês dois de novo?

– Ele não disse, mas nos mandou ir na sala dele amanhã.

– Isso não é justo! Não é mesmo! Vocês fizeram a dupla e fizeram tudo direitinho! Por que será que Trancy invoca tanto com vocês?

– Eu bem que gostaria de saber – Harry disse, com um suspiro. Nada do que dissera em seu favor adiantara, o professor-que-conseguia-ser-mais-odiado-que-Snape- no-seu-primeiro-ano não dera atenção a uma única palavra que dissera, só ficara lá, repetindo que os dois precisavam aprender a se entender e que não pensassem que ele era um idiota e não tinha percebido que brigavam. Ah, como Harry quis enfiar o tubo com sua poção goela abaixo de Trancy e ver se com isso ele calava a boca.

– Ei, Harry, você disse que estava com a Mione, né?

– Sim.

– Você... – Rony começou e Harry estranhou sua hesitação. Rony não costumava ter dificuldade para lhe perguntar nada – Você também acha que a Mione anda falando demais do Kakichi?

– Ah, não sei. Talvez um pouco – Harry disse, pensando no assunto pela primeira vez. Sim, Mione vinha falando demais sobre o japonês, mas Harry achara que era porque estavam estudando juntos 3 vezes por semana. Sabia que eles ainda se encontravam vez ou outra na biblioteca, mas... É, pensando agora...

– Um pouco? Ela só sabe dizer que Kakichi disse algo, leu algo ou ensinou algo! Ontem estava toda animada porque ele entrou para o F.A.L.E! E anteontem por que ele lhe ensinou um feitiço novo! Daqui a pouco, vai querer até aprender japonês para ter mais assunto com ele! – o ruivo debochou. Ele não estava fazendo nenhuma força para esconder seu ciúmes e Harry teve vontade de rir disso, mas achou melhor manter sua expressão o mais neutra possível. Rony parecia ainda não ter se dado conta do que dizia e não seria ele a alertá-lo. Ainda não.

– Ah, Rony, não seja exagerado! E você sabe como Mione ama aprender.

– Mas nunca se empolgou demais com as coisas que tentamos ensinar para ela.

– Bom, ela não gosta muito de quadribol e não tem muito mais o que possamos ensinar para ela além disso.

– Isso não é justo. Esse cara chega do nada, faz amizade com a escola inteira e ainda fica monopolizando a Mione – Rony queixou-se antes de entrar no banheiro com um bater de porta, não vendo o sorrisinho de Harry. Ora, não é que Rony finalmente estava prestando mais atenção em Mione? Harry acomodou-se melhor na cama, feliz com a ideia de que seus amigos pareciam, enfim, estar notando um ao outro.

Só esperava que Rony notasse os sentimentos de Hermione antes que Chikage se fizesse notar.

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Quando Chikage tentou passar pela entrada da Sonserina quase foi atropelado pelo pessoal do primeiro ano que saia correndo da sala, rumo a aula de Astronomia. Brincalhão como era, o japonês logo entrou na onda, rodando no mesmo lugar e erguendo as mãos, como se tivesse se rendido. O que fez as meninas rirem, antes de passarem correndo por ele. Somente depois que o último aluno saiu, que o oriental se dirigiu a parte mais escura e menos movimentada do Salão Comunal, onde Draco conversava com Crabbe, Goyle e Zabini.

– Caramba, achei que seria atropelado! – brincou, jogando a mochila no chão – Que susto que eles me deram! Como é possível que uma turma inteira quase perca a hora?

– Parece que a aula foi adiantada de surpresa por causa de um cometa – Draco respondeu, folheando distraidamente um livro fino de capa preta.

– Hm... espero que o professor não fique bravo com o atraso deles então – Chikage disse, ignorando por completo o rosnar invocado de Crabbe e fingindo não ver a varinha que ele segurava apontada para o recém-chegado. Não duvidava que Crabbe tentasse azará-lo em público, mas depois da última investida do colega, Chikage estava sempre atento e, por mais que não fosse sensato estar tão confiante, sabia que alguém dificilmente o atingiria se ele estivesse preparado para isso. Treinara com Maxxcy, afinal!

– Soube que a ideia de trocar chocolates no dia dos namorados foi sua – Zabini mencionou, de forma entediada. Ele, como Draco e Pansy e mais meia duzia de alunos, pareciam estar ignorando muito bem o fato do oriental ser um sangue-ruim. E isso era uma enorme surpresa!

– Bom, não foi bem minha – respondeu o japonês, passando a mão na nuca – Pansy me perguntou como a data era comemorada no Japão e eu contei. Agora parece que além de ter dado a ideia, virei seu consultor! Ela não sai mais de trás de mim! E não para de fazer perguntas e mais perguntas! Não sei responder metade delas. Até fui procurar por um livro sobre datas festivas no Japão, mas não achei muita coisa.

– Ainda foi sua ideia. Culpa sua. Não reclame – murmurou Goyle, entretido com as imagens de uma revista em quadrinhos, era vísivel que ele não a estava lendo.

– Olha, depois dessa, vou manter minha boca bem fechada.

– E isso é possível? – perguntou Crabbe de forma rude, levantando-se e quase empurrando Goyle no processo. Draco o olhou repreensivo, desde sua briga com Chikage que os dois não vinham se falando, o que deixara Vicent com ainda mais raiva e indignado. Um puro sangue como Malfoy não podia estar ignorando o fato de seu amigo ser trouxa! Ele devia era estar enfeitiçado!

– Sabe, se eu fosse você, tomava cuidado com ele – Zabini falou, levantando-se também – Crabbe não é muito talentoso, mas quando está com raiva pode ser perigoso.

– Não se preocupe, não vou mais me distrair perto dele.

– Espero que sim. Por que ele não te suporta e é vingativo. E pode demorar, mas Crabbe vai achar um jeito de se vingar.

– Obrigado pelo aviso – Chikage agradeceu com seu costumeiro sorriso.

E assim que Goyle cansou de sua revista e também se levantou dizendo que ia deitar mais cedo, Chikage escorregou de sua cadeira para o sofá que Draco estava.

– Você não parece muito bem – disse, sentando ao lado do amigo e apoiando um braço de forma displicente no encosto do sofá.

– Impressão sua – respondeu o loiro, sem olhar nos olhos verdes e esticando as pernas para apoiá-las na mesinha de centro, ainda fingindo ler. Chikage já havia notado a carta com o selo dos Malfoys, intocada, ao lado do loiro.

– Quer conversar? – perguntou, apoiando a cabeça no braço esticado no encosto do sofá.

– Não.

– Ok – respondeu, afastando-se levemente no sofá e espreguiçando-se, respeitando a vontade do outro e colocando uma certa distância entre os dois.

– Hã? Só isso? Não vai me perguntar de novo ou insistir? – surpreendeu-se o loiro, finalmente desprendendo os olhos do livro e procurando pelo olhar sereno do japonês. Mas este ainda olhava para frente.

– Se não quiser falar, não precisa. Se quiser, estou aqui – Chikage disse antes de finalmente encarar os olhos tempestade – Não precisa se forçar.

– Isso é psicologia reversa?

– Não – Chikage respondeu, com um sorriso, aproximando-se de forma lenta e ficando, novamente, ao seu lado, seus corpos quase se encostando – Só estou dizendo a verdade – completou, pegando na mochila uma revista de palavras cruzadas.

Por quanto tempo permaneceram assim? Ele tentando ler, Chikage escrevendo palavras sem parar. Percebeu os alunos deixando o Salão Comunal, buscando o calor de suas camas, percebeu as páginas que o amigo concluía e sentia o frio da noite mais forte. Mas não queria sair dali. Não queria ir a lugar algum. Sentia-se cansado e deprimido. Mas felizmente, não se sentia sozinho. Pela primeira vez em muito tempo.

– Ei – Chikage disse ao terminar a revista e rompendo o silêncio entre eles. No Salão Comunal restara apenas um pequeno grupo de quartanistas que já se arrumava para também irem para suas camas – Você está com sono?

– Não.

– Então, levanta – Chikage disse, erguendo-se com um pequeno salto.

– Hã?

– Vai, levanta. E pegue dois cobertores nos dormitórios. Eu volto já, já.

– Onde vai?

– Vou te ensinar o melhor remédio que existe para qualquer mal! – disse o japonês, no rosto, um sorriso tranquilo enquanto estendia sua mão enluvada para Draco – Vamos, confia em mim.

E o que o loiro podia fazer além de aceitar a oferta do outro?

S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/

Era difícil não se sentir idiota ao ficar parado no centro do Salão Comunal com dois cobertores nos braços, sem fazer a menor ideia de para que os usaria.

Olhou para os lados, tentando imaginar qual era a ideia doida que Chikage tivera dessa vez. O pior era aquela vozinha em seu interior que teimava em lhe dizer que se ficasse ali, amanhã teria outra lembrança vergonhosa. Devia mesmo era ir para a cama. Mas seus pés não se mexiam. E por mais estranho que fossem os planos do japonês, estes eram muito bem vindos, principalmente se fossem ajudá-lo a esquecer a dor que queimava em seu peito e o fazia sentir vontade de chorar.

Estava se sentindo um idiota.

Um tremendo idiota por ainda se sentir afetado por Harry e por estar reagindo de maneira tão dramática a nova detenção que Trancy inventaria.

Não queria estar assim, mas não conseguia simplesmente ignorar a dor. Por que doía demais! A indiferença, o ódio, as lembranças e a perspectiva de que estaria, novamente, perto demais do moreno... ele não estava pronto para isso. Não estava.

Se sentia fraco e idiota por isso. Mas se sentir assim não mudava o fato de que não estava pronto para enfrentar os olhos verde esmeralda.

E pensar que ele nunca tivera esperança.

Ou tivera? Será que lá no fundo ele realmente acreditava que não tinha chance?

Era duro amar alguém que não se importava em nada com você. Que vivia repetindo que não havia chances e o quanto não significava nada. Que continuava rindo e brincando e com Granger. Enquanto ele ficava chorando pelos cantos. Era como se ele não afetasse em nada Harry... Droga, onde estava o velho Draco Malfoy, inabalável e arrogante? Onde estava sua velha determinação? Sua velha raiva? Onde estava seu velho eu? Preferia o menino mimado que fora do que o rapaz deprimente que estava se tornando.

Ergueu o rosto ao ouvir o barulho da entrada, vendo o jovem oriental entrar. Ele segurava uma caixa grande de papelão e sorria como se tivesse aprontado uma grande travessura. E sem perceber, Draco sorria também.

Quando foi que se tornara tão patético?

Chorando por Potter, tornando-se sentimental e apoiando-se tanto num rapaz que mal conhecia?

– Wow, legal, você já está aí. – Chikage disse, apoiando a caixa numa mesa próxima – Enquanto eu arrumo aqui, pega umas almofadas e põe perto da lareira.

– O que vamos fazer? – Draco perguntou, sem perceber que já o obedecia. Era estranho, nunca antes tinha se sentido tão bem perto de alguém, tão liberto de suas máscaras. Era como se com Chikage pudesse ser apenas Draco e ninguém mais. E isso o assustava!

– Acampamento!

– Hã?

– Vamos acampar frente a lareira! – respondeu o japonês, sorrindo como sempre – Nunca fez isso?

– Nunca.

– Então estará pronto a conhecer uma das maravilhas do mundo! É impossível se sentir deprimido frente a uma lareira quente, um cobertor e boa comida – Chikage explicou, tirando da caixa que trouxera um prato com pedaços de bolo, uma garrafa com leite, barras de chocolate, uma travessa com frutas picadas e uma lata.

– Você parece uma criança que acabou de descobrir que o Natal chegou mais cedo – disse, terminando de forrar o chão com almofadas, ainda sorrindo. Porque por mais assustado que ficasse, poder ser ele mesmo e sentir que gostavam dele, independente de seu nome, era também sentir que amarras haviam sido finalmente rompidas. Não havia mais as correntes que o prendiam sob o nome Malfoy, sob o nome sangue-puro, Comensal ou guerra. Só havia ele mesmo. E a sensação de liberdade era incrivelmente superior a de medo.

– Eu adoro fazer isso! Vamos, senta aí e se enrola com o cobertor – Chikage disse, levando as coisas até o chão, depositando-as do lado de Draco – Já comeu frutas com creme de leite?

– Creme de leite? Não – respondeu. Estar ali, com ele, era sentir-se como se de repente estivesse nu, sem nada que o ocultasse dos olhos verdes. Era impressionante o quanto a sensação não o desagradava, mesmo que ele muitas vezes ainda se sentisse bastante desconfortável.

– Nossa, é um alimento bastante popular entre os trouxas ocidentais! Quando criança, morria de vontade de provar isso. Por isso, a primeira coisa que fiz quando cheguei na Inglaterra foi comprar uma lata. Fiquei viciado! Só não tenho um estoque embaixo da cama porque Winky resolveu guardá-las na cozinha para mim.

Mas Chikage nunca o olhava como se julgasse. Encarando sua nudez com uma naturalidade desconcertante.

– Winky?

– Não sabe quem é? É uma das elfas que trabalha na cozinha. Ela tem enormes olhos castanhos, bebe muito e vive chorando. Tem um aventalzinho bem sujo.

– Raras vezes fui na cozinha. – Draco disse, pegando a lata para ler o rotulo. Queria sentir nojo daquele alimento trouxa, mas não conseguia desprezar algo que agradava tanto o amigo. Era como desprezar uma parte dele. E Chikage não desprezava nenhuma parte de si, nem as piores. Embora algumas com certeza fossem mais ruins do que o gosto que o japonês tinha por coisas... estranhas – Mas você vai tanto lá que não me surpreenderia nem se conhecesse todos os elfos pelo nome.

– De fato... eu sei o nome de todos eles. – Chikage disse, pegando dois copos e descartando a caixa agora vazia – Ah, qual é, você não esperava que eu os tratasse por "elfo", né?

– Na verdade, sim – e porque se sentia levemente envergonhado por isso?

– Qual o problema em chamá-los pelo nome?

– Por que precisa fazer isso?

– Bom, acho que é porque eles tem um nome.

– Você tem umas ideias estranhas – o loiro reclamou, pegando o copo cheio que lhe fora estendido e observando como o amigo dispunha os pratos ao seu lado (comida suficiente para um batalhão!). Era estranho porque eram diferentes em tanta coisa! Em gostos, em princípios, em ideias, mas se davam bem. Passavam por cima disso e muitas vezes, era como se essas diferenças não importassem.

– Não sou só eu. Sabia que a Granger também é contra o modo como tratamos os elfos? Até criou um grupo de apoio à liberação deles.

– Só podia ser a Granger – resmungou, dobrando os joelhos e enrolando-se no cobertor. Com as diferenças que tinha com ela, ele não conseguia passar por cima.

– Bom, eu a apoio. Sou contra a escravização de qualquer criatura viva.

– Mas eles gostam de ser escravizados.

– Você já perguntou isso a eles?

– Não. Mas uma vez que ninguém os obriga, não haveria outra razão para fazerem isso se não gostassem. A maioria dos elfos não quer ser livre – E isso Draco nunca conseguiu entender, mesmo que também nunca tenha pensado no assunto. Era como se fosse algo natural e por ser natural, não precisava ser questionado. Sendo assim, o que sentia por Chikage, também, não? – Como sabe que eu gosto de doces com laranja e coco?

– Dobby me contou.

– Dobby?

– Sim, ele foi seu elfo doméstico, não? Ele me contou que trabalhou para você até 1993, mas veio trabalhar aqui há dois anos e pouco.

– Você não só sabe o nome deles, como sabe sobre a vida deles? – perguntou, sentindo-se novamente desconfortável. Se Dobby contara tudo o que faziam com ele, Chikage não falaria do assunto sorrindo, falaria? E o que o japonês pensaria disso? Claro que não havia nada que pudesse ser repreendido, mas... Não queria ver um olhar de censura no outro, mesmo que estivesse certo. Por que neste momento, precisava demais do apoio dele. Mais do que devia se permitir precisar.

– Bom, passo um tempo enorme na cozinha, então conversamos muito. Dobby é o mais diferente deles. Se bem que eu gosto particularmente de Winky. E de Monstro. Ele é muito engraçado! Mesmo que esteja já meio doidinho. Morro de rir com as histórias dele! E olha que ele me chamava de Mestiço sujo! Agora vamos, abra as pernas.

– Hein?

– Vamos, abra as pernas. Vai. – Chikage repetiu, empurrando sem força alguma o pé de Draco com o seu. – Vai, abra.

Se alguém perguntasse a Draco porque ele as abriu, ele não saberia dizer. E qual não foi sua surpresa ao ver Chikage virar as costas para ele e sentar-se entre suas pernas, acomodando-se ali, as costas encostadas no seu peito, a cabeça em seu ombro esquerdo. Pegando então o outro cobertor e cobrindo-se com ele. Agindo com uma naturalidade tão desconcertante que Draco sentiu as bochechas rosadas!

– O que quer comer primeiro? As frutas ou o bolo? – perguntou o japonês, como se a posição na qual se encontrassem fosse a mais normal de todas! Seu cabelo fazia cocegas em seu rosto e seu corpo pequeno ajustava-se demais ao seu.

– Er... frutas... agora. Fiquei curioso quanto ao tal... creme da lata – conseguiu articular. Sentia-se tão sem jeito que até sua fala estava falha! Que vergonha! E ele era um Malfoy!

Mas Chikage não o via como um. E ele nunca se sentia sob o peso de ser um Malfoy com ele.

– Se gosta de doces, vai amar! Da próxima, podemos fazer fundae, o que acha? – o oriental disse, virando-se minimamente e erguendo uma vasilha com as frutas picadas. Draco a pegou com a mão direita, pensando em como comeria com o outro enfiado ali! – Você ficou sem jeito de repente, por quê?

– Estava me perguntando porque você se enfiou aí – e a sinceridade em suas palavras assustava até a si mesmo.

– Eu ficar aqui te incomoda? – ele perguntou, virando o rosto para encará-lo, os rostos tão próximos que Draco se perguntou como era possível que Chikage estivesse tão confortável assim!

– Não. É só... estranho.

– Você acha? Se quiser eu saio.

– Não precisa – foi a resposta que saiu, mais rápida do que precisaria.

– Hm... eu fazia muito isso com o meu irmão. Então, acostumei. Depois, eu sinto muito frio!

– Por isso está sempre com luvas e botas?

– É – ele respondeu, esfregando sua perna de forma lenta na de Draco, para então cobrir melhor ambas com o grosso cobertor. O couro preto da bota era macio ao toque e Draco sentiu seu corpo ficar quente. Chikage às vezes se movia como uma gato, de forma dengosa, suave e sensual. Gostava muito de toques e invadia seu espaço pessoal de forma desconcertante.

– Como é o seu irmão? – resolveu perguntar, curioso. E também desejoso de que a conversa mudasse seu foco de pensamento.

Ao ouvir a pergunta, Chikage virou o rosto, voltando a olhar para frente, para as chamas que se moviam. Ele fazia muito isso, ficava com os olhos fixos no fogo, a mente em algum lugar distante. E nos momentos seguintes, Draco observou como a luz do fogo, a direita de ambos, fazia as sombras brincarem por seu rosto, o modo como faziam os cabelos castanhos brilharem, querendo ver os olhos ocultos pela franja farta demais.

– Muito diferente de mim – as palavras vieram lentas e roucas. Distantes – Erámos quase opostos. Eu sempre fui pequeno e de aparência frágil, ele era alto e muito forte. Tinha ombros largos e a pele bem morena. E olhos azuis escuros, como o mar da noite. Era impaciente, rude, teimoso, mal-humorado, briguento, e muito, muito protetor. Os outros zoavam muito de mim, por causa da minha aparência, e por isso ele sempre acabava batendo em todo mundo – ele sorriu, como se a lembrança lhe fizesse bem. Chikage o amava, não precisava perguntar para saber. Havia amor em cada palavra dita – Ele gostava de esportes e adorava o ar livre, cantava muito mal, mas sempre cantava para mim. Não tinha nenhum talento com atividades manuais ou números, mas fazia qualquer bicho gostar dele.

Não passou despercebido a Draco que Chikage dissera todos os verbos no passado. Não perguntou nada, não era preciso. Abraçou o corpo pequeno com força, apoiando o queixo em seu ombro. Sem muitas palavras, ambos apenas ficaram ali, comendo e sentindo o calor um do outro.

Foi incrivelmente bom e Draco pensou que deveria "acampar" mais vezes.

S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/ S&L/

Draco não percebeu quando cochilou. Nem fazia ideia de que horas eram quando acordou. Percebeu que estava escuro, o fogo da lareira havia apagado, mas ele continuava quente.

Esfregou os olhos, tentando acordar e ignorar a vontade de esticar os músculos cansados, pois em seu colo Chikage ainda dormia, a cabeça encostada em seu peito.

Com dificuldade, alcançou a varinha e conduziu a comida restante para a caixa na qual Chikage a trouxera, com certeza os elfos a levariam depois (e arrumariam a bagunça que fizeram). Só então esticou as pernas e mexeu no ombro do amigo, chamando-o baixinho, tentando em vão acordá-lo. E agora? Não poderiam ficar ali até de manhã, mesmo que não estivessem com frio.

Tentou chamá-lo mais alto, mas não conseguiu. Chikage dormia tão bem que não teve coragem. Devia era agradecer por ele ter apagado sem tomar nenhum remédio, não acordá-lo. Então o que fazer?

Com outro suspiro, afastou o cobertor que cobria o amigo, tentando sair do abraço sem acordá-lo, o que não foi nada fácil e exigiu muita elasticidade para que se erguesse e passasse a perna por cima do oriental sem que soltasse sua cabeça ou o movesse. Quando se viu livre, juntou os dois cobertores, colocando-os no colo do japonês para só então tentar erguê-lo nos braços.

Felizmente, Chikage era tão leve quanto seu tamanho indicava e não foi difícil para Draco carregá-lo até a escadaria. Agora só faltava decidir onde deixá-lo. Não queria ser pego entrando no dormitório do outro com ele nos braços, mas onde poderia ir? Provavelmente, o melhor era deixá-lo em sua própria cama e então dormir na cama do oriental.

Sem se preocupar com o barulho que porventura fizesse, pois todos protegiam suas camas com o feitiço abafiato por causa dos roncos de Crabbe, Draco conseguiu abrir a porta e chegar a sua cama, soltando ali o amigo adormecido. Mas não conseguiu soltar as mãos que agarravam sua blusa com tanta força.

– Ikanai, nii-san – Chikage murmurou, ainda dormindo, quando este tentou soltar-se, encostando a testa nas mãos fechadas e escondendo o rosto em seu peito.

– Ei, fale em inglês para eu entender – Draco reclamou, sentando-se na cama – E agora, o que eu faço com você?

Como se ouvisse a indagação, Chikage se encolheu, apertando a blusa do loiro com mais força e repetiu as mesmas palavras.

– E agora? – Draco disse, sem saber o que fazer. Passou as mãos nos cabelos e olhou para os lados, tentando se decidir. Mas era difícil pensar com Chikage o abraçando com tanta força.

Suspirou novamente, dessa vez passando as mãos nos cabelos castanhos do amigo.

– Fazer o quê – resmungou, tentando acertar a posição do amigo na cama, tirar as botas dele, os próprios sapatos, fechar as cortinas e deitar-se no espaço pequeno. Tudo isso sendo firmemente agarrado pelo outro.

Afinal, deixar o amigo dormir não lhe faria mal nenhum, certo?

Dormiu sentindo o peso da cabeça dele em seu braço e a respiração dele em seu pescoço.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Nota: [1]Hai hai Hai é sim em japonês, então a tradução seria "Sim, sim". Lembrando que o H tem som de R!
*
N/A:Gente, desculpa mesmo pelo atraso! Muita coisa aconteceu na minha vida e eu passei quase 3 meses sem conseguir escrever uma única palavra! Meu arquivo salvo era de 25 de fevereiro! Mas juro que estou tentando e não vou desistir de voltar a ter atualizações decentes nessa fic!

Não tenho muito o que dizer desse capítulo, só que espero que gostem e por favor, desculpem os erros. Resolvi postar sem uma revisão mais critica porque ou era isso, ou sabe-se lá quando eu teria tempo de ler de novo. Espero que gostem, ele ficou com o dobro do tamanho esperado (e já foi cortado no meio!) então fico me perguntando se não estou repetitiva demais...

Quanto a detenção do Trancy, o que vocês acham de decidirem? Opinem! Vou escolher algo dentre as sugestões de vocês para o nosso querido professor de DCAT aplicar no nosso casal!
*
Agradecimentos: Simplesmente, não tenho palavras para agradecer a todos que vem comentando e me incentivando tanto! Só posso mesmo dizer muito obrigada! Esse capítulo é para vocês!