Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 14
Entre verdades e segredos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/208987/chapter/14

– Era está surtando de novo – disse Erick, sentando do lado do amigo moreno – Está querendo amaldiçoar um.

– E quem se importa?

– Todos, exceto você.

Sim, Maxxcy era o único ali que ignorava o perigo que a bruxa Rainha presentava. Ele sempre fora assim, desde pequeno, quando não tinha habilidade suficiente nem mesmo para se defender, mas já se recusava a abaixar a cabeça ou tirar os olhos da figura imponente. Sempre a desafiando, como se não a temesse.

E mesmo depois de mais de duas décadas, desde que Andrey deixara a pequena criança aos seus cuidados, este continuava o mesmo de sempre.

Não era a toa que de todos os mestiços, Maxxcy era o mais odiado.

– Sabe, acho que entendo porque Era te odeia.

E ele... riu.

Capítulo 13 – Entre verdades e segredos

Ainda era bem cedo. Tem coisa pior do que acordar antes do despertador e não conseguir voltar a dormir? Virou para o lado, tentando pegar no sono novamente, mas depois de mudar de posição na cama pela 7ª vez em menos de 15 minutos, Draco optou por levantar de uma vez.

Trocou de roupa sem se preocupar em não fazer barulho, sabia que ninguém o ouviria, todos no dormitório usavam feitiços silenciadores em suas camas por causa dos roncos de Gregory e Vicent. Porém, não conseguiu sair do quarto.

Ficou ali, estático, na frente da porta, a mão na maçaneta, a mente em fatos passados.

Aquilo era tão ridículo!

E o relógio ainda marcava 7 horas.

Sete horas da manhã, a menos que Chikage tivesse virado outro vidro de poção do sono com certeza ele já estava acordado há muito tempo e o esperava na Sala Comunal para o café da manhã. Por sempre esperá-lo, ambos sempre acabavam chegando atrasados, já que o loiro odiava acordar cedo. O fazia apenas porque nunca lhe fora permitido acordar tarde na escola, nem em casa. Seu pai sempre dizia que para alguém de sua posição, acordar tarde ou chegar atrasado era algo indigno! Mas Draco era impontual por natureza! Bastava ter um horário marcado que tudo conspirava para seu atraso. E pensar que agora estava acordando cedo demais quase todos os dias devido a seus sonhos, que haviam adquirido uma frequência assustadora desde sua detenção com Potter, em dezembro.

E nessas manhãs insones, Chikage acabara se tornando seu bálsamo, pois era graças ao amigo que não ficava sozinho, podendo, pelo menos nesses momentos, esquecer das imagens0 que o impediam de dormir.

Ou era assim até ontem.

Céus, como encararia o amigo agora?

Respirou fundo, pensando se passar o dia no quarto seria uma opção.

"Vai começar a fugir dele também?" – respondeu aquela vozinha irritante em sua cabeça.

"Não estou fugindo de ninguém" – respondeu a si mesmo.

"Mesmo? E você acredita mesmo nisso?".

Não.

– Ah, que beleza, agora eu estou falando comigo mesmo! – resmungou revoltado, decidindo por abrir de vez aquela porta e descer as escadas de cabeça erguida. Não ia fugir de mais isso.

Cabeça erguida e passos lentos.

Por que mesmo estava com medo de encarar Chikage? Por que sentia vergonha de vê-lo? Não havia feito nada de errado! Não havia. E seria burrice da parte dele acreditar no contrário.

Tanta preocupação para nada. O Salão Comunal estava gelado e vazio.

E se o oriental não estava ali, isso era porque Chikage havia virado outro vidro de poção e estava, com certeza, apagado em sua cama.

Droga! O que será que o estava afligindo tanto o outro para que ele se forçasse a esquecer dormindo desse jeito? Tinha que estar acontecendo algo, afinal, Chikage não gostava de dormir! E tinha insônia! Então porque agora ele queria tanto passar a maior parte do tempo apagado? Qualquer um sabia que nenhuma poção poderia ser usada diariamente como ele vinha fazendo.

Medicar-se duas a três vezes por semana era normal (Draco sabia que essa era a dosagem padrão que Chikage tomava, pois eram os únicos dias nos quais o amigo não acordava antes mesmo das 5h da madrugada! Sempre tão cheio de energia que o loiro muitas vezes se perguntava se ele tinha enfiado o dedo num rato elétrico [1]). Aquilo não era normal!

O pior era saber que não podia fazer nada, nem adiantava perguntar algo. A menos que quisesse ver a situação se inverter novamente, coisa que o amigo parecia fazer com tremenda habilidade, e ele não servir para nada. Acabar apenas chorando de forma humilhante, não ajudar em nada, e ver o outro que escapar pela tangente mais uma vez.

Sentou-se na poltrona favorita do amigo, acendendo a lareira e buscando algo para fazer enquanto o esperava. Podia ir na frente, mas isso só serviria para adiar o encontro de ambos. E por mais envergonhado que estivesse de suas ações anteriores, Draco estava preocupado e cansado de fugir e negar a si mesmo.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

Não sabia sobre o que Rony falava. Queria prestar atenção, mas não conseguia. Estava com o estômago embrulhado e sonolento, pois não tinha dormido bem na noite passada.

Mesmo assim, forçou-se a comer pelo menos uma torrada ou Hermione iria brigar com ele! Atenta como era, ela sempre percebia quando algo estava errado. E sempre tinha bons conselhos. Por isso queria tanto conversar com ela.

Ela era sempre tão lógica, tão atenta, nunca o julgava e sempre deixava que ele terminasse de falar. Não que Rony não fosse um ótimo amigo também, porque era! E ele amava Rony! Era só que Rony era o melhor amigo para se falar de quadribol, jogos, truques, aulas, garotas. E Hermione era a melhor amiga para se falar de sentimentos e medos. Porque a garota podia não entender a diferença que havia entre uma Bluebottle e uma Firebolt, nem o prazer de dormir na aula ou a chatice de ler um livro de 400 páginas empoeirado que falava sobre a importância das fadas mordentes (se é que elas tinham alguma!), mas entendia muito bem o medo que ele sentia do futuro, sua insegurança, seu nervosismo, sua repulsa a fama e seus sentimentos, além de entender, sem julgar, os problemas que ele vinha passando com Malfoy.

Ele não podia dizer a Rony o que se passara entre os dois no dia que passaram acorrentados, mas podia dizer a Mione. Ou não dizer, porque a garota entendia seu silêncio, respeitava-o e consolava-o, mesmo que estivesse apenas sentada ao seu lado, com o braço por sobre seus ombros. Gestos simples que diziam mais que o mais extenso dos discursos.

Rony era a diversão e o companheirismo para os momentos ruins e Hermione era a compreensão e solidariedade nos momentos de tristeza. Assim como os Weasley eram a família que não tinha e Luna seu ponto de apoio quando se sentia deslocado, diferente e sozinho pela perda de Sirius. E Gina? Gina era a irmã de seu amigo que lhe despertava olhares estranhos e sentimentos de ciúmes.

Mas então, porque ele não estava se importando tanto como deveria com o fato dela estar do lado de Comarc, toda sorrisos, mas estava completamente encucado com o fato de Malfoy não ter aparecido para o café? E nem Chikage.

– Então, o que acha? – Rony perguntou, de repente, sobressaltando Harry e tirando-o de seus pensamentos.

– Bom... – Harry começou, sem jeito, mas, para sua sorte, Rony o interrompeu.

– Vamos, cara, vai ser muito divertido! Há quanto tempo nós não fazemos algo só nós três? – disse, apontando para si mesmo, para Harry e para Mione.

– Hã, claro, tudo bem – confirmou, meio sem jeito por não ter ouvido o ruivo, mas se era algo envolvendo os três, com certeza não era ruim! – E quais os planos exatos? – perguntou, torcendo para que Rony não estivesse falando exatamente sobre isso. Para sua sorte, parecia que não.

– Domingo levantamos bem tarde, passamos na cozinha e vamos para a Sala Precisa! Um domingo como os que temos lá em casa, só nós e muito Snap explosivo, xadrez, doces e revistas! Ainda não li aquelas revistas em quadrinhos trouxas que você arranjou!

Revistas em quadrinhos trouxas? Desde quando ele tinha isso?

– Só não gosto da parte "nada de livros da biblioteca", mas o resto parece legal – disse Hermione, parecendo realmente animada – Obrigada por não incluírem vassouras e bolas de quadribol.

– Para quê? Para você grudar na nossa cintura por ter medo de altura? – Harry perguntou, sorrindo – Sinto em dizer, mas você voa e joga muito mal, Mione.

– Que culpa eu tenho de não gostar de altura? – a garota perguntou, fingindo uma expressão ofendida, mas rindo em seguida.

– Sério que você faz isso? – Rony perguntou, tentando soar zombeteiro, e assim disfarçar o ciúmes e o mau-humor que sentiu. Por que Harry sabia disso e ele não? – não me lembro disso.

– Harry está lembrando da vez que montamos Asafugaz juntos. Ele reclamou por dias que eu quase esmaguei suas costelas.

– Isso sem mencionar nosso voo em testralios, ano passado.

– Mas desse você não pode reclamar! Voei sozinha. E descobri que voar neles é muito mais confortável do que voar num hipogrifo ou numa vassoura.

– Sim, sim, está certa – Harry concordou, ainda sorrindo. Estava feliz, porque ao lado deles, por maior que fosse o problema, ele sempre conseguia sorrir de verdade!

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

– Bom dia! – Chikage cumprimentou, num tom animado, enquanto descia os últimos degraus e entrava no vazio Salão Comunal da Sonserina. Eram quase 9h.

– Bom dia, Chikage – foi a resposta séria que recebeu, e que dizia claramente que de bom o dia ainda não tinha nada, antes do loiro ficar de pé e pegar sua mochila, virando as costas para o mais novo.

– Nossa, 'tá tudo bem? – perguntou o recém chegado, deixando a surpresa transparecer no olhar. Será que tinha feito algo de errado?

– Eu que deveria perguntar isso. Mas como não vai me responder, acho melhor irmos andando. Estamos bem atrasados – Draco respondeu, sem nem olhar direito para trás, abrindo a passagem e saindo da Sonserina. Sabia que tinha sido um pouco sério demais ao cumprimentá-lo, mas não podia evitar. Ainda estava preocupado com o amigo, mesmo que este tivesse dito, de forma subtendida, que o loiro não podia fazer nada para ajudá-lo.

Mas seria possível agir como se não estivesse notando nada? E fingir que nada acontecia enquanto via o outro se drogando com aquela droga de poção do sono?

Queria dizer que parte de sua frieza vinha da sua própria falta de jeito em como lidar com o japonês, agora que tinha deixado mais uma de suas máscaras cair, mas sabia que isso só seria verdade caso o tivesse encontrado acordado como sempre no Salão Comunal, cheio de energia antes mesmo do dia ter amanhecido.

Mas ele não estava.

Chikage ainda ficou parado no mesmo lugar por alguns minutos, vendo o loiro cruzar a entrada da Sala Comunal e só então correndo até parar atrás dele e então começar a segui-lo com passos lentos, como se o fato de estrarem atrasados em nada os afetasse. O silêncio entre eles pela primeira vez, desconfortável.

– Hum... Aconteceu algo? – arriscou-se a falar o oriental, visivelmente confuso – Ei, Draco, não vai falar comigo? Draco?

Draco não respondeu e continuou a andar, sem se preocupar em olhar para trás, sabia que estava sendo seguido, pois ouvia o barulho das botas de Chikage atrás de si. Diferente do que podia aparentar, não estava com raiva, apenas sentia-se perdido. O que devia fazer? Abordar o assunto novamente? Tentar conversar de novo? Trazer a tona o assunto inacabado, e desviado, da noite anterior? Normalmente não ligava para o modo como o japonês desviava o rumo das conversas, mas e se ele fizesse isso de novo? E se... ele optasse por lhe dar uma resposta direta e negativa? Não queria, e sentia medo de ouvir algo como "não é da sua conta".

– Draco? Qual o problema? – Chikage voltou a perguntar, e não estava sorrindo agora. Não precisava olhar para saber, era fácil perceber pelo som de sua voz. Quando serio, ela ficava mais rouca, mais baixa e mais carregada de sotaque. Draco ainda não tinha identificado de onde vinha esse sotaque. E mais uma vez, não respondeu.

– Draco? Você está me ignorando? Olha, se você não quer falar comigo, tudo bem, mas me ignorar não é a melhor saída. Ei, custa me dizer o que foi que eu fiz? Juro que não faço ideia! Draco, por favor! Estou pedindo. Será que terei que ficar falando sozinho? Eu posso fazer isso. Posso falar até você não aguentar mais! E, sabe, eu consigo falar por bastante tempo. Também consigo ser bem chato quando quero. Do tipo que fala, fala, fala e fala sem parar e ainda fica fazendo perguntas. E insiste. E não desiste. Eu posso ser bem, mas bem teimoso. E sou bem experiente em irritar. E não tenho medo de cara feia. Draco? Está me ouvindo? Vai mesmo me ignorar? Não tenho nem o direito de saber o que eu te fiz? Olha, seja o que for, eu peço desculpas...

– Isso não vai funcionar, Chikage. Cresci com a Pansy. E ninguém fala mais do que ela. Acredite. – Draco respondeu impassível, ainda sem olhar para trás.

– Quer que eu vá embora? – e agora o barulho de seus passos cessou. Ele tinha parado.

– Huf, pra onde? – perguntou, indiferente. Porque, quando Draco ficava perdido, agia como sua mãe e como ela, mascarava suas dúvidas com uma expressão de tédio.

– Basta pedir. E eu sumo da sua frente até segunda ordem – e agora eles estavam parados, mesmo que Draco ainda estivesse de costas – Só adoraria saber o que fiz antes.

– Você sabe muito bem.

– De verdade. Não sei.

– Não mesmo? E o que foi tudo aquilo ontem? Eu fui sincero com você! Mais do que já fui com qualquer outra pessoa! Mas... – Draco não gritava. Como seu pai, sua voz mantinha sempre aquele tom frio e impessoal. Como se ele não se importasse, mesmo que suas palavras dissessem o completo oposto.

– O quê? Achei que já tínhamos nos acertado ontem...

– Bom, desculpe então se eu ainda estou preocupado com você. E gostaria de tentar te ajudar, mesmo que você não me julgue capaz. Mas se tudo o que eu posso fazer é ver você se drogar, então, sinto muito, mas não quero ver isso. Já perdi muita coisa ultimamente e não quero ver você também desaparecer por entre meus dedos enquanto eu só posso assistir.

Draco desabafou, sem, contudo, alterar sua voz ou a expressão. Isso com certeza orgulharia Lucius. Os dois ainda se encaram por mais alguns minutos, em completo silêncio.

– Desculpe – foi tudo o que Chikage conseguiu dizer, os olhos, pela primeira vez, fixos no chão.

– Não quero suas desculpas.

Chikage mordeu o lábio inferior, olhando para o lado, o que fez o loiro pensar que ele procurava uma rota de fuga. Os braços cruzados sobre o peito, como se abraçasse a si mesmo, protegendo-se. Nessa posição, ele parecia tão mais frágil e pequeno.

– Olha, se vai desviar do assunto de novo, nem precisa se dar ao trabalho de... – começou a dizer, sem saber se o tom que queria empregar naquelas palavras era de dor ou de raiva. Mas que diferença fazia? Ainda parecia tédio e indiferença.

– Não.

– Oi?

– Eu não estou pensando nisso.

– Então no que está pensando?

– No que você está pensando?

– Vai me enrolar de novo? – e, céus, essa perspectiva doía. Doía a ideia de que seus sentimentos de confiança não eram retribuídos. Não era uma troca de verdades (como o amigo dissera antes), mas confiança ainda era apenas uma resposta natural. Se você confia em alguém, quer que ela confie de volta. Se ama, deseja amor. Draco não queria um relatório completo de todos os segredos do outro, só deseja saber o que acontecia para ajudar! Só o fazia porque se importava! Era só por isso!

Mas ele merecia isso, não? Afinal, nunca retribuíra a amizade de seus amigos na mesma moeda.

Por que sempre acabava por entregar seus sentimentos aqueles que não desejam devolvê-los?

– Não vou – Chikage respondeu, dessa vez, olhando em seus olhos.

Silêncio mais uma vez. Droga de silêncio.

– Não quero brigar com você – Draco soltou, finalmente – Não quero. Mas você me desnorteia! Eu só estava preocupado com você! Só isso. Não perguntei por curiosidade ou algo do tipo. Eu só estava preocupado. E você... não estou pedindo para...

– Eu sei.

– Se sabe, então, porque...?

– Eu também estou preocupado com você.

– Ah, claro, a história da mesma moeda de nov...

– Não – Chikage negou, balançando a cabeça como para enfatizar a negativa – Não é isso. Eu só...

– AHÁ! ALUNOS FORA DA SALA! – Filch gritou, ao virar o corredor e ver os dois no fundo deste. A aparição repentina do zelador fez os dois saltarem de susto, mas antes que Draco pudesse pensar em algo (seu distintivo tinha que valer de alguma coisa!), Chikage cortou a distância entre eles, agarrou sua mão e correu para a direção oposta a do homem.

– VOLTEM AQUI! VOLTEM AQUI AGORA! – Filch gritava, correndo atrás deles – Assim que eu puder minhas mãos em vocês vou pendurá-los pelas canelas! Voltem aqui!

– Não mesmo! – Chikage respondeu ao fazer uma curva particularmente acentuada, fazendo Draco quase cair em cima dele devido ao movimento repentino. Mas o medo dos passos cada vez mais próximos do homem furioso os fez recuperar o equilíbrio em tempo recorde e continuar a correr, sem nem perceber que estavam com as mãos unidas novamente.

Um lance de escada e outra curva acentuada num corredor pequeno (no qual quase atropelaram Madame Norrra) e Draco parou com tudo, trazendo o corpo menor a sua frente para o seu num movimento brusco que quase os derrubou novamente.

– Por aqui – disse, sem folego, abrindo uma sala com a varinha.

Era uma sala grande, com duas portas, e ambos correram para a outra, abrindo-a e disparando corredor afora. Não diminuíram a velocidade mesmo que a esta altura o furioso homem que os perseguia já estivesse fora de vista e entraram na primeira porta que viram, trancando-a por dentro e desabando no chão, a procura de ar.

– Ele... ele... não corre... muito... para alguém... da sua idade...? – ofegou o oriental, os braços apoiados nos joelhos dobrados, o rosto quase escondido.

– ... É... veloz... de ruindade... – respondeu o loiro, passando as mãos no cabelo e rindo, ao encarar o sorriso do outro – Isso... foi quase ridículo. Só alunos do 1º ano são pegos por ele!

– Só não sei... se o mais ridículo... fomos nós dois correndo dele ou nos escondermos num banheiro – Chikage disse, jogando os cabelos para trás, revelando as bochechas coradas (ele ficava realmente bonito assim, despenteado, ofegante e com as bochechas coradas) e finalmente olhando ao redor – E, pelo visto, feminino. Isso vale uma detenção?

– Com certeza. Cara, que susto! – e agora foi a vez de Draco esconder o rosto nos braços, ainda rindo baixinho.

– Foi.

Os dois ainda ficaram sentados no chão, na mesma posição, por mais alguns minutos, recuperando o folego. Um sorriso maroto nos lábios. O clima entre eles novamente normal.

– Desculpa – Chikage disse, esbarrando seus dedos nos de Draco, num movimento sutil que já tinha se tornado rotineiro entre eles.

– Tudo bem – o loiro respondeu, sem olhá-lo nos olhos – Eu não pretendia brigar com você. Só estava...

– Preocupado. Eu sei.

– E envergonhado – confessou o mais velho, ainda olhando para a parede – Não devia ter descontado em você.

– Envergonhado?

Draco abaixou a cabeça, quase a escondendo nos braços, diante da inocente pergunta do amigo. Mesmo sem olhá-lo, notava sua expressão confusa.

– Por causa de ontem – respondeu, finalmente entrelaçando seus dedos nos do outro, que começou a acariciar sua mão fazendo movimentos circulares com o polegar.

– Ontem? – e diante do aceno afirmativo do loiro – Por quê?

Draco não respondeu, apenas abaixou um pouco a cabeça, sentindo-se constrangido pelas lembranças da noite anterior. Talvez estivesse sendo idiota em se sentir assim, mas o que podia fazer? Sentia o olhar do oriental sobre si, mas não conseguia colocar seus pensamentos em palavras. Não precisou, Chikage tomou a frente novamente.

– Foi por que chorou? – indagou, acertando o alvo facilmente – Está envergonhado por isso? Qual é Draco! De tantas coisas... Não foi nem a primeira vez que o vi chorar.

– Como? – perguntou, surpreso. Essa notícia era novidade.

– Eu já tinha visto você chorar antes – respondeu, com um dar de ombros.

– Quando?

– No dia seguinte ao passeio a Hogsmeade. Você dormiu no Salão Comunal, lembra? – Draco corou, devido a lembrança de ter dormido no colo de Chikage. Era impressão sua, ou ele andava fazendo coisas muito... vergonhosas ultimamente? – Você chorou enquanto dormia.

– Não fiz isso!

– Fez, sim.

Draco abaixou de novo a cabeça, escondendo-a nos braços, ainda apoiados nos joelhos, sentindo seu rosto queimar.

– Qual... o problema em chorar? – e dessa vez, Chikage não olhava para ele – Eu não entendo porque você acha isso tão ruim. Porque se envergonha disso.

– Odeio me sentir vulnerável – respondeu, a voz abafada por causa do rosto escondido.

E isso, Chikage entendia muito bem. A necessidade de esconder a si mesmo sob uma máscara de inatingível. O que não entendia, era a necessidade de se ocultar até mesmo daqueles que amava. Diante desses, tudo o que desejava era ser ele mesmo.

– Tenho medo de bicho-papão – Chikage soltou, depois de alguns minutos em silêncio.

– O quê?

– Tenho medo de bicho-papão. Muito. Aquele dia que você foi até meu quarto, quando dormimos juntos, eu tinha encontrado com um numa sala deserta do 2o andar. Desde então, estou tendo pesadelos. Eles fazem isso comigo. Por isso exagerei nas doses da poção do sono. Por mais que não goste, eu preciso dormir e não estava conseguindo – E, dormir sob o efeito da poção, era também a única forma de esquecer as lembranças despertadas. E como queria esquecê-las! Esquecer do rosto de Chiaki e da voz de todos eles, dos gritos de todos, da risada dela.

– Pensei que tinha dito que não faria uma troca, que não trocaria sua história pela minha – lembrou o loiro, ainda sem sustentar o olhar do amigo.

– Eu disse – respondeu, jogando o quadril para mais perto do dele, as mãos ainda unidas – E isso não é uma troca.

– Então o que é?

– Hum... digamos que uma confissão – e agora seus olhos se encaravam – Ou um pedido.

– Pedido?

– Sim. Pode ser de desculpas, mas isso ia soar mesmo como uma troca. Um pedido de desculpas por tê-lo deixado preocupado, e envergonhado. E seria um pedido quando, bom, eu vi um momento "vergonhoso" seu, você fica sabendo de um fato vergonhoso a meu respeito. E assim, quem sabe, para de desviar o olhar do meu. Ou de ficar se perguntando como agir na minha frente.

– Isso me soa como uma troca.

– Não, não é – Chikage sorriu encostando sua cabeça no ombro do amigo – Até porque, você não me disse nada ontem. E ainda não sei o que aconteceu com você.

– Eu ia te contar – mesmo que não soubesse como faria isso – Mas pensando bem, não vou mais, você está colecionando fatos vergonhosos demais a meu respeito.

– Você acha?

– Você não?

Por Merlin, eles estavam mesmo tendo aquela conversa num banheiro feminino?

– Na verdade, não consegui pensar em nenhum. O que nós já fizemos de tão vergonhoso assim? Quais foram os outros momentos que presenciei? – Chikage perguntou, erguendo a cabeça novamente para olhar fundo nos olhos prateados. Foi bom ver o sorriso de volta aquele rosto.

– E para que quer saber? – retrucou, fingindo desconfiança. Era impressão sua, ou aquele cara tinha uma facilidade tremenda em tirar fatos dele?

– Para te chantagear, óbvio!

Ao ouvir tal resposta zombateira, Draco bufou, fingindo indignação. Mas por dentro, sentia-se aquecido. Era bom que ambos estivessem normais de novo (mesmo que ainda se sentisse um tanto constrangido pelos acontecimentos recentes).

– E dormir com você não foi vergonhoso?!

Ou chorar, dar as mãos, deitar no colo, correr de mãos dadas... Por Morgana, a lista era maior do que pensava! Estava sofrendo uma lavagem cerebral e não sabia?

– Você achou?

– Você não?

– Não.

– Você é estranho – resmungou, o que fez Chikage rir baixinho. Tantas vezes já ouvira isso.

– Pode ser. Mas não acha que isso depende do referencial?

Sério, o que aquele ser fazia consigo? E como podia achar tais coisas normais?

– Não vejo nada demais em dividir uma cama. Dormi com meu irmão até meus 13 anos – Chikage contou, quebrando o silêncio mais uma vez – Nunca tinha dormido sozinho antes.

– Dormiram juntos? – perguntou, recebendo um movimento afirmativo como resposta – Por quê?

– Crianças fogem para a cama dos pais, eu não tinha pais – deu de ombros – Mas a verdade é que não tínhamos uma segunda cama. Então dormíamos juntos. Eu, e todos os outros. Talvez por isso eu não ligue para isso... Acho... Tornou-se algo muito natural. Até hoje não gosto de dormir sozinho. Durmo mal. Vai ver é por isso que tenho problemas para dormir desde então – E não era mentira. Podia não ser a verdade, mas não era mentira, pois realmente odiava dormir sozinho e seus pesadelos (aos quais ele preferia chamar de insônia) haviam começado na mesma época. Assim que perdera Chiaki. Dormir acompanhado resultara então num remédio bastante eficaz. Em seus sonhos, podia acreditar que era Chiaki a seu lado.

– Todos os outros?

– Sim, tanto no orfanato, como em casa. Keigo, ou Kei-san, como eu o chamava, não adotou apenas eu e meu irmão. O que faz com que eu tenha, na verdade, 4 irmãos.

– Então eram você, seu irmão e mais três? – perguntou o loiro, surpreso – Não sei porque, mas você não parece ser do tipo que veio de uma família grande, como os Weasley.

– Bom, talvez porque eu não venha. Eu vim de um orfanato grande, mas não de uma família. E isso é bem diferente. Mas sempre estive cercado de gente. No orfanato, nós éramos em mais ou menos 90 internos. Depois, quando Keigo nos adotou, ele já tinha Rey, Spy e Ju-chan. E ainda havia Esmeralda, que não morava com a gente. E nossa casa era bem pequena, 2 cômodos, um quarto só. E apenas 4 camas. Por isso, eu ficava com meu irmão e Rey com Spy. Ju-chan tinha uma cama própria porque era menina.

– Uma menina entre 5 homens?

– Sim.

– Mas ela tinha quantos anos?

– Era um ano mais velha do que eu. Ei, é impressão minha ou estou sentindo um que de indignação em sua voz? Qual é, Draco! A garota Weasley tem seis irmãos! Dois a mais. E ninguém fica indignado com isso!

– Sim, mas tem a mãe dela e vocês não eram irmãos de verdade e...

– Nenhum de nós nunca faria nada com ela, Draco. Não tínhamos o mesmo sangue e nem erámos sequer parecidos, mas erámos irmãos. De uma forma muito mais profunda – contestou, em sua voz era notável o tom mais sério, tão atípico nele.

Isso era estranho. Vê-lo fazer essa expressão. Mas Chikage não podia culpá-lo! Uma menina entre 4 adolescentes dividindo um espaço tão pequeno com certeza era... Fora o "tio" adotivo. Não são poucos os homens adultos que se interessam por meninas. Era normal que ele achasse a situação preocupante!

Então, Chikage tinha três irmãos e uma irmã? Parecia se dar bem com eles. Mas então, porque eles nunca lhe escreviam? Será que ainda estavam em Zefir? Não, ele dissera que fora visitar o irmão no Natal, então eles deviam estar na Inglaterra. Será que eram trouxas? Ou será que tinham sido separados quando Keigo morrera e eles voltaram ao orfanato? Será que ele podia perguntar mais?

– Desculpe, eu só estranhei – disse, sinceramente. Essa era a única família que Chikage conhecera, claro que era normal para ele. E então, sem pensar, continuou – Quando não conseguir dormir, não tome tanta poção. Aquilo é viciante e prejudicial, qualquer um sabe disso. E não deixa de ser uma droga. Você é novo demais para isso.

– Isso é um convite para eu invadir sua cama quando estiver com insônia?

Diante da pergunta maliciosa, Draco sentiu-se corar novamente, desviando o olhar antes de responder de forma fria – Não interprete mal minhas palavras!

Chikage riu, levantando-se e puxando-o para cima devido a seus dedos entrelaçados. Nem lembrava que ainda estava de mãos dadas. Era impressão sua, ou essa mania dos dois estava ficando estranha...

– Fique avisado que vou lembrar disso! – Chikage ainda brincou, caminhando então rumo a porta de forma ridiculamente feliz, arrastando o loiro consigo – Acho que já podemos sair. Vamos? Antes que percamos mais uma aula?

– É, acho que ficar trancado aqui com você não está fazendo bem para a minha cabeça – respondeu, fingindo mal humor (estava envergonhado de novo) e recebendo uma risada por resposta. Suas mãos ainda unidas.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

– Erick me disse que Chikage esteve aqui – Maxxcy comentou de forma casual, a maior parte de sua atenção voltada aos trabalhos de Maldições entregues pela turma 7. A satisfação com a qual ele assinalava as partes erradas era visível.

– Sim, ele não estava muito bem – respondeu a princesa, sentando-se sobre a mesa e pegando um dos pergaminhos corrigidos – Sabia que para os trouxas, se você der nota baixa para mais da metade da turma isso significa que o problema está no seu método de ensino e não nos seus alunos?

– Andou lendo livros de pedagogia? – o moreno perguntou de forma levemente irônica enquanto riscava outra questão errada – O que aconteceu lá embaixo? – completou, sem erguer o olhar. Seu tom casual podia deixar a impressão de que não se importava realmente, mas Nihany sabia que não era verdade. Ele se preocupava com Chikage. E ela sabia muito bem o porquê.

– Chiaki – ela respondeu. Uma palavra, um nome, e não havia mais a necessidade de detalhes, eles não faziam diferença. Percebeu que outro aluno (Dwejri) recebia nota baixa e sorriu. Não acreditava que as médias baixas das turmas de Maldições fossem culpa do método de ensino do professor, falara aquilo só para provocar. Maxxcy batalhara muito por seu cargo e enfrentara forte oposição e preconceito, mas vingava-se sendo simplesmente excelente no que fazia. Ele apenas esfregava na cara de todos os bruxos malditos que eles não conseguiam acompanhar o seu nível e cobrava em suas aulas apenas conhecimentos que ele já dominava quando possuía a mesma idade de seus alunos. No fim, ele era apenas um excelente professor, excelente bruxo, excelente em maldições. Mas como esperar menos do sangue de Andrey?

– Outro zero? – riu, ao vê-lo escrever abaixo da nota "seria pedir muito para que você usasse isso que chama de cérebro? Se é que o tem. Começo a ter sérias dúvidas quanto a isso". Ah, como ele adorava humilhar seus pobres alunos de sangue-puro – Quanto eu tirei?

– Você não é da turma 7.

– Fui mal? – ela perguntou, inclinando-se na mesa para brincar com as longas madeixas negras do namorado, fazendo-o largar a pena e inclinar-se na sua direção, tomando os lábios carnudos, lambendo-os, pedindo passagem e sendo prontamente atendido. Logo seus dedos estavam nos cabelos dourados.

O relacionamento de ambos não era segredo para ninguém, mesmo que todos fingissem não saber. Havia tabus demais entre eles, tabus completamente ignorados porque ambos só se sentiam completos quando estavam juntos. Os dedos da Nick tocaram o rosto dele, numa caricia suave. Não saberia o que fazer se um dia ele fosse retirado dela. Provavelmente, enlouqueceria.

– Você foi muito bem – ele disse entre o beijo, os lábios ainda colados nos dela – Não esperava menos de você.

– Tinha que ter uma sangue-puro capaz de atingir suas expectativas, não? – Nihany brincou, mordendo de leve os lábios dele. Uma das coisas que mais amava nele era o fato dele nunca conceder favores a ela. Enquanto todos ajoelhavam-se e diziam amém a cada palavra sua, tentando qualquer coisa para cair na sua graça e nunca a criticando abertamente, Maxxcy a tratava com normalidade. O que lhe importava se ela era uma Nick? Nada. Uma princesa? Menos ainda. Ele respeitava seu orgulho e permitia que ela conquistasse o que quisesse por mérito próprio. Ele acreditava nela.

Um relacionamento proibido. Em todos os aspectos. Mas haveria para a Nick par melhor do que o filho preferido de Andrey? Seria o perfeito casal predestinado se o moreno não possuísse também o odioso sangue misturado e trouxa de sua mãe. Era como se estivessem destinados tanto a estarem juntos como a se separarem! E pensar que ela, como todo bruxo maldito, sempre achara as histórias de romances impossíveis ou felizes demais, idiotas. Era irônico como acabara protagonizando um dos únicos casos de amor verdadeiro entre os bruxos malditos. Era o primeiro membro real a amar, e acabara sendo a princesa apaixonada pelo plebeu. E um dia ainda seria a rainha casada com o plebeu (e para o inferno quem tivesse algo contra isso!).

Os lábios dele em seus pescoço, as mãos dele em seu corpo. E ela era dele.

As mãos dela em seus cabelos e ombros, as pernas em sua cintura. E a vida dele pertencia a ela.

Eles eram um só. Unidos pelas batidas sincronizadas de seus corações.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

– Não Rony, quantas vezes vou ter que dizer, foi Dervely, o terrível, que começou a Rebelião de 1647. E não Denvel, o horrível. E de onde você tirou Revolução de 1657?

– E qual a diferença, posso saber? Já não basta saber quem foi Katrina, a sábia, Edmundo, o justo, Cassi, o grande, Baltazer, o sei-lá-o-quê! Me diga uma coisa, porque, pelas barbas de Merlin, esses caras gostavam tanto de um adjetivo? E por que as pessoas não dão nomes fáceis para seus filhos? Custava chamá-lo de Den? Ou Peter? Ou Jonh? Não, tinham que inventar! E depois, somos nós, pobres estudantes, que nos ferramos! – Rony reclamou, irritado. Fazendo Harry e Chikage terem que cobrir a boca para abafar o riso, enquanto Hermione o olhava séria.

– É Baltazar, o astuto. E Kassy não é o grande, é Cassian o grande, Kassy é o humilde. E se escreve com K e Y. E Edmundo não está envolto em nenhuma rebelião do século XVII e sim na do século IX – a garota corrigiu, ignorando a careta do amigo e as risadas extremamente mau-disfarçadas dos morenos ao seu lado.

– E no que isso vai mudar a minha vida? – Rony perguntou, já a beira de um ataque de fúria.

– É compreendendo a história que se compreende o presente.

– E mais nada. Por que eu tenho que perder meu tempo gravando nomes e datas quando poderia estar estudando feitiços de defesa? Estamos em guerra e se eu disser "Foi Denvel, o terrível, que comandou a 1ª batalha da Revolução de 1657" não farei mais nada com o meu adversário além de tomar um feitiço na cara! A menos que ele seja um sabe-tudo-irritante que vai gritar comigo "não foi Denvel, foi Derbely!". E aí vamos largar as varinhas e entrar numa profunda discussão para saber se Cassy se escreve com K ou C e qual a diferença de Revolução e Rebelião – a essa altura, Harry e Chikage já riam abertamente – e o quanto isso pode ser a grande diferença numa batalha de magia negra! Por que, sabe, talvez o Denvel tenha descoberto um contrafeitiço para alguma das três imperdoáveis e ninguém mais sabe disso porque está preocupado em aprender como estuporar alguém.

Quando Rony terminou, Hermione estava mais séria do que professora McGonnagal ao receber de presente de Natal dos gêmeos uma caixinha de areia ("para quando se transformar em gata e o banheiro estiver ocupado, professora"), já Chikage segurava a barriga de tanto rir e Harry tinha lágrimas nos olhos.

– É, Dervely! E foi uma Rebelião! E ele não descobriu nenhum contrafeitiço, mas foi ele que desenvolveu o feitiço Fogomaldito e...

– Por Merlin, Mione, no que isso vai me ajudar numa batalha?! – Rony alterou-se.

– Quem sabe isso te ajude a saber que o Fogomaldito pode destruir tudo a centenas de metros e não possui contrafeitiço? Ou então, quando esta guerra acabar, a ser alguém que sabe algo mais além de estuporar pessoas.

– Ah, ótimo! Então eu direi "Tome o Fogomaldito que DERVELY desenvolveu! E saiba que agora não há nada que você possa fazer para fugir dele! Hahahaha"? Não é mais fácil só lançar o feitiço de uma vez?

– Rony...

– Ou a cada vez que eu fizer uma mágica foi ter que dizer "Sou Rony Weasley! Aluno do 6º ano de Hogwarts! E esta é minha mágica, o Fogomaldito, que foi desenvolvido por Dervely, o horrível, na Revolução de 1657, hoje em dia classificado como Magia Negra e sem contrafeitiço! Prepare-se!"? É isso?

Chikage já estava quase sem ar de tanto rir e Harry apoiava a testa na mesa, segurando a barriga. Já Hermione estava a ponto de azarar Rony.

– Então, se não fará a menor diferença eu saber quem foi ou como se escreve Dervely, por que eu preciso estudar isso?! – Rony esbravejou, batendo os punhos fechados no pergaminho.

– Posso saber o que está havendo aqui? – perguntou uma furiosa Madame Pince, parando do lado dos dois meninos que ainda riam sem parar – A biblioteca é um lugar de silêncio, caso não saibam. E o que aconteceu com esses dois? Estavam testando o Rictusempra neles?

– Desculpe, já faremos silêncio, Madame Pince – Hermione disse, sem jeito – Vocês dois, parem de rir!

– D-d-d-des-culpa – os dois tentaram dizer, ainda sem conseguir parar. Já ficando sem ar.

– Se eu ouvir mais uma palavra num tom um pouco mais alto do que o admissivel para uma biblioteca colocarei os quatro para fora! Entenderam? – a bibliotecária ainda ameaçou, se afastando com passos duros.

– Rony! – Hermione rosnou, mas o garoto levantou as mãos, se defendendo:

– Eu só disse o que eu penso!

– Cara, eles são sempre assim? – Chikage perguntou, secando os olhos.

– Sim, são. Aí minha barriga – Harry respondeu, tentando respirar fundo.

– Nossa, achei que eles queriam era nos matar!

– Com certeza, seria uma forma feliz de morrer – Harry disse, voltando a rir. O que irritou Hermione.

– Será que dá para vocês dois pararem? Isso é sério!

– Tão sério quanto uma dor de barriga – Rony respondeu, fazendo os dois voltarem a rir.

– Rony! E vocês dois, parem com isso.

– Estamos tentando, Mione – Harry respondeu, enxugando os olhos.

– É, mas vocês não colaboram! – Chikage completou. Ele estava adorando esse grupo de estudos! Ah, como estava!

– Viu o que você fez? – a garota perguntou, quase azarando o ruivo com o olhar – Será que não pode levar nada a sério?

– Eu levo sim. É você que quer me fazer decorar um monte de inutilidades! Eu poderia estar usando esse tempo para aprender outras coisas! Isso é tempo desperdiçado!

– Desculpe por pensar que podia ocupar essa sua cabeça com algo útil! Deveria saber que aí só tem espaço mesmo para bolas e vassouras!

– Ei, quadribol tem muitas utilidades. E eu não penso só nisso!

– Ah, claro, me desculpa. Esqueci que em uma batalha você pode muito bem usar o taco do batedor para acertar a cabeça do seu adversário – a garota debochou.

– Bom, vai ser mais útil do que saber como se escreve Cassi. Qualquer coisa é mais útil do que isso.

– Ai, eu vou morrer – Chikage reclamou, apoiando a testa na mesa, rindo mais uma vez.

– Então, senhor só-aprendo-coisas-uteis, me explique o que são aquelas revistas de "aprenda a dançar em passos simples" que você esqueceu jogadas na sua casa – Hermione desafiou, não deixando de notar que as orelhas de Rony ficaram vermelhas (que não podia dizer a verdade, ou seja, que dançar atrai garotas).

– Ora, se um comensal me lançar um Tarantallegra, ele pode achar que eu danço tão bem que seja um desperdício me matar!

– Ei! – Chikage reclamou, entre um acesso de riso e outro – Sa-sabiam que pe-pessoas podem mo-morrer por falta de-de ar de tan-tanto rirem?

– Viu o que você está fazendo? – Hermione reclamou.

– Eu?

Harry quase caiu da cadeira, diante da expressão indignada de Rony. Já Chikage, estava com a cabeça apoiada na mesa e dava pequenos tapinhas nela. O cabelo cumprido espalhado por sobre os livros e pergaminhos. E pensar que ele achara que essa ideia de grupo de estudos não fosse dar certo! Agora, ele com certeza nunca mais esqueceria quem fora Dervely, o terrível, e que este começara a Rebelião de 1647. Nunca mesmo!

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

Quando Chikage chegou na Sonserina, ainda limpava os olhos das lágrimas que as lembranças de sua tarde de estudo proporcionara. Há muito tempo que ele não ria tanto assim! Tanto que sua ainda barriga doia.

Jogou os cabelos para trás, procurando por seus colegas. O Salão estava quase vazio aquela hora (11 alunos, se contara direito) e não foi difícil encontrá-los sentados numa mesa redonda próxima a lareira.

– Olá! Estudando Feitiços? – peguntou, jogando a mochila no chão, contudo, permancendo em pé ao lado do loiro – Tinha algum trabalho de Feitiços?

– Um relatório sobre o Confundo – Draco respondeu, folheando distraidamente um livro fino de capa preta.

– Hm, nada muito complicado, em principio... – Chikage murmurou, buscando na memória o que havia lido sobre o feitiço para confundir. Teria que tomar cuidado com o que escreveria, principalmente para não mostrar, de novo, o quanto sabia, afinal este era um feitiço de alto nível e não seria aconselhável mostrar que o dominava completamente.

– Só se for para você – respondeu Crabbe de forma rude, levantando-se e quase empurrando Goyle no processo. Draco o olhou repreensivo, sem entender as recentes ações do amigo. Vicent andava cada dia mais irritado.

– O que foi? – resmungou, enquanto contornava a mesa, arrastando os pés com irritação.

– O que aconteceu com ele? – Pansy perguntou, erguendo a cabeça de seu pergaminho e parando de escrever. Seus olhos encontraram os de Dafne a seu lado e a loira rolou os olhos, indignada. Dafne adorava Pansy e muitas vezes ficava chocada com o quanto a loira podia ser desligada e inocente para algumas coisas, mesmo que fosse altamente perpiscaz para com outras. Assim como Draco. O que fazia com que a jovem Greengrass se questionasse se eles apenas viam o que queriam ver. Afinal era óbvio para a maioria dos sonserinos que Vicent Crabbe odiava Kakinouchi e que este vivia resmungando pelos cantos sobre os defeitos do japonês. Nem Chikage ignorava o fato, mas não se preocupava com isso, mantendo apenas uma distância segura do colega.

Na verdade, Chikage sabia muito bem o quanto, no fundo, subestimava o outro. Subestimava sua magia, sua inteligencia, sua agilidade e sua força física. Por isso, quando Crabbe esbarrou com força na cadeira de Goyle para então passar por si, não sem antes empurrá-lo, como que para tirá-lo do caminho, a única preocupação do oriental foi a de manter seu equilibrio e não cair. Não se imconomou nem ao menos com o fato de ficar de costas a um rival declarado. O que Crabbe podia fazer?

Esse foi seu erro. Um erro infantil e estupido que ele nunca cometia. E que só foi percebido um pouco tarde.

– Ei – Chikage reclamou, ao recuperar o equilibrio. No rosto um sorriso despreocupado (quase arrogante) que não morreu, mesmo quando percebeu a varinha que Crabbe segurava. A sua varinha, que segundos antes estava guardada no bolso traseiro de sua calça – Isso é meu.

– É uma varinha bonita – Crabbe desdenhou, olhando com desprezo para a varinha roubada em sua mão – Boa demais para um sangue-ruim como você.

– Vicent! – Draco reclamou, ficando em pé. O que, por Mordred, ele tinha na cabeça? Percebeu, pelo canto do olho, diversas cabeças curiosas voltadas para a cena.

– Crabbe, me devolva, sim? – Chikage pediu calmamente, erguendo a mão e ignorando por completo os olhares dos colegas. Fala sério, Crabbe queria assustá-lo apenas por tê-lo desarmado? Ele só podia estar brincando!

– E se eu não quiser?

Ok, ele não parecia estar brincando.

Isso era mal sinal...

Segurar sua varinha era uma coisa, mantê-la muito tempo com ele era outra totalmente diferente!

Não abaixou a mão que pedia de volta a varinha e repetiu o pedido, dessa vez ostentando uma expressão mais séria, e pela primeira vez desde que a vira nas mãos do outro, preocupado. E se Crabbe resolvesse usá-la? Sabia que varinhas podiam mudar de dono, mas duvidava que a sua fizesse isso. E isso era um problema, pois também sabia que sua varinha estava carregada com sua magia e o quanto esta podia ser perigosa se descontrolada.

– Crabbe, é melhor me devolver – voltou a dizer, ainda calmo. Crabbe não podia machucá-lo, mas estava a um passo de se machucar. Principalmente se continuasse girando sua varinha entre os dedos, como fazia agora. Céus, isso era perigoso.

Droga, Crabbe não podia tentar usá-la.

Deu um passo a frente, notando, pelo canto dos olhos, que os colegas se reuniam ao redor dos dois. Devia parar de se impressionar com a capacidade dos humanos de se focar numa possível briga!

Repetiu o pedido, dessa vez num tom mais autoritário. E esse seria seu último pedido.

– Então por que não vem pegar? – o sonserino ameaçou, ignorando por completo as palavras de Zabini e Goyle, e as ameaças de Draco a seu lado. Por que todos tinham sempre que ficar do lado do oriental? O odiava e estava louco para lhe dar uma surra. Estava só esperando o momento perfeito. E agora que este tinha surgido, os outros que se ferrassem! Não ia perder esta chance, pois sabia que não ganharia do japonês com magia, mas sem esta quem o impediria de quebrar a cara daquele garotinha? – Por que não vem e me enfrenta como o trouxa que você é?

– Crabbe, largue isso agora mesmo ou... – Draco ameaçou novamente, dessa vez apontando a própria varinha para o amigo de infância, gesto que foi interrompido por Chikage.

– Não se preocupe, Draco. Não precisa se envolver – respondeu calmamente, sem romper, nem por um segundo, seu contato visual com Crabbe e ignorando por completo as perguntas dos colegas sobre a possibilidade dele ser um sangue-ruim ou não.

– Um trouxa como você não tem o direito de tratar Malfoy pelo nome! – Crabbe resmungou, mais irritado ainda. Ah, como odiava a amizade de Draco com aquele moleque – É inadimissível que um trouxa aja como um bruxo. Então aja de acordo com aquilo que você é.

– Crabbe, pare com isso. Está sendo idiota. Devolva a varinha dele, sabe que não conseguirá usá-la mesmo! Não tem poder para domá-la – disse Miriam, também apontando sua varinha ao colega. Não que esperasse realmente que Crabbe fosse tentar usar a varinha de Chikage.

Mas ele o fez.

Irritado com a ousadia da quartanista, Crabbe apontou a varinha roubada para a menina, contudo, antes que qualquer feitiço fosse lançado, Chikage fechou a mão direita e moveu-se rápido, dois passos ligeiros e um salto que acabaram com a distância entre ele e o colega, a mão fechada acertando em cheio o nariz de Crabbe, que jorrou sangue enquanto ele cambaleava para trás, caindo com um som abafado. Assim que seus pés tocaram novamente o chão Chikage pulou para trás, ficando a uma distância segura do colega caído. Sua varinha novamente segura em sua mão.

– Maldito! – Crabbe xingou, as mãos apertando o nariz quebrado, sem conseguir se levantar. Por Mordred, como doía!

– Desculpe-me, Crabbe. Eu pedi. Fui educado e esperei que me devolvesse. Você não quis. Então, apenas fiz o que mandou. Agi e briguei como um trouxa – Chikage respondeu completamente alheio aos olhares surpresos dos colegas ao seu redor.

– Como você fez isso? – perguntou Pansy, chocada. Em força física, ninguém naquele Salão ganhava dos amigos guarda-costas de Draco.

– Fácil – respondeu com um dar de ombros – Fui campeão de boxe por três anos seguidos.

– Boxe? O que boxe? – a garota quis saber, os olhos ainda fixos no colega caído, que agora era ajudado por Goyle e Nott. Como era possível alguém tão pequeno derrubar, sem magia, alguém tão grande?

– É um esporte trouxa no qual você dá socos no abdômen, peito e rosto do adversário até deixá-lo no chão por 10 segundos ou nocauteá-lo, deixando-o inconsciente – explicou, com uma expressão quase entediada – Como Crabbe é muito mais alto do que eu, é difícil atingir com real força.

– Um esporte trouxa? – questionou Goyle. É, pelo visto o interrogatório tinha começado.

– Um esporte bem violento, eu diria – Dafne comentou, parando ao lado do oriental – Não o acertou com força real?

– Um esporte trouxa? – Goyle voltou a questionar, sem ser ouvido.

– Não mais violento do que os balaços no quadribol – Chikage respondeu, dessa vez para Dafne. Não sabia, no entanto, que nem quando um balaço atingira Crabbe de forma certeira na cabeça este chorara de dor, como fazia no momento – Se eu tivesse acertado a barriga dele, ponto muito mais condizente com a minha altura, o estrago teria sido bem pior. Acredite. Posso causar muito mais dano do que um nariz quebrado.

– Por que você praticou um esporte trouxa? – Goyle voltou a perguntar, dessa vez mais alto – Por que um bruxo praticaria um esporte trouxa?

– Não pode ser. Ninguém pode morrer por causa de um soco, mas há muitos jogadores que ficam internados por causa dos balaços – Zabini contestou, mais curioso sobre a técnica que permitia que alguém derrubasse um adversário com o dobro de seu peso tão facilmente do que com a origem dela.

– E quem disse que não se pode morrer praticando boxe? – Chikage perguntou, sorrindo novamente. Um sorriso falso, falso porque ele odiava boxe e tudo o que o envolvia! Odiava a euforia das pessoas, odiava o som que as luvas faziam ao atingir o corpo do adversário, odiava o sangue que as sujava, odiava o som dos ossos partidos. Odiava a alegria da plateia a cada homem caído – É verdade que em lutas oficiais é bem difícil que alguém se machuque seriamente, mas nas competições valendo dinheiro a história é bem diferente. Até porque, nelas não é usado nenhum tipo de proteção, como os amadores usam, nem há regras que protejam o adversário. É uma questão de nocautear ou ser nocauteado. E um soco bem dado pode romper costelas, quebrar ossos, estourar órgãos abdominais, fora os danos cerebrais, que são os mais comuns e os piores. E os que mais matam. Isso se você tiver sorte, pode ser azarado e ficar com a cabeça fodida o resto da vida.

– Mas é um esporte trouxa – Goyle reclamou, saindo do Salão com Crabbe e Nott.

– Então há vários tipos de competições? – Dafne perguntou, ignorando os colegas e completou, ao receber um aceno positivo de Chikage – Qual o tipo que você lutava? Você disse que foi campeão.

– Não oficial, na maioria das vezes. Amador só em competições oficiais nas quais eu não conseguia me classificar para o profissional por causa da minha idade, altura ou peso. Geralmente, lutava o de rua, que é o mais agressivo.

– Nossa, não imagino você fazendo isso! – Pansy exclamou, surpresa – Você parece tão frágil fisicamente.

– As aparências enganam – brincou, falando de forma animada – Já ouviu a expressão "não julgue um livro pela capa"?

– Farei isso – a garota disse, sorrindo – Mas, como você conheceu um esporte trouxa?

Ah, pergunta que não mais seria calada!

– Nascendo trouxa – respondeu, como se isso fosse algo banal e sem importância, seu sorriso intacto mesmo diante dos olhares surpresos dos colegas, do silêncio e da tensão que envolveu o ambiente. Não deixou de sorrir, mesmo quando os braços de Dafne e Pansy, envoltos em cada um de seus braços, soltaram-no segundos após a palavra trouxa ser dita.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

– Então, era verdade que você sabe mesmo como bater em alguém? – Draco disse, assim que Chikage entrou na escadaria que levava aos dormitórios. Estava encostado na parede, os braços cruzados, esperando por ele.

– É sim – respondeu, subindo a escada, agora ao lado do loiro.

– Você não tem o rosto de alguém que já apanhou muito – disse, lembrando-se vagamente do amigo ter dito, há algum tempo, que poderia ter quebrado o nariz de Potter com um soco. E Draco não acreditara!

– Rey dizia que eu tinha muita sorte e que eu usava minha aparência para enganar meu oponente. Ele achava isso era injusto.

– Rey?

– Eu te contei de Rey, Sky e Ju-chan, né?

– Seus irmãos adotivos? Ju-chan era a menina, não? – perguntou, recebendo um aceno afirmativo como resposta – Por que você a chama de Ju-chan?

– Porque o nome dela era Jun. E "chan" em japonês é um pronome carinhoso usado para meninas e crianças. Ao chamá-la de Ju-chan, também digo que erámos íntimos. Ela gostava do som, mesmo que não falasse uma palavra de japonês. Diferente de Rey e Sky. Eles não gostavam da sonoridade do pronome masculino, "kun", adicionado a seus nomes. Já Kei-san não ligava.

– Kei-san?

– Sim, Kei-san. Keigo mais "san". Diferente do "kun" e do "chan", "san" é o pronome usado para todos! Sua tradução seria algo como "senhor". Pode soar estranho, mas usar o diminutivo do nome, mais o "san" é um jeito de demonstrar carinho, intimidade e respeito.

– E todos vocês praticavam esse tal de boxe? – perguntou, curioso.

– Sim. Meu irmão era o mais forte de nós. Nos deixava no chão em segundos. Mas, ele e eu nunca competimos de verdade, até porque seria inútil, eu raramente conseguia lhe acertar.

– Mas você era mesmo bom?

– Bem, acho que sim. Era o que todo mundo dizia. Mas eu demorei um pouco para começar a competir. Ju-chan ficava brava porque pelas regras não podia lutar com homens em competições oficiais. Sorte dos outros, ela era forte pra caramba! – e, talvez por estarem cada vez mais próximos, aquela foi a primeira vez na qual o loiro percebeu que já conseguia distinguir algumas das emoções contidas naquele sorriso quase permanente. Se antes ele parecia meio zombeteiro, agora era como se Chikage sorrisse de forma... nostálgica.

– Esse esporte não é muito violento para uma garota?

– Sim, mas isso não a impedia de ser tão boa quanto qualquer homem.

– E você nunca se machucou? Por que pelo que você disse, é mais fácil se machucar com isso do que jogando quadribol.

Chikage sorriu e não respondeu, apenas parou no meio do caminho, um degrau acima de Draco, e levou as duas mãos a barra da camisa do uniforme, erguendo a peça de roupa até a altura dos ombros, exibindo um abdômen liso e um peito pouco largo, de pele levemente morena de sol e mamilos claros, as costelas fracamente visíveis.

– Toque do lado esquerdo, na altura das costelas.

– O quê?

– Toque do lado esquerdo, na altura das costelas – repetiu, sem se mover.

Draco o olhou, confuso, perguntando-se o que isso tinha a ver com a conversa. Sua indecisão não passou despercebida, mas ao invés de falar algo Chikage apenas inclinou-se, pegou sua mão esquerda e direcionou-a ao ponto indicado, espalmando ali a palma branca. A pele pálida fazendo um enorme contraste com morena. Foi quando sentiu. Bem ali, uma cicatriz e uma ondulação diferente nas costelas.

– O que aconteceu? – perguntou sem retirar a mão do local, os dedos passando suavemente pela marca pouco visível e quase roçando no mamilo rosado.

– Um soco muito bem dado e mal defendido.

– Um soco?

– Eu tinha 11 anos, era minha primeira luta de verdade. Eu vacilei e fui acertado com tudo. O soco rompeu minhas costelas e eu quebrei duas delas, isso é raro, mas às vezes acontece. Tive sorte, parte de uma quase acertou meu baço enquanto a outra parte entortou e rasgou o músculo, saindo para fora. Lembro-me da dor e de estar caído no chão. De Kei-san usando alguma magia de cura. Depois disso fiquei muito mais atento. Nunca mais me acertaram com força no peito. Mas danifiquei e cheguei a quebrar o antebraço uma vez defendendo-me de socos nessa área. Quebrei o maxilar uma vez também, mas foi o único soco forte que ganhei no rosto. Fora isso, machuquei as mãos mais vezes do que posso lembrar.

– As mãos?

– Eu treinava diariamente. Três a quatro horas por dia. Faça as contas! Por treino, damos em média mil socos. Isso dá mais de 7 mil socos por semana, 210 mil por mês. Não há mãos que aguentem! Por mais que as luvas protejam.

Draco o olhou surpreso e passou os dedos pela região mais uma vez, sentindo a cicatriz na pele quente e tentando imaginar o estranho esporte. Poderia comparar cada soco a um balaço? Então era como ficar tomando balaços esperando que o adversário caísse primeiro? Que esporte de louco era esse?! Sentiu a cicatriz que marcava a pele queimada e imaginou a dor que ele sentiu.

Chikage, parecendo saber o que se passava na sua cabeça, sorriu, aquele sorriso calmo e feliz, que parecia dizer que o mundo estava perfeito. E talvez o mundo estivesse longe de ser perfeito, mas naquele momento, não parecia.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

Harry sabia que para quem estava prestes a ter outra aula de poções, estava bastante bem humorado, mesmo que a cada aula ficasse mais e mais perdido na matéria, mas os últimos dias haviam sido bons e estava feliz, mesmo que os jornais matinais deixassem qualquer um com vontade de voltar para a cama e só acordar quando o mundo fosse tão simples quanto era no seu quarto ano. Ou que Hermione ainda estivesse olhando torto para Rony. Na verdade, essa briguinha dos dois estava sendo até mesmo engraçada!

Por isso, quando chegou as masmorras, mesmo com todos os pesares, Harry sorria.

– Olha só, Malfoy resolveu voltar às aulas – comentou Simas, logo atrás do moreno, o que fez com que este virasse a cabeça na direção da carteira que o loiro normalmente ocupava. E lá estava Draco, pela primeira vez desde o maldito beijo, sentado de modo altivo ao lado de Kakinouchi. Ambos conversavam baixo e atrás deles Crabbe olhava para o oriental com raiva. E era impressão sua ou o nariz deste estava meio torto?

É, talvez fosse um pouco cedo para estar de bom humor.

– Vamos sentar no fundo? – perguntou, ainda sorrindo, recusando-se a deixar Malfoy estragar seu dia! Não pensaria nele e muito menos lembraria do beijo dele, mesmo que a lembrança ainda estive viva demais em sua mente, não deixaria que Malfoy o afetasse nunca mais!

– Certo, vamos lá – Rony concordou, já abrindo espaço para a última carteira, passando reto pelos sonserinos (aos quais Harry se recusou a encarar, em especial um certo loiro), sem ignorar o clima tenso entre eles, fazendo-o pensar se os boatos eram mesmo verdadeiros.

Por motivos óbvios Kakinouchi não os cumprimentou. Não era bem segredo que o trio de ouro estava estudando com o sonserino oriental, porém, visando evitar atritos nas aulas conjuntas, os quatro tinham feito um acordo não falado de não se falarem durante as aulas. Uma decisão acertada, haja vista que a situação do japonês na Sonserina não era mais a mesma desde que Crabbe divulgara (e ele confirmara) sua origem trouxa.

Ninguém falava nada (e ele imaginava que a causa era o novo nariz torto de Crabbe), mas Chikage notava os olhares. E não se incomodava. Estava tão acostumado a isso! Na verdade, até achara engraçada a forma que seus colegas de outras casas passaram a tratá-lo e olhá-lo depois que os boatos se espalharam. Chikage via solidariedade em seus olhares e apostava que muitos pensavam que sua aproximação do trio de ouro nada mais do que a bondade dos grifinórios lutadores do bem diante do azar do pobre e inocente sonserino caído na toca da má e negra serpente.

Era ou não era engraçado?

Chikage gostaria muito de saber o quanto o fato de Draco continuar do seu lado afetava a mente de Potter, que já tivera seu instinto heroico despertado e notavelmente o olhava diferente. E notava perfeitamente o modo como o moreno desviava os olhos de Draco, como se o ignorasse. E o a forma como o loiro fazia o mesmo.

Pelo menos, Draco havia voltado para as aulas conjuntas. Tinha medo que o loiro reprovasse por faltas. Snape já estava querendo saber o motivo de suas ausências constantes.

Mas a verdade é que Draco havia resolvido voltar às aulas por si mesmo. Por mais que doesse, havia decidido que não ficaria mais pelos cantos com pena de si mesmo. Se para Harry seu surto nada significara, nada significaria para ele também (porque se significasse algo Harry não estaria sempre sorrindo e feliz, pensava, sem saber que fora por pura coincidência que ambos só tenham se esbarrado nos momentos que, enfim, o moreno havia conseguido relaxar. Mas talvez, se tivesse vistos os acessos de raiva do grifinório, não se sentisse melhor do que quando o via sorrindo). No fim, tudo era apenas uma lembrança a qual ele definitivamente não queria dar tanto valor quanto dava.

– Muito bem, todos em seus lugares – soou a voz do professor, calando todos os alunos, enquanto este adentrava a masmorra com suas vestes púrpura esvoaçantes.

Vestes púrpuras?

Num movimento quase sincronizado, todos os alunos prenderam sua atenção no loiro que entrava na sala, andando ali como se fosse o dono no lugar.

– Bom dia a todos. Por motivos pessoais, o professor Snape teve que se ausentar hoje, mas não se preocupem, ele deve estar de volta já para a próxima aula e eu tenho um bom conhecimento no ramo de poções, o que me permitirá lecionar hoje para vocês. – anunciou Alois Trancy, sentando-se na mesa de Snape de forma displicente – também já recebi uma enorme lista de que lição dar a cada uma de suas turmas – continuou, desdobrando um imenso pergaminho – E devo acrescentar que ele passou muitos detalhes mesmo, então, se eu soubesse apenas escrever na lousa e diferenciar um caldeirão de uma panela grande, já seria possível estar aqui na frente hoje. Enfim, vamos começar, sim? Quero todos em duplas, nada de trios. Está escrito aqui. Vocês iram trabalhar com a poção Amortencia, que, vocês devem saber, é a mais poderosa poção do amor. Os ingredientes estão na lousa, assim como as instruções. Lembrando a todos que ela deve possuir um brilho perolado e sua fumaça deve subir em aspirais característicos. Depois, as duplas irão colocar sua poção num frasco com seus nomes e me entregar. Não aceitarei fracos com poções com cores vibrantes, já aviso! Então, para aqueles que acharem o prata uma cor difícil de ser alcançada, tentem o branco ou cinza, por favor! Bom, alguma dúvida? Não? Não aceito perguntas posteriores! Nada mesmo? Ok, então, vamos as duplas!

Ao escutar essa parte a maioria dos alunos levantou-se e o barulho do arrastar de cadeiras tomou a sala por um curtíssimo período de tempo, cessando abruptamente quando Alois voltou a se pronunciar.

– Ah sim, esqueci de avisar. Estão proibidas duplas de alunos da mesma casa!

– O QUÊ?!

– COMO ASSIM?!

– QUE ABSURDO!

– EU NÃO VOU FAZER DUPLA COM UM GRIFINÓRIO!

– ESTÁ LOUCO!

– NEM EM SONHO!

Os alunos reclamavam, irritados. Harry ouviu até mesmo alguns xingamentos baixos, provavelmente alguns vinham de Rony, mas ele não podia dizer nada, pois também xingava o novo professor que, como Snape, parecia ter um sádico prazer em acabar com seu bom humor!

Alois não se alterou, continuou sorrindo de forma diabólica enquanto escutava pacientemente o que todos tinham a dizer e então, quando a sala enfim silenciou, olhou no relógio e disse:

– Repetindo: disse que estão proibidas duplas com seus colegas de casa. E aconselho a andarem rápido, já perderam mais de 5 minutos enquanto reclamavam e eu ainda quero as poções para essa aula. Quem não entregar, 15 pontos a menos. Então, levantem seus traseiros e achem logo seus parceiros.

– Não acredito que Snape determinou isso!

– E não o fez, senhor Nott. Fui eu mesmo. Essa rixa entre casas que vocês cultivam é infantil demais! E como a aula é minha então as regras também o são. Duplas, agora, ou além do zero, vão-se os 15 pontos, por aluno. E sem caretas, todos vocês, não estou pedindo nenhum sacrifício, por Merlin! Aliás, vocês não acham que são jovens demais para cultivarem "inimigos mortais" e coisa e tal? Terão muito tempo para fazer quando se formarem. Então, duplas, já. E quero todos trabalhando em cinco minutos ou terão o grande prazer de ter uma aula extra comigo no fim do dia.

Alguns alunos ainda tentaram reclamar, sem efeito. Trancy abriu um pergaminho e descaradamente começou a ler, ignorando a todos. Mas quando ele pegou uma pena e anotou o nome Cullen, pronunciando-o lentamente em voz alta, todos começaram rapidamente a arrastar suas cadeiras de forma brusca, aproximando-se dos colegas enquanto xingavam e faziam caretas, ações assistidas pelo professor mais odiado do momento e seu irritante sorriso satisfeito.

Harry, como todos os colegas, também xingava, enquanto olhava para os lados a procura de um sonserino que não fosse... um sonserino. Foi quando avistou um menino mal-humorado, mas era o mais próximo dele então, fazer o quê? Porém, mal pegou sua mochila, sentiu uma mão pousada em seu ombro e ao olhar para trás deu com Alois o fitando com um sorriso, no mínimo, maligno.

– Nem se preocupe em procurar um parceiro, Poter, você já tem um par –anunciou.

– O quê?

– Isso mesmo, venho comigo, sim. Rápido, rápido.

– Mas...

– Sem "mas", para que perder tempo com argumentos que não serão válidos? Sua dupla já foi definida. Agora, vamos logo, sim?

Vendo-se sem escolha, Harry o seguiu, mas estacou ao ver-se diante da mesa de Malfoy.

– Senhor Kakinochi, será que poderia fazer o favor de fazer dupla com outro aluno? O senhor Malfoy, fará dupla com o senhor Potter aqui.

– O quê!? – os dois rivais indagaram, chocados! – Tudo menos isso!

– Ora, o que é isso! Não sejamos drásticos! Ah, senhor Kakinouchi, acredito que muitos aqui adorariam a chance de fazer dupla com o senhor, mas aconselho a senhorita Granger! Um trabalho feito pelos dois melhores alunos da escola seria com certeza interessante. Então, se fizer o favor de se dirigir a ela para que o senhor Potter possa se sentar e começar a trabalhar.

– Mas, professor, nós dois...

– Sem mas, senhor Malfoy, vocês dois irão trabalhar juntos e fim de história. Isso já foi decidido.

– Por quê? Não fizemos nada dessa vez! – Harry perguntou, visivelmente revoltado.

– Bom, eu quero ver se ambos já conseguem se manter num mesmo ambiente sem discutirem, brigarem ou qualquer outra coisa idiota que adorem fazer. E olha que perfeito! Um mês desde que vocês conseguiram sobreviver a minha detenção! E nem foi tão ruim assim, certo? Então, por que não fazer o mesmo hoje? Vamos lá, será bom para vocês. E se eu ouvir mais um "mas" irei conceder-lhes o enorme favor de ganharem mais 3h no preparo da poção de vocês. Há quanto tempo já dura essa rixa de vocês dois? Aliás, quantos anos vocês tem, 6? Não acham que está mais do que em tempo de aprenderem a trabalhar juntos?

– Sinceramente? Não – Draco respondeu, cruzando os braços.

– E você, senhor Potter? – Alois perguntou, falsamente doce.

– Também acho – respondeu o moreno, imitando o gesto do loiro e pensando que esta devia ser a primeira vez que concordavam com algo.

– Ok, mesmo assim, o farão. E saiba, senhor Potter, que é por besteiras como essa que um monte de gente morre todo dia numa guerra que já matou gente demais. Pessoas que ao invés de aprenderem a sacrificar suas vidas com coisas uteis, preferem morrer brigando por causa de uma rixa estúpida e assim lotarem os obituários dos jornais. Pense nisso antes de julgar os suicidas lá fora. E não esqueça que estamos numa zona neutra de suposta paz e igualdade. Agora, sentados.

Draco ainda quis reclamar (afinal, ele não via nada de mais em se lutar por um ideal), mas calou-se quando Harry sentou a seu lado. Droga, não estava pronto para isso, não tão cedo. Antes era fácil tentar conviver com o moreno e se fazer sempre presente em sua vida, tudo o que ele tinha eram sonhos dos quais nunca acreditara que realmente se realizariam, mas agora havia a lembrança real dos lábios e do nojo de Potter. E ele ainda não sabia o que fazer se Harry perguntasse algo sobre o ocorrido. O que responder? E se Potter tivesse, por milagre, percebido sua ausência ano último mês? Draco ainda não estava pronto para ficar frente a frente ao moreno. E não sabia quando estaria.

Se achava fraco por ter reagido de uma forma tão exagerada a um fora, sem pensar que não reagir a um fora não seria uma indicação de sentimentos fracos. E o pior é que ele ainda sentia seu coração disparado pelo simples fato de estar sentado do lado do moreno.

Respirou fundo e pegou o caldeirão enquanto seu parceiro (e como soava estranho pensar nisso!) pegava os ingredientes, ambos calados. O clima tenso entre eles sendo completamente ignorado por Alois, que sorriu e voltou a frente da sala, pronto para dar as últimas instruções a turma.

– Ok, todos sentados? Ótimo! E ninguém morreu por isso! Viram que maravilha? Acha que me enganei, senhor Finnigan? O senhor me parece muito vivo. Incrível, não? E completamente indolor! A menos que as caretas de vocês sejam fruto de alguma dor, mas o que importa é que estamos sem dor física aqui! Agora vamos nos esforçar para que assim permaneçam até o final da aula. Por isso, senhor Crabbe, guarde essa varinha, agora. Que tal começarmos? Qualquer dúvida, é só perguntarem. A senhorita Granger e ao senhor Kakinochi, por favor, evitem ficar passando cola a seus colegas. Se eu vir, retirarei a poção de vocês. Para aqueles que estão preocupados em errarem ou duvidam da perícia de seu parceiro, tenho um antidoto aqui, mas, por favor, não me vão provar a poção!, também tenho aqui uma enorme lista de erros prováveis e como contorná-los. Severus não faz nada pela metade, devo acrescentar! Mas, comecem de uma vez, vocês já perderam um bom tempo!

Com um resmungo a maioria dos alunos iniciou o trabalho, evitando conversar. Sem dúvida, a única dupla que não parecia querer azarar o outro era a de Hermione e Kakinouchi, que interagirem normalmente enquanto discutiam os ingredientes e os efeitos da Amortencia. Era impressão sua ou Hermione estava um pouco mais sorridente que o normal? Ah, provavelmente era apenas um efeito reflexo [2] devido ao excesso de sorrisos do oriental.

A frente de todos, Alois lia algo tranquilamente, completamente alheio ao clima pesado da sala e aos xingamentos que por vezes lhe eram dirigidos. Vez por outras direcionava a turma um olhar, mas nada além disso.

Droga, queria que as palavras dele não o tivessem afetado como o fizeram!

E queria saber de que lado Alois estava.

E por que ele não entendia que os sonserinos tinham criado esta fama e nada faziam para perdê-la? Eles eram cruéis, preconceituosos e amantes de Magia Negra!

Mesmo que Kakinouchi risse e brincasse com todos, mesmo que Brian Kinney parecesse estar se dando muito bem com sua dupla.

Suspirou, sentindo-se derrotado.

Talvez, quem sabe, ele estivesse sendo um pouquinho preconceituoso mesmo.

Mas isso não o faria de ver Malfoy de forma diferente! Não mesmo! Bastava se lembrar de tudo o que o pai dele fizera. E ele era uma cópia viva de seu pai.

Assim como Harry era uma cópia de Tiago Potter.

O mesmo Tiago que humilhara Snape sem razão nenhuma, o fazendo pelo simples prazer de atormentar o outro, pensou, as cenas presenciadas na penseira de Snape ainda vividas em sua mente.

– ... deirão – ouviu Malfoy dizer. Que diabos ele queria dizer com "deirão"? O que era isso?

– O que foi que disse? – perguntou ríspido, sem olhá-lo.

– Que já pode colocar os ingredientes no caldeirão.

Ah, era isso.

– Certo – resmungou, pegando com má vontade alguns ingredientes e jogando-os no caldeirão, sem olhar, nenhuma vez, nos olhos tempestade de seu... parceiro.

– Parece que Trancy cismou mesmo com a gente – Malfoy soltou, de repente, surpreendendo o moreno, que o olhou chocado. Era a primeira vez, em 30 dias, que seus olhos se encontravam – Agora responda e finja ser amigável. Ele está olhando para nós e anotando algo.

– Não acha que além de nos obrigar a fazer dupla ele deseja que conversemos amigavelmente?!

– É isso mesmo que eu acho.

– Droga.

– Digo o mesmo.

– Por que ele cismou com a gente dessa forma? Não tem lógica!

– As pessoas gostam de cismar com você, esqueceu, Potter?

– Cala a boca.

– Algum problema, senhor Potter, senhor Malfoy? – a voz de Trancy soou pela sala, ele havia parado de ler seja lá o que houvesse no pergaminho e sorria maldosamente. Aos dois, só restou negar – Ah bom, tive a leve impressão de que iam iniciar uma discussão. E isso não seria nada bom para o tempo que ainda lhes resta para terminar a poção o que me obrigaria a lhes conceder mais tempo. Que bom que foi só impressão, não?

Os dois assentiram forçadamente, mordendo a língua para não falar o que pensavam. Eles não queriam brigar, não quando Trancy podia lhes mandar passar outro dia juntos, só que Draco, quando acuado mordia. Harry não era diferente. E ambos estavam se sentindo acuados.

Foi com surpresa que Harry viu Draco começou a rir baixinho, mal o professor voltou seus olhos para o pergaminho que lia.

– Qual é a piada? – perguntou, rudemente.

– A situação, Potter. Estamos agindo e pensando quase da mesma forma. E se alguém me dissesse que isso podia um dia acontecer, eu acharia que ela tomou muitos balaços na cabeça.

– Espero que ele não comece a fazer o mesmo nas aulas de DCAT.

– Eu também. Fazer dupla com você em DCAT com certeza seria vantajoso, mas ainda prefiro Chikage.

– Claro, assim pode tirar boas notas se aproveitando do conhecimento dele. Melhor que Crabbe e Goyle, não? Eles não ficam bravos por terem sido trocados? Se bem que, de acordo com os boatos, Kakiou é melhor guarda-costas que eles, mesmo que não aparente.

– E por que você se incomoda com isso?

– E quem disse que me incomodo? – perguntou irritado, jogando os ingredientes com força no caldeirão e mexendo a poção um pouco mais rápido do que deveria – Apenas não acho certo você ficar se aproveitando dele assim.

– Ainda bem que ele é inteligente demais para estar sendo aproveitado e não ter conhecimento disso. O que significa que ele gosta que eu me aproveite dele. O que significa que você não precisa se preocupar com isso.

– Gosta? Que mal gosto – Harry disse, carrancudo, mexendo a poção (duas voltas horárias e uma anti-horária) e vendo-a atingir um tom esbranquiçado. Um leve perfume começando a se desprender dela. Foi este perfume, que ele não conseguiu identificar, mas que conhecia, lhe despertando uma lembrança ruim: Draco e Kakinouchi andando de mãos dadas. Isso o irritou e, antes que pudesse pensar nisso, soltou a pergunta que nunca imaginou fazer, não a Malfoy – Vocês dois estão namorando?

Draco poderia ter dito "somos homens!", "não seja louco!" ou "de onde tirou isto?", no entanto, a resposta chocada que saiu foi um simples e patético "o quê?" que ele consertou, emendando a frase:

– Devo presumir então que você namora o Weasley e a Granger?

– De onde tirou isso?

– Lógica. Sua relação com eles não é diferente da minha com Chikage.

– Eu não fico andando de mãos dadas com eles, Malfoy. Vocês deveriam disfarçar melhor – e foi a primeira vez que Draco parou para pensar no quanto esta mania era realmente estranha frente aos outros.

"Ah, Potter, você não sabe da missa a metade" – pensou, lembrando-se de todas as coisas estranhas que vinha fazendo desde que começara a andar como oriental. Só que as palavras que saíram de sua boca forma – Mas não é como se isso lhe interessasse, não? Minha vida em nada te interessa.

Ah, se Draco soubesse quanto tempo Harry perdera observando-o durante o ano.

– Bom, pelo menos ele é bem melhor que Crabbe, Goyle ou Parkinson.

– É impressão minha ou noto nesta sua fala que o grande herói preza mais do que deveria a aparência física dos outros?

– Cala a boca. E não distorça minhas palavras. Tudo o que eu disse é que...

– É melhor sair com alguém bonito a alguém feio. Porque, Potter, Pansy é inteligente. E não há nenhuma diferença entre ela e Chikage fora o sexo e a aparência.

– Ora, ora, mas é impressão minha ou vocês dois estão brigando? – a voz do professor, bem a frente deles arrepiou os dois. Droga, mil vezes droga!

– Não, professor – Malfoy respondeu, calmamente – Estávamos apenas discutindo as propriedades da poção. Potter e eu não concordamos com alguns pontos, mas no geral, acho que está tudo certo.

Alois encarou os dois, observando-os atentamente pelos 60 segundos mais longos dos últimos tempos. Então, direcionou seu olhar para a poção, a qual também ficou observando por um tempo longo demais.

– E no que discordam? – perguntou, falsamente doce. Ele os estava, claramente, testando, sem perceber o quanto ambos estavam se sentindo acuados com a proximidade imposta e com as lembranças que provinham dela.

– Sua eficácia em alguém sob Imperius – Draco respondeu, dizendo a primeira coisa que veio a sua cabeça.

– E como chegaram a essa questão?

– Bom...

– Eu me perguntei se era prudente nós aprendermos uma poção que é proibida – Harry disse, olhando para os lados, buscando um complemente – E Malfoy defendeu...

– Que tem suas vantagens. Não é lícito, mas... – Draco emendou, esperando que Trancy não percebesse que eles estavam improvisando. Quem sabe até ficava feliz por eles estarem falando juntos e saía da cola deles? – Se você suspeita que sua esposa, por exemplo, está sob Imperius. Como fazer? Uma solução poderia ser a poção, não? Afinal, supõe-se que ela já te ama, então não haveria riscos. Seria só ver se ela faz algo que você não quer.

Um silêncio reinou entre os três, fazendo os dois prenderem a respiração diante do olhar de Alois. Que suspirou e disse:

– Entendo seu ponto de vista, senhor Malfoy. A Amortencia, assim como o Confudo, pode exercer um poder de controle bastante grande, mas não seria aconselhável colocar uma pessoa sob o efeito de duas fortes magias de controle. Isso poderia causar um tremendo colapso mental e os resultados não seriam os melhores.

– Entendo – Draco respondeu.

– Mesmo assim, foi uma dúvida bastante pertinente. Alguém sob o efeito da Amortencia tende a fazer o que seu amor pedir, enquanto o Imperius serve para obedecer a outro. Se o casal fizesse perguntas simples já poderiam resolver a questão. Sendo assim, 2 pontos para cada um pela inovação no rumo de raciocínio – disse, deixando a dupla de queixo caído. Eles tinham sido elogiados? Depois de terem improvisado? Wow, essa era completamente inédita!

– Obrigado, professor.

– Ótimo, continuem o trabalho. E cuidado com a cor, a poção de vocês está mais escura do que deveria – e enfim se afastou.

– Sim, senhor – respondeu o moreno dessa vez, completando quando o professor virou as costas – Idiota.

– Concordo. Cara, essa situação foi... bizarra.

– Não pode ser mais bizarro do que nós dois presos um ao outro – Harry resmungou, arrependendo-se no minuto seguinte. Agora era impossível não pensar mais nas conversas amenas em Hogsmeade, a competição pelo jogo de tetris, a divisão do banheiro e aquele maldito e inexplicado beijo.

E Malfoy parecia pensar a mesma coisa.

– Coloque logo as raízes – Draco disse, olhando para o outro lado, claramente tenso. Parecia temer tocar no assunto. Como se Harry tivesse coragem de perguntar novamente as razões do loiro (mesmo que a explicação "apenas te irritar e encher o saco" tivesse mais lógica do que qualquer outra que ele tenha pensado. Além disso, a ideia de que Draco beijava pessoas para irritá-las o irritava).

Por isso, tudo o que o moreno fez foi colocar os ingredientes que faltavam, mexendo a poção (dessa vez eram 7 voltas anti-horárias e três horárias). Uma fumaça característica começou a subir e Harry sentiu o cheiro de torta de caramelo, resina de madeira em cabo de vassoura, cheiro de água de chuva e um perfume que ele não conseguia definir. Parecia algo meio cítrico. Harry não lembrava onde tinha sentido aquele cheiro antes.

– Agora devemos sentir um cheiro característico, não é? – perguntou o loiro, olhando o livro-texto – Pelo menos, Trancy não quer saber o que sentimos também.

– Por quê? É algo que não gostaria que os outros soubessem? – Harry debochou, subitamente curioso sobre os aromas que atraiam Malfoy.

– Se quer saber, por que não me conta o que está sentindo, Potter? – provocou. Nunca que contaria que sentia o cheiro de grama recém-cortada, cerejas e madeira. O mesmo cheiro amadeirado de Harry.

– Não tenho nada a esconder, Malfoy, só que isso não é da conta de ninguém. Muito menos sua.

– Como disse, Potter, não é da conta de ninguém.

A essa altura, a maioria das duplas terminava sua poção e não era surpresa para ninguém que o caldeirão de Hermione e Chikage fosse o que exibia uma perfeita poção perolada enquanto o dos outros exibiam poções de cores cinza chumbo, preto e branco leitoso, fruto dos ingredientes colocados em dobro ou em menor quantidade, já que as duplas recusavam-se a se falarem. Vendo por essa lado, até que ambos haviam ido muito bem.

– Muito bem, acabou o tempo – Alois falou, minutos antes do sinal tocar – Todos, por favor, me entreguem um frasco com a poção e seus nomes e podem ir. Ah, senhor Malfoy, senhor Potter, antes de irem, gostaria muito de falar com vocês.

– Droga!

– Mas não fizemos nada! – resmungaram, inutilmente, os dois. E antes mesmo de chegaram na frente de Alois Trancy, ambos já sabiam, pelo sorriso sádico, que estavam ferrados. E Harry nunca pensou que um dia sentiria tanta saudades assim de Snape.

SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL/SL

Nihany estava entediada, andando calmamente pelo corredor de paredes e piso negro, iluminado apenas pelas bolas de fogo vermelho flutuantes. Não era a toa que muitos chamavam aquele lugar de Castelo Negro. Desprovido da luz do sol e do poder do tempo, tudo ali parecia sempre igual. Sempre a mesma hora, sempre a mesma temperatura, sempre a mesma escuridão. Jogou os cabelos dourados para trás, passando por um corredor mais movimento.

Ao avistar a princesa, os alunos ajoelhavam-se, cabeças abaixadas, ninguém se atrevendo a dirigir nem sequer um olhar aquela que lhes era tão superior. Os saltos agulha de sua bota faziam um barulho acentuado no piso de pedra negra. Piso negro, parede negra, moveis negros. Não era para menos que todos ali usavam apenas roupas super coloridas.

Já estava subindo a escada que dava para o 9º andar (será que Erick estava a fim de fazer nada no terraço de Astronomia?), quando ouviu sua mãe chamando-a e virou-se para ver a imponente Rainha que se aproximava em passos calculados.

Era esbanjava poder, desde seu olhar ao modo como caminhava, dona de fala firme e gestos impacientes. Seus cabelos negros, cortados curtos num estilo que os trouxas denominavam Chanel acentuava os belos traços de seu rosto. Ela era única, não se parecendo em nada com nenhum dos seus sete filhos, o que fazia com que muitos especulassem quem eram os pais das princesas (obviamente, não era o mesmo homem), mas obviamente nada dissessem.

– Sim, minha mãe – respondeu, abaixando levemente a cabeça. Respeitando a linguagem hierárquica criada por sua mãe, que proibia a todos encarar um membro real. Nem a ela, uma princesa, a regente, a Nick, era permitido falar com sua mãe olhando-a nos olhos sem que esta permitisse.

– Aonde vai? – ouviu a pergunta fria. Era sempre mantinha o mesmo tom de voz, independente de com que falasse. Com exceção de Andrey, claro, e Maxxcy, o único que se arriscava a deixá-la nervosa ao ponto de alterar-se. Para o jovem mestiço, isso era como um hobby, ver até onde podia estressar a Bruxa Má. Regozijava-se diante da visão dos objetos que se quebravam e das pessoas que eram acidentalmente atingidas pelo poder descontrolado da enfurecida Rainha que nada podia fazer contra ele. E ansiava o dia que a enfrentaria diretamente, não como o filho de Andrey, mas como Maxxcy.

Nihany esperava que este dia nunca chegasse.

– Estava pensando em encontrar Erick – respondeu a princesa caçula com simplicidade. Podia, mas raramente escondia as coisas de sua mãe. Não por respeito, mas porque não a temia.

– Temos quase 3 mil bruxos neste Castelo, deve haver algum que seja melhor do que ele para que passe seu tempo.

– Sim, mas eu prefiro a companhia de Erick.

Era virou o rosto, crispando os lábios por um momento, claramente desgostosa. Nihany admirou o belo rosto de sua mãe. Confinada naquele lugar desde o nascimento, não saberia dizer com exatidão quantos anos trouxas sua mãe aparentava, mas chutaria algo em torno dos 30/35. Já na realidade? Nem ela conseguia estimar a idade que sua mãe ocultava com sua magia. Mas sabia que sua mãe estava velha. E isso era estranho. Mesmo que nunca tivesse ouvido uma palavra carinhosa ou recebido um gesto amoroso por parte dela, ela era sua mãe e Nihany sentia por Era algo que não sabia definir. Não era como os sentimentos despertados por Maxxcy, ou mesmo por Chikage e Erick, mas para seu coração gelado, aquela mulher lhe era algo próximo do especial. Acreditava que até sentiria sua falta. Afinal, Era estava sempre por perto, nunca esquecendo de dizer o que pensava a todos e qualquer um.

– Dearka viu há alguns dias Chikage nos jardins. Assim como você na Estufa. O que fazia em áreas tão indignas, Nihany? E o que Chikage fazia aqui, sendo que está proibido de deixar Hogwarts até segunda ordem?

"Como se você não soubesse que ele vai e vem o tempo todo" – pensou a princesa, mas o que disse foi – Dearka, hã? Ele não perde tempo mesmo.

– A lealdade dos bruxos malditos ainda é minha Nihany, mas se continuar a andar com os mestiços, duvido muito que a consiga um dia. E uma rainha sem a lealdade de seus súditos não reina.

– Eu não chamo o que sentem pela senhora de lealdade, mas... Se quer mesmo saber, sim, Chikage esteve aqui a meu pedido – respondeu a jovem, ainda olhando para o chão. Com sorte Era esqueceria a questão de terem visto-a na estufa. Não queria que a mãe soubesse que estava ajudando Erick em seu trabalho, pois provavelmente ela tiraria do mestiço a função de alimentar os animais. E a Nick não queria outros bruxos chegando perto da pet de Chikage e Yukina havia sido escondida lá.

– Seu pedido?

– Sim. Estava com saudades dele e pedi que desse um pulo aqui. Como não queria problemas com a senhora e sua autoridade, escolhemos as estufas para nos encontrarmos. Nada demais ou de impressionante.

– Deveria respeitar mais minha vontade, Nihany.

– Como quiser, mãe. Posso sem problemas ir até a Inglaterra vê-lo quando sentir vontade – a jovem disse com um leve dar de ombros, sabendo que nada irritava mais a Rainha Bruxa do que ter sua vontade negada, mas também sabendo que Era nunca aceitaria que sua Regente pisasse no mundo trouxa.

– Nihany... – A Rainha começou, mas percebeu que seria inútil, pois os olhos esmeralda de sua filha haviam perdido o foco. O que significava que ela não via mais a mãe, mas algo que olhos humanos não podiam enxergar. Seria o futuro? O presente? Ou o passado? E para quem ela olhava?

Ergueu a mão, mostrando a pequena bola de cristal, numa ordem muda para que expusesse o que seus olhos viam.

Contudo, para sua surpresa, Nihany fechou os olhos, escondendo sua visão e guardando somente para si as imagens.

– O que viu? – perguntou, desconfiada, pois Nihany nunca lhe negava nenhuma visão. Na verdade, já estava tão acostumada a conectar seus olhos as pequenas esferas que muitas vezes o fazia, mesmo que estivesse sozinha.

– Algo que não gostaria nem um pouco – a jovem respondeu, quase educadamente. Quase – Mas se quer tanto saber, Maxxcy está chegando. Vou até ele.

E sem mais uma palavra, Era viu sua caçula afastar-se, caminhando rumo aos braços do mais odiado mestiço daquele lugar.

Atrás de si, uma das bolas de vidro que abrigavam o fogo vermelho, única fonte de luz do Castelo, se partiu.

Maldito mestiço! Malditos mestiços! Ervas daninhas! Malditas pragas que infestavam seu belo jardim! Como queria arrancá-las pela raiz e queimá-las!

Nihany sabia que Era estava brava e quase sentiu dó do primeiro bruxo que cruzaria seu caminho. Mais uma vez, quase. Subiu os negros degraus que faltavam, passando pela porta negra (que se abrira diante de sua aproximação), encostando-se no muro negro e erguendo o rosto para melhor poder ver o céu eternamente negro sobre sua cabeça. Algumas estrelas brilhavam, sem que luz alguma viesse delas.

– Maxxcy. Erick – chamou os amigos, sua voz ecoando no vazio sem vida daquela terra escura.

Em seus ouvidos, o choro de um bebê ainda ecoava. Sua visão estava cada vez mais nítida e isso a preocupava.

– Nesse ritmo, você nada poderá fazer, Chikage. Quanto mais nos aproximamos do futuro, menos poder temos sobre ele. Não lhe resta muito mais tempo. Se continuar assim, ele vai nascer – profetizou, novamente.

Muito longe dali, na Floresta Proibida de Hogwarts, os centauros também olhavam o céu, percebendo o intenso brilho das estrelas e seus negros presságios.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas: [1] rato elétrico pequeno roedor amarelo que dá choques quando sua pele entra em contato com outros seres vivos.

[2] efeito reflexo é quando inconscientemente se imita um gesto alheio. Por exemplo, se uma pessoa começa a rir ou a bocejar, as demais tendem a fazer o mesmo de forma inconsciente.

*

N/A: Espero que gostem de mais esse capítulo ^ ^ Para variar, ele não foi betado. Eu li várias vezes, mesmo assim sempre passa algum erro XD E para quem tinha dificuldade com diálogos, eles andam falando muito, né? E quem arrisca um palpite sobre os cheiros que Harry sentiu?

*

Agradecimentos: Muito obrigada a todos que veem acompanhando essa história. E um agradecimento especial a todos os que perderam uns minutinhos para me deixar sua opinião. Obrigada mesmo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Serpentes e Leões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.