Saí apressadamente do apartamento. Minha mente estava um caos, não sabia mais exatamente o que fazer. Ontem a noite, quando pensei nessa hipótese de ser apenas amiga do Justin, tudo parecia tão fácil. Parecia que tudo ia dar certo, que iríamos ser apenas amigos e que tudo ficaria bem, mas agora, já não tenho tanto certeza. Não era para ele ter discordado da idéia! É lógico que ele só disse aquelas coisas, porque estava... Sei lá! Mas é obvio que não é verdade. É... impossível. Não pode ser verdade. Eu não quero que isso aconteça de novo. Isso não pode acontecer de novo.

“Eu também gosto de você, Mellanie”.

Novamente aquela frase passou pela minha mente. Ele não deveria ter dito isso, não mesmo. Que ódio! É assim que sempre começa, e, por favor, não estou a fim de vivenciar tudo aquilo novamente. Não, claro que não. As coisas estão muito bem assim, do jeito que estão.

Encostei-me na parede do corredor e suspirei. Ele bem que poderia ter facilitado para o meu lado! Era só ele concordar com tudo e amanhã já estaria tudo bem. Bom, mais ou menos. Mas ainda sim seria bem melhor do que agora. Odeio me sentir confusa, perdida... Como já disse, é assim que sempre começa. Agora não é a hora certa para eu passar por isso novamente. Desde que eu cheguei aqui, nessa cidade, tudo melhorou, e eu realmente não preciso que voltem a piorarem. Talvez, daqui a muitos anos, quando eu já estiver mais velha e já tiver superado tudo isso completamente, aí sim eu poderia pensar nisso.

Foi depois dessa coisa que tudo começou. Foi depois que eu me... Apaixonei. É... Eu realmente amava aquele cara, porém depois que eu descobri que ele fazia aquilo eu até tentei me afastar, mas como já disse a vocês, eu tinha medo de que ele fizesse algo contra eu e minha família, mas esse não foi o único motivo... Mesmo depois de descobrir tudo aquilo, eu continuava o amando e pode apostar, eu sofri muito com isso. E é por isso que eu não quero me apaixonar novamente. Já basta essa experiência completamente desastrosa. Acho que ela já vale por uma vida toda, não? Eu sei que é exagero, mas tudo bem...

De qualquer forma, foi depois que eu me apaixonei que meus pais morreram, depois que eu me apaixonei que me meti com drogas e bebidas, depois que eu me apaixonei que minha avó morreu... Até hoje essa coisa só tem me trazido azar, e azar é a última coisa da qual preciso agora.

Desencostei da parede lentamente e olhei uma última vez para a porta do apartamento do Justin. Não sei o que eu esperava, talvez que ele aparecesse ali me procurando, ou que pelo menos aparecesse para falar que eu esqueci alguma coisa... Mas é obvio, isso não aconteceu. Suspirei e entrei no elevador apertando o número do meu andar.

POV. Justin

Suspirei me deitando na cama. Como assim ela quer ser apenas a minha amiga? Eu... Arg! Não tem como isso ser verdade. Não pode ser verdade. Eu não quero ser só amigo dela. Ela... Ela faz eu me sentir diferente. Eu nunca senti isso antes, não sei, é apenas uma hipótese, mas acho que estou me apaixonando. Não tem como eu ter certeza, porque nunca senti isso antes. As garotas para mim foram sempre para um dia, uma noite... Eu até agora achava que essa coisa de se apaixonar nem existia, mas acho que estava errado.

Com ela eu sinto que posso ser eu mesmo, que posso me abrir... Faz tão pouco tempo que ela chegou aqui, em Stratford, e já mudou tanto coisa na minha vida... As únicas mulheres que eu já tratei bem foram a Caitlin e, é lógico, a minha mãe, mas a Caitlin é como uma irmã, apesar da gente já ter namorado, mas isso não importa! A questão é que eu trato a Mellanie bem, me importo com ela, sempre penso nela, me sinto bem perto dela... É inevitável...

Bufei. Seria bem mais fácil se ela não viesse com esse papo de ser apenas amigos, mas não... Ela tinha que complicar as coisas. Ta... Eu confesso que boa parte disso é culpa minha. Se eu não tivesse bebido e dormido com a Ashley a esse momento nós estaríamos bem... Por que eu tinha que ser tão idiota?

Me levantei de cama e corri do quarto indo direto para a porta do meu apartamento. A escancarei com a esperança de ainda encontrar a Mellanie ali, mas já era tarde mais. Bufei e fechei a porta com força. Me joguei no sofá enterrando a minha cabeça nas almofadas. Apenas espero que tudo se resolva...

POV. Mellanie

Coloquei o meu prato e os talheres na pia, ligando a torneira em seguida. Peguei a esponja e despejei um pouco de detergente na mesma. Comecei a esfregar tudo, lavando a louça.

Depois de alguns minutos sequei o último copo e o guardei no armário. Sequei as minhas mãos no pano de prato, e quando já estava saindo da cozinha ouvi o meu celular tocar. O encontrei embaixo de uma das almofada do sofá, olhei no visor vendo que era a Caitlin, atendi rapidamente:

– Alô.

– E aí, Melly, fazendo o quê?

– Nada...

– Vamos ao cinema?

– Cara, vocês gostam de ver filmes, hein?

– É que não tem nada mais interessante pra fazer...

– Tudo bem... Mas vocês querem ver qual filme?

– Sei lá, a gente vê lá na hora.

– Que horas?

– Vamos se encontrar em frente do seu prédio às 15h.

– Ok, o Justin vai?

– Não sei, liga ai pra ele.

– Ah...

– O quê?

– Nada... Eu ligo sim.

– Tudo bem, até daqui a pouco.

– Tchau.

Desliguei a chamada e procurei o número do Justin na minha lista de contatos. Achei o seu nome e cliquei no mesmo apertando para chamar. Tocou uma, duas, três, quatro, cinco vezes e nada dele atender. Bufei encerrando a chamada. Tentei de novo e nada. Que merda.

Olhei as horas no celular. Eram 14h20min. Tinha 40 minutos para me arrumar. Corri para o meu quarto e entrei no closet. Peguei um short jeans preto com a bainha desfiada, uma blusa vermelha com algumas frases escritas e bigodinhos, e o meu all star jeans. Me vesti, já tinha tomado banho, e fui pentear o meu cabelo. O deixei solto e com seu ondulado natural e olhei as horas. Ainda eram 14h43min. Voltei para o banheiro e passei apenas o lápis de olho e um batom. Não sou muito fã de maquiagem, fazer o quê...

Peguei o meu celular e vi que tinha uma chamada perdida do Justin. Liguei para ele que atendeu em dois toques.

– Alô.

– Justin?

– Oi?

– Você está ocupado?

– Não...

– Fazendo algo interessante?

– Também não... Por quê?

– Eu, a Cait e os meninos vamos no cinema às 15h...

– E você só me avisa agora? – Me interrompeu.

– Eu tentei te ligar mais você não atendeu... Então, você vai?

– Uhum. Eu passo no seu apartamento, antes de descer.

– Você vai conseguir se arrumar em 15 minutos?

– Já tomei banho, é só me vestir...

– Mas esse é o problema.

– Hahá, engraçadinha.

– Ta,ta... Até daqui a pouco.

– Até.

Desliguei a chamada e me joguei na cama. Faltava 14 minutos e não tinha nada para eu fazer... Que tédio. Bufei e me levantei pegando o meu celular e um pouco de dinheiro, os colocando no bolso do meu short. Sai do meu quarto e sentei no sofá da sala, ligando a TV. Agora faltavam 13 minutos. Estava passando bob esponja. Aleluia algo de bom!

Fiquei vendo bob esponja até ouvir a campainha tocar. Olhei no meu celular. Já eram 15h03min. Desliguei a televisão e me levantei. Abri a porta e nem esperei o Justin falar nada e fechei a porta a trancando.

– Olá, Justin. Ah, oi, Mellanie. E aí, tudo bem? Tudo e você? Também estou bem… - Falou imitando uma voz feminina. – Sabe, isso não mata ninguém...

– Desculpa... – Murmurei revirando os olhos. - Vamos?

– Ok… - Murmurou antes de entramos no elevador.

Ficamos em silêncio, cada um preso em seus próprios pensamentos, até eu ouvir o barulho da porta se abrindo, me despertando. Sai do elevador seguida do Justin, e logo os avistei sentados em um sofá. Assim que nos viram se levantaram e caminharam em nossa direção.

– Vamos? – Perguntou o Chaz.

– Por que não vamos de carro? – Sugeriu o Justin mostrando a chave do seu carro. Não sabia que ele tinha um carro...

– Não estava concertando? – Perguntou o Ryan franzindo o cenho.

– Fui lá pegar hoje mais cedo. – Respondeu.

O seguimos em direção a garagem do prédio, que eu nem sabia que existia. Paramos perto de uma Range Rover preta, e Justin a destravou entrando no banco do motorista.

– Eu vou na frente! – Gritou o Chaz tentando abrir a porta do passageiro, mas o Ryan o puxou antes que conseguisse se sentar.

– Não, eu que vou! – Falou o Ryan também tentando entrar.

– Ah, não! Vocês sempre vão na frente, agora é a minha vez! – Se intrometeu o Chris.

Logo já estavam discutindo para ver quem iria na frente.

– Crianças... – Falei para a Caitlin que revirava os olhos.

Deixei eles discutindo e sentei no banco do passageiro, acabando com a briga e os fazendo me encararem incrédulos.

– Tudo resolvido? – Perguntou o Justin ligando o carro.

– Não! – Gritaram os meninos em uníssono, fazendo eu, a Cait e o Justin revirarmos os olhos.

Encostei a cabeça no vidro da janela olhando a paisagem lá fora. Estávamos em um lugar desconhecido por mim, na verdade os únicos lugares daquela cidade que eu conhecia eram a pracinha, a escola e algumas ruas perto do meu prédio. Eu ainda não tinha saído do meu bairro, até agora, obviamente. Avistei ao longe uma grande construção, acho que era o shopping. Justin entrou no estacionamento do local e parou o carro em uma vaga qualquer. Descemos do carro e fomos em direção a uma das entradas do shopping. O local estava bastante cheio, afinal, era domingo.

Passamos por lojas e mais lojas, de todos os tipos e para todos os gostos. Passamos por fliperamas, e lojas de tênis e bonés (nem preciso dizer que quase morri né?), subimos por elevadores e escadas rolantes, passamos também pela praça de alimentação, e, finalmente, chegamos ao cinema. A Caitlin e o Ryan foram para a fila comprar os ingressos, e eu, o Justin, o Chris e o Chaz, fomos comprar pipoca, refrigerante e doces.

Logo já estávamos todos juntos, sentados na última fileira de cadeiras. Íamos ver Os Vingadores, parecia ser legal. Eu estava sentada bem no meio, entre o Justin e o Chris, que estava ao lado Chaz. Ao lado do Justin estava o Ryan, que estava ao lado da Caitlin.

O filme começou, mas eu quase não prestei atenção, pois ficava ocupada demais rindo das palhaçadas do Justin. Ele jogava pipoca nas pessoas que estavam sentadas na nossa frente e quando elas se viravam para reclamar a gente fingia estar prestando atenção no filme, e a senhora brigava com o coitado do Chris. Ele também ficava fazendo comentários idiotas sobre os personagens e o filme, o que me fazia rir nas partes mais sérias do filme, e, assim, acabávamos rindo mais ainda.

[...]

– Eu estou com fome. – Reclamou o Chaz pela milésima vez.

– Chaz! Calma já estamos chegando. – É, mal acabamos de sair do cinema e já estamos indo a caminho da pizzaria, tudo porque o senhor Chaz Somers está com fome!

– Pronto, chegamos! – Disse a Caitlin, após o Justin estacionar o carro.

Saímos do carro e entramos na Pizzaria, estava cheia, acho que não iríamos conseguir uma mesa.

– JUSTIN! – Ouvi uma voz feminina gritar. Todos nós viramos para o lado, vendo a dona da voz.

– Ashley!? – Disse o Justin confuso.

– Oi! – Exclamou ela sorrindo abertamente, me fazendo revirar os olhos. – Está fazendo o que aqui? – Garota idiota, o que alguém vem fazer em uma pizzaria?

– Ah, o Chaz estava com fome, então viemos comer uma pizza, só que acho que não vamos conseguir uma mesa. – Respondeu o Justin educadamente.

– Isso não é problema! Vocês podem se sentar com a gente! – Disse ela apontando para uma mesa com três garotas.

– Tudo bem para vocês? – Perguntou o Justin olhando para a gente, e parando o seu olhar em mim.

– Ah, sim, claro! – Respondi vendo que todo mundo me olhava. Povo doido.

Nos sentamos na mesa e logo todos já estavam conversando animadamente. Suspirei pegando o meu celular e fingindo estar fazendo alguma coisa, mas na verdade estava apenas encarando a minha foto de plano de fundo. Desviei o meu olhar de volta para eles. O Justin ria junto da Ashley, a Caitlin e o Ryan conversavam com uma das meninas, e o Chaz e o Chris paqueravam as outras duas garotas. É, eu definitivamente estava excluída. Cutuquei a Caitlin que estava sentada ao meu lado.

– Oi? – Se virou para mim.

– Eu não estou me sentindo bem, acho que já vou... – Inventei uma desculpa qualquer, não aguentava mais ficar naquele lugar.

– Você está bem? – Perguntou mostrando preocupação.

– Sim, é só um mal estar, depois passa. – Respondi.

– Ah, tudo bem... Mas você vai como?

– Sei lá, eu pego um taxi. – Sussurrei me levantando, tentando não chamar atenção.

– Então, tudo bem. – Sorriu fracamente. – Tchau, mais tarde te ligo.

Me afastei deles andando até a saída da pizzaria. Abri a porta e olhei uma última vez para a mesa na qual eles estavam. Todos estavam rindo provavelmente de alguma coisa engraçada que um deles fez. É... Eu realmente não pertenço a aquele grupo.

Suspirei e sai da pizzaria fechando a porta. Uma rajada de vento frio bateu contra o meu corpo me arrepiando. Me “abracei” tentando amenizar o frio, o que foi inútil. O vento batia no meu rosto, balançando levemente o meu cabelo, o jogando para trás. Caminhei um pouco pelas ruas desertas daquela noite de Domingo, mas logo vi o farol de um carro vindo do fundo da rua. Quando já estava perto o bastante percebi que era um taxi. Fiz sinal para ele, que logo parou no encostamento da rua. Abri a porta e entrei no banco de trás. Dei o meu endereço e segundos depois já andávamos pelas ruas frias e desertas de Stratford a caminho do meu prédio.