Japão, 27 de Maio

Pov Matt

            Mello estava quieto, mais quieto do que o normal; não quieto de não falar nem sorrir, mas quieto de não sair muito do lugar mesmo. Não foi trabalhar comigo nas ultimas vezes, não quis me acompanhar no mercado, não correu atrás do gato quando ele arranhou o sofá... ele esta anormalmente quieto.

            Estava sempre com calça de moletom e uma camiseta regata qualquer, não deixava mais com freqüência os cabelos soltos e bem escovados – será que isso é culpa do casamento? – ainda bem que ele não estava ficando barrigudo! Alias, pelo contrário tinha emagrecido.

            Está começando a ficar inevitável.

- Ei Mello, estou indo trabalhar _anunciei ao passar por ele que estava esparramado no sofá com uma coberta até a altura dos olhos.

- Uhum... _concordou com a cabeça.

- Dê comida para o gato por mim, ok? _parei junto á porta _você vai ficar bem?

- ... _novamente fez um aceno com a cabeça.

- Então volto logo _dei uma ultima olhada para ele e sai.

            Realmente está começando a ficar inevitável.

Pov Mello

            Ele saiu visivelmente preocupado, acho que já percebeu o inevitável, mas não queria tocar no assunto pelo mesmo motivo que eu: medo.

            A cada dia que passa fico mais fraco, mais imprestável, mais doente. Já não faço grande esforço físico, estou sempre febril e desmaiando pelos cantos. Que final de merda para uma pessoa como eu, venceu o destino de perder os pais, lutou contra o maior assassino que já existiu – kira – superou a morte de pessoas queridas – L – conseguiu alcançar a maior felicidade do ser humano – o amor – e agora está nessa situação.

- Está na hora... _olhei para minha mão tremula _internação.

            Estou na fila de espera por um doador de medula, mas por enquanto nada e enquanto isso decidimos viver normalmente até que eu já não tivesse mais condições de ficar em casa apenas a base dos remédios normais.

            E esse dia está próximo, próximo de mais diria eu. Ambos percebemos isso, mas só de pensar que ficaríamos longe um do outro... não, só de pensar que ELE vai ficar sozinho aqui, eu não consigo. Eu sei que vai chorar todas as noites, eu sei que vai ficar horas acordado...

- Droga Matt... _fechei meus olhos e apertei o terço que estava escondido sob a camisa _eu não posso fazer isso com você.

Pov Matt

            Entreguei as coisas o mais rápido possível, que droga de trabalho eu estava cansado, não queria ficar longe dele.

            Mello tentava fingir que estava tudo bem, eu fingia acreditar que sim; duas crianças sem noção do que está de fato acontecendo. Ele com medo de me magoar e eu com medo de... medo de que? Ficar longe dele? Sou um filho da puta que só pensa em mim mesmo, egoísta.

            Ouvi meu celular começar a tocar num volume absurdo e sai do devaneio.

- SIM?! _respondi assustado _ah... O que?! Mas isso é ótimo! Iremos para ai imediatamente!!

            Acelerei, finalmente o hospital encontrou alguém para Mello! Todo esse pesadelo esta próximo do fim.

            Não pude deixar de ir embora furando sinais e acelerando absurdos, ao mesmo tempo sorri feito uma criança quando ganha um doce. Quando cheguei enfiei o carro de qualquer jeito na vaga – íamos sair logo menos mesmo – e subi de escada para chegar mais rápido – e também para diminuir minha euforia.

- MELLO! Você conseguiu!... Mello?! _fui chamando ele pela casa toda _MELLO VOCÊ ESTÁ VIVO?!

- Estou inferno!! _gritou do jardim _ consegui o que?

- O transplante cabeção! Vamos para o hospital já!!

            Normalmente eu teria pulado nele, mas resolvi pega-lo no colo... sabe, hematomas e tal não são bem vindos no estado dele.

- Me solta! Matt se acalma!! _apesar da bronca ele ria.

- Se arruma, vamos pra lá agora.

- Uhum _concordou meio que discordando, acho que o assustei.

- Ei, vai ficar tudo bem agora... você agüentou bem.

- Claro né, não posso deixá-lo sozinho _bagunçou meus cabelos e olhou para mim, de repente seus olhos se encheram de lágrimas.

- Mello?!

- Estou aliviado, só isso _sua voz saiu fraquinha, mas foi o suficiente para eu entender, dei-lhe um abraço apertado.

- Eu te amo, amo, amo, amo!

Pov Mello

            Segui o caminho todo com a garganta seca e borboletas no estomago, calma ai rapaz, eu não sei se estou pronto para entrar na faca assim! Foi tudo do nada! Matt não me deu tempo nem de... sei la! Tomar um cafezinho.

            Enquanto eu pensava merda, chegamos ao hospital conveniado. Desci com as pernas bambas e sentei no banco de espera para que ele resolvesse minha ficha. Sabe quando tudo ao seu redor parece meio longe? Pois é, estou CAGANDO de medo.

- Mello, vamos? _Matt estendeu a mão pra mim e eu ainda viajando, ele teve que me cutucar _acorda bobão, vamos?

- Espera, como vou fazer isso assim do nada? Não deve ser assim que funciona.

- ... _fez uma cara de tédio _eu fiz você vir aqui todos aqueles dias pra que?

- Exames.

- Então, vamos logo.

            Eu sabia que era uma explicação valida, só queria alguma desculpa para voltar pra casa... ok, respirei fundo e abaixei a cabeça. Então era isso, eu ia fazer aquela cirurgia logo e em pouco tempo estarei curado.

            É isso, antes assim no susto do que ficar internado como estava previsto. Fiquei eufórico eu confesso, mas meu corpo quase não reagiu a isso.

            Troquei de roupa e fui colocado no soro, estou agora deitado na cama dura do hospital numa sala qualquer.

- Sr Keehl, logo iremos começar, está se sentindo bem?

- Ah?! _me assustei ao ver um médico de 10 metros de altura entrar no quarto _sim, acho que sim.

- O procedimento é bem conhecido pela medicina, não se preocupe _tentou me acalmar _vou te dar mais alguns minutos _e saiu do quarto novamente.

- Cara... eu tenho é mais medo de você! _disse a mim mesmo quando vi ele sair.

- Mello? _a porta voltou a se abrir, mas agora era o ruivo _está se sentindo bem?

- ...sim _resolvi responder um SIM, mas no fundo é claro que NÃO! Quem em sua sã consciência estaria se sentindo bem numa hora dessas?

- Boa sorte _me deu um selinho e depois suspirou _levei um susto.

- VOCÊ levou um susto?! Quando eu sair daqui vou te enforcar.

- Ei... te amo _e sorriu.

            O sorriso dele foi a ultima coisa que lembro de ter visto antes de perder a consciência, o remédio que eles me deram me dopou até a hora da anestesia – isso está certo? Pareceu um procedimento meio irregular, mas tudo bem – estou tendo um sonho agora... ah, mas deixaremos isso para outra hora.

Pov Matt

            Aconteceu tudo tão rápido que eu ainda estou tremendo, sabe a vida é cheia de altos e baixos.

- Jeevas?

- Sim! _uma médica chamou a minha atenção _a senhorita é...?

- Sou a Dra. Kyo, médica suporte do Dr. Tomoyo que está operando o Sr Keehl, podemos conversar um minuto a respeito do seu companheiro? _me encaminhou até uma salinha.

- O Mihael ficará bem, certo? _foi a primeira coisa que consegui pensar quando sentei diante a ela.

- Sim, ele tem tudo para passar sem seqüelas da cirurgia, é um rapaz forte.

- Muito! _abri um sorriso

- Mas foram imprudentes ao não fazer um tratamento antes, se a doadora não tivesse aparecido, talvez ele não teria suportado mais do que um mês ou dois. Sabe o quanto isso é importante? Estão fingindo estar tudo bem, mas não está.

- ... _meu sorriso foi sumindo a cada palavra dela.

- Mihael está com a imunidade baixa de mais, seu corpo está frágil... notou todos os hematomas? O mundo não é um parque de diversões.

- ...eu... sinto muito! – caraca, que bronca! Quem ela pensa que é?

- Desculpa Mail _arrumou seus óculos _é que... eu perdi uma pessoa pela minha imprudência a muitos anos, éramos tão jovens quanto vocês. Eu não deveria estar lhe dizendo nada disso, mas o caso se agravou de tal maneira...

- Como assim…?

- Se o seu organismo rejeitar as novas células, talvez não terá tempo para uma nova cirurgia... alias, não haverá tempo com certeza.

- ...

- É necessário o tratamento de destruição de medula antes da intervenção cirúrgica Mail, o que estamos fazendo é um milagre para salvar a vida dele.

            Ow, já pararam para pensar que o mundo da voltas e mais voltas? Triste, feliz, triste, feliz... não agüento mais isso.

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