Os segundos que se passaram até Jake voltar pareciam horas. De certo modo, foi até melhor, porque assim eu consegui ficar um pouco mais calma.

– Então... - Jake surgiu do meio da escuridão usando apenas uma bermuda velha.

– Então... - Me aproximei dele. - Quer dizer que você é tipo... Um... Bom, você sabe... Um lobisomem?

– Mais ou menos isso.

– E como isso funciona? Você se transforma em noites de lua cheia, ou o que? - Jake sorriu.

– Não, isso é tudo coisa de Hollywood. Eu basicamente tenho controle sobre essa parte da transformação.

– Basicamente?!

– É. Bem, eu decido quando vou me transformar em lobo, mas ás vezes, quando fico com muita raiva é quase inevitável.

– Por isso as suas mãos ficam tremendo?

– Exatamente.

– E quando você está em forma de lobo, você tem controle das suas ações?

– Total. Não muda nada, sou o mesmo Jake só que em quatro patas. - Ele sorriu. - E você já está surtando com essa história? - Jake perguntou um pouco receoso.

– Um pouco na verdade. - Admiti. - É que... Eu já namorei um ou dois garotos que foram uns cachorros comigo, mas nunca lobos, e nunca no sentido literal da coisa. E francamente Jake, quando você ia me contar isso? Quando a gente estivesse casado e com dois filhos?

– Só dois filhos? Eu tinha imaginado uns cinco pelo menos... - Jake falou pensativo.

– Cinco? Não amor, é criança demais. Dá muito trabalho! E sem contar que... Espera, Jake! Não muda o foco da conversa! - Falei brava.

– Tá bom, tá bom. Não digo mais nada. - Jake falou deixando escapar um riso.

– Jake essas coisas a gente fala no primeiro encontro sabia?

– Mas olha, tecnicamente nós não tivemos um primeiro encontro.

– Mas naquele dia em La Push eu te contei que tinha alergia a gatos e a frutos do mar. O que custava você dizer que era um lobo? Esses pequenos detalhes fazem diferença na relação sabia?!

– Eu estava apavorado em como você ia reagir. Não é todo dia que você tem que contar pra sua namorada que de vez enquando anda pela floresta em forma de lobo.

– Então essa é a razão de você sumir ás vezes? Por que quer ficar em forma de lobo?

– Não é bem assim. Eu e os outros garotos protegemos a reserva de vampiros.

– Vampiros? De verdade? Com pressas e que bebem sangue?

– Eles não têm pressas... Mas bebem sangue.

– É loucura demais pra uma noite só...

Jake me contou sobre as lendas Quileutes e os frios. Explicou-me que ele não devia mais “servidão” ao Sam, mas que ainda sim o obedecia, mas não por completo. Aparentemente com o passar do tempo, Jake e Sam meio que dividiam essa parte de ser o Alfa. Se não estivesse ouvindo dele e não tivesse o visto como lobo, eu não acreditaria.

– Nossa... Eu achava que essas coisas não existiam.

– Mas existem.

– E como a gente fica no meio disso tudo?

– Isso só você pode responder Sofia. Eu sou desse jeito e eu não posso mudar. Não é algo que eu possa escolher, eu nasci assim. Se você não quiser ficar mais comigo... - Ele deu um longo suspiro e continuou. - Eu vou entender, mesmo.

É claro que eu não esperava estar passando por essa situação. Eu não sabia se queria lidar com isso, mas ao mesmo tempo eu não queria perder o Jake.

– Olha... - Me aproximei mais dele e fiquei parada em sua frente. - Eu acho que não tem problema eu namorar um moreno alto, lindo, forte, com o mais perfeito sorriso que eu já vi e com uma ótima barriga de tanquinho... Por que nossa Jake, que saúde viu! - Disse o admirando. Ele revirou os olhos e começou a rir. - Mas enfim. Eu amo você por completo, cada pedacinho, cada milímetro de você, e não é um fato de você trabalhar meio período como um lobisomem que vai mudar isso.

– Na verdade o termo certo é transfigurador... - Jake disse ainda rindo.

– Sério que você vai ficar me corrigindo? - Me fingi de ofendida. Jake me abraçou forte e me beijou.

Sim, eu tinha acabado de descobrir que ele era um lobo, mas eu me sentia tão aliviada em saber de toda a verdade. De saber que não tinham mais segredos entre a gente, que agora sim poderíamos ter uma relação de verdade juntos.

– Vem. Vamos pra casa. - Jake falou quando finalmente nos separamos me puxando em direção à floresta.

– Mas nem morta eu vou subir nas costas. Eu tenho um carro que pode me levar bem mais confortável! - Falei rindo.

– Ah, mas eu quero ir correndo! - Jake fez um beicinho que o deixou com cara de um garoto de 10 anos de idade.

– Então a gente se encontra na minha casa, pode ser?

– Tá bom. - Ele me deu um breve beijo e saiu para a escuridão novamente.

Entrei no carro e fui digerindo tudo o que tinha acabado de ouvir. Meu namorado era um lobisomem... Quer dizer, transfigurador, que mata vampiros.

Ainda bem que minha mãe ainda não tinha voltado de viajem. Teria um tempo ainda pra me adaptar a situação atual de Jake.

Algum tempo depois cheguei em casa. E não para minha surpresa, Jake chegou primeiro que eu.

Ele entrou e ficamos no meu quarto conversando. Levantei-me para fechar a janela e tropecei no degrau que separa a varanda do meu quarto outra vez.

– Você toda noite tropeça no mesmo lugar, ainda não entendeu que tem um degrau ai? – Jake disse me zoando.

– É que eu esqueço. – Sorri. – Mas... Como você sabe que eu tropeço sempre nesse degrau? – Falei confusa.

– Eu sempre venho te olhar antes de ir dormir. – Ele admitiu.

– Então é você! Eu vejo alguma coisa se mexendo, mas nunca consegui ver o que realmente era. – Sentei em seu colo. – Quem diria que era meu lindo lobo vindo me desejar boa noite. – Fiquei alisando o seu cabelo, ele sorriu. – Jake, quando a gente tiver nossos filhos, eles vão latir ao invés de falar? – Falei brincando, Jake deu uma gargalhada.

– Pior, imagina se eles nascem com um rabo?! – Ele fez uma cara de assustado.

Após muitas brincadeiras idiotas nossas. Deitei-me na cama e Jake deitou por cima de mim se apoiando em seus braços, e começou a beijar meu pescoço.

– Você falou sério quando disse que queria cinco filhos? – Disse rindo.

– Não, eu quero no mínimo cinco filhos. A gente bem que podia montar um time de futebol né. – Ele me olhou sério.

– Claro que não! Nós vamos ter dois filhos. Um menino e uma menina, e pronto.

– Ah não, eu quero cinco.

– Não amor, só dois!

– Tá, a gente vê quantos filhos a gente vai ter depois... Mas a gente bem que podia começar logo com o primeiro né?! – Ele sorriu malicioso. O puxei para mais perto e começamos a nos beijar.

Virei-me e fiquei por cima dele. Jake alisava minhas costas por de dentro da blusa enquanto eu passava as unhas de leve em seu abdome. Ele desceu as mãos parando em minhas coxas.

Ouvi o telefone tocar.

– Se for importante a pessoa deixa recado. – Falei entre o beijo, quase sem ar. Jake sorriu.

Sofia? Dá pra atender esse telefone? – Ah ninguém merece, só podia ser minha mãe.

Ignorei a voz da minha mãe que saia da secretária eletrônica, mas eis que surge uma voz que o Jake não podia desobedecer, um uivo.

– É o Sam. – Ele falou decepcionado. – Tenho que ir.

– E eu tenho que atender minha mãe ou ela manda o FBI vim ver o que está acontecendo que eu não atendi ao telefone. – Revirei os olhos.

– A gente se vê amanhã?

– A gente se vê amanhã. – Sorri dando um último selinho nele antes de sair de cima de Jake.

Ele foi se dirigindo a janela e eu apenas observei curiosa. Jake simplesmente se atirou da minha janela. Eu sai correndo pra ver o quão machucado ele estava, mas claro, ele estava inteiro e foi andando para à floresta.

Depois de tomar um banho para esfriar a cabeça, voltei para o quarto e ouvi alguém uivar. Mas dessa vez não era um desconhecido, muito pelo contrário, era alguém que eu conhecia bem.

Sorri e fui até a janela. Consegui ver um lobo de tom avermelhado parado em frente a minha casa, mas ainda na escuridão.

– Boa noite pra você também Jake. Te amo. – Falei e pude jurar que vi o enorme lobo sorrindo.

Voltei para a cama e dormi.