Sonhos Distorcidos escrita por Marie Lolita
Que espécie de recepção, trote ou rito de passagem era esse? Sakura estava desesperada dentro daquele galpão. Uma maldade fazer isso com alguém.
- Alguém pode abrir essa merda de porta? Por favor?! – Continuou batendo, tentando evitar que as lágrimas saíssem.
- Fique quieto! – falou uma voz grossa do outro lado. Abriu a porta lentamente. – Você quebrara a porta se continuar.
A garota deu dois passos para trás, tentando ver quem era seu salvador, mas a luz do dia ofuscou sua visão.
- Tudo bem? – ele perguntou de forma mais doce, colocando-se na frente da luz na porta.
- A-acho que sim.
- Vamos – deu as costas, andando.
Começaram a andar em meio as árvores. Novamente pelo bosque. Ela não sabia para onde, mas seguia seu salvador, que andava a dois passos mais a frente. Ele era alto, corpo másculo, cabelo ruivo desgrenhado. Alguma coisa nele era familiar, mas como não conseguia ver o rosto, não sabia o que.
- Hum... Muito obrigada. – ela se sentia no direito de agradecer, afinal de contas, ele havia salvado-a daquele galpão, antes que ela surtasse. – Se ninguém viesse, eu... – riu sem graça, mas ele não se virou para falar alguma coisa, continuou andando. Que situação constrangedora.
- Sasori – apresentou-se depois de um tempo. Parou de andar, ficando de frente para a mesma, estendeu a mão. Ah! Era isso. Ele é o garoto que ela olhava freneticamente mais cedo. – Sou estudante de teatro.
- Haruno Sa... Quero dizer, Chay. Me chamo Chay – apertou a mão dele com firmeza. Esse parecia um código masculino, saber quanta masculinidade o individuo tem através do aperto. – Vou fazer desenho.
- Ah. Você é o garoto que admitiram um mês depois. Saiba que é o comentário da semana no campus, posso até dizer que é popular – sorriu. Um sorriso de derreter o coração, e a fez corar, tanto por dentro, quanto por fora.
Nossa, já famosa é nem sabia disso. Legal. Eu acho.
- Você parece meio... – voltou a andar, dessa vez ao lado dela. Não. Mais um para dizer afeminado não. Já chega. Cheguei a minha cota. –... bonito. Desculpe dizer, mas me lembra uma garota.
- Você não é o primeiro a dizer isso. – disse chateada.
- Não me entenda mal, mas algumas garotas gostam desse estereotipo. Sinta-se feliz com isso. Pode arranjar uma namorada rapidinho.
Ótimo. Um não sabe como tenho uma ‘namorada’ e o outro quer me empurrar uma. Eu não sou um homem. Não quero namorada. Droga!
- Me diga Haruno, por que estava encarando meus amigos mais cedo?
Ela parou de andar, congelada no lugar. Ele havia a visto olhando-o. Isso só confirmava mais a teoria de todos que ela era afeminada. As coisas não estavam indo por um bom caminho.
- Bem, eu estava olhando todos dançando. Curto um pouco de dança e queria saber o que dançavam.
- Break.
- O que?
- O que estavam dançando, era break.
- Ah, claro. Break – ficou sem graça, por entrar no assunto e não saber nem o estilo do que dançavam. Grande Sakura!
Sasori a olhou e não se conteve, começou a rir. Era cômico como ela agia e a forma como ficou sem graça e nem sabia o estilo de dança. A pequena o olhou sem entender, ficando cada vez mais corada. Era lindo ele sorrindo
- Você é engraçado, cara. Muito legal. Talvez depois eu o chame para sair com os Akatsukis, eles vão gostar de te conhecer. E posso te apresentar algumas garotas – continuou a rir. Deu um tapinha no ombro da garota, que teve que se segurar para não se desequilibrar.
- Claro – falou sem jeito, o que o fez rir ainda mais.
- Tenho que ir agora. A gente se vê – saiu correndo, por uma trilha de tijolos amarelos que agora estavam.
Sakura ficou ali. Parada, olhando ele sumir, toda abobada. Ele era muito fofo. Um perfeito príncipe, que a salvou quando precisava. Espera. Sou um garoto. Tira isso da cabeça fofinha, falou sua voz interior. Desmancha prazer!
O telefone no bolso da calça começou a tocar no ritmo de “Hit the Light” da Selena Gomez.
- Acho melhor trocar esse toque depois – dizendo isso pegou o aparelho, observou o número no visor e colocou no ouvido. – Oi Tenten.
- Ora, ora. Ainda esta viva. Fico feliz, testudinha – murmurou de forma divertida, rindo do outro lado da linha.
- Muito engraçada. Estou morrendo de rir. – falou seca. Recomeçou a andar, sem saber para onde.
- Como foi até agora?
- Nada de mais. Todos me acham muito afeminado, estou babando por um aluno super gato do segundo ano e acabei de ser presa em um galpão escuro e pequeno, para sorte da minha claustrofobia.
- Minha nossa. SaKura querida, que começo terrível. Tirando a parte do gato do segundo ano. Queria poder fazer alguma coisa por você.
Ela desejava também que tivesse algo. Espera. Tem sim. Em sua cabeçinha ela já bolava o plano todo, todos os detalhes.
- E pode.
- Perdon. Não entendi.
- No final de semana, quase todos vão para um clube aqui dentro do campus e é bem provável que o Sasori me chame para sair com os amigos dele. Quero que você chame a Temari e a Rin, as três vão vir aqui e...
Ela continuou contando o plano todo para a amiga, que achou uma loucura total, mas Tenten amava fazer essas coisas sem noção, então topou na hora, já as outras duas seria outra história convencê-las.
Sem se dar conta, já tinha saído da trilha de tijolos e estava numa clareira com um prédio branco com varandas. Em segundos o céu foi tomado por um monte de folhas desenhadas. Ela ficou um pouco olhando as folhas, depois olhou a varanda de um andar muito alto estava um garoto branco, de pele alva, com belos olhos negos, cabelo da mesma cor, só que liso caindo um pouco nos olhos, olhou-a e depois os desenhos. Algumas folhas ainda estavam em suas mãos, outras voavam do andar. Rapidamente ele sumiu do para-peito da varanda, provavelmente correndo para descer.
- Tenten, depois eu ligo de volta. Tenho que fazer uma coisa agora. Tchau – no mesmo instante ela desligou e guardou o celular no bolso.
Rapidamente começou a pular agarrando alguns desenhos ainda no ar outros no chão. Quando, enfim, eles param de cair e só restava um monte de folhas na grama, ela pegou um que chamou sua atenção. Era lindo. Essas são as únicas palavras para descrevê-lo. A imagem de uma garota de perfil, com o cabelo preso em um coque, com regata e enormes fones de ouvidos.
- Incrível! – foi só o que conseguiu falar, olhando abobada para a folha e o desenho. – É como se fosse real. O traço tão delicado, contrastando com o rústico do carvão.
Distraída ela não percebeu a presença do mesmo rapaz que antes estava na varanda, agora ao seu lado.
- Me desculpe! – ela não entendeu o porquê do pedido de desculpas, mas se levantou, para olhá-lo. – O vento soprou-os... – disse pegando alguns que restavam no chão.
Ele era bem mais alto que ela, com o mesmo uniforme e feições angelicais. Ele lembrava, infelizmente, o Sasuke, de um jeito estranho, mas parecia mais doce e bonito.
- Você que desenhou eles?
- Eles são rudes esboços – murmurou num fio de voz. Quase não queria conversar. – Eu estava pensado em jogá-los fora.
- Que? Não. Eles são lindos. A forma como você usa o carvão da uma delicadeza incomum ao desenho e seu traço.
- Você desenha ou estuda arte? – perguntou olhando-a diretamente, parecendo um pouco mais animado.
- Um pouco dos dois. Eu acho meu traço ainda um pouco bruto, mas estou melhorando.
- Talvez você possa me mostrar alguns dos seus desenhos em outra hora – recolheu todos os desenhos da grama e pegou o bolinho da mão da mesma, se levantando e dando as costas para ela.
- Hum... Se você não precisar, ou se importar, posso ficar com esse? – mostrou o desenho da garota de fones que ainda estava em suas mãos.
Ele deu uma risada sem jeito, ficando todo encabulado.
- Isso é embaraçoso, eu não os desenhei para dar a alguém...
- Eu... não posso? Eu realmente gostei deste. Demonstra muito seu traço.
Ficaram alguns instantes em puro silêncio. Ela observando o desenho, admirada. Ele a observando, vendo a particularidade afeminada e doçura que sua pessoa transmitia.
- Só se em troca você me der um seu.
Sakura esboçou um sorriso de orelha a orelha. Ela sabia que não poderia se igualar a ele, não agora, mas valia á pena à troca.
- Eu sou Haruno Chay, me transferi hoje para cá, vou estudar desenho.
- Eu sou Sai. Estou no primeiro ano de desenho, igual a você – relutante ele ergueu a mão para ela, que aceitou alegremente. – Será um prazer estudar com você, Chay.
- Digo o mesmo, Sai
Depois de se despedir de Sai e ele indicar o caminho certo para os dormitórios ela decidiu dar seu dia por encerrado, pelo menos por agora, queria ir para o quarto antes do rabugento do Sasuke chegasse das aulas. Poderia até tentar tomar um banho as escondidas, seu corpo gritava por um banho.
A vida agora seria estranha, mas teria que conviver e agüentar tudo, até os apelidos de afeminado, claro, isso até o final de semana.
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