Pov. Edward

      Eu me acordei mal. E não foi por causa de meus machucados. Bella era minha dor e também o único remédio que faria algum efeito para curá-la.

      Quando ela veio atrás de mim ontem eu ainda estava bravo com ela, mas logo minha raiva passou e foi substituída pelo amor intenso que eu sempre sinto por ela. Pensei que finalmente ficaríamos juntos, mas ela insistiu no afastamento e nesse mistério. O que havia acontecido de tão ruim com ela? Ela me disse que não era uma simples rejeição de um namoradinho, mas já deixou claro que tinha algo a ver com amor. Ela já tinha se apaixonado por alguém e algo acontecera. Mas o que?

       Eu nunca adivinharia. Ela teria que me contar, mas eu não sei como convencê-la disso. Hoje eu sei que ela nem vai olhar na minha cara. Ela já deixou isso claro.

       Vesti-me com um casaco preto qualquer e fui pra escola. Coloquei meus fones de ouvido e comecei a ouvir Bring me to life – Evanescence. Depois de Bella tanto me falar dessa banda eu baixei algumas músicas para o meu celular, querendo simplesmente conhecer melhor. A voz da Amy Lee agora me fazia lembrar de Bella, não sei por quê. Por algum motivo as músicas me faziam lembrar de Bella e eu estava começando a simpatizar com a banda.

       Cheguei à escola e vi Bella sentada num banco sozinha com fones no ouvido. Estaria ouvindo Evanescence também? Eu nunca saberia, pois eu não fui até ela. Ela já me deixara claro que não adiantava nada eu ficar insistindo com assuntos banais e me fazendo de idiota, mas eu encontrei seu olhar por um momento. Sorri tristemente para ela. Surpreendentemente ela retribuiu o sorriso triste. Segurei-me para não ir até lá falar com ela.

       Encontrei Emmett e Jasper.

       -E aí Edward como você está cara? – Emmett perguntou.

       -Estou bem.

       Logo uns otários passaram por trás de mim e começaram.

      -Teve coragem de sair de casa com a cara assim, Cullen?

      -Que surra tomou pro Jacob ontem hein?

      Senti meu rosto vermelho de raiva, mas eu não falei nada, sem querer causar mais brigas. Tudo piorou quando eu vi Jacob ao longe. Só estava com a maçã do rosto um pouco vermelha e inchada, mas de resto estava ótimo. Sorriu maliciosamente. Resisti ao impulso de ir socá-lo, sabendo que tomaria outra surra daquele brutamontes.

       -Não dá bola pra eles, Edward – Jasper me falou.

       -É, vou ignorar...

      Fomos para a aula e simplesmente assisti e o dia se passou...

       Uma semana inteira se passou assim. Meu rosto melhorou muito, as gozações foram diminuindo, Bella e eu não trocamos uma palavra. Meu coração pedia por ela, mas minha cabeça sabia que de nada adiantaria me aproximar dela.

       Mais um dia de aula estava acontecendo. Era a hora do recreio e eu estava sentado num banco com meus amigos, até que Emmett me cutucou.

       -Edward, tá vendo aquela gata ali?

      Ele apontava para uma garota loira, alta e de pele morena. Ela era linda.

      -O nome dela é Irina e ela não tira o olho de você. Quer que eu vá falar com ela pra você? Bem que você podia ficar com ela? Faz meses que você não fica com ninguém, tô até te estranhando.

      Mal ele sabia que eu tinha ficado com Bella há uma semana atrás.

      -Aff Emmett eu não quero ficar com ninguém!

      -Desiste da Vampira! Ela te trocou pelo Jacob!

      -Ela nem fala mais com o Jacob! – rebati, percebendo esse detalhe agora.

      -Ela nem olha pra você! Vai perder as oportunidades e vai deixar de curtir por causa dela?

        Bufei irritado, eu não queria ficar com ninguém a não ser ela, mas como eu sou um idiota influenciável...

        -Está bem, Emmett! Fala com essa Irina então, mas temos que ficar ainda hoje na saída!

        Emmett nem hesitou, se levantou e foi falar com a garota. Nem cinco minutos passaram e Emmett já voltou com um sorriso malicioso nos lábios.

       -Ela aceitou de primeira.

       -Deve ser uma fútil – falei.

       -É só diversão Edward! Nada sério! – Ele respondeu irritado.

       -Está bem! Eu já entendi!

       Voltamos pra aula e depois saímos com os livros debaixo do braço. Vi Bella indo pra biblioteca, mas tentei não pensar nela. Eu precisava me libertar do nosso amor pelo menos por hoje!

       Fui para o portão da escola e fiquei esperando Irina descer. Ela me olhava sensualmente e parecia não querer somente ficar comigo.

        Emmett se afastou de mim e me deu um sorriso malicioso e encorajador ao mesmo tempo. Irina chegou a minha frente, meio que rebolando. Ela envolveu minha cintura com as mãos e atravessamos a rua e nos encostamos a uma árvore.

        -Eu estou louca por você há tanto tempo – ela sussurrou no meu ouvido com uma voz arrastada e infantil. Eu não tinha nada para dizer, então permaneci calado. Ela aproximou os lábios dos meus. Eu não senti nada. Nenhum tipo de desejo, só abri a boca rendido e recebi a língua dela.

        Eu não tinha nada contra aquela garota, mas senti nojo ao sentir a língua molhada dela na minha. Antes eu gostava de ficar, mas agora me parecia algo tão errado eu e ela nos beijarmos sem termos nenhuma ligação. Senti-me sujo e usado.

        -Você é lindo – ela sussurrou pra mim. Eu não falei nada, só tentei retribuir o beijo.

        De repente ouvi gritos e senti cheiro de fumaça. Foi tudo tão rápido. Pessoas disparavam de dentro da escola e um jato de fumaça disparava pelos ares e saía de dentro da escola.

       -Fogo! – gritavam os alunos que saíam de dentro da escola. O alarme de incêndio tocava. Desvencilhei-me de Irina e procurei desesperadamente por Bella. Ela estava na biblioteca e não saía da escola junto com as pessoas. Um menino saiu correndo da escola e eu o abordei.

       -De onde veio o fogo?

       -Não sei! – ele gritava meio perdido. – Acho que começou pela biblioteca! Não sei o que aconteceu!

        O garoto se afastou de mim correndo. Bella estava na escola! Na biblioteca! Onde tinha fogo! Eu me senti em pânico. A biblioteca ficava no terceiro andar da escola! Ela nunca escaparia. Eu nunca tinha me sentido tão preocupado, tão em pânico e tão indefeso!

        -Tem uma garota lá dentro! – eu berrava. Deviam ter mais jovens lá dentro, mas só ela importava pra mim.  Ninguém fazia nada. Nada de bombeiros! Como isso? Seria possível a escola ser tão irresponsável e não ter nenhuma medida para salvar alunos? –Bella! – eu berrava desesperado, como um idiota.

         Não precisei pensar muito, logo me vi correndo em direção a entrada da escola. Senti alguém me puxar. Era Irina!        

        -Onde pensa que vai Edward?

        -Eu vou entrar! Bella está lá dentro!

      -Deixa aquela garota infeliz lá dentro! Não se arrisque por ela! Você pode perder a sua vida!

     -É por isso que eu vou lá! Estou indo salvar o significado da minha vida! – falei dando um empurrão em Irina e me libertando. Cada segundo perdido era um risco para Bella. Eu não pensava na hipótese de que ela já pudesse estar...

       Entrei na escola e senti o calor invadir o meu corpo e a fumaça entrar em meus pulmões. Tossi, mas não parei de correr. De alguma maneira os alunos tinham conseguido sair da escola e os professores também. Subi as escadas e senti que me aproximava do fogo. Fui para o terceiro andar e vi a entrada da biblioteca impedida pelo fogo. Vi um extintor de incêndio do meu lado. Quebrei o vidro e peguei. Eu nunca tinha usado um, mas aprendi no mesmo instante. Comecei a apagar o  fogo para poder entrar na biblioteca que já estava em chamas.

       -Bella! – berrei a plenos pulmões. –BELLA! CADÊ VOCÊ?

       Ela não respondia. Senti meus olhos ardendo por causa das lágrimas que escorriam por meus olhos e também por causa da fumaça que cobria cada canto da biblioteca. Eu quase nem conseguia respirar e eu tinha um nó na garganta. Bella estaria...?

        -Bella! AMOR ME OUÇA! – eu corri que nem um louco desviando das estantes de livros em chamas. Eu entrei em um corredor em chamas e encontrei Bella caída perto do fogo. Seu corpo estava mole, mas ela tinha só leves queimaduras. Me agachei ao seu lado.

        -Bella? Está me ouvindo? – ela não respondia, mas estava respirando. A peguei em meus braços, sua cabeça pendia flácida em meu ombro. Eu conseguiria carregá-la? Claro que sim, mas tínhamos que escapar.

        -Edward... – ela murmurou rouca.

        -Você está bem, meu amor?

        -Meu braço dói, queimei-o... Temos que sair daqui...

        -Não se preocupe eu vou tirar a gente daqui – prometi a ela e beijei a testa dela. Desci as escadas até o segundo andar, mas agora eu me sentia fraco. A fumaça adentrava em meus pulmões e eu me sentia sem ar e sem forças, tropecei e caímos. Eu tossi, procurando por ar puro.

       -Bella... Me desculpe, eu não consig...

       -Não, Edward. Perdoe-me você. A culpa é minha. Você não tinha que ter vindo me salvar, mas isso não importa agora – ela se arrastou até o meu lado e passou os braços ao redor de mim. – Quase não consigo respirar, talvez a gente morra aqui, mas eu quero que a última coisa que você ouça é que eu te amo mais do que a tudo nessa vida. Eu... Eu não sei por que eu fujo tanto do nosso amor. Agora, aqui os meus problemas não parecem tão importantes – ela dizia aos soluços, chorando.

     -Não precisa falar nada. Eu também te amo! Você sempre soube disso – murmurei beijando seus lábios ternamente. Talvez eu conseguisse escapar, se estivesse sozinho, mas carregando a Bella era impossível e eu nunca, jamais a deixaria sozinha e indefesa. Iríamos morrer juntos. Começamos a tossir, sem ar.

      Estávamos morrendo lentamente, mas para mim estava tudo bem. Eu tinha os braços de Bella me envolvendo e ela estava junto comigo e me amava. Isso parecia mais correto e melhor do que toda essa semana que passou.

      -Eu te amo – murmurei de novo.

      -Amo você – ela disse em meio a uma tosse.

      Quando eu estava quase apagando senti meu corpo sendo carregado. Onde estava Bella? Eu não sentia mais os braços dela em volta de mim. Abri meus olhos e vi um rosto com uma máscara de oxigênio ou algo assim.

        -Vai ficar tudo bem – murmurou o bombeiro para mim. Eu queria gritar por Bella, saber dela, mas vi meus olhos se fechando involuntariamente e tudo ficando preto. Apaguei.

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        Acordei-me em uma cama branca e em uma sala também branca. Tinha uma máscara de oxigênio em minha boca, arranquei-a sem dó e respirei normalmente. Tentei me lembrar de tudo o que aconteceu. Lembrava-me do incêndio, de encontrar Bella e de cairmos... Ela disse que me amava. Por que eu me sentia tão feliz com isso? Eu já sabia que ela me amava, mas sempre que ela dizia meu coração se enchia de alegria.

       Lembrei-me que havíamos sido separados. E não morremos! Eu não morri... Onde estava Bella? Sentei-me rapidamente na cama com o coração quase saindo do meu peito. Olhei pro lado e a vi dormindo docemente ao meu lado e senti a calma me invadir. Uma sensação tão boa. Ela estava bem, tinha sobrevivido e não estava muito queimada.

       Não me permiti dormir, me levantei e fui me sentar em sua cama. Só estávamos nós no quarto de hospital. Passei meus braços por trás da sua cabeça e me deitei do lado dela. Ela dormia serenamente e senti a paz me invadir. Era um momento perfeito. E ficou ainda melhor quando ela abriu os olhos e me viu. Seus lábios se contorceram em um sorriso calmo.

       -Edward...

       -Bella...

       -Você me salvou.

       -Você está bem...

      Abraçamos-nos lentamente e depois desesperadamente, foi como se nos reencontrássemos depois de anos separados. Era algo urgente e foi selvagem a maneira com que nossos lábios se comprimiram um contra o outro, eu queria mais dela. Colei meu corpo ao dela e mordi seu lábio com delicadeza, sugando com voracidade. Ela acariciava meus cabelos, meu pescoço e minhas costas e eu sentia seu rosto, acariciando e memorizando seus traços.

      -Eu te amo – ela murmurou em meus lábios. Eu não falei nada, não era necessário, só aumentei a intensidade do nosso beijo.

     -Eu pensei que te perderia pra sempre – falei em seus lábios. Ela se afastou, com os olhos cheios de lágrimas que começavam a escorrer.

    -E eu Edward... Pensei que morreria sem ter aproveitado a nossa vida. Eu sempre desperdiçando todas as nossas chances juntos, as minhas chances de ser feliz e amada. Me fez ver que... eu não posso viver sem você! Eu te amo e é algo mais forte e mais importante do que o meu passado! – ela se debulhava em lágrimas.

       -Oh, Bella como é bom ouvir isso de você. Acho que é a segunda melhor coisa que já me disse na vida – falei abraçando-a ainda mais forte.

       -Qual foi a melhor?

       -Quando diz que me ama.

       -Eu te amo, eu te amo, eu te amo... – ela falou incansavelmente.

      -Nada importa Bella, eu não me importo com o seu passado. Só quero viver o presente e o futuro – murmurei, deitando minha cabeça em seu peito e ouvindo as batidas de seu coração.

      -Mas você precisa saber o meu passado. Antes de termos algum relacionamento sério eu vou te contar. Você precisa saber o que aconteceu comigo. Tudo sobre a minha vida.

     -Se não se sentir a vontade não precisa falar nada – murmurei.

      -Não, eu vou te contar. Não sei se depois disso você ainda vai me amar, mas... Bem, vou contar.