O rapaz havia deitado fazia pouco tempo. Estava uma noite fria e ele mesmo assim sentia-se quente e não conseguia ficar entre suas cobertas. Seus olhos se apertavam em uma feição de dor, ele estava tendo outro pesadelo. Seus dedos se apertaram contra os lençóis e o mesmo de sempre ocorria naquele sonho tenebroso, lembranças que ele não tinha consciência de ter apareciam para ele como flashes reais demais para serem simples pesadelos.

A cena se formava novamente, DongSoo estava sentado a mesa em um jantar tranquilo e alegre com a família. O estranho era que ele não conseguia ver ou mesmo se lembrar dos rostos de nenhum outro membro da família a mesa além de seu irmão mais novo. SunWoo estava sorridente e conversava animadamente com a mãe dos meninos, a quem Dong não ouvia nem a voz. Era tudo muito vago e a cena sempre se desfazia rápido indo para o momento em que quatro homens entravam na casa procurando por itens de valor e em pouco tempo o pai dos meninos estava estirado no chão.

A mãe deles gritava em desespero e tentava se soltar de todas as maneiras. SunWoo chorava tão desesperado quanto a mãe e DongSoo permanecia perplexo e imóvel pelo choque.

Em seguida eram as mesmas palavras proferidas, os lábios do mais velho se moviam como se acompanhassem a voz do bandido em sua mente.

―Olhe para seus filhos, pois será a última vez que os verá.

E mais um tiro.

Os gritos de Baro preenchiam o ambiente e DongSoo tentava no momento se soltar, ele sabia o que aconteceria e tentava fazer com que ocorresse diferente do que havia acontecido de verdade, mas sempre acabava da mesma forma. Ele via o irmão ser ferido, tentava agir e acabava em pouco tempo inconsciente.

O problema é que era um pesadelo e suas lembranças se distorciam cada vez de forma pior. Ele olhou para o lado assim que viu uma nova cena se formar, seu irmão estava inerte ao seu lado no chão com a face ensaguentada e um olhar vazio no rosto, o mesmo que a mãe dos dois mantinha.

Um grito ecoou pelo cômodo e o moreno acordou de súbito, suando frio e tremendo enquanto a porta do quarto dele se abria em um baque.

―Hyung! – Baro chamou parando do lado dele assustado. Seu coração disparado, o rosto preocupado e a voz apreensiva.

DongSoo respirou fundo e passou a mão pelo rosto tentando acalmar-se. Era tudo um sonho. Ou ao menos o fim era um sonho. Olhou para o mais novo e riu de nervoso ao ver o loiro ali assustado.

―Ta tudo bem, hyung? – Baro perguntou ainda preocupado e Dong assentiu.

―Foi só um pesadelo. – ele falou enroscando a mão na camiseta e passando-a na testa para secar o suor que havia se acumulado em sua testa. Algumas gotículas recém formadas escorreram pelo seu rosto e Baro fechou o rosto.

―Vou buscar água e algum calmante para você. – falou o mais novo virando-se e fazendo menção de sair.

―Não precisa. – o moreno pronunciou-se levantando e indo atrás do irmão, mas parando por um momento por sentir seu corpo fraquejar.

O loiro lançou um olhar repreensivo para o irmão mais velho e desceu ignorando o fato de DongSoo segui-lo reclamando sobre aquela preocupação.

―Hyung, pare. – ele pediu abrindo a geladeira e enchendo um copo d’água assim que chegou a cozinha da kit net onde eles moravam.

―Eu não preciso te preocupar. – o mais velho resmungou aceitando o copo do mais novo e solvendo um pouco da água distraído.

―Não me preocupo. Você é forte, DongSoo. Mas eu posso pelo menos te dar um calmante para que você durma e consiga ir para a faculdade amanhã? Eu preciso que você me leve, se é que se lembra disso.

DongSoo riu fraco e assentiu bem humorado.

―Claro, o veterano levando o novato para a faculdade.

Baro bufou e foi até o banheiro para pegar o calmante no armário de cima da pia. Ele sabia que o irmão só conseguia dormir com o remédios quando tinha os pesadelos, mas nem sequer ousava dizer-lhe que sabia quais eram os motivos de todo esse tormento noturno. Muito menos revelar que por mais que DongSoo fosse forte ele se preocupava.

O irmão era sempre forte, destemido e se colocava a frente de tudo para protegê-lo, que nem fez naquele dia, e SunWoo era realmente grato por ter ainda alguém da família junto a si. Procurava ao máximo estar com o irmão e manter uma harmonia constante no relacionamento dos dois, já que só via o irmão descontraído e sendo aquele DongSoo que Baro sempre conheceu quando estava consigo. Talvez eles pudessem ser felizes de novo e SunWoo trazia essa esperança, ele sustentava isso e era esse o único motivo para DongSoo continuar com sua vida e achar que é necessário viver.

O loiro voltou para a cozinha e estendeu o comprimido para o mais alto que o pegou fazendo careta e aguardou que o mais novo enchesse seu copo novamente. O moreno colocou o comprimido na língua e o empurrou para dentro com a água fazendo uma careta ao sentir a capsula um tanto quanto grande passar por sua garganta e descer de uma vez.

Baro riu quando DongSoo tossiu fingindo engasgar-se com o remédio e o hyung o olhou sorrindo brincalhão. O que desde aquele ocorrido era raridade.

―Está rindo. – Baro comentou quase que automaticamente e DongSoo o olhou curioso.

―É, eu sei rir, achou que minha face era inflexível? – ele riu em deboche e o irmão revirou os olhos.

―Pronto, seu sorriso debochado voltou. – o loiro falou sentando-se na bancada e olhando para o irmão.

―É o único que eu tenho. – Dong concluiu levantando e colocando o copo na pia.

―É o único que resto. – o mais novo murmurou triste.

―E você é o privilegiado que o vê. Agora vamos, temos que dormir pelo menos mais 3 horas antes de nos arrumarmos para a faculdade. – ele concluiu ficando novamente sério e indo em direção ao seu quarto.

O mais novo assentiu com a cabeça e colocou a água na geladeira, logo virando nos calcanhares e indo em direção ao seu quarto. Passou pela porta do quarto do mais velho em seu caminho pelo corredor e desejou-lhe uma boa noite ouvindo uma resposta breve. Andou calmo para seu quarto, mas parou intrigado olhando pela janela por jurar ter visto uma sombra loira ali.

Franziu o cenho e voltou a andar em direção ao seu quarto, agora calmo e com o sono voltando a si. Fechou a porta e deitou-se, adormecendo logo em seguida.

―Yah, babo! Tome mais cuidado. – murmurou o loiro em cima da árvore para o que estava embaixo.

O mais velho franziu o cenho e murmurou contrariado.

―Eu estava apenas olhando.

O mais novo meneou a cabeça negativamente e pulou da árvore de encontro com o loiro maior.

―Olhe menos da próxima vez. Vamos, o chefe está esperando.

O maior assentiu e os dois sumiram nas sombras como se nunca estivessem aparecido por lá.