Depois de ter conversado por mais de duas horas com a médica, pude deixar sua sala e ir para a outra sala – a de espera. A cirurgia já havia acabado, era algo mais ou menos rápido, ele esta bem.

- ...que tédio _exclamei para meu DS agora desligado_ quando vou poder entrar no quarto dele?

- Tio! Tio posso jogar? _uma criança puxava minha camisa e pedia o DS _por favor, eu prometo que não vou quebrar.

- Hum, eu só tenho um jogo.

- Por favor! Estou esperando aqui já faz 5 horas... _suplicou chorosa.

- Desculpe jovenzinho, Kenji deixe-o em paz _sua mãe chamou a criança que imediatamente abaixou a cabeça.

- Tudo bem! Pode jogar _pedi que sentasse ao meu lado _sabe mexer?

- Uah! Obrigado! Sei sim... ah, eu adoro esse jogo, obrigado mesmo tio.

- ...Kenji! _o repreendeu mais uma vez.

Flash Back ~

- Mihael, pare já com isso! _Roger repreendeu Mello pela segunda vez, mas ele continuava a rir com o meu gameboy nas mãos.

- Bobão! Vem pegar, não é forte o bastante?! Vem, Mail bobão!!

- Sr. Roger... _disse choramingando agarrado as pernas do velho.

- Você ficará sem jantar hoje! _arrancou o vídeo game das mãos do loiro que fechou a cara _está me ouvindo?!

- Mas estou com fome! Ele que é um idiota que só fica jogando o tempo todo!!

- Vá agora para o seu quarto! _o velho pegou o braço de Mihael e o arrastou pelo longo corredor do dormitório.

- Sr. Roger meu gameboy!... senhor Roger!

            De tão zangado, o diretor saiu sem dar atenção para os meus gritos, mas não me importei, estava chateado por Mihael sempre fazer aquelas brincadeiras comigo. Roubava meus jogos, jogava minhas roupas no rio, escondia meus sapatos, chegou até a rabiscar meus cadernos da escola... sempre, sempre sorrindo travesso, correndo para perto de mim e de certa forma tentando chamar minha atenção – mesmo que da forma errada.

Fim do Flash Back ~

            Aquela pequena lembrança veio nostálgica quando vi a mãe do garotinho o repreender, nossa infância no Wammy’s house foi exatamente assim. Um sorriso se desenhou em meus lábios, Mello... você ainda se lembra dessas coisas? Mesmo me fazendo chorar, mesmo sendo o Mihael impossível de se lidar, era você o tempo todo na minha vida...

            Me voltei para falar com a senhora quando percebi que ela estava próxima a mim.

- Tudo bem! Eu também estou esperando uma pessoa e sei como é ruim, sou o Jeevas – costume bizarro de falar o sobrenome.

- Sou a senhora Hashimoto _me cumprimentou tímida _é tão jovem, está esperando por algum parente?

- Ah... sim _fiquei na duvida do que dizer por um momento _minha esposa.

- Casado? Que lindos, espero que ela fique bem _abriu um sorriso gentil.

- É... espero _engoli seco.

            Conversamos por mais algum tempo, logo finalmente pude entrar no quarto 45 para vê-lo. Mello ainda está desacordado e tudo o que pude fazer é deixar um bilhete antes de sair.

“Não somos soldados de brinquedo, você será recompensado por tudo o que fez por mim e pelo mundo... foi só um susto! Agora vai ficar tudo bem. Eu te amo”.

- Se esforce, está quase acabando _sussurrei, tirei suas madeixas do rosto, lhe dei um beijo na testa e então parti com o coração apertado.

            Cheguei em casa por volta das 3 da manhã, oras por que o tio Matt não ficou no hospital? Eles não deixaram sabe, não tem exatamente onde ficar... já que não é aqueles luxuosos e além disso o dinheiro que ganhamos é muito, mas o tratamento é mais, eu preciso trabalhar.

            A escuridão me fez tropeçar em alguma coisa, consegui tatear as paredes até encontrar o interruptor.

- Droga Mello, por que você nunca guarda seus sapatos? _reclamei para o nada, ele não está aqui.

            Era a primeira vez que eu volto para casa e ele não está, ou ele não virá. Comecei então a sentir um vazio, é claro que seria por pouco tempo – umas duas semanas – e eu poderia ir vê-lo quando quiser no hospital, mesmo assim é a primeira vez...

            Patinhas veio se enroscar na minha perna, esta com fome coitadinho, alias EU estou faminto. Fui até a cozinha, não tinha nada pronto – suspirei, até eu sei que cozinho mal.

- Bom, vamos pedir uma pizza Patinhas?... ah, são 3:30 da manhã _consultei meu relógio de pulso _... então vamos comer umas torradas com geléia? Hum? _o gato não me respondeu – oh, grande surpresa, além do mais ele gostava mais do Mello _seu traidorzinho.

            Saiu correndo depois de me dar uma patada.

- Volta aqui ow! Patas Keehl! – seu nome verdadeiro sim e daí?!

            Não consegui dormir afinal, esperei que o dia amanhecesse para ir até o hospital novamente, essa seria minha rotina. Ah não era tão ruim assim! Foi melhor do que imaginávamos.

 Pov Mello

            Merda, merda, merda, tudo dói! Minha coluna, minha barriga, minhas pernas, minha cabeça, até meu saco dói – o que?! Se quiser alguém delicado leia a princesa e o cavaleiro e não Matt x Mello – não sei que horas são, nem que dia é hoje e para acabar de fuder quero muito fuder, zuera, ir ao banheiro.

- Ow! Enfermeira?! _chamei o nada, até que encontrei aqueles aparelhos para chamá-las – espero que seja uma gostosa.

            Não demorou para que a porta se abrisse... mas que PORRA É ESSA? Só pode ser zuação com a minha cara. Era um enfermeiro 4 por 4, de onde tiraram esse brutamondes?! Nem quero mais mijar viu, deixa isso pra lá.

- Enfim acordou _ele ajeitou meu cobertor, sai ow! _como se sente?

- Muito bem, que horas é a visita?

- Não está com vontade de ir ao banheiro?

- NÃO! _puxei a coberta na altura dos olhos _que horas as pessoas vêm me visitar?!

- Dentro de 10 minutos, se alguém vier _opa, acho que o irritei.

- Ah... obrigado _forcei um sorriso meia boca _não preciso de mais nada.

- Não quer mesmo ir ao banheiro? _me perguntou de novo antes de sair.

- ... _mãe! Alguém vem me buscar por favor!!!!!

            Parece que fiz um esforço para a vida toda, fechei os olhos por causa da tontura repentina – estou podre ainda.

            Olhei para a janela e mesmo com a folha escura fechada, vi que era dia, então fiquei a noite toda dopado. Se eu puder ver cada nascer do sol então quer dizer que está tudo bem, certo?

- Mello! _um Matt sorridente com um buque de flores entrou no quarto _como está? Trouxe flores.

- Estou bem até... flores?! Espero que sejam de chocolates _tentei levantar, mas me doeu tudo ainda mais.

- Não levante!... você ainda não pode comer chocolates _me deu um selinho – ai como eu queria... deixa pra lá.

- Hum, dói tudo.

- Imagino, mas não está aliviado? Agora tudo vai voltar ao normal _sorriu, finalmente voltou a sorrir esse bobo.

- Sim, desculpa Matt...

- Shiu _levou seu dedo indicador aos meus lábios _se recupere logo para irmos ver o por do sol de cima da montanha Hiwako.

- Ah?! Achei que íamos transar antes!! Ai, ai, ai _senti uma pontada.

- Mello! _começou a dar risada da minha careta, besta _... você faz falta.

- ...também sinto a sua, está cuidando da casa direitinho?

- Sim! _seus olhos ficaram marejados pelas lágrimas.

- Ei, eu te amo.

            Meu coração cortou ao vê-lo chorar – ta ele chora o tempo todo eu sei – com certeza ficar sozinho é a pior coisa para o Matt, preciso realmente voltar logo pra casa. Acho que vou conseguir cumprir minha promessa afinal – prometi o que mesmo?! Ah sim, tudo ficará bem.

...

Será?

...

...

Pov Matt

            Bom, se ele tinha forças para falar as palavras: Chocolate e Sexo, então estava tudo bem! A cirurgia fora um sucesso, mas é claro que ambos sabíamos que o próximo passo dependia única e exclusivamente do seu organismo.

            As chances de rejeição eram mínimas, mas não eram zero. Sabe né, o azarado sou eu, então com certeza Mello ia sair dessa numa boa... certo?

...

ERRADO

- Errado, errado! Tem que estar errado!! _levantei com tal violência que a cadeira tombou para trás.

- Se acalme meu jovem _o médico não mudou sua expressão apesar disso _eu explicarei melhor quais são as chances do Sr Keehl sobreviver.

- Não diga isso como se fosse um jogo! Mas que droga, Mihael é a pessoa que eu amo, não diga algo assim como se fosse um maldito JOGO!!

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