Acordei meio zonza e enjoada. Tentei reconhecer o lugar onde eu estava.

- Sofia! Graças a Deus você acordou. - Minha mãe ficou ao meu lado.

- Eu vou chamar o médico. - Meu pai saiu da sala correndo.

- O que aconteceu? - Tentei falar.

- Você não se lembra de nada filha? - Mil e uma memórias voltaram a minha cabeça. Aquela festa, Jake e Amy, o acidente...

- Não lembro direito. - Menti.

- Você sofreu um acidente de carro. Mas agora já está tudo bem! - Ela sorriu.

- O Jake está ai? - Perguntei com medo da resposta. Não sabia se eu queria vê-lo ou não.

- Não. Ele ficou aqui o tempo todo, mas já foi. Ele deixou isso aqui para você. - Ela me mostrou um envelope que estava em cima do criado mudo ao lado de onde eu estava deitada. - Quer que eu pegue para você?

- Melhor não. Não agora. Mais tarde eu vejo.

- Tudo bem, você é quem sabe.

- Olá Sofia! - Um homem entrou no quarto com meu pai. - Eu sou o Dr. Mark. Como está se sentindo?

- Bem... Eu acho. Só meio enjoada.

- Isso é normal, não se preocupe. Você teve muita sorte ouviu mocinha?

- Porque sofri um acidente?

- Não, porque saiu inteira dele. Pela gravidade do acidente você praticamente nasceu de novo. E não sofreu nada grave, apenas alguns arranhões e cortes, mas nada muito sério.

- Que bom! Pelo menos isso... - Disse sem muita animação.

- E quais são os cuidado para o pós-operatório? - Meu pai perguntou.

- Espera... Pós-operatório? - Falei.

- Nós tivemos que fazer uma cirurgia de última hora em você.

- Mas, eu achei que não tinha sofrido nada grave. Você acabou de dizer que foram só arranhões e tudo mais. Porque eu fui operada? - Perguntei confusa.

Meus pais e o tal médico começaram a se entreolhar. O que estava acontecendo? o que estavam escondendo de mim?

- Falem alguma coisa! - Disse ficando nervosa.

- Calma Sofia, eu vou explicar. - O médico sentou na beirada da minha cama. - Você teve alguma lesão na perna direita anteriormente ao acidente?

- Sim, eu tive uns problemas, um dos meus ligamentos se rompeu. Mas isso foi à muito tempo, eu fiz a cirurgia e a fisioterapia, tudo certinho. Não entendo o que isso tem a ver comigo agora.

- É que... - Olhei para minha mãe e ela tinha começado a chorar. Agora eu estava ficando assustada.

- É o que Doutor? Fala de uma vez!

- Você sofreu uma hemorragia interna na perna, de inicio achávamos que foi por causa do acidente, mas constatamos que não era o caso. Sua mãe nos informou do problema que você teve e tudo passou a fazer mais sentido. Você não sentia dores ou dormências... Nada disso?

- Sim, mas... Mas eu achei era por causa da dança.

- Mas não era.

- Em todo caso, o que eu tenho que fazer agora? Porque eu tenho uma apresentação muito importante e é em seis meses. Acha que eu fazendo a fisioterapia eu consigo me recuperar por completo até lá?

- Não.

- Tá, mas leva quanto tempo pra eu me recuperar?

- Você não vai se recuperar.

- Como assim "Não vou me recuperar"?

- Sofia, é até irônico falar isso, mas esse acidente foi o que te salvou. Se não fosse por ele não saberíamos desse seu problema na perna, e para você ter ideia da gravidade, se mais algumas semanas se passassem sem você ter o devido auxilio médico você provavelmente teria que amputar a perna. Mas como conseguimos resolver o problema a tempo, não foi preciso medidas mais drásticas como essa, porém, você perdeu uma boa parte dos movimentos da perna.

- Tá tentando me disser que eu fiquei aleijada?

- Esse não é o termo mais correto para se utilizar, mas você não vai conseguir andar como antes.

- Isso é completamente impossível. Eu sou uma bailarina, não existem bailarinas mancas.

- Eu sinto muito Sofia, mas você não vai mais poder dançar.

- Não posso parar de dançar. É a única coisa que eu fiz de toda a minha vida, é a única coisa que eu sei fazer. Eu planejei todo um futuro como bailarina.

- Infelizmente não há mais nada que nós possamos fazer por você.

- Não... Isso não é verdade. Mãe, isso é mentira não é? - Minha mãe chorava discretamente e meu pai segurava forte sua mão. Ninguém mais me disse uma palavra. - Eu quero ficar sozinha.

- Mas hoje nós temos tratamentos e se você seguir a risca, um dia você pode voltar a andar normalmente.

- Um dia eu posso, quem sabe, voltar a andar direito? - Disse sarcástica.

- Sofia, filha, o importante é que você está viva. - Minha mãe disse.

- Mãe, por favor. Eu preciso ficar sozinha. - Pedi.

- Vamos deixa-la por alguns minutos, ela precisa desse tempo. - Dr. Mark se levantou e acompanhou meus pais até a porta.

Levantei o lençol e vi minha perna completamente imobilizada. Era um pesadelo, só podia, eu estava dormindo ainda e iria acordar a qualquer minuto.

Ouvi um barulho de alguém entrando pela janela, mas não consegui parar de olhar para minha perna.

- Sofia. - Reconheci a voz.

- Você já sabia Alice? - Perguntei sem desviar meu olhar.

- Sabia.

- Contou para ele?

- Suspeitei que não fosse querer.

- Fez muito bem. Você já consegue ver meu futuro?

- Claramente.

- Pode me dizer se eu vou voltar a andar?

- Sofia, não acho que devíamos conversar sobre isso agora...

- Alice, por favor.

- Não vai. Sinto muito. – Ela sentou ao meu lado.

Comecei a chorar.

- Nós vamos dar um jeito. – Alice disse.

- Não é só sobre a perna... Quer dizer, é sim, mas também...

- O que?

- Não sinto mais o Jake Alice, não sinto mais ele é como se ele tivesse morrido pra mim. Mas eu o amo, como isso é possível? – Ela me abraçou e eu fiquei ali chorando.

Havia acabado de perder uma das duas coisas mais importantes que eu tinha na vida. A dança e Jake.