Sonhos Distorcidos escrita por Marie Lolita


Capítulo 2
Capítulo 1 - Primeiro dia... Claustrofóbico


Notas iniciais do capítulo

Ainda gostando de escrever. É agora que a história acontece.



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A garota estava irritada. Mais um dia sem conseguir convencer sua mãe de renunciar a idéia da escola de Miss e fazer o que ela realmente queria... Desenho. A única pessoa que a escutava e podia aconselhá-la era Chay. Seu irmão gêmeo. O único que a ouvia de verdade e compartilhava do mesmo sonho.

   - Chay. To entrando. – falou vendo a porta entre aberta. – O que você esta fazendo? Vai aonde? – perguntou vendo-o arrumar a mala de roupas em cima da cama.

   - Fica quieta. – disse quase sussurrando – Eu vou para Tóquio. Recebi uma proposta de trabalhar em um estúdio de desenho de lá. Vou ficar uns seis meses fora.

   Ele jogou um envelope vermelho nas mãos dela, que se sentou de bruços na cama o observando fazer o ato repetitivo, ir para o closet, pegar algumas peças de roupa e jogar na mala.

   - Que isso? – perguntou sem abri-lo.

   - Fui aceito na Academia de Artes de Konoha. Recebi hoje.

   - Nossa... Chay... Isso é maravilhoso. É o que a gente sempre quis. – ficou de joelhos em cima do colchão e abraçou o gêmeo. Mesmo a cor do cabelo de ambos sendo diferentes, os olhos, quase do mesmo tamanho, os gostos... quase tudo eles pareciam.

   - Pelo visto ela não mandou sua inscrição, não é? – ambos se sentaram na cama, um do lado do outro.

   - Não. E sim. Ela me mandou para uma Academia de Miss... na Europa.

   - O que? Não. Ela não pode fazer isso. Não acredito. Vou agora mesmo ter uma conversa com essa mulher – levantou da cama bruscamente, todo alterado. Chay gostava da mãe e do pai, mas odiava a ausência do pai e o jeito da mãe de usar a filha para satisfazer seus desejos e caprichos. Quando o assunto era Sakura ele se metia com unhas e dentes.

   - Não. Não vale a pena Chay – pegou no braço do irmão e o fez sentar ao seu lado novamente. – Podemos voltar a ficar feliz por sua admissão na escola de Artes?

   - Eu não vou. Vou para Tóquio. Queria muito ir. Mas tenho que ir atrás desse emprego. Também é importante.

   - Mas Chay... Você sempre quis ir.

   - Eu sei Sakura, mas esse emprego pode ser o começo de tudo. Eu esperava que você resolvesse isso para mim... sabe, a Academia. – ele se levantou, dando um beijo na testa da gêmea e um forte abraço. – Espero que quando voltar você tenha resolvido isso e não vá para essa escola de Miss. Credo! Já pensou minha irmãzinha no meio daquelas meninas narizes empinados. Gostaria de ver a primeira que você quebraria o nariz.

   - Mando uma foto. – sorriu. Mas no fundo já estava sentindo saudades do irmão. O que iria fazer agora sem ele? Os dois eram muito ligados um no outro.

   Ele deu mais um beijo, no topo da cabeça da menina e depois saiu na ponta dos pés. Se iria fugir, iria fazer isso direito. Mas para sua mãe não iria fazer muita diferença se ele fugiria ou avisava “Mãe, estou fugindo para Tóquio”, ela só responderia “Cadê sua irmã?”, não se importaria com ele.

   - Acorda Sakura. Por Deus! Como consegue dormir numa situação como essa?! Céus. Só você! – falou Tenten ao seu lado no carro. Uma luxuosa Limusine preta.

   - Onde estamos indo Tenten? – perguntou não reconhecendo aquela vegetação. Para que lado de Konoha City aquela escola ficava?

   - Não faço a menor idéia. O motorista está seguindo o endereço da carta de admissão pelo GPS... Mas parece que chegamos... – disse, assim como ela, olhando a janela.

   - Como assim chegamos? Se não reparou estamos no meio do nada – tentou forçar a visão para ver se achava uma casa ou sequer uma cabana, mas nada, só árvore e mais árvore.

   - Não grite comigo ‘Chay’. Eu estou lhe fazendo um favor. Fique quieto como um bom garoto. – falou magoada. Só agora ela percebeu que estava falando em seu tom ‘masculino’, quase gritando com a amiga. Agora as coisas estavam começando a assustar, ela com a voz e Tenten parecendo acreditar na farsa mais do que devia.

   - Ta. Desculpa. Não queria te magoar – falou na voz normal dela.

   Não demorou muito para constar que ela estava certa. Depois de subir uma montanha o carro estacionou em frente a uma enorme escadaria, em estilo de templo antigo, com estacas que formavam arcos vermelhos. As duas saíram do carro, admiradas com a paisagem. A grama na frente delas estava perfeitamente cortada, algumas árvores centenárias, e arbustos dos mais diversos tipos de flores espalhados por todos os lados. Mas a escadaria era enorme, da onde elas estavam não dava para ver o final dela. Ao fundo daquela paisagem, mais para o outro lado, havia uma montanha rochosa, que tornava a paisagem mais bela. Tudo era muito lindo, mas aquelas escadas estavam incomodando as duas. Teria mesmo que subir tudo aquilo. Ta brincando?

   - Bem, Sakura. Hoje você vai pagar seus pecados. – murmurou a morena divertida.

   - Se tiver que subir isso de fato, com certeza. Ah, Tenten, eu não quero subir esse monstro. Me leva de volta para casa. Isso não vai dar certo. Vão me descobrir. Vou voltar para o carro. – resmungou dando as costas para a garota e a escadaria.

   Tenten pegou no colarinho do blazer da amiga quando a mesma deu as costas.

   - Não vai mesmo. Você vai subir tudo isso como um verdadeiro homem faria e sem reclamar.

   - Mas não sou um ‘verdadeiro homem’, posso recusar. Me deixa! Solta! – esperneou, sem sucesso algum de voltar para o carro.

   - Não. Eu não fiquei dez horas na maquiagem, no cabelo, e arrumando você toda para chegar aqui e voltar para casa. Você quer ir para a escola de Miss?

   Bingo. Atingiu ela em cheio. No mesmo segundo Sakura parou de espernear e ficou do lado de Tenten, voltando a encarar o monstro chamado escada. Não iria para aquela Academia de Miss, nem morta. Preferia subir e descer aquelas escadas umas três vezes.

   - Ótimo. Porque seu anfitrião esta descendo as escadas nesse momento. E que anfitrião. Agora queria pegar seu lugar.

   Um rapaz de pele alva, cabelo preto, todo desgrenhado, rebelde e um pouco espetado, com lindos olhos negros, que pareciam duas pedras ônix frias descia os degraus, e parecia a coisa mais fácil do mundo, ele não suava nem um pouquinho e sequer achava muito aquilo. Ele estava com a roupa igual à dela, mas com a gravata desfeita, o blazer aberto e a blusa para fora da calça. Bem despreocupado.

   - Bom dia. Sou Uchiha Sasuke. Serei seu colega de quarto. Só por isso me mandaram te buscar... – disse assim que desceu o ultimo degrau, ficando de frente para elas. Ele não sabia nem o nome dele.

   - Chay. Haruno Chay. Prazer – estendeu a mão para ele, que não apertou.

   - Vamos Chay. Temos uma longa caminhada a fazer. Se despeça da sua namorada e vamos embora.

   Namorada? O que? NÃO!!

   - Ela não é minha-

   - Só diga ‘tchau’ – começou a subir. – Vamos logo.

   Sakura voltou o olhar assustada para a morena. Um olhar que dizia ‘Socorro’. Tenten só a abraçou acariciando suas costas com as mãos.

   - Ele é bonito. Pense nisso pelo menos.

   - Ótimo. Um lado bom – falou em tom sarcástico. – Estou com medo.

   - Tudo vai dar certo. Torço por você Sakura. – deu um beijo no rosto dela e deu espaço – Tchau... Namorado – as duas riram.

   Quando ela voltou a olhar para a escada Sasuke já estava no vigésimo lance de escadas. Rápido o garoto.

   Não tinham nem subido metade daquela escadaria e ela já estava morta. Tinha suas dúvidas que era realmente bem-vinda nessa escola, se fosse, não teria uma escada dos infernos dessas para recebê-la. Não que esteja sendo mimada ou reclamona, a escadaria era realmente absurdamente enorme. Ainda assim, achou que enorme não é um adjetivo digno para descrevê-la. Fora que Sakura é o tipo de pessoa que se encaixa perfeitamente na classificação de sedentária, o que não é nenhuma novidade, sempre preferiu ficar lendo ou desenhando. E agora eles realmente esperam que ela suba essa maldita escada? Faz-me rir.

   - Sasuke. Eu desisto. Não vou subir isso nem morto. – disse num fio de voz se sentando no degrau. Sua cabeça pulsava mais que seu próprio coração, a garganta estava tão seca, que toda vez que inspirava parecia estar enfiando uma faca goela a baixo e a saliva não existia mais, só um vestígio de algo parecido com areia, isso, toda vez que tentava engolir algum filete do líquido.

   - Ah você vai sim. Não vim até aqui para rebocar um cara. Não vou te levar nas costas, tire isso da cabeça. Vamos logo. Esta parecendo até uma garota. – pelo que parecia ela era a única que sentia o impacto daquela subida insana e estava morrendo. Ele sequer derramou uma gota de suor, muito menos parecia ofegante.

   Mas eu sou uma garota! Pensou histericamente na sua mente.

   Reuniu o resto de forças que ainda lhe sobravam para voltar a subir as escadas. Força Sakura, não falta tanto assim! Pensou, tentando ser otimista.  Já estavam nas nuvens, ou quase, não poderia ser mais alto que isso.

   Assim que voltou a subir, Sasuke lhe lançou um sorriso de deboche. Raios. Vou socar a cara dele! Exclamou na sua mente. Prometeu a si mesma que se aquela subida não a matasse iria pensar numa forma de fazer isso com ele. Afinal, ele seria seu colega de quarto. Seria fácil asfixiá-lo com o travesseiro no meio da noite ou outra coisa pior.

   Estaria mentindo ou sendo otimista demais se dissesse que não demoraram muito a subir aquele monstro de concreto. Obvio isso não muda o fato de que aquelas foram às horas mais sofridas da vida da rosada. Com certeza pagou seus pecados e o fato de ter tido aquela idéia. Deus estava a castigando, não via outra possibilidade.

   Ela já estava achando que tinha parado no lugar errado, ele era um seqüestrador ou o próprio diabo a levando para o inferno, mas não, era o paraíso. Assim que chegou ao ultimo degrau viu um lindo jardim de cair o queixo.

   Suas pernas não aguentaram mais o esforço de sustentar o peso de seu corpo. Não pensou duas vezes em se jogar naquela grama. Uma brisa gostosa com ar da manhã batia em seu rosto e ao fundo o barulho da água correndo a acalmava.

   Quem diabos deve a idéia de construir uma escola numa montanha dessas? Será que é um teste de resistência? Se você sobreviver pode de fato ser um aluno? Espera... aquilo lá e cima é um bondinho? Não acredito!

   - Aquilo é um bondinho? – perguntou apontando para o transporte que descia na mesma direção da que eles haviam subido.

   - É.

   - Não acredito. Tem um bondinho aqui e eu não sabia. Poderia ter poupado pernas, esforço e tempo. Que desgraça! Por que raios viemos andando?!

   - Gosto de andar – disse dando os ombros, como se o que acabaram de fazer fosse nada. Mas parecia ter competido na São Silvestre. Merda!

   Tudo bem. Ela tentou se acalmar fechando os olhos sentindo a brisa suave em sua pele alva, e tentou se concentrar em tudo a sua volta; no barulho do vento balançando as folhas das árvores trazendo o perfume das flores, no barulho da água em algum lugar que corria. O garoto poderia achar estranho outro rapaz fazendo isso. Mas e dai? Ela estava quase morrendo mesmo, que nem ligava para a opinião dele. Abriu os olhos dando de cara com a melhor invenção que alguém poderia ter feito. Uma garrafa de água.

   - Achei que iria querer – disse sem emoção.

   Jura? Nunca iria pensar que subir aquilo daria sede.

   Pegou a garrafa, que mais parecia um artigo de colecionador e muito cara, mas despejou todo líquido goela abaixo. Ela queria mesmo aquilo. Precisava. Mas estava curiosa.

   - Como não está cansado ou suado por subir aquilo?

   - Estou acostumado a andar. Não sou sedentário. – disse a ultima parte olhando diretamente para ela. Isso era uma indireta. – Consigo controlar meu suor quando preciso.

   Que espécie de pessoa é essa...? Uma anomalia ou um vampiro? Estou no Crepúsculo, cadê o Jacob sem camisa e o vampiro que brilha? Pensou.

    Atravessaram o jardim sem trocar uma palavra sequer. Até estarem de frente para um arco de ferro usado como portão, com o nome da Academia bem destacado. E logo adiante um corredor de concreto com postes de iluminação de ferro dos dois lados. Andaram por ali. Até achar uma mansão de três andares, branca com telhado vermelho. Parecia à Casa Branca dos Estados Unidos. Tinha até uma torre com relógio. Vigas de gesso sustentavam a cobertura da porta da entrada. Tudo muito lindo.

   - Não fique parado ai com essa cara de trouxa. É só uma construção. Vamos logo. Tenho que te mostrar o quarto, depois voltar para minha aula.

   - Você faz o que?

   - Fotografia. E já perdi o primeiro tempo por sua causa, baixinho afeminado.

   - Q-que...? – balançou a cabeça arregalando os olhos. Tinha ouvido aquilo mesmo??

   - Fala sério. Você tem uma cara de garota. E com esse corpinho pequeno, magro, a vozinha forçada e esse rebolado, você é afeminado sim. Nem sei como tem uma namorada. Enfim, não ligo. Só quero me livra de você. Vamos.

   Que...? Corpo pequeno, magro, voz forçada, rebolado e cara de garota...? Vão me descobrir. Ele já deve ter desconfiado. NÃOOO!!!

   Sakura estava surtando por dentro, enquanto andavam, sem prestar atenção, se depararam com o dormitório masculino. Subiram quatro lances de escadas e pararam de frente a uma porta de madeira com o numero 202 nela. Sasuke abriu a porta e entrou na frente.

   O quarto não era muito grande, mas agradável. Com duas camas, um criado-mudo os separando, criando um corredor. Uma porta, que devia ser para o banheiro, uma mesa de madeira, com computador, livros e enfeites, uma tevê de tela plana mais ao canto com pufes preto de frente para ela, o guarda-roupa que era embutido na parede. E uma varanda, que foi a primeira coisa que ela fez, foi jogar a mala e as duas bolsas na cama, correndo para a varanda, vendo a linda paisagem. O mar e a Konoha City emoldurando a paisagem, com as casas, prédios e arranha-céus.

   - Mais uma coisa... Sua cama é essa – ele indicou a da esquerda ao lado do guarda-roupa, que, sem delicadeza nenhuma, jogou as coisas dela na cama.

   - Ta. Obrigada. Pode ir. Porque que eu saiba, você esta atrasado para sua aula. – a antipatia entre os dois estava no ar. Sakura não foi nem um pouco com a cara daquele idiota prepotente e ele igual. Antes de sair sussurrou um ‘frutinha’ para ela, que ouviu, ou então, era para se ouvir. – E agora? Eu tenho que ir para a diretoria? Bem provável. Só vou fazer isso depois de desfazer minhas coisas.

   A garota ficou feliz ao ver que tinha um grande espaço no guarda-roupa. Pelo menos era generosidade da parte daquele idiota. Colocou suas roupas, que na verdade eram as que seu irmão não tinha levado na viagem. Colocou sapatos numa gaveta. Escondeu suas roupas íntima, absorvente, algumas peças de roupas suas mesmo e maquiagem, junto com as bolsas. Agora estava pronta para dar uma volta pelo campus e achar a diretoria.

   Mas foi surpreendida com uma batida na porta. Será que aquele tal de Sasuke tinha esquecido alguma coisa ou só voltou para insultá-la mais um poucinho? Que seja. Foi até a porta, mas ali estava parada uma garota loira, não muito alta que ela, seus olhos eram azuis claros, pelo menos um deles, já que outro a franja longa e lisa cobria. Ela trajava o que parecia ser o uniforme dali, uma saia de pregas azul escuro, a blusa social preta, com a gravata azul, o blazer a mesma coisa que o masculino, branco, com detalhes pretos e o símbolo no bolso. Ela estava com uma meia preta até a coxa e a sapatilha da mesma cor que a meia.

   - Posso ajudar? – perguntou Sakura, entre uma tossida, para engrossar a voz. O que não era muita coisa.

   - Você deve ser Haruno Chay, o aluno aceito um mês depois que as aulas começaram. – ela assentiu afirmadamente. – Bem, muito prazer, sou Yamanaka Ino – estendeu a mão para ela. Para não ser grossa aceitou. Mas a outra mão ainda estava na maçaneta, pronta para qualquer coisa.

   Calma Sakura... Você não é mais uma garota. Tudo bem. Passou na sua mente. Tinha que acreditar nisso.

   - Você é um garoto... Peculiar – peculiar? Isso significa o que? – Você tem a aparência de uma garota. Quer dizer... Você tem uns traços um pouco... afeminado. – disse com a mão no queixo. Como se estivesse a estudando.

   - Ta. Tudo bem. Eu já ouvi isso. Não quero ouvir de novo. – resmungou brava. Oras, não precisava ser chamada de gay novamente. E tão abertamente assim. – O que você quer aqui? – estava pronta para fechar a porta na cara dela, sem se importar se era uma garota igual a ela.

   - Oh. Desculpe-me. Devia ter percebido que você não gosta dessas observações. Desculpe mais uma vez. Fui muito grossa e rude.  – realmente ela parecia sinceramente arrependida. – Bem... Pediram-me para mostra um pouco do campus e levá-lo até a diretoria. Na verdade, era para o seu colega de quarto fazer isso, mas como sei que é o Sasuke, decidiram me mandar.

   Realmente ele não deve ser conhecido por ser o cara mais gentil e amigável do campus. Isso estava bem na cara.

    Elas andaram uma ao lado da outra. Com o passar dos minutos a loira não agia mais como a garota super educada que baterá a sua porta, ela parecia ter se libertado de toda formalidade em pouco tempo. Agora agia como se Sakura fosse sua amiga de tempo. Elas brincavam e riam uma da outra enquanto o tour era feito.

   Ela mostrou as quadras esportivas, a área da piscina, os estúdios, o refeitório, alguns prédios de aula e outros como: a biblioteca, moradia dos professores e alguns alunos. Viram os parques, os jardins e o bosque. Como aquele lugar era imenso, talvez nem nesses seis meses ela conseguisse andar por todo campus.

   - Nunca conversei com um garoto assim. É tão fácil falar com você Chay, é quase como se fosse uma...

   - Garota – completou, dando um meio sorriso.

   - É. É quase como se você fosse uma garota. Isso é estranho, mas acho que podemos ser amigos – deu um sorriso de orelha a orelha para ela, que ficou até sem graça.

   - Quem são aqueles? – apontou para um pequeno grupo que conversava e ria um pouco alto, alguns até dançavam.

   - Eles se nomeiam os Akatsuki. São estudantes do segundo ano. Eles são quase a elite aqui. Um dos grupos mais ricos e variados da academia. – Ela falava não olhando para eles, enquanto a rosada não tirava os olhos de cima deles, mas um deles chamou mais sua atenção.

   - Variados? Como assim? – desviou seu olhar para a garota ao seu lado.

   - São de vários cursos. Alguns de dança outros do teatro e por ai vai. Mas não os encare muito. Alguns deles são cismados com pessoas que olham freneticamente. Não queria entrar na lista negra deles, o ultimo que fez isso não tem mais vida social.

   - Quem é aquele? – indicou com os olhos o garoto que tanto olhava. Um ruivo, alto, não conseguia ver os olhos porque ele lia um livro, estava recostado no tronco da árvore, tranquilo e despreocupado, somente ouvindo seus amigos.

   - Aquele é o Sasori. Do segundo ano de teatro. Um dos mais gatos do campus. Ele é tranquilo e fala com todo mundo. Por aqui ele é chamado de “Principe”, pois é fofo, romântico e muito educado. – por um instante ela se deixou olhá-lo e quase babou. – Agora vamos, tenho que te levar para o diretor... – olhou-a, Sakura parecia hipnotizada com a beleza exótica daquele rapaz. Ele realmente parecia um príncipe. Tinha que se segurar para não babar, igual à Ino –... a menos que queria continuar a admirar o Sasuri-san, como uma garota.

   - N-não. Só achei a cor do cabelo dele legal. V-vamos.

   Entraram em um prédio grande de concreto acinzentado, de arquitetura vitoriana. Andaram em meio a vários corredores. Viraram para a direita, esquerda, direita de novo, sobe escada, continua reto, esquerda, direita. Isso a estava deixando tonta. Poderia jurar que iria ver o que tinha comido no café da manhã se tivesse que virar em um corredor mais uma vez. Graças a uma força maior pararam de frente a uma porta de madeira na cor de mogno. Ouviram um leve ‘entre’ do lado de dentro e, assim fizeram.

   - Com licença. Minato-sama – disse Ino cordialmente e fazendo uma reverencia que foi imitada por Sakura – trouxe o estudante que me pediu.

   - Sasuke foi buscá-lo e depois o deixou, certo? – perguntou a rosada, que indicou um sim com a cabeça. – Bem a cara dele. Já espera por isso. Ainda bem que pedi a Ino para ir a seu encontro, que aliás, muito obrigada, pode voltar para sua turma, não quero atrasá-la mais.

    - Com licença. Te vejo depois Chay – deu uma piscadela com o olho para ele, que ficou sem graça.

   Teve uma conversa o diretor, que foi muito legal. Ele explicou as regras, deu seus horários, falou de seus professores, do campus (até recebeu uma mapa da academia. Como ele sabia que ela ia se perder?).

    - Fico muito feliz que tenha vindo. Vimos alguns de seus trabalhos. São excelentes. Por isso sua admissão fora de hora. Mas não poderíamos perder alguém tão talentoso assim. Espero que goste daqui.

    - Obrigada. Eu que agradeço por me aceitarem. Sempre quis estudar aqui, senhor Minato – ela deu graças a Deus pelo traço dela e de Chay não serem tão diferentes assim. Tinha esquecido em pensar nessa pequena diferença antes.

    - Suas aulas começam amanhã de manhã. Por hoje, conheça o campus – levantou-se, estendendo a mão para ela, que apertou e tentou aparentar firmeza. Logo depois saiu da sala.

   Andou pelo que ela achou ser o bosque dali. Cheio de árvores verde, flores e o sol já estava alto. Queria voltar para o quarto e não parar num bosque.

   - Esse mapa esta certo mesmo? – fez uma careta para ele, tentando saber onde estava. – Ah! Esquece. Vou andar e ver onde paro – dobrou o papel guardando no bolso da calça, irritada.

   Ouviu passos atrás de si. Olhou uma ou duas vezes, mas não havia nada. Sentia sendo observada. Isso a incomodava, e muito.

   Queria sair correndo, mas não iria fazer isso, só em caso extremo. Sentiu ser empurrada por duas mãos e acabou sendo jogada para dentro de um galpão. Foi de encontro ao chão de madeira e a porta logo foi fechada atrás de si. O galpão estava escuro, mas ela pode ver alguns artigos de esporte e arte juntos.

   O que foi isso?

   Levantou-se desesperada. Odiava escuro e odiava mais ainda lugares fechados e pequenos, tinha claustrofobia. Começou a bater as mãos contra a porta, fazendo muito barulho.

   - Abra essa porta! Deixe-me sair daqui! Quem diabos é você?! – gritou desesperada, mas ainda com a voz de homem.

   Ninguém respondeu. Mas ouviu uma risada feminina e passos se distanciando. Iria mesmo ficar trancada ali? Um bolo começava a subir em sua garganta. O desespero tomar conta de si. O calor insuportável. Isso só indicava duas coisas. Primeira: iria começar a chorar como um bebê. Segunda: iria surtar se continuasse ali dentro.

    Começou a bater as mãos mais violentamente contra o ferro da porta. Sem conseguir nada.


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Notas finais do capítulo

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