O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 25
Está quente aqui, não?




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  John e eu caímos no chão, um ao lado do outro. Mas o prédio já está pegando fogo. John toca a porta que dá acesso à escadaria para descermos, mas ele afirma que não podemos abri-la. O fogo já tomou conta do resto do prédio. Fumaça tóxica entra pelas minhas narinas e eu tusso. Minh cabeça gira e eu olho par ao lado.

  -John! – Eu grito. – John!

  Ele logo aparece ao meu lado, afastando a fumaça em sua frente. Seu rosto está suado e aterrorizado, mas ele trata de se acalmar e passa a cabeça por meu braço e me ajuda a andar até onde o fogo ainda não chegou. Não podemos descer, pois o prédio tem Treze andares e a queda seria mortal. Lágrimas estão caindo por meu rosto e eu tusso numa quantidade incrível. John parece preocupado comigo e estou quase desacordada. Ele me chacoalha.

  -Não pode cair agora, Anna. – Ele grita em meu ouvido.

  Eu assinto e me obrigo a ficar acordada.

  -Temos que sair daqui, John! – Eu grito, aterrorizada pelo calor emanando bem perto de mim e prestes a me engolir.

  -Não me diga!

  Ele se debruça no parapeito, olhando para baixo. Eu enfio as unhas em sua blusa, puxando-o de volta. Ele me olha, seus olhos refletindo o fogo com uma expressão de medo.

  -Vamos ter que pular. – Ele grita.

  -O que? Não! – Eu me desespero. – Não. Tem que ter outra saída.

  -Não tem Anna! É pular ou morrer!

  -É pular e morrer, Turnit!

  -Temos que tentar! - Eu balanço a cabeça, dando um passo para trás. – Por favor, Anna!

  -Eu não vou pular! Pode ir se quiser!

  Ele segura a gola de minha camiseta, agora bravo.

  -Você. Vai. Pular. – Ele rosna. Eu fecho os olhos e balanço novamente a cabeça.

  Eu me debruço, tentando olhar para baixo.

  Então Turnit me empurra e eu caio. O vento bate em mim e eu estou gritando. Tento desesperadamente me agarrar à algo, mas só tem ar e chamas à minha volta. Marina me pega em seus braços quando caio com um impacto, soltando-me rapidamente para segurar Turnit. Estou tossindo tanto quanto Turnit. Meu pulmão não me obedece mais. Eu caio no chão e eles se entreolham. Marina me pega no colo e corremos para longe do prédio. Ele desaba, assim como ela previu.

  Chegamos à outro prédio longe o bastante para não sentirmos mais o calor emanando do outro edifício, ainda em chamas. Turnit tosse e cai no chão quando chegamos ao segundo andar. Uma parte de seu cabelo desarrumado está queimada, ele segura seu pulso com força, como se tivesse sido queimado também; e começa a vomitar. Eu não resisto e me encolho em outro canto, vomitando também. Minha garganta arde como se eu tivesse engolido fogo. Meu cabelo também queimou nas pontas. Meu nariz está sangrando, Minha barriga doendo. Minha perna ainda dorme e formiga. Minha cabeça está latejando. Minha mão arranhada. Minha visão ainda está falhando.

  Quando ele finalmente consegue se levantar e nós nos preparamos para deixar o local, eu o empurro e ele cai no chão.

  -O que foi que você fez?! – Eu grito não me importando se alguém vai me ouvir. – Eu podia ter morrido!

  -Se não fosse por mim, você teria morrido. – Ele resmunga, se levantando cambaleante. Eu viro o rosto. Estou chorando.

  -Você me empurrou. – Eu murmuro. Então o murmuro volta a ser um berro. – Você me empurrou!

  -Ele te salvou assim, Anna. – Marina fala. Tenho vontade de mandá-la calar a boca, mas a raiva que sinto não é culpa dela.

  -Se você não estivesse lá embaixo eu teria morrido! – Um pensamento passa pela minha cabeça. – Você quer ganhar, não é isso? Empurrou-me para eu morrer logo. Tinha uma saída. Os andares não estavam pegando fogo. Você só queria que eu morresse logo para poder vencer!

  -O que? Não!

  -Eu não sei mais! – Eu bato o pé e gemo. Encolho-me em um canto e enfio a cabeça em minhas mãos.

  -Eu sou seu amigo, Anna. Não iria fazer isso com você.

  -Eu caí, Turnit! Você me empurrou e eu caí. – Eu olho para ele, desesperadamente me lembrando da cena. – Eu não tinha onde me segurar, e a queda não acabava nunca. Tudo o que eu consegui fazer era esperar que o impacto me matasse logo, ao invés de me torturar até morrer! Droga, Turnit, droga.

   Estou tremendo e ele me abraça. Continuo tremendo, mesmo envolvida por seus braços, quentes até demais por causa do fogo.

  -Temos que caçar comida. – Eu digo, me levantando e percorrendo os corredores do andar. Entro em um apartamento destruído e abro os armários. Vazios. Minha boca e garganta estão secas e começam a queimar. – Estou morrendo.

  A palavra parece assustá-los um pouco. Em resposta à minha afirmação, a voz do narrador soa pela arena.

  -Devido à raridade de comida disposta na arena anterior e nesta, estamos convidando todos os tributos restantes da Vigésima Quinta Edição dos Jogos Vorazes para um ágape, que acontecerá esta noite, com o soar dos sinais, no prédio mais alto da arena. – Ele faz uma longa pausa, e antes que eu ache que sua voz já se foi, ele prossegue. – Parabéns aos Dez competidores finais. Que a sorte esteja sempre ao seu lado.

  Olho para John e Marina.

  -Quais foram os cinco que morreram na Cornucópia?

  -Quem se importa Anna?! – Ele parece aterrorizado. Leva as mãos à cabeça e sua cabeça parece ser martelada. – Não ouviu o que ele disse? Não tem comida aqui! Não tem comida!

  -Você não vai ao ágape. – Eu ordeno. Ele me encara.

  -Vamos morrer de fome!

  -Você não vai ao ágape!

  Ele está andando em círculos. Seus olhos estão fechados e pela primeira vez durante os Jogos eu acho que sou eu a responsável agora. Será que John está entrando em transe? Tenho que ajudá-lo. Aproximo-me dele e toco seu ombro. Ele para, tenso. Não olha para mim, mas lágrimas caem nervosamente de seus olhos vermelhos e ele engole com dificuldade.

  -Turnit. – Eu o chamo, suavemente. Marina como sempre está quieta em seu canto, apenas nos encarando. Se não fossem as circunstâncias, diria que ela esboça um sorriso. Ele se vira para mim, suas pupilas viajando pelos traços de meu rosto. Ele levanta a mão e sussurra meu nome, tocando meu rosto. Eu arquejo, mas não me afasto.

  -Eles te machucaram. Não posso te deixar morrer. Não posso.

  -Eles não me machucaram. – Eu paro de meu mexer na hora e olho para ele, mantendo seu olhar no meu. Se perdê-lo agora, posso perder meu aliado. E não pretendo fazer isso. – Eu estou bem. Está ouvindo? Estou aqui.

  Ele assente e ameaça virar a cabeça. Em um ato de desespero eu toco sua face e a puxo de volta para mim. Marina realmente sorri atrás de nós. Afasto-me levemente, não o suficiente para ele perceber, mas o suficiente para dar a entender de que não estamos nos beijando.

  -Eu devia ter te tirado do prédio de outro jeito. Desculpa, desculpa, desculpa. Eu arrisquei demais te empurrando.

  -Não peça desculpas. Você me salvou.

  -Eu te empurrei. Coloquei-te em perigo. Eu não posso fazer isso. Tenho que te proteger. Você tem que ganhar. Ele balança a cabeça loucamente.

  -John... – Eu murmuro. Ele pisca e vira a cabeça levemente para o lado.

  -Isso. – Ele parece confuso. – Eu sou o John.

  -Você é Turnit... Você é.

  Ele sorri e me abraça. Acaricia meus cabelos e então sussurra em meu ouvido, como se estivéssemos compartilhando um segredo só nosso.

  -Eu adoro o jeito como você tem medo de altura, sabia Madison?

  Olha diretamente em meus olhos por alguns milésimos de segundo, o bastante para fazê-lo sorrir como se ele se livrasse de um peso em suas costas. Vira de costas pra mim e começa a andar, conversando com Marina. Tudo o que posso fazer é começar a mancar atrás deles. Com a cabeça voando.

  John gosta do jeito que ela corre; “Ao arriscar uma olhada para trás vejo que John corre ao meu alcance.”.

  Do jeito que ela segura sua mão; “Ele me puxa, sem soltar minha mão, até o elevador.”.

  Ele gosta de como ela fala de seus problemas e fazem os seus parecerem pequenos;

  “-Sinto muito. – Eu digo.”

  “-Não sinta. – Ele suspira. – Pelo menos eles não foram torturados até a morte.”.

 O jeito como ela ri e quando morde a língua quando está brincando; “Eu rio quando Turnit pisca para mim, com ar de sapeca”.

  Quando ela fica preocupada ou brava; “-Você não vai ao ágape!”.

  O jeito como sua amada tem os cabelos perfeitos; “Acaricia meus cabelos”.

  O jeito como seu nariz fica vermelho quando ela chora; “Seu nariz está vermelho”.

  O jeito como ela tem medo de altura; “Eu caí, Turnit! Você me empurrou e eu caí.”.

  O jeito como ela olha quando está apaixonada.



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Notas finais do capítulo

E sim. Eu usei o sentido pejorativo de "quente". Há!



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