Pov. Bella

       Senti meu coração arder e minha mente quase explodir ao lembrar do meu passado. As lembranças ruins me invadiam por completo e eu quase me esqueci do meu amor por Edward. Quase desisti de tudo novamente. Quase. Mas o meu amor por Edward era mais forte do que tudo. Mais forte do que essa dor.

      Olhei para frente e encontrei o olhar verde, bondoso e confiável de Edward. Seus olhos eram sensuais e envolventes, mas sempre me deixavam um pouco desconcertada. Não dessa vez. Dessa vez só o que eu senti foi carinho, compreensão e confiança. Ele me passava confiança e amor de uma maneira que James jamais fez. Eu já tinha errado confiando demais numa pessoa uma vez na vida, mas sabia que em Edward eu podia confiar. Ele me entenderia. E me amaria...

         Ele percebeu que eu hesitava, então pegou minhas mãos com carinho e olhou dentro de meus olhos, foi como se olhasse minha alma. Fechei os olhos sentindo a dor me invadir e me permiti começar a falar.

       -Bem, eu tive uma vida perfeita, mas isso foi há dez anos atrás. Eu era uma criança feliz e animada de sete anos de idade. Minha mãe estava me levando pra escola, nós conversávamos e brincávamos sem nos preocuparmos com nada. Até que uns homens se aproximaram da gente armados, queriam a bolsa da minha mãe. Ela entregou pra eles sem gritar nem hesitar, mas olhou pro rosto deles. Eles não queriam testemunhas e nem que os reconhecessem. Eles simp- simplesmente – eu agora soluçava, tentando me conter, mas era impossível. – atiraram na minha mãe! Na minha frente! Eu vi tudo. Nunca me esqueci. Não sei por que me deixaram viva. Eu preferia ter morrido!

      -Não diga isso, amor – falou Edward me abraçando com carinho. – Eu sinto muito. Muito mesmo pela sua mãe.

          -Eu não entendia direito que estava acontecendo na minha vida. Não podia aceitar o fato de que nunca mais poderia ver a minha mãe, que ela nunca mais iria me embalar em seu colo e me contar suas histórias antes de eu dormir. Meu pai também sofria. Ele sempre me achou culpada, mesmo que até hoje ele tente esconder esse fato e ser um bom pai. Eu vejo o quanto ele é distante, uma parte dele me culpa por eu ter sobrevivido e não mamãe.

      -Ele está errado. Não pode fazer isso com você. Você não tem culpa de nada.

     -Devia ter sido eu! – chorei, sentindo como se a morte dela tivesse acontecido hoje. Eu nunca superei a morte da minha mãe.

     -Shh – ele murmurou colocando o dedo indicador em frente aos meus lábios. E depois passou o dedo em meus lábios, acariciando.

     -Eu levei anos para reestruturar minha vida. Quando completei 16 anos eu e meu pai nos mudamos para Phoenix. Na escola nova eu era quieta e introspectiva, mas estava ansiosa para fazer amigos. Eu queria me distrair e me divertir. Queria ser feliz. Foi nessa escola que conheci James – cheguei ao ponto em que eu não queria chegar. Agora vinha a parte humilhante e recente. E a que me atormentava todos os dias. Abracei-me a Edward. Todos os dias eu tentava esquecer isso, mas agora eu teria que me lembrar de tudo e ainda por cima contar para ele. Eu nunca contara isso a ninguém. Nem meu pai sabia disso.

       -Bella, fique calma, não chore – ele pedia acariciando minha face e beijando o meu pescoço gentilmente. Seus lábios me acalmavam, mas as lembranças me invadiam fortemente. A verdade é que eu estava com vergonha de contar isso para ele. Era muito humilhante, além de me fazer sofrer e lembrar tudo. Mas tudo o que eu queria era estabelecer uma relação com ele. Além do amor, queria que tivéssemos uma amizade, queria que confiássemos um no outro. Eu tinha que contar pra ele.

         -Estou bem Edward. Por enquanto. – falei, beijando seus cabelos. – Preciso te contar.

         -Na escola nova eu conheci um garoto. O nome dele era James e ele era o garoto mais popular da escola, ótimo em esportes e lindo. Tinha cabelos loiros e olhos azuis. Eu nunca pensei que um garoto assim podia se interessar por mim, mas logo na primeira semana ele demonstrou um interesse fora do comum por mim. Ele me perseguia e me perguntava sobre minha vida, querendo conhecer-me. Eu também em sentia envolvida por ele. Um dia ele se declarou pra mim. Ele disse que me amava e que queria ficar comigo para sempre. Nós nos beijamos e eu percebi que o amava também. Ficávamos juntos todos os dias. Eu o amei de uma maneira que nunca amei ninguém – agora eu estava envolvida nas lembranças e chorava enquanto falava, eu ouvia minha voz carregada de sofrimento, mas não pude evitar. – Um dia nós... Estávamos sozinhos e... Nós fizemos amor. Eu... Perdi minha virgindade com ele e... Foi a coisa mais maravilhosa que senti. Eu estava loucamente apaixonada por ele.

       Parei para respirar, eu me lembrava de cada momento. De seu corpo quente contra o meu. A maneira selvagem com que fizemos amor. Ele era incrível e me levou às alturas. Eu nunca tinha me sentido assim. Eu ainda me lembrava de seu corpo lindo e forte. Era difícil acreditar que tudo não tinha passado de uma ilusão. Eu sentia falta dele até hoje, mas eu sentia falta de uma mentira, pois aquele não era ele. Não o verdadeiro James, só uma ilusão.

        -No dia seguinte ele simplesmente... Ignorou-me. Fingiu que não me conhecia. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo, fui tirar satisfações com ele no recreio e... – parei soluçando enquanto as terríveis lembranças me invadiam. Aquele foi o pior dia da minha vida. – ele me humilhou. Na frente de todos!

      Flashback on

      Eu não entendia James. Estávamos tão bem juntos, tínhamos tido uma noite tão maravilhosa juntos. Eu nunca tinha me sentido assim na vida. Procurei James desesperadamente no recreio e o encontrei, ele estava com um grupo de amigos e eles riam debochados olhando em minha direção. Aproximei-me deles e vi uma expressão diferente no rosto de James. Era um James que eu nunca tinha visto. Debochado, sádico, malicioso.

        -James, o que aconteceu? – perguntei sem entender o porquê da cara dele.

       -Nada. Devia ter acontecido algo? – ele perguntou indiferente. Ouvi a risadinha de um dos amigos dele.

      -Porque está me ignorando? Estamos sempre juntos.

      -Acho que é porque eu não quero ficar com você – ele respondeu lentamente, como se falasse com uma criança retardada.

       -Como assim? A gente se ama tanto! Nós... nós queremos nos ver! – falei sentindo lágrimas aquecerem meus olhos.

      -Nada disso. Você quer me ver, porque é idiota. Eu não te amo e nem te quero por perto – ele respondeu friamente para mim.

      Eu ouvia as risadas maldosas dos amigos dele atrás de mim, mas os deboches pouco importavam agora. Eu só queria saber o que estava acontecendo.

     -Que brincadeira de mau gosto é essa? – perguntei sem querer acreditar no que ele dizia.

     -Não tem brincadeira nenhuma – ele disse friamente.

     -James, você disse que me amava. Eu também te amo. Só isso importa!

     -Eu menti – ele disse simplesmente rindo. – Só queria te levar pra cama mesmo. – ele falou descaradamente. Senti minha face queimar de vergonha e raiva, mas parte de mim ainda não acreditava no que ouvia. Devia ser um pesadelo. – E consegui. – ele finalizou, com uma risada fria.

      -James...

      -Foi tudo uma aposta com meus amigos – ele respondeu se virando para os amigos e rindo com eles. – A aluna nova... eles acharam você esquisita. Eu também. Queríamos saber como seria você na cama. Fizemos um sorteio e eu fui o sorteado e eles duvidaram que eu te pegasse. Apostamos – ele riu, como se fosse uma brincadeira engraçada. Eu senti minhas pernas fraquejarem e me agarrei no pilar de pedra pra não cair no chão. Lágrimas já rolavam no meu rosto.

     -James... eu não acredito... nós... nossa noite foi tão maravilhosa – falei sem conseguir me manter. Não me importava com a presença de seus amigos asquerosos.

    -Agora que tocou no assunto, quero estabelecer uma coisa. E que fique bem claro pra que você não repita e nem pense nisso nunca mais. A nossa noite não foi nada maravilhosa. Nunca senti menos tesão por um mulher. Não sinto nenhum desejo por você. Foi difícil fazer algo e ainda fingir que estava gostando.

      Cada palavra dele soava como um tapa na cara e eu sentia uma dor nunca sentida me invadir. Agora as risadas dos amigos de James reverberavam em minha cabeça e eu senti uma vergonha nunca sentida. Ele me humilhara na frente de todos. Laurent, um amigo de James se aproximou e falou, rindo debochadamente:

      -E James nos contou tudo. Ele disse que você sujou todo o lençol – todos riam alto. – Ele disse que nem pôde mais usar a cama de tanto sangue.

    Eu fiquei perplexa e humilhada, nem conseguir me defender eu consegui de tão atônita que eu estava. Corei e chorei na frente de todos enquanto as gargalhadas aumentavam e mais gente se juntava ao grupinho maldoso.

     -Agora vê se me esquece garota! – bradou James. – Nem sei como acreditou que alguém é capaz de se apaixonar por você. Ninguém jamais vai se apaixonar por você. Você é feia, sem graça e irritante. Além de depressiva demais. Fica chorando pelo cadáver da sua mamãezinha que já está em baixo na terra há tanto tempo que nem pó deve restar mais.

       Dei um gemido de dor, sem perceber que estava dando ainda mais vexame. Como James ousava falar da minha amada mãe? Como ele era tão cruel?

       -James... Não acredito... Eu te amo... Não faça isso... – me humilhei como uma idiota, mas não pude evitar. Eu amava aquele homem. Eu ainda não acreditava na realidade. Ele um pouco irritado me empurrou e eu com as pernas fracas caí no chão. Ajoelhada aos seus pés. Estava ridícula, mas nem ligava.

       -Mas eu não te amo garota! Tenho nojo de você – ele cuspiu na minha cara. Eu nem sentia mais nada. Ele tinha acabado comigo. Eu tinha entregado meu coração e minha alma pra ele e agora ele ia embora e levava embora tudo o que eu tinha. Não restava nada em mim.

       Agora toda a escola estava rindo. Talvez duas ou três almas bondosas não tenham rido e sim, ficado com pena de mim. Eu não queria piedade de ninguém. Isso também era humilhante. Levantei-me do chão, derrotada e humilhada. Sentindo-me suja e usada.

     Flashback off

     -Depois daquele dia, minha vida nunca mais foi a mesma. Eu não tinha mais auto-estima e nem confiança em mim mesma. Eu tinha um buraco no meio do peito e nem alma eu tinha mais. Eu era quase um robô. Nunca contei nada pro meu pai, mas ele percebeu que eu estava mal nessa cidade. Eu me deprimia e tomava remédios, mas nada adiantava. Ele não procurou saber qual era o meu problema, acho que ele nunca quis se envolver muito comigo. Só se mudou de cidade comigo e tentou seguir sua vida. Eu nunca mais fui a mesma. Eu já era sofrida por causa da minha mãe, mas tinha uma vida, agora nem vida mais eu tinha. Fui pra essa escola nova e só o que eu queria era recomeçar. Viver quieta e nunca, nunca me apaixonar – Percebi que eu tinha contado tudo para Edward. Agora eu chorava e Edward me abraçava amorosamente. – Eu nunca quis me apaixonar, e você Edward, é tão parecido com ele. Desde o primeiro dia tão estranhamente interessado em mim. Eu não confiava em você. Eu te odiava por mexer tanto comigo. Desde o primeiro dia você balançou o meu coração. Um coração que eu pensava não existir mais. Foi como se ele voltasse a bater, depois de tanto tempo. Você foi me curando aos poucos. Suas provas de amor me curaram. Talvez eu nunca me cure totalmente, mas com você eu me sinto... bem. Feliz. Amada. Sinto que com você é o meu verdadeiro lugar... para sempre.

       Edward me olhava com amor e raiva ao mesmo tempo. Suas mãos tremiam ao tentar limpar minhas lágrimas que ainda caíam.

       -Eu te amo, Bella. Aquele cara nunca te mereceu. Nem eu te mereço. Você é incrível. Passou por tanta coisa e ainda assim resistiu. Não sei se eu conseguiria e... E saiba que você é linda, desejável e maravilhosa. Eu amo estar ao seu lado e te amo. Nada do que aquele cara disse é verdade. Sua mãe esteja onde estiver tem muito orgulho de você – Edward me disse beijando minha face e me fazendo sentir coisas que James nunca me proporcionou. Edward me dava carinho, ele falava comigo com delicadeza, seus toques eram delicados e não selvagens como os de James. Eu percebi que eu amava Edward de um jeito que nunca amei James.

      -Eu também te amo Edward. E você me faz muito mais feliz do que James. Eu nunca senti algo tão bom por ninguém.

       -Eu odeio aquele cara – interrompeu-me Edward com raiva. – Ele te humilhou, você não merece nada assim. Ele disse coisas terríveis pra você. Ele... Eu queria acabar com ele. Ele merece uma surra.

        -Não Edward. Você não é violento, não gosto disso e... você pode se machucar.

         -Já sei, depois da surra que Jacob me deu, nem confia mais em mim para te proteger. Acha que posso tomar uma surra! – ele falou com raiva.

         -Nada disso. Eu confio em você. Só não gosto de te ver no chão, brigando, se machucando. Além disso, James agora é passado. O que importa pra mim é você.

         -Bella, porque depois de saber que eu te amava e que você me amava, continuou fugindo de mim?

         -Eu... não sei bem. Não me sentia pronta para amar de novo, os traumas ainda me acompanhavam, ainda me acompanham e me assombram ,mas espero ter uma vida feliz com você. Espero esquece-los. Você irá me ajudar. Você já me salvou. Eu ia me meter em algo que não teria mais saída, mas você me salvou – falei me lembrando das drogas e de Edward me tirando de lá.

        Edward me abraçou e eu me deixei mergulhar em seu abraço e esquecer tudo o que aconteceu no meu passado. E adormecer em seus braços. O lugar onde eu nunca mais queria sair.