O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 14
Arremesso, arremesso, corta.




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  -Rev. – Diz a menina do distrito Um. Ela olha para o garoto do distrito Oito e pisca para ele.

  -John. – Diz a menina do distrito Doze, olhando para John e lambendo os lábios.

  -O que elas estão fazendo? – Eu pergunto para Ky, sentado em minha frente. Novamente as mesas estão separadas em Eu e Ky; metidos; tributos do mesmo distrito sem coragem para falar com os outros.

  -Estão falando de quem cada uma gosta. – Ele explica. – Na minha escola as meninas fazem muito isso. Quando um nome é dito, as outras não podem gostar do dono dele. Como se tomassem posse do garoto.

  -Ky. – Diz uma voz desconhecida. Ky enrubesce até ficar com o rosto da mesma cor que o molho do macarrão que come.

  -Acho que essa garota gosta de você.

  -Não faz meu tipo.

  -Uh... Senhor Ky tem um tipo. Qual o nome dela?

  -Dela o que?

  -A “seu tipo”.

  -Trady Ross. – Ele admite, sorrindo. – Agora fique quieta!

  Eu rio.

  -Que tal dar uma chance para o distrito Dez, hein?

  -Seu nome é Jack. E não. Sem chance para o distrito Dez. O amor dói. – Nós rimos.

  -E que tal aquele ali? – Ele aponta exatamente na direção de John.

  -Distrito Quatro?

  -Esse aí.

  -Não... – Eu rio. – Ele já está pego.

  -Distrito Cinco?

  -Para com isso! Quando nós entrarmos na arena será só eu e eu mesma, nada de namoradinhos.

  Ele ri.

  -Está bem, está bem. Mas antes vai ter que conseguir uma boa nota. O que pretende fazer?

  -Não tenho ideia. Você?

  -Não sou bom com atividades físicas. – Ky ficou nos estandes de sobrevivência os dois dias inteiros.

  -Toca aqui. – John chega atrás dele.

  -Não, senhor carreirista. Vai me matar no banho de sangue na Cornucópia, é?

  John fica tenso.

  -Quem te contou?

  -Turnit!

  Ele ri, mas ainda consigo ver a preocupação em seus olhos.

  -A garota do distrito Doze gosta mesmo de você. – Eu comento. John olha para trás e acena. A menina está olhando. Ela sorri.

  -Ela não está vindo para cá, está?

  -Está.

  -Turnit!

  -Oi, John. – Ela cantarola. Sinto ânsia de vômito.

  -Oi Lay. – Acredite se quiser. Seu nome é mesmo Lay. Ky e eu a chamamos de Lay Down (do inglês “Deitar-se”. Há!) - A gente estava conversando sobre como a Anna gosta do menino do Distrito Dez.

  -Você gosta dele?

  -Não! Turnit, cale a boca. – Olha só! Que peito de peru interessante esse no meu prato! Acho que vou corar e olhar para ele até a morte.

  -Ele gosta de você, quer que eu lhe apresente?

  -Não obrigada. Não quero passar tempo nenhum com ele.

  -Nossa. Está bem. – Ela se vira para John e acaricia seu peito com o indicador, formando círculos em sua camiseta. – John, por que você não foi almoçar comigo hoje?

  Ky olha para mim e levanta as duas sobrancelhas como quem diz: Atirada.

  Eu rio e Lay Down olha para mim. Ups.

  -O que foi? – Ela diz, irritada por ter que desviar sua atenção dos olhos de John.

  -Nada. – Eu paro de rir. – Acho que vou indo.

  -Não vai acabar de comer?

  -Não, estou com ânsia de vômito.

  -Eu gosto de peito. – Jack se aproxima. Completa: – De peru.

  Lay Down ri e eu me levanto; bandeja em mãos.

  -Me deixa levar isso pra você. – Jack diz.

  -Não, eu levo. – Eu me irrito.

  -Um cavalheiro ajuda uma dama.

  -Está bem. – Eu empurro a bandeja e o peito de peru mancha toda sua camiseta de treino. – Pode levar.

  Posso ver John sorrindo atrás de mim, mas não olho para trás novamente. Jack se aproveita da situação e tira a camiseta. Lay Down se impressiona e limpa sua barriga, mesmo não tendo nada para limpar. John para de rir e vem até mim, seguido de Ky, que segura sua bandeja forte como nunca.

  -O que foi aquilo? – John está sorrindo como um louco.

  Eu não respondo. Estou andando brava até a sessão de facas. Descobri que sou boa em todas as coisas que envolvem mira. Atiro, atiro. Acerto o cérebro do boneco e o umbigo. John ainda está rindo.

  -Sabe o que eu notei? – Pergunto. Ky já se despediu e foi até a sessão de Camuflagem (coisa na qual eu sou péssima). Estamos só nós dois na sessão de facas. Os outros estão todos almoçando. – Eu não te vi fazer nada especial. Quer dizer... No que você é bom?

  -Como assim? Acha que eu vou fazer o que para o Idealizadores?

  -Eu não sei... Por isso a pergunta.

  Ele pega uma faca e arremessa. Ela corta a faca que eu arremessei em duas.

  -Uau. Tem que me ensinar isso daí.

  Ele não hesita. Pega outra faca, coloca-a em minha mão e começa a falar.

  -Você tem uma boa mira. – Não respondo por que ele não parece ter dúvidas. – Olha só o que você faz. Segura a faca no lugar mais pesado. Na ponta.

  Eu sei disso. Mas deixo-o falar. Instruções dadas, ele arremessa de novo e corta a faca que cortou a minha faca.

  -Uau ao quadrado.

  Ele sorri.

  -Sua vez.

  Arremesso, mas não corto faca nenhuma.

  -De novo.

  Arremesso de novo, mas continuo sem cortar nada. Ele me abraça pelas costas e segura meu braço junto ao dele. Arremessamos e a faca corta a anterior.

  Eu pulo e rio.

  -Viva! – Eu o abraço. Segundos depois percebo o quanto isso foi estranho e me afasto. John sorri, mas finge que nada aconteceu.

  -Vou para arapucas. Quer vir também?

  -Estou bem. Vai lá.

  -Certo. – Ele demora, mas se afasta finalmente. Um sorriso ainda faz meu maxilar doer.


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