O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol
-Rev. – Diz a menina do distrito Um. Ela olha para o garoto do distrito Oito e pisca para ele.
-John. – Diz a menina do distrito Doze, olhando para John e lambendo os lábios.
-O que elas estão fazendo? – Eu pergunto para Ky, sentado em minha frente. Novamente as mesas estão separadas em Eu e Ky; metidos; tributos do mesmo distrito sem coragem para falar com os outros.
-Estão falando de quem cada uma gosta. – Ele explica. – Na minha escola as meninas fazem muito isso. Quando um nome é dito, as outras não podem gostar do dono dele. Como se tomassem posse do garoto.
-Ky. – Diz uma voz desconhecida. Ky enrubesce até ficar com o rosto da mesma cor que o molho do macarrão que come.
-Acho que essa garota gosta de você.
-Não faz meu tipo.
-Uh... Senhor Ky tem um tipo. Qual o nome dela?
-Dela o que?
-A “seu tipo”.
-Trady Ross. – Ele admite, sorrindo. – Agora fique quieta!
Eu rio.
-Que tal dar uma chance para o distrito Dez, hein?
-Seu nome é Jack. E não. Sem chance para o distrito Dez. O amor dói. – Nós rimos.
-E que tal aquele ali? – Ele aponta exatamente na direção de John.
-Distrito Quatro?
-Esse aí.
-Não... – Eu rio. – Ele já está pego.
-Distrito Cinco?
-Para com isso! Quando nós entrarmos na arena será só eu e eu mesma, nada de namoradinhos.
Ele ri.
-Está bem, está bem. Mas antes vai ter que conseguir uma boa nota. O que pretende fazer?
-Não tenho ideia. Você?
-Não sou bom com atividades físicas. – Ky ficou nos estandes de sobrevivência os dois dias inteiros.
-Toca aqui. – John chega atrás dele.
-Não, senhor carreirista. Vai me matar no banho de sangue na Cornucópia, é?
John fica tenso.
-Quem te contou?
-Turnit!
Ele ri, mas ainda consigo ver a preocupação em seus olhos.
-A garota do distrito Doze gosta mesmo de você. – Eu comento. John olha para trás e acena. A menina está olhando. Ela sorri.
-Ela não está vindo para cá, está?
-Está.
-Turnit!
-Oi, John. – Ela cantarola. Sinto ânsia de vômito.
-Oi Lay. – Acredite se quiser. Seu nome é mesmo Lay. Ky e eu a chamamos de Lay Down (do inglês “Deitar-se”. Há!) - A gente estava conversando sobre como a Anna gosta do menino do Distrito Dez.
-Você gosta dele?
-Não! Turnit, cale a boca. – Olha só! Que peito de peru interessante esse no meu prato! Acho que vou corar e olhar para ele até a morte.
-Ele gosta de você, quer que eu lhe apresente?
-Não obrigada. Não quero passar tempo nenhum com ele.
-Nossa. Está bem. – Ela se vira para John e acaricia seu peito com o indicador, formando círculos em sua camiseta. – John, por que você não foi almoçar comigo hoje?
Ky olha para mim e levanta as duas sobrancelhas como quem diz: Atirada.
Eu rio e Lay Down olha para mim. Ups.
-O que foi? – Ela diz, irritada por ter que desviar sua atenção dos olhos de John.
-Nada. – Eu paro de rir. – Acho que vou indo.
-Não vai acabar de comer?
-Não, estou com ânsia de vômito.
-Eu gosto de peito. – Jack se aproxima. Completa: – De peru.
Lay Down ri e eu me levanto; bandeja em mãos.
-Me deixa levar isso pra você. – Jack diz.
-Não, eu levo. – Eu me irrito.
-Um cavalheiro ajuda uma dama.
-Está bem. – Eu empurro a bandeja e o peito de peru mancha toda sua camiseta de treino. – Pode levar.
Posso ver John sorrindo atrás de mim, mas não olho para trás novamente. Jack se aproveita da situação e tira a camiseta. Lay Down se impressiona e limpa sua barriga, mesmo não tendo nada para limpar. John para de rir e vem até mim, seguido de Ky, que segura sua bandeja forte como nunca.
-O que foi aquilo? – John está sorrindo como um louco.
Eu não respondo. Estou andando brava até a sessão de facas. Descobri que sou boa em todas as coisas que envolvem mira. Atiro, atiro. Acerto o cérebro do boneco e o umbigo. John ainda está rindo.
-Sabe o que eu notei? – Pergunto. Ky já se despediu e foi até a sessão de Camuflagem (coisa na qual eu sou péssima). Estamos só nós dois na sessão de facas. Os outros estão todos almoçando. – Eu não te vi fazer nada especial. Quer dizer... No que você é bom?
-Como assim? Acha que eu vou fazer o que para o Idealizadores?
-Eu não sei... Por isso a pergunta.
Ele pega uma faca e arremessa. Ela corta a faca que eu arremessei em duas.
-Uau. Tem que me ensinar isso daí.
Ele não hesita. Pega outra faca, coloca-a em minha mão e começa a falar.
-Você tem uma boa mira. – Não respondo por que ele não parece ter dúvidas. – Olha só o que você faz. Segura a faca no lugar mais pesado. Na ponta.
Eu sei disso. Mas deixo-o falar. Instruções dadas, ele arremessa de novo e corta a faca que cortou a minha faca.
-Uau ao quadrado.
Ele sorri.
-Sua vez.
Arremesso, mas não corto faca nenhuma.
-De novo.
Arremesso de novo, mas continuo sem cortar nada. Ele me abraça pelas costas e segura meu braço junto ao dele. Arremessamos e a faca corta a anterior.
Eu pulo e rio.
-Viva! – Eu o abraço. Segundos depois percebo o quanto isso foi estranho e me afasto. John sorri, mas finge que nada aconteceu.
-Vou para arapucas. Quer vir também?
-Estou bem. Vai lá.
-Certo. – Ele demora, mas se afasta finalmente. Um sorriso ainda faz meu maxilar doer.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!