O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 9
Eu, Pai, Mãe, e o Presidente?




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  Por mais que eu tenha Jason como um irmão, Rosemary como uma mãe e Beau como um pai, eu sinto falta da minha família biológica.

  Minha mãe e eu pai eram o casal que se pode chamar de perfeito. Eles sempre faziam o outro rir, mesmo nas piores situações; Um cuidava do outro; O amor dos dois era claro para qualquer um que passasse. Seus olhos diziam isso.

  Era lindo.

  Eles me amavam também. Cuidavam de mim. E, por mais que eles quisessem acabar com a Capital, sabiam que teriam que amenizar os protestos por minha causa.

  Eu tinha quatro anos quando eles foram executados... E ainda me lembro de todos os detalhes.

  Um dia antes de serem executados eles me levaram para a praia.

  -Um dia, Anna, nós vamos ser livres como os peixes que nadam por aqui...

  Eu respondi:

  -Mas pai! Os peixes não são livres. Eles são capturados pelas redes de pesca.

  -Apenas os peixes fracos, querida. Os mais inteligentes e fortes não são.

  -Nós somos peixes fortes, mãe?

  -Somos filha.

  -E quem é a rede?

 -A rede é quem está tentando capturar nossos irmãos mais fracos. Nós estamos tentando livrá-los disso.

  -Por que vocês simplesmente não saem de perto da rede e se salvam?

  -Por que isso não é justo com os outros.

  -Mas e se vocês forem capturados com eles?

  Meu pai riu.

  -Você pensa demais para uma menina da sua idade.

  Meu coração se aperta. O que teria acontecido se eles apenas tivessem fugido e deixado a rede levar os outros? Eu ainda estaria nesse trem? Ainda seria motivo de raiva da Capital? Meu pai tinha razão. Eu penso demais até hoje.

  No dia seguinte a esse, meus pais me abraçaram, beijaram e falaram comigo dos jeitos mais meigos e calmos que alguém a beira da morte pode fazê-lo. E então, como se já estivesse planejado, eles se sentaram no sofá enquanto eu ia dormir como eles haviam mandado.

  Mas eu não dormi. Meus olhos ficaram abertos, encarando a porta fechada até eu ouvir um barulho vindo da entrada de nossa casa. Meus pais estavam saindo. Com esperança de que eles estivessem indo à praia novamente, eu levantei da cama num pulo e fui até a sala. Escondi-me atrás da parede ao ver que um homem de uniforme branco conversava bravo com eles.

  Eles saíram, olhando uma vez para trás e deixando uma carta em cima da mesa. Descalça, eu os segui até a praça, onde uma mulher e um homem esperavam também acompanhados de um homem de branco. Eles trocaram sussurros com meus pais e então os quatro se dirigiram até o palco. Mais homens de branco esperavam no palco, com tiras de couro em mãos. Chicotes.

  Pelo visto, todos do Distrito foram obrigados a participar, pois a praça estava lotada como nunca. Mas eu podia ver pelos seus rostos que eles não queriam estar ali.

  Sem dizer qualquer outra palavra, os homens de branco levantaram a mão, nas ordens de um homem velho com expressão de poucos amigos no canto do palco. Ele gritou algo mais e...

  Slapt!

  Os quatro chicotes retumbaram no ar. Nenhum dos quatro adultos de pé no palco gemeu, gritou ou chorou. Apenas olharam para a plateia, como se dissessem:

  “Estão vendo? Estão vendo o que eles fazem?! Eles matam nossas crianças, torturam-nos, fazem-nos passar fome e morrer por nada! É isso o que vocês querem?”

  Slapt! Slapt!

  O grito do homem chicoteou-os novamente. A mulher desconhecida foi a primeira a gemer.

  Slapt! Slapt! Slapt!

  Minha mãe não resistiu e soltou seu primeiro gemido.

  As costas deles sangravam. Assustada, eu corri até as escadas do palco, gritando por meu pai.

  -Pai! Pai! – Lágrimas brotavam em meus olhos quando percebia que estavam machucando-o. –Mãe! Mamãe!

  A multidão se virou para mim com olhares pesarosos. Por que estavam olhando para mim daquele jeito? O que realmente estava acontecendo?

  -Moço! Moço! Você está machucando meus pais! – Eu subo no palco para falar com um homem de branco.

  Slapt.

  O chicote voa, raspando levemente em meu rosto, mas causando um grande estrago. Eu gritei, caindo no chão. Eu soluçava. Suspiros e exclamações vindas da multidão, mas ninguém fez nada além de olhar. Até mesmo meu pai desviou o olhar.

  Ele não queria me ver daquele jeito, do mesmo jeito que eu não queria vê-lo assim.

  -Pare, por favor! Pare!

  -Tirem essa menina daqui! – O homem velho gritou.

  Dois novos homens de branco me agarraram pelas axilas e me levantaram. Eu esperneava.

  -Vocês têm que mandá-los parar! Está machucando! Está machucando! – Eu gritava desesperada. Mas novamente ninguém fazia nada.

  -Argh! – O adulto ao lado de meu pai deixou escapar. Um menino loiro se destacou na multidão, gritando tão desesperadamente que eu achei que sua garganta ia explodir. Mas percebi que eu estava fazendo o mesmo. Debati-me o máximo que pude, mas era fraca demais para me livrar dos homens de branco.

  -Parem! – Ele gritava. Eu gritava. Os olhares do povo do Distrito Quatro gritavam. Mas ninguém fazia nada.

  Sangue caía em seus rostos, os uniformes brancos se manchavam de sangue, o chão se sujava com uma poça de sangue inacreditável, e eu estava prestes a vomitar em cima dos homens de branco que me seguravam acima do ar.

  Meu pai, já de joelhos, tombou para o lado. Minha mãe segurou um grito de dor. Segundos depois foi sua vez de cair.

  Os dois adultos caíram minutos depois, mas isso não importava mais.

  Meus pais estavam mortos em pleno palco da praça, mergulhados em poças de seu próprio sangue. Seus corpos mortos ainda seguravam a mão um do outro. Seus gritos ainda podiam ser ouvidos nas mentes de todos os presentes. Suas faces ainda podiam ser vistas.

  Seus corpos, com as costas rasgadas até os ossos, não foram retirados. Como uma lembrança para todos os moradores, de que não se desafia a Capital.

 Dias depois, enquanto eu ainda me encolhia no banheiro, tentando me convencer de que eu ia abrir a porta e meus pais estariam sentados no sofá, conversando, um homem tocou à porta de nossa casa. Sua barba e cabelos brancos me mostravam um homem velho. Suas rugas me mostravam um homem sério. E seu corpo, circundado de homens de branco, me dizia que ele era mau.

  -Boa tarde. – Ele disse, entrando em casa. Eu parei em sua frente.

  -Não pode entrar senhor. – Eu disse, para sua surpresa.

  -Ah não? Por quê?

  -Meus pais não estão. Eles devem chegar do trabalho logo, logo. – Eu disse, mentindo para mim mesma.

  -Seus pais não vão voltar. – Ele disse, cruelmente confirmando o que, no fundo, eu já sabia.

  -Por que está aqui?

  -Você vai ser transferida para a casa de seus tios, Anna.

  -Como sabe meu nome?

  -Ande.

  Eu fui deixada na casa de meus tios. Sem malas, sem esperança, sem pais. Andei atrás dele, evitando olhar em seus olhos, e evitando olhar para os curiosos, que apontavam e sussurravam coisas sobre mim e o homem velho.

  Eles esperaram um semestre. O tempo suficiente para eu criar uma ponta de esperança baseada em meus tios. E então o homem bateu novamente à porta. E assim começou um ziguezague, uma busca pelos meus parentes mais monótonos, porque quem estava cuidando de mim morria. Por mais que eu tentasse ser boazinha, nada adiantava. O homem aparecia para me levar a outro lugar.

  Até que acabou tudo. Ele me levou até o Abrigo e disse que ia procurar meu último parente, que estava fugido, provavelmente por medo de mim. Sete dias depois aquela carta chegou, e Jason, junto com ela.

  Descobri que os adultos ao lado de meus pais eram os pais de Jason. Descobri que o homem também o visitava. E ele era nada mais nada menos que o Presidente Snow.


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