004 - Vingança

[Daniel]

– Abre essa porta, Gui!

Eu batia incontrolavelmente na porta d’O Abrigo. Já fazia uma hora que eu estava ali, a impaciência tinha tomado conta do meu corpo. Mas Gui não respondia, eu não ouvia nenhum barulho, mínimo que seja, do lado de dentro. Ele tentava me enganar, fingindo que não tinha ninguém ali. “Quão burro ele pensa que eu sou?”.

– Eu sei que você está ai, Gui. Que merda, abre essa maldita porta! – Acertei um soco na porta trancada, ela nem se moveu. Quando percebi já estava esmurrando-a.

– Vai embora. – Sua voz parecia cansada, tensa.

Parei de bater. Ele tinha respondido, já era um começo. Me aproximei da porta, sabia que ele estava apoiado na mesma, provavelmente sentado de costas pra ela.

– Gui, já faz uma semana. Uma maldita semana. Nós não podemos deixar como está. Temos que fazer algo.

Silêncio. Torci para que ele ao menos continuasse falando. E ele continuou, sua foz realmente estava cansada. Era como se ele não tivesse dormido a semana inteira. Se esse fosse o motivo, então minha voz também estava, no mínimo, tão cansada quanto a dele.

– Nós não temos que fazer nada, Daniel. Foi idiotice criar esse grupo pra começo de conversa, e você sabe disso.

Acertei um soco na porta com toda a minha força e senti ele sobressaltando do outro lado. Minha mão ficou vermelha rapidamente e a dor chegou logo em seguida. Eu a ignorei. A dor da perda de meus amigos era, com toda a certeza, milhares de vezes pior. Agora eu estava gritando.

– Presta atenção Gui. Ed está morto, cara, morto! Alice está em coma, os médicos dizem que ela provavelmente não sobreviverá e se tornará um vegetal. Tudo isso por causa daquele maldito Eric e da... – Parei para respirar. Aquilo tudo já doía em meus pensamentos, falar era ainda pior. E a continuação doeu, realmente doeu.– E da Suzanna.

Guilherme permaneceu em silêncio. Apenas continuei, não tinha mais forças para gritar, agora minha voz não passava de um sussurro doentio.

– Então, se você quer ficar emburrado ai dentro, não me importo. Mas pelo menos me deixa entrar pra pegar minha katana. – Dei um passo para trás. Eu estava mais cansado que na semana passada, isso era verdade, mas eu tinha reconquistado algo que era minha maior característica. Tinha reconquistado e abraçado-a com minhas ultimas forças. – Eu vou sozinho.

Eu tinha reconquistado minha esperança.

Ficamos em silencio por mais um tempo. Até que, por fim, ele abriu a porta pesada de metal.

– Tudo bem. Entre. – Ele abriu espaço para que eu entrasse. – Tenho algo para te mostrar antes de qualquer coisa.

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