“Nada de ruim pode acontecer com Silena. Não com a nossa Silena”

...

A sala de espera do hospital enchia e esvaziava. Parentes de Silena, amigos da escola, conhecidos e até mesmo quem nem a conhecia vinha ali, para tentar saber alguma notícia. A noite passou com dificuldade, e todos sentiam as dores do dormir sentado.

Esperavam uma notícia vinda do médico, que só deu as caras pela manhã.

–A senhorita Beaureugard está bem. Ela quebrou o braço, feriu a perna e bateu a cabeça. As contusões na cabeça são as mais preocupantes, pode ocasionar uma perda de memória do dia do acidente, ou até mesmo enxaquecas fortes e tonturas. Mas não é nada alarmante com o que poderia ter acontecido. Podem entrar de três em três para visita-la, mas não demorem muito. Ela ainda está dormindo, está com sedativo para não sentir dores. Mas ela acorda de vez em quando, não fica muito tempo consciente.

Ele deu as costas, dizendo que o primeiro trio podia segui-lo. Sem nem ao menos conversarem, sabiam que as primeiras pessoas a ir deviam ser Afrodite, a mãe, Drew, a irmã e Charles, o namorado. Ficaram cerca de quinze minutos no quarto da paciente, e então retornaram à sala de espera, para que os próximos pudessem ir.

Thalia, Annabeth e Katie se ergueram de onde estavam sentadas imediatamente: estavam preocupadas com a amiga. Seguiram até o quarto 205, onde Silena estava internada.

A amiga, mesmo com aquela camisola ridículas do hotel, estava linda. Seus longos cabelos negros se espalhavam pelo travesseiro, e com seus olhos fechados, parecia estar num sono tão sereno, o que a deixava parecida com uma Bela Adormecida morena. Contudo, havia tantos fios ligados nela, e tantos aparelhos produzindo um barulho incessante, que quebrava um pouco daquela mágica.

O silêncio reinava sobre o quarteto de amigas. Analisavam a cena a qual foram submetidas, e qualquer um podia jurar que aquele brilho nos olhos de Thalia era uma lágrima que teimava em cair. A loira foi a primeira a se aproximar da cama, passando calmamente a mão pela bochecha da amiga.

–Será que... – Thalia sussurrou – Ela consegue se lembrar de quem é QC?

–Seria um alívio para nós – Katie assentiu.

–Teremos de esperar ela acordar. – Annabeth murmurou – Espero que não tenha acontecido nada demais.

–Ela vai ficar histérica por ter de usar esse gesso. – a de cabelos castanhos comentou.

–‘Vai estragar meu bronzeado’ – a loira imitou a voz da que estava adormecida.

–‘Não tenho nenhuma roupa que combine com isso’ – a morena continuou.

–Nunca ouviram o ditado não falem pelas costas do outro? – foi apenas um sussurro, mas ela havia dito.

–Silena! – Thalia pulou em cima da amiga, a abraçando com força.

–Ai!

–Desculpa. – se afastou envergonhada.

–Como está, Si? – Katie estava insegura.

–Bem... Não sei como vim parar aqui, mas bem. – parecia doer falar, e a cada piscada seus olhos demoravam tanto para abrir novamente que ela parecia ter voltado a dormir – Minha cabeça dói tanto.

–Você se lembra de algo? Do acidente? –foi a vez de Annabeth perguntar – De antes do acidente?

–A última coisa que me lembro... É de ter comido uma barra de cereal de morango no café da manhã. – ela demorou para proferir a frase completa – Depois tem uma espécie de... Nuvem.

As três ficaram cabisbaixas, antes de perceber que a hospitalizada havia dormido novamente.

–Amamos você, Si. – as três murmuraram antes de se encaminhar para a porta.

...

–Ela não se lembra de quem é QC – Thalia comentou enquanto pegava um café expresso da máquina do hospital.

As três haviam ido até o refeitório do hospital enquanto Percy, Nico e Travis iam visitar a nova amiga. Havia alguns médicos, enfermeiros e funcionários do hospital ali e aqui, e também pessoas que acompanhavam outros pacientes.

–Não. – Annabeth estava cabisbaixa.

–Pelo menos ela está bem. – Katie, como sempre, tentava ver o lado bom das coisas.

–Sim – a loira tentava esquentar suas mãos com o copo de café.

O frio da manhã batia no hospital, e as roupas delas não eram as mais indicadas para tais temperaturas. Katie era a única que não sentia frio, pois Travis havia cedido seu casaco à ela.

Os meninos voltaram, exceto Beckendorf, que ficou junto à namorada, e sentaram-se na mesa juntos com as garotas, fazendo-as calar o assunto ‘QC’. Annabeth fuzilava Percy com o olhar, e este parecia envergonhado. Katie e Travis ficavam murmurando melosidades, e Nico chamou Thalia.

–Sobramos de novo – ele cochichou.

–Como sempre. – ela ria.

–Vem.

Eles caminharam até a área externa do hospital, livrando-se um pouco daquela brancura excessiva. A manhã deixava rastros de neblina próximo ao chão, fazendo que a cada respiração dos dois uma névoa aparecesse a frente do rosto deles.

–E então... – Nico estava com as mãos nos bolsos da calça – Silena não está tão mal.

–Acho que poderia ser pior. – ela deu de ombros.

–E por que Annabeth está quase matando Percy com olhar?

–Ela o viu beijando Calipso.

–Calipso?

–A loira, no C.S.

–Ah, entendi.

Os dois ficaram lado a lado, trocando conversas à toa, tentando se livrar um pouco daquele clima ruim que qualquer hospital deixava.

...

Uma semana depois do acidente, Silena recebeu alta do hospital. Seu braço ainda estava engessado, seu corpo estava roxo em diversas partes e ela tinha uma receita médica gigante, com diversos tipos de remédio para tomar.

Enquanto Afrodite e Charles foram busca-la no hospital, as amigas ficaram na casa de Beaureugard, esperando sua volta. Tinha sido uma semana desgastante, que passaram quase completa – tirando o período de aula – naquele ambiente completamente branco.

O carro da senhora Beaureugard apontou na rua, tanto quanto as meninas correram para a sala, esperando a amiga. Tiveram de se contar quando a porta abriu para simplesmente não pular em cima dela.

Charles a carregou até o quarto dela, onde a deitou na cama – previamente arrumada pelas amigas – e sentou-se ao seu lado. Ele estava simplesmente horrível: fundas olheiras destacavam-se sob seus olhos negros e os cabelos estavam desgrenhados. As roupas amassadas pareciam não ser trocadas desde ontem – talvez porque não tivessem sido. Ele havia ficado cada momento que lhe permitiram ao lado da namorada.

As meninas sorriram para a amiga – agora mais sóbria, mas não muto.

–Garotas... Vocês se importam se eu dormir um pouco?

–Não, claro que não, Si. Amamos você. – as três saíram do quarto, deixando-a somente com Beckendorf.

–Meninas – Annabeth disse ao se sentarem no sofá da sala – Semana que vem é o lançamento do nosso CD!

–É mesmo, havia me esquecido. – Thalia assentiu.

–Tomara que Silena esteja boa o bastante pelo menos para tirar algumas fotos. – Katie sorriu.