O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 15
Lilian quer saber. E eu também.


Notas iniciais do capítulo

Roupas de Entrevista: lancet.tumblr.com/post/16039072050/hunger-games-series-im-trying-to-do-these-fast



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  Eu odeio o meu traje de entrevistas.

  Ele é bonito, mas a ideia de ficar sentada com ele me aterroriza. E a ideia de ficar de pé também. Afinal, são as entrevistas, onde temos que passar o melhor de nós para toda a Panem, ao vivo!

  Estou usando um biquíni vermelho por baixo do vestido, que é parecido com uma rede de pesca. Ele vem desde o meu pescoço até meu tornozelo, mas a partir de meus quadris, ele tem um corte – que aumenta cada vez mais à medida que chega a meus pés – que expõe minha perna. Mas, se pensar bem, o vestido ou nada dá quase no mesmo.

  John está combinando comigo. Não acredito que eles vão mesmo me obrigar a vestir isso em frente a toda a Panem, droga! Tentei insistir, mas eles não hesitaram.

  Hanny, ontem, me ensinou como se anda de salto alto [quase quebrei o pé], como se anda com um vestido comprido demais [só os produtos da Capital para salvar aquele lá], como se passa maquiagem sozinha [coisa não muito utilizável na arena] e como sorrir o tempo todo e de diversas maneiras [descobri que sou boa nisso].

  Troy está cada vez menos fechado e me aconselhou sobre como reagir nas entrevistas. Ele me mostrou entrevistas anteriores, e me apresentou vários tipos de personalidades que geralmente agradam os patrocinadores. Eu deveria interpretar uma delas, mas por mais aberto que estivesse sendo, ele ainda é autoritário, e escolheu por mim. Está me obrigando a bancar a menina conformada.

  Não importa o que eles disserem, eu vou esfregar na cara de todos os cidadãos de Panem como a minha vida é cheia de tragédias e tristezas, e vou falar isso seguido de um fato positivo causado por essa tragédia. Eu não quero falar de minha vida pessoal. Eles não precisam, nem devem saber. E duvido que consiga falar mais de três informações sem atirar um prato na parede, mas Troy insiste nisso, então vou fazê-lo.

  John não me contou o que vai interpretar, então acho que vou ter que descobrir na hora. Mas aposto que Troy o obrigou a bancar o menino Sexy. Beau bancou o menino sexy em sua entrevista, e imagino John assistindo a entrevista de Beau e fazendo igual. Isso não me agrada.

  Com um empurrão de Tara, eles me lançam na fila dos tributos, onde John já me esperava.

  -Oi. – Eu digo num quase sussurro, olhando para baixo. Estou corada. Não sei se passaram muita maquiagem em meu rosto ou se estou mesmo apavorada com essa roupa. Ouço o assobio do menino do distrito Seis.

  John não parece ruim, se é que devo descrevê-lo assim. Está feliz por ter mais tecido envolvendo seu traje desta vez, para compensar a carruagem, mas parece se divertir com meu rubor. Não aparenta ter bebido na noite passada.

  -Oi. Você está ótima.

  -Hm...

  -Está nervosa?

  -Estou.

  -Não se preocupe, eles vão te adorar.

  -Obrigada.

  Ele se inclina enquanto a voz de Lilian Loyn ecoa no salão e em todas as casas de Panem, e sussurra em meu ouvido:

  -Se você quiser, não siga as instruções de Troy. Seja você mesma. É mais legal.

  Então os tributos começam a andar. Eu faço de tudo para manter minha expressão normal e sorrio o sorriso número um: Entrada.

  A entrevista dos outros tributos passa rápido. Eu queria que elas enrolassem mais, mas os 18 primeiros minutos de entrevistas com os tributos do distrito Um, Dois e Três, passam voando. Ouço apenas algumas partes de suas entrevistas. A garota do Um é tímida, o garoto do Dois é o valentão e Ky faz o papel do menino engraçado.

  Ele é engraçado, em partes, mas posso ver que Lilian ri de coisas bobas. Ky está tentando, mas posso ver que está sendo obrigado a agir daquele modo.

  E num piscar de olhos eu estou me levantando e sorrindo o sorriso número dois: Apresentação e Introdução.

  -Olá, Anna! – Ela me recebe.

  -Olá, Lilian! Como vai?

  -Não muito bem... – Ela diz.

  -Oh! – Tento mostrar preocupação, mas na verdade não ligo para ela. – O que houve?

  -Estou me sentindo tão feia ao lado de alguém assim. – Ela pisca para a multidão e eu rio.

  -Ora, obrigada!

  -A pura verdade, queridinha. Então, o que você acha disso? Os 25 primeiros anos dos Jogos?

  -Acho que essa edição dos Jogos vai ser bem interessante. E muito sangrenta.

  -Você vai matar todos? – Ela brinca. Eu a mataria agora, mas eu rio.

  -Não, não. Acho que, todos os distritos que têm condições de mandar alguém realmente bom estão fazendo isso. Este ano estão reunindo os melhores, os mais valentes.

  -E você é um deles?

  -Não realmente. – Eu rio. – Tenho 12 anos e, foi uma surpresa para mim quando ouvi meu nome na Colheita. Deveriam ter escolhido alguém melhor. Acho que querem se livrar logo de mim.

  -Certo. Blefando até a morte.

  -Estou quase lá. – Eu rio, para não soar ameaçador.

  -Achou alguma coisa aqui na Capital que te lembre do Distrito Quatro?

  -Eu vi um homem que me lembrava dum pacu. – Pacu é um peixe muito raro, que só se vê às vezes no distrito. Ele é caro para caramba. E quando está assustado, ele incha. – E só.

  -E o que você mais gostou daqui?

  -Gostei do sabonete.

  Ela ri.

  -Do sabonete?

  -É. Ele me deixa com cheiro de casa.

  Ela se aproxima de mim e me cheira. Eu rio.

  -Descobriu novas habilidades nos treinamentos?

  -Ah, sim! Mas me concentrei nas matérias de sobrevivência. Elas estavam desocupadas. Mas eu estava pensando mesmo em cantar e vencer quando todos ficassem surdos. – Minto sobre minhas habilidades musicais. Ela ri.

  -Me diga: o que você acha do seu estilista e de sua equipe de preparação?

  -Eles são muito bons. Só estou com um pouco de frio hoje. – Eu brinco.

  -Que linda! Você está ótima, não se preocupe. Eu até ouvi boatos de que você anda criando discussões entre os tributos masculinos. Inclusive o tributo do seu distrito – Ela acena para John atrás de mim. – estaria ficando com você.

  Jason está vendo isso agora. Jason está vendo isso agora!

  -Ah não, não. Quer dizer, eles brigaram uma vez, mas não foi culpa minha e eles serão punidos. Mas não. Eu não estou com ele. Também porque eu tenho pra quem voltar. E Turnit é um amigo até eu pisar na arena.

  -Uh, ameaçadora. Então, Anna. Foi interessante a colheita no seu distrito, não foi? Para quem você acenou quando subiu no palco? Foi para esse garoto especial? Qual o nome dele?

  -Ai Meu Deus, Lilian! – Risadas. – Eu acenei basicamente para toda a Panem.

  -E ele é?

  Não vou conseguir escapar. Mas de algum modo, gosto de falar que tenho um namorado. Eu o amo. Por que não?

  -Jason. Seu nome é Jason.

  Aceno olhando para a câmera. Lilian ri e imita minha voz.

  -Alô mamãe!

  -Ah... Não. Eu não... Não tenho pais. Nem tios, nem primos... Nem... Nada.

  -Oh! – A plateia a acompanha. – Mas o que aconteceu querida?

  -Eles foram assassinados quando eu tinha Quatro anos. – Eu digo.

  -Mas que horror! Descobriu quem foi?

  -Aham. – Eu digo séria. Ignoro todas as indicações de Troy e me concentro no que John havia dito. Ser eu mesma. – A Capital.

  Salva pelo gongo a buzina toca. Ela me cumprimenta e me deseja boa sorte, beijo, beijo sorriso três: Despedida.

  -Anna Madison, Distrito Quatro, Panem! – Ela se despede, apesar do embalo em sua face.

  Palmas soam por toda a sala. John se levanta e sua entrevista começa, mas posso ver que todos ainda refletem sobre o que eu havia dito: A Capital matou meus pais. E agora, com certeza, vão fazer os Jogos BOMBAR.

  -Olá, John!

  -Olá, Lilian!

  John interpreta bem seu papel, seja lá qual for ele. A entrevista está quase no final quando...

  -Há boatos de que você seria um Carreirista. Estou certa?

  -Está certa sim. Já que eu não tinha namorada, fui treinar pros Jogos. – Ele brinca, Lilian ri.

  -Mas bem que você podia conquistar algumas se quisesse. Olhe só para vo-cê.

  Ele abaixa a cabeça, corando e ela acha fofo. “Ownhs” ecoam na sala.

  -Obrigada.

  -Existe alguma em sua vida? Um amor não correspondido talvez?

  -Existe sim. Mas está mais para um amor impossível.

  -Como ela é?

  -Ela é linda. – John diz. – Gosto do jeito que seus cabelos parecem sempre perfeitos. Do jeito que ela corre. Do jeito que ela segura a minha mão.

  Lilian abre a boca, mas ele não para. Parece que ele gosta de falar da sortuda. Imagino uma menina loira, com aspecto de modelo, grudada à televisão, suspirando ao ouvir suas palavras. Mas a cada vez que ele fala, eu me assusto.

  -Amo o jeito como ela tem medo de altura. Amo o jeito como ela fala de seus problemas e faz os meus parecerem ridículos. O jeito como ela ri, e como morde a língua quando está brincando. Gosto da expressão que seu rosto adquire quando está preocupada ou brava. Gosto do jeito que seu nariz fica vermelho quando está chorando. Do jeito que seus olhos brilham quando está apaixonada.

  -Vocês estão namorando?

  -Não. Ela não olha assim para mim... Ela... Tem namorado.

  -E quem seria esse, você sabe? Conte, conte!

  John é salvo pelo gongo. Ela faz uma cara triste e o tributo feminino do Distrito Cinco se levanta. A pergunta de Lilian ainda retumba e martela minha mente. Qual era o nome do namorado da menina? Qual era?


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