A coisa estava muito pior do que eu pensava. Serio, ver dezenas de vampiros guerreiros lutando violentamente contra outras centenas de homens-corvo é o bastante para tirar o sono de qualquer um por uma semana. Principalmente porque os guerreiros, em menor numero, estavam sendo gradativamente derrotados e mortos um por um. Em meio aquela sangria toda estavam os pais de Marie, mas os meus e os de Bruna, Evelyn e Cibele não estavam à vista e isso me deixou ainda mais em pânico. A Marie já chegou descendo a porrada em todo mundo com seu elemento o que deixou seus pais com uma cara de que acabaram de ver um anjo e não a própria filha, o extremo oposto disso.

– Marie? C-como? –gaguejou Stevie Rae, olhando para nos e rapidamente mudado sua voz de admiração para urgência – Como chegaram aqui? Ou melhor, que estão fazendo aqui? É perigoso demais para vocês!

– Permita-me discordar – Disse Cibele casualmente e em seguida virou-se para alguns corvos e olhando para o rio mais ao fundo – Ar, eu o invoco! Sopre-os daqui e leve-os para o rio!

Stevie Rae e Rephaim olhavam chocados enquanto uma forte brisa soprava e carregava os corvos para a água. Cibele olhou para Bruna em seguida:

– Quer fazer as honras? – perguntou ela

– Com muito prazer. – Bruna respondeu e também voltou-se para o rio – Água, venha para mim! Afogue-os agora!

Os corvos debatiam-se, lutando para respirar. Em seguida, Marie pareceu ter decidido tentar tambem. Ela se virou para a esquerda e gritou com um sorriso cruel:

– Terra, venha a mim! Abra-se e engula-os!

Uma imensa cratera surgiu sob os pés de alguns corvos e todos foram sugados para dentro dela.

Depois disso, foi a vez de Evelyn:

– Fogo, eu o invoco! – ela falou e lançou seu pior olhar de ódio as criaturas – queime-os!

O ataque dela foi o mais difícil de assistir. Ver os homens-corvo queimando vivos sem chance de escapar dentro da cratera foi perturbador.

– Desculpe por isso, Rephaim – Disse Evelyn – Eu sei que são seus irmãos e...

– Não são mais – disse o pai de Marie que mesmo assim parecia triste – Deixaram de ser no segundo que Kalona me renegou como filho

– Ainda bem! – Disse Marie, evitando falar palavrões na frente de seus pais porem, insensível como sempre – eu odiaria ter essas coisas como tios!

– Marie Rae Johnson! Não se esqueça de que o seu pai já foi uma dessas “coisas” tambem! – esbravejou Stevie Rae

– Com licença, mas eu acho que este não é o melhor lugar para vocês terem um momento familiar – falei quando notei que mais Raven Mockers se aproximavam – Vamos sair daqui!

– Heaven esta certa – falou Dean que esteve o tempo todo no nosso encalço. – Onde estão os outros?

– Zoey e Stark ainda estão dentro da sala do Grande Conselho. Shaunee, Erin e Damien estão do lado de fora – Disse Stevie Rae. – Vamos!

– Espere! – Parou Evelyn quando todos começaram a correr e voltou-se para o seu guerreiro – Dean, eu preciso que você fique aqui e ajude os Filhos de Erebus.

– Oque?! – Dean quase deu um pulo – Sem chance! Eu sou seu guerreiro e é meu dever te proteger! Não vou deixar você enfrentar isso tudo sozinha!

Pela cara de Dean dava para perceber que ele ainda esperava que Evelyn dissesse algo como “Brincadeirinha! Vamos chutar o traseiro de Kassandra, Kalona e Neferet todos juntos e quando terminarmos podemos pedir comida chinesa e assistir alguns episódios de The Big Bang Theory!” mas ela continuava impassivelmente séria.

– Por favor! – ela implorou enquanto lagrimas escorriam por seu rosto

Dean de repente a puxou para si e a abraçou enquanto dizia em seu ouvido:

– Prometa que vai voltar para mim – ele suspirou – só então a deixarei ir

Eu me virei em seguida e me afastei um pouco, levando os outros comigo para dá-los privacidade. Alguns minutos depois Evelyn nos alcançou.

– Você esta bem? – perguntei, preocupada

– Vou ficar – respondeu ela, enxugando o rosto com a manga da blusa – Agora vamos. Não podemos mais perder tempo.

Recomeçamos a correr pela ilha que para nos era como uma segunda casa. Cibele e Marie usavam seus poderes para livrar nosso caminho e chegarmos mais rápido. Cerca de uns 20 minutos depois nos percebemos que havíamos chegado tarde demais: Kalona e Neferet haviam sido libertados pela filha Kassandra, Eros e Alysson. Neferet estava preparada para arremessar seus gélidos filamentos de trevas contra meus pais. Não pensei duas vezes e corri ate eles:

– Mãe! pai! Não! – no instante seguinte eu me coloquei entre eles e Neferet – Espirito, venha para mim!

O elemento entao formou um escudo lilás brilhante que nos protegeu das trevas.

– O que é isso? – Neferet questionou furiosa, atacando novamente– Quem é você?

Não respondi. Os ataques mesmo bloqueados pelo espírito doíam. E muito. Não pude deixar de gritar

–Heaven! – Gritou minha mãe quando meu escudo desapareceu e eu cai de bruços, derrotada. Lutei para abrir meus olhos e constatei que Evelyn, Bruna e Cibele estavam caídas como eu. Marie resistiu por alguns segundos a mais com sua capacidade de ficar invisível, mas logo foi atingida da cabeça por Kalona e caiu tambem.

“Nos fracassamos” pensei comigo mesma, minha cabeça tombando novamente “ Somos fracas e por isso vamos pagar e todos que amamos vão morrer conosco”

Não duvide do seu valor, filha. Você é mais forte do que pensa

Reconheci a doce voz da Deusa como se fosse a minha própria e respondi: “de que adianta ser forte se nem mesmo sei onde encontrar essa força”

Então eu lhe darei essa força, filha. Apenas prove que a merece. Levante-se

De algum modo, aqueles dizeres me deram coragem. Abri os olhos e lutei para me colocar de pé. Quando olhei para o lado vi que Cibele, Evelyn, Marie e Bruna estavam em pé tambem. O modo como Evelyn olhou para mim eu pude facilmente decodificar como: “você tambem ouviu?”

Gesticulei com a cabeça para todas e depois voltei-me para Kassandra, Neferet e Kalona. Os três debocharam:

– Os bebes levantaram enfim – falou Kassandra

– Prontas para enfentarem seu destino? – questionou Neferet

– Mais do que nunca, Neferet – e depois olhei para as outras – Agora!

Nós nos separamos rapidamente, atacando com os elementos e nossos poderes. Meu objetivo era alcançar Evelyn, pois na bolsa dela havíamos trazido velas coloridas e um acendedor. Ela devia ter imaginado que era isso que eu buscava pois rapidamente abriu a bolsa Prada e pegou a vela roxa e o acendedor:

– Heaven! – ela chamou-me, jogando os objetos para mim e depois jogando a vela amarela para Cibele, a azul para Bruna, a verde para Marie e guardando a vermelha para si

Eu mesma não tinha idéia do que esperávamos que acontecesse mas agíamos por puro instinto. Marie usou a terra para fazer grossas vinhas brotarem do chão e se enrolarem nos corpos e asas dos inimigos deixando-os imóveis.

– Mas o que... – começou Neferet mas ela voltou sua atenção novamente para nós

Aproveitamos para tomar nossas posições e comecei o ritual aproximando-me de Cibele ao leste

– O Ar é liberdade e leveza – comecei a falar enquanto acendia a vela, sabendo que era a voz da Deusa que fluía por mim – é o elemento que nos enche de vida a cada segundo de cada dia. Ar, venha para este circulo!

Andei em direção ao sul, ficando em frente a Evelyn

– O Fogo é luz e coragem. E o elemento que aquece e nos da conforto. Fogo, eu o invoco a este circulo!

A vela nas mãos dela acendeu automaticamente, com uma chama grande e cheia de brilho. Continuei andando em direção ao oeste e a Bruna

– A Água é símbolo de pureza e sabedoria. É o elemento sem o qual seria impossível viver. Água, venha para este circulo!

Acendi a vela azul nas mãos de Bruna e segui ate Marie ao norte

– A Terra representa a força e firmeza. É o elemento que podemos chamar de lar. Terra, venha para este circulo!

Depois de acender a vela verde de Marie, eu tomei o meu lugar no centro do circulo, respirei fundo e falei:

– O Espirito é poder e vida. É o elemento que preenche nossas almas e nos mantém em contato com a Deusa. Espirito,em nome de Nyx eu o invoco a este circulo!

Não soube direito o que aconteceu mas no momento seguinte que terminamos de fechar o circulo uma grandiosa luz brilhante surgiu diante de nós:

– Merry Meet minhas filhas e meus parabens. – disse a Deusa – Voces tiveram coragem de tentar e não desistiram de lutar em nome da luz e de quem vocês amam. Vocês provaram serem merecedoras das dádivas que receberam e por isso receberão minha bênção novamente para que possam proteger todos que de ajuda precisarem.

A Deusa estendeu as mãos ao céu recolhendo algo que parecia como a própria poeira das estrelas e da lua, em seguida ela soprou gentilmente aquele conteúdo sobre nós.

A sensação foi maravilhosa, tanto que todas nós fechamos os olhos para desfrutá-la. Abri os olhos quando senti algo em minhas costas ficar mais e mais pesado. Arregalei os olhos quando constatei que o que estava pesando em mim era um par de lindas asas de anjo imaculadamente brancas com detalhes em lilás e marrom. Notei também que minhas roupas haviam mudado também e agora eu vestia um fabuloso vestido preto cintilante com um cinto lilás, um par de luvas transparentes até os pulsos e um par de sandálias com tiras pretas e salto lilás. Olhei para o lado e vi que Evelyn, Marie, Bruna e Cibele também haviam ganhado asas e roupas de cores, formatos e estilos diferentes.

Eu não conseguia acreditar que aquelas asas maravilhosas eram minhas mesmo. Levei uma das mãos às costas e puxei firmemente uma daquelas delicadas penas brancas. Doeu. Me surpreendi quando consegui mexe-las também. A Deusa pareceu compreender nossos rostos perplexos

– Agora quando invocarem os elementos suas asas aparecerão e quando os dispensarem vocês voltarão ao normal. Vocês agora serão as minhas Guardiãs, protetoras da Terra e do meu reino. Eu confio em vocês e sei que se sairão bem. Nós nos veremos novamente antes do que imaginam. Abençoadas sejam.

E ao terminar de dizer isso, Nyx desapareceu do mesmo modo como havia chegado. Eu tinha que admitir que sentia o poder do Espírito fluindo pelo meu corpo. As garotas e eu nos juntamos e encaramos Neferet, Kassandra e Kalona que tinham conseguido se libertar. Marie lhes lançou o seu sorriso mais cruel e falou:

– Agora chegou a hora da diversão! Que comece o round 2!