Cheguei cedo ao HPF, os corredores ainda estavam vazios, caminhei em direção a recepção e encontrei uma moça, de cabelos escuros e óculos mexendo no computador...

-Ola...

-Oi, bom dia. Deve ser o Dr. Cullen, Leah esta na sala dos médicos o aguardando, siga o corredor é a segunda porta a direita.

-Ah obrigada...

-Ângela.-ela falou seu nome.

-Obrigada Ângela e um bom dia.-ela sorriu simpática e eu acenei.

Segui pelo corredor e encontrei Leah na sala com uma enfermeira mais jovem desejei bom dia e Leah disse que avisaria ao Dr.Swan que eu tinha chegado, enquanto ela saiu guardei minha mochila e minha jaqueta num armário designado a min, e vesti o jaleco branco com meu nome bordado por cima da roupa então para minha surpresa a enfermeira que até então esta calada se pronunciou.

-Ola, é o Edward certo?-ela perguntou com um sorriso sensual forçado, fiquei imediatamente serio.

-Dr.Cullen, por favor.-pedi

-Claro, sou Ana Brody, enfermeira. -me estendeu a mão e eu cumprimentei contra a vontade. -Fiquei sabendo que você cuidaria da Filha do Dr.Swan...-comentou maliciosa.

-Sim. -falei fechando meu armário.

-Corajoso. -falou debochada.

-Porque diz isso?-perguntei levemente chateado.

-É uma doida varrida, atira coisas nas enfermeiras, não fala com o Dr.Black, aliás, não fala com ninguém, cospe a comida às vezes na gente, nunca reconhece o pai, tive o azar de ser sua enfermeira por um tempo, mas graças a Deus não sou mais!-gargalhou e eu fechei a cara, estava prestes a lhe dar uma resposta quando Leah apareceu.

-Ana vá cuidar de seus pacientes e pare de lorotas...Dr.Culle siga-me por favor.

Segui Leah chateado pelo corredor.

-Não dê ouvidos as fofoqueira de plantão daqui Doutor- Leah falou- Bella é uma moça sofrida, a pobre não merece tanta dor, ela só merece ser feliz.-falou com lagrimas nos olhos.

-Bella?-perguntei

-Ah, bem sim é seu apelido, como alguns de nós a chamamos. -falou constrangida.

-Não se preocupe Leah, eu serei bom com ela, so quero ajudá-la.-ela assentiu e o Dr.Swan apareceu.

-Dr.Cullen, chegou cedo, Bom dia,Siga-me. Leah pode buscar o café da manha de Bella?-Charlie pediu, Leah se retirou e eu o segui.

Depois de uma caminhada de 10 min por entre corredores chegamos ha uma porta de madeira com um quadrado de vidro, Charlie destravou a tranca e entramos, então eu me surpreendi, parecia que eu havia entrado  num universo paralelo, o quarto era uma tela, e quando eu digo uma tela não estou brincando, todas as paredes eram coberta de uma explosão multicolorida, fiquei embasbacado...Aquilo era lindo! Olhei em volta e encontrei algumas pinturas em cima de cavaletes, uma mesinha com muitos potes de tinta e pinceis de diferentes tamanhos agrupados em um copo plástico comprido, havia também uma cama grande coberta com um edredom estampado com estrelas vermelhas e em cima da cama pousava uma boneca de pano já muito desgastada... A boneca tinha cabelos loiros e olhos azuis, o vestido do brinquedo já estava desgastado também, reconheci que aquele era o objeto de fixação da minha paciente.

Olhei em volta e não encontrei Isabella em nenhum lugar visível, então Charlie a chamou.

-Bella querida, esta no banheiro?-Charlie chamou, não houve resposta, a porta ao lado da cama se abriu e de la saiu uma moça desconfiada.

Ela era branca como leite, os cabelos eram castanho assim como os de Charlie, e estavam presos num coque, era baixa e não olhava nos olhos, além disso não usava roupas de hospital, vestia calças jeans, camiseta de manga longa, azul marinho e um all star vermelho.

-Bella este é o Dr.Cullen seu novo medico. -Charlie apontou pra min sorrindo, ela não me olhou seguiu para a cama e se sentou agarrando a boneca.

-Ola. -falei com ela e não houve resposta,Charlie suspirou.

-Ela não fala, desde bem antes de eu encontrá-la aqui, foi muito maltratada antes de Aro assumir o Hospital.

-Sinto muito, farei o melhor por ela. -falei comovido.

-Sei que sim, ela é tudo que tenho Edward. -ele se dirigiu a min pelo nome então, pude ver nos olhos daquele homem todo o sofrimento de só encontrar a filha aos 19 anos e ainda por cima naquela situação.-Agora pela manha só precisa se encarregar dela, Leah logo trará seu café, antes do almoço passe em minha sala, te levarei para conhecer seus outros pacientes.

Eu assenti e o observei sair. Bella continuou la deitada, abraçada a boneca...andei pelo quarto observando seus livros, aparentemente ela sabia ler...

-João e o pé de Feijão?-questionei brincalhão ao achar o livro no meio de outros em sua estante. -É uma boa historia... Com todo aquele feijão....lembro-me que o gigante fez uma feijoada muito boa, gosto de feijoada, você não?-continuei brincando e pude sentir um leve, quase imperceptível sorriso em seus lábios, ponto pra min ela estava em meu mundo nesse momento. A parte mais difícil de li dar com pacientes portadores da TPR é que era difícil prende-los na realidade, muitas vezes durante alguma sessão eles simplesmente desligavam a realidade e se ligavam ao seu próprio mundo, isso tornava tudo tão difícil, mas algo que aprendi com minha pesquisa é que uma boa forma de prende-los a nossa realidade era a cada dia surpreende-los, chamando sua atenção para algo novo e real. Mas, obviamente cada caso é um caso. Porém parecia que até então estava dando certo com Isabella, no caso eu era a novidade do seu dia, por isso ela dava indícios de que estava ali, ela me entendia... Ao menos naquele momento, segui tentando prender sua atenção.

-Sabe Bella... Posso te chamar de Bella certo?-ela só me encarou, como quem cala consente,prossegui.-Estou aqui como seu medico, mas também como seu amigo...o que acha de sermos amigos hum?-ela alisou a boneca e me olhou, isso era um sim?-Minha irmã adora bonecas, assim como você...o que acha de ganhar mais uma para sua coleção, heim? Uma me parece muito pouco... -comentei e ela só me encarava fixamente e foi então que notei os lindos e vazios olhos verdes.... Era um mar de tristeza.

Leah entrou com o café da manha me interrompendo.

-Bella meu anjo vamos comer pra ficar forte?-perguntou sorridente, Bella levantou, seguiu para a escrivaninha e sentou-se na cadeira enquanto Leah lhe servia aquela gororoba que ela chamava de café da manha. Ewwww, coitada merecia uma comida menos repulsiva.

-Leah que diabos é isso?-apontei para o troço pegajoso na tigela que Bella comia.

-Mingau de aveia. -falou torcendo a boca.

-Acho que nem um vira lata acha agradável, porque dão isso pra ela comer?-perguntei chateado.

-Todos os pacientes comem a comida daqui DR. não ha muita escolha.-falou dando de ombros.

-Humm, fica com ela dez minutos?-pedi-Volto logo, ela só acenou.

Fui ao meu armário e peguei na minha mochila a vasilha que minha mãe havia colocado o bolo de cenoura com calda de chocolate e uma maçã e segui de volta pro quarto, quando cheguei Bella remexia a colher naquele grude e Leah a observava.

Me aproximei e falei com Bella...

-Oi de novo.... Vamos comer algo legal, hum?-falei tirando delicadamente a tigela da sua frente e colocando a fatia de bolo, primeiro ela me encarou, depois ao bolo, cheirou e olhou pra Leah que assentiu. -Foi minha mãe que fez....prove.-falei sorrindo ha incentivando, então ela espetou com o garfo e mordeu um pedaço arregalou os olhos e foi devorando o restante rapidamente, soltei um risinho contido, ela ficou fofa assim.Leah aprovou minha atitude e saiu com o grude de volta.

Depois que terminou de comer Bella voltou para cama ficou me olhando durante um tempo, não me senti incomodado com seus olhares, não eram acusatórios ou desconfiados eram só...curiosos. Ela estava analisando o que era novo pra ela e com isso me dei conta de que até então Bella me parecia muito presente, ela não estava em seu mundo, pelo menos não aparentemente. Era um tempo recorde esta tão presente para um portador nível 4 da TPR.

Dei mais um giro por seu quarto observando suas pinturas que encobriam as paredes do chão até o teto, havia uma centena de pares de olhos azuis misturados ha outros desenhos, gotículas de chuva, raios de luz do sol, nuvens escuras, como em um dia de chuva, uma borboleta laranja e muitos rabiscos coloridos, eram basicamente isso que havia em suas paredes. Olhei novamente pra Bella que imperceptivelmente estava sentada em sua cama, agora, e me olhava desconfiada ainda...

-Suas pinturas são muito bonitas Bella.-elogiei ela pegou a boneca e abraçou ainda me olhando.-Você pinta todos os dias?-perguntei vendo uma tela em branco perto da cama.

Ela simplesmente levantou-se colocou a boneca deitada na cama novamente e seguiu para a tela em branco, pegou um pincel, tinta preta e começou a rabiscar rapidamente, traços marcados, rápidos e precisos, fiquei estático com a agilidade com a qual ela desenhava e pintava...em seguida ela pegou tinta azul e seguiu com seu trabalho, alguns minutos depois lá estava mais um belo par de olhos azuis, pintado em tinta fresca e retratado tão perfeitamente que parecia ter vida própria.

Com as mãos um pouco sujas de tinta Bella voltou pra cama e deitou-se ao lado da boneca. Fiquei só observando chocado com tamanha perfeição do desenho e sua velocidade para fazê-lo.

Eram quase 10h da manha quando Leah voltou ao quarto com uma bandeja, Bella continuava deitada olhando o teto e eu a observava e fazia algumas anotações.

-Querida hora do remédio. -Leah tentou soar animada, mais uma vez Bella obedeceu, sentou-se na cama, pegou a água e estendeu a mão para o comprimido.

-Leah qual remédio?-questionei.

-Um anti- psicótico leve, ela toma duas capsulas essa hora todos os dias.-informou-me.

-Ok,mas só lhe dê uma.-Leah franziu  o senho mas obedeceu,Bella tomou só uma capsula com água e voltou a encarar o teto.

-Porque diminuiu a dosagem Dr.?

-Todos os remédio de Bella serão reduzidos pela metade mude isso em seu prontuário e depois o leve para eu assinar. Boa parte dessa letargia dela se deve ao remédio e não ao fato dela ter TPR. -falei serio e Leah só acenou saindo do quarto.

...

O dia passou assim, depois do almoço informei a Charlie que reduzi os remédio de Bella e ele me deu carta branca, minha intenção era não deixá-la mais dependente dos remédios, depois do almoço visitei meus outros pacientes, mas sempre escapava para ve-la, porem Bella continuava da mesma maneira deitada olhando o teto...A noite fui me despedir dela e Leah á estava cobrindo com o edredom em sua cama quando dei Boa noite ela só me encarou e fechou os olhos.

Aqueles tristes e vazios olhos verdes! Céus eu me sentia cada vez mais interessado e empenhado em entender a mente daquela moça.