Entre Pontas De Faca E Velhas Histórias escrita por Ana Barbieri


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

O CONFRONTO ANNExIRENE... TÃN, TÃN, TÃN, TÃAAAAAAAAAAAAAAN...



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Capítulo 4

            Estava frio naquela manhã e ao senti-lo, puxei os lençóis para mais perto. De repente, uma luz muito forte invadiu nosso quarto, enquanto ouvia o barulho das cortinas se abrindo. Os passos de meu marido se aproximando da cama se faziam ouvir, ao mesmo tempo em que eu tentava esconder meu rosto.

            _ Holmes... – murmurei com raiva. – O que significa isso...?

            _ Minha querida Anne, se fosse outra ocasião, sequer teria lhe acordado. – disse ele, suavemente. – Mas estamos prestes a dar inicio a um trabalho, então... não devemos perder tempo. – completou, puxando os lençóis para longe.

            _ Eu te odeio. – resmunguei me levantando a contra gosto.

            _ Também a odeio muito. – concordou ele, piscando para mim, fazendo com que eu revirasse os olhos.

            _ Já que parece estar tão prestativo esta manhã, porque não chama a senhora Hudson para me ajudar com o espartilho? – pedi, tirando a camisola com agressividade, jogando-a sobre a cama, me encaminhando para o tocador.

            _ Se me permitir, eu poderia cuidar disso. – disse ele, mirando-me enquanto calçava as meias. Virei-me para ele intrigada. Jamais havia se oferecido para apertar meu espartilho, no fim aceitei.

            _ Está apertando muito. – balbuciei, com respiração cortada. – Afrouxe mais aqui. – disse levando suas mãos à altura dos pulmões. – Por acaso se ofereceu para tentar me matar asfixiada? – brinquei ao sentir a respiração voltar ao normal.

            _ Isso sequer passou pela minha cabeça. – retrucou ele, terminando.

            Em seguida, vesti a calça, a camisa com o colete e calcei meu par de botas de cano longo. Fiz um coque apertado em meus cabelos, o que deixou meus olhos... os corredores profundos e obscuros a mostra. Observei pelo espelho que Holmes também os fitava, com certo brilho em seus próprios olhos. Sorri de lado.

            _ Podemos ir. – anunciei indo em direção a porta.

            _ Só mais uma coisa...

            Ele me puxou para junto de si e me beijou. Não pude evitar um suspiro de susto, mas logo cedi aos braços dele. Me beijava com a mesma paixão como na noite em que se declarara... e talvez, com o mesmo desespero. Se estava tentando compensar a briga da noite anterior eu não sabia. Contudo, era uma ótima maneira de tentar.

            _ A partir de agora, voltamos a ser Sherlock Holmes e Anne Bergerac. – disse ele, abrindo a porta para mim.

            _ Não vejo muita diferença então. – retruquei, em tom provocativo. Em todos os casos... antes de começarmos... ele sempre fazia demonstrações intensas de carinho, pois quando um caso era aberto, não deveríamos mais ser o mesmo casal. Afinal, certos sentimentos atrapalham o raciocínio.

            Mycroft estava sentado a mesa tomando seu café, enquanto lia o jornal. Era incrível como se parecia com seu irmão quando fazia aquilo. Me sentei de frente para Holmes e comecei a me servir com uma generosa fatia de torrada com geléia de amora. Logo recordei que daqui a poucos minutos estaríamos a caminho da casa de Irene Adler. Mas como havia prometido, não vou mudar de humor constantemente... pelo menos não enquanto tiver noção de que estou mudando.

            _ Os Norton foram avisados ou será uma surpresa? – perguntei com uma fina camada de desdém na voz.

            _ Será uma agradável surpresa. – respondeu Mycroft, rindo.

            _ Bem, se eles não tiverem nada a esconder, não creio que a hora do interrogatório seja um problema. – comentou Sherlock, tomando um gole de chá.

            _ Fraseou muito bem. – elogiou meu cunhado.

            Não falamos mais até o fim do café. Depois só foi necessário um olhar de Holmes para saber que era hora de ir. Chamei o cabriolé, sendo que o cocheiro já estava acostumado com nossos horários e se acostumou a ficar próximo de Baker Street pela manhã. Mycroft reuniu alguns papéis e Sherlock avisou a senhora Hudson que estávamos de saída. Entramos no cabriolé e partimos em direção a casa dos Norton.

            Era um lugar simples para imaginar Irene Adler viver. Sempre que pensei nela, imaginei um bairro na rua Fleet com vários sujeitos mal encarados ao redor. Contudo, a casa era como qualquer outra que havia em Londres. Descemos do cabriolé e batemos na porta. E para minha infelicidade, foi a própria senhora Norton quem atendeu.

            _ Senhor Holmes... – disse abrindo um brilhante sorriso. – Não o esperávamos a esta hora.

            _ Deve se lembrar senhora Norton de que em assuntos de maior urgência, o tempo nunca foi minha maior preocupação. – observou Holmes, com polidez. – Podemos? – perguntou fazendo sinal para dentro da casa.

            _ Mas é claro, por favor. – disse ela, abrindo caminho. Senti seu olhar pesar sobre mim quando passei.

            Godfrey Norton estava sentado em uma poltrona perto da lareira lendo o jornal. Letícia Norton estava sentada próxima a janela e parecia extremamente infeliz. Ao nos ver ela reprimiu um pequeno grito, que chamou a atenção do irmão, que nos cumprimentou cordialmente. Fez questão para que nos sentássemos, porém, somente Holmes o fez, enquanto Mycroft e eu permanecemos ao seu lado.

            _ Espero não estarmos interrompendo nada, senhor Norton. – disse Holmes.

            _ De maneira nenhuma. Sabia que viriam. O que gostariam de saber sobre Richard? – perguntou ele, com despreocupação.

            _ Haveria a possibilidade de alguém querer sua morte? – perguntou meu marido, indo direto ao ponto.

            Godfrey o fitou por alguns minutos antes de responder.

            _ Senhor Holmes, ouço dizer que é um homem excepcionalmente inteligente. Deve saber que muitas vezes o poder sobe a cabeça de um homem em menores condições psicológicas...

            _ Por favor senhor Norton, - interrompi rapidamente. – Não está querendo insinuar que Longborn possuía alguma doença mental está? Afinal, se ele fez algum mal a alguém, deveria estar em juízo perfeito. – falei me apoiando na cadeira em que Holmes estava sentado.

            _ Acha mesmo? Particularmente acredito que se alguém deseja o mau para outra pessoa...

            _ Deve estar em seu mais perfeito juízo para pensar em cada passo e na consequência conseguinte a ele. – contrapôs meu marido, com veemência.

            _ O que em algum momento deve ter feito errado. Do contrario ainda estaria vivo. – desdenhei, também com veemência.

            _ Parece estar querendo encobrir alguma coisa sobre seu ex-cliente senhor Norton. – disse Mycroft, pronunciando-se.

            _ Não estou querendo omitir nada. – disse rapidamente e com certa agressividade. – Mas precisam entender que Richard Longborn nem sempre foi um homem ruim, passou a ser com o tempo e a partir daí... sim. Acredito que haveria a possibilidade que comentou senhor Holmes. – completou em tom reflexivo.

            _ E quem poderia querer ter o prazer? Por qual razão? Tem conhecimento de alguma das possíveis armações, chantagens ou talvez outras crueldades que seu cliente pudesse ter cometido? – perguntava Holmes, com energia.

            _ Alguns membros da câmara não pareciam gostar dele. Diziam que suas ideias eram... desastrosas, por assim dizer. Talvez Edwin Lockhorn ou James Harris, dois nomes dos quais me lembro bem pois foram os últimos a falar com ele. E também o consideravam o mais excêntrico. – disse, pensativo.

            _ Tive oportunidade de falar com os dois cavalheiros em questão e afirmam não terem nada haver com o caso. – interpôs Mycroft.

            _ Se me permite senhor Holmes – disse Irene Adler. – Não espera que o assassino simplesmente assuma a culpa não é? Seria fácil demais. – ponderou ela, com um sorrisinho de escárnio.

            _ Se esperássemos senhora Norton... com certeza não nos preocuparíamos em obter informações com seu marido. – desdenhei energicamente, sem me importar com os olhares gerais. – Estaríamos todos sentados em Baker Street esperando pela visita do assassino e sua confição.

            Adler tentou esconder, sem sucesso, o olhar de ódio que me lançou. A ofendera e provavelmente pagaria por isso depois. Contudo, não seria ela a tratar um parente meu daquela forma na minha frente.

            _ Enfim, já que nos deu nomes senhor Norton, poderia citar algum dos... atos ilegítimos que Longborn cometera? – perguntei esperançosa.

            _ Acham que ele se abria constantemente comigo senhores... nem tanto. As vezes deixava escapar algum comentário. Por exemplo, houve uma vez que estávamos discutindo sobre alguns dos nomes sujos no que diz respeito aos impostos da cidade. Ele disse que se valia de todos os métodos que conhecia para que seus conhecidos não passassem por aquilo. Da forma como disse, parecia fazer chantagem com alguns. – explicou Godfrey.

            _ Então realmente não sabe quem poderia ter cometido o assassinato? – indagou Holmes.

            _ Ora, poderia ter sido qualquer um. Todos temos nossos inimigos. Richard não enumerava os seus para mim, afinal, que pessoa seria tão insensata a ponto de sair pela cidade contando seus segredos?

            _ E não faz ideia de como chegar nos nomes que poderiam ser de grande utilidade para nós? – perguntei.

            Godfrey parou por um instante e pensou. Pude ver algumas das engrenagens se remexendo dentro de seu cérebro. Aquela conversa não estava levando a lugar algum. Norton não parecia revelar tudo o que sabia... não parecia querer revelar tudo o que sabia. Distanciei meu olhar dele por um momento, passando pela sala. Adler me fitava com profundo desdém e ao mesmo tempo interesse. Letícia parecia estar perdida em um turbilhão de emoções. Fitava a rua como se não estivesse na casa.

            _ Posso conseguir cópias de uma lista com nos nomes mais procurados por Richard. Colaboradores, conhecidos, talvez ajude. – disse Godfrey por fim, parecendo animado.

            _ Como esta? – indagou Mycroft retirando um documento de dentro do paletó.

            _ Onde conseguiu isso? – quis saber Norton ao analisar a lista.

            _ Meu irmão trabalha para o Governo Britânico. – esclareceu Holmes, taciturno.

            _ Entendo... – murmurou Godfrey. – Posso acrescentar mais alguns nomes a esta lista. Vou conseguir alguns documentos secretos de Richard e entro em contato o mais rápido possível. Contudo, essa lista é um bom começo se respostas é o que procura senhor Holmes. – disse ele, conclusivamente.

            _ E não devemos nos demorar. – retrucou meu marido, levantando-se. – Voltaremos a entrar em contato, caso venhamos a ficar no escuro mais uma vez. – acrescentou apertando a mão do advogado.

            Permaneci fitando a irmã de Godfrey por mais alguns minutos antes de sair. Na rua, já poderíamos discutir sobre o que ouvimos.

            _ Tempo desperdiçado, ele não disse absolutamente nada. – disse Mycroft zangado. – Richard louco?! O homem era tão são como todos nós.

            _ Não pareceu querer revelar muita coisa... – acrescentei com descaso.

            _ Ah, sim... Obrigado por vir em meu auxilio Anne. – agradeceu Mycroft sorrindo.

            _ Posso estar trabalhando para ela... mas não sigo ordens. Nunca fui assim. – retruquei olhando vivamente para meu marido, que ainda não se pronunciara.

            _ Devo discordar, a visita foi bastante proveitosa. Porém, realmente acrescentou peças ao quebra-cabeça. – observou Holmes. Chamando o cabriolé.

            _ Certamente! Agora teremos que descobrir o que Norton quer esconder e tentar extrair informação de um bom número de pessoas sobre o caráter de um homem. – disse, com impaciência.

            _ Por certo, devemos. E vamos começar com os nomes da lista. – concordou Sherlock. – Qual o primeiro Mycroft?

            _ Louise Continae. – respondeu meu cunhado. – Pelo que consta, vive na própria Oxford Street.

            Entramos no cabriolé e saímos a caminho da casa de Louise. Mas o que descobriríamos lá que fosse realmente interessante, realmente não sei.


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Notas finais do capítulo

Então queridos, eu tinha até esse capítulo já pronto e digitado. A visita a casa da primeira testemunha também está pronta, só preciso terminar a segunda e logo postarei! Prometo não abandonar Baker Street TÃO cedo!
MAS CLARO... PRECISO DE REVIEWS, PARA INSPIRAÇÃO!



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