–Garotas – Annabeth disse – Em breve, todos nos conhecerão.

No corredor, somente os passos apressados de uma Katie atrasada se ouvia. Todos os alunos - até mesmo aqueles mais preguiçosos - já estavam na sala de aula, e ela temia ser mantida de fora da sala.

As sandálias anabella da garota faziam o toc toc ritmado de qualquer salto, e ela já havia desistido de tentar entrar na sala, já que, além de tudo, ainda não conseguia se lembrar do seu horário e, portanto, estava indo para seu armário para pegá-lo e...

E seu pensamento não desgrudava de um certo garoto, um garoto Travis. Ela ainda podia sentir o gosto dos lábios do garoto, podia sentir a sua mão firme em sua cintura. Conseguia lembrar de cada momento dos poucos segundos em que estiveram tão próximos e, mais do que tudo, se perguntava como seria a próxima vez em que se encontrassem.

Quer dizer, como ele agiria? Voltaria a ser somente um amigo? A cumprimentaria com um beijo? Ou com um abraço? E, também, como ela agiria?

Sem ainda ter uma resposta, chegou ao seu armário e, ao abri-lo, um pequeno bilhete amarelo caiu, parando a seus pés. Ela agachou e o recolheu.

A não-tão-santinha-Katie não consegue parar de pensar em seu queridinho. E seu eu te dissesse que ele nem pensa mais em você?

Oh-oh... Hora de desapaixonar, little bitch. -QC.

Rangendo os dentes, Katie amassou o pequeno papel e jogou em uma lixeira próxima dali. Esta QC, definitivamente, era enxerida. E ninguém sabia do seu beijo, a não ser... Calipso, claro.

Nem mesmo suas amigas sabiam do ocorrido, somente aquela... Argh. Agora, não havia dúvidas: Calipso voltara como uma amiga do mal, e assinava agora como QC. "Me desculpa, cara QC, mas você não vai mais me atormentar", a garota pensou. Entretanto, nem com isso deixou de pensar se alguma das informações do bilhete era verdadeira.

Ela não queria mais ir para a aula, não tinha ânimos para tal. Sentou-se em uma das escadas do lugar, esperando o sinal para a próxima aula. Estava no corredor a leste, aquele próximo aos bebedouros e ao banheiros. Foi ali que escutou alguém vindo, cantarolando uma música desconhecida.

Não era uma menina, mas também não era Travis. Era Percy, o primo de Thalia. Sua voz não era lá essas coisas, mas, certamente, era uma voz gostosa de se ouvir. Ele passou pela garota com as mochilas nas costas - provavelmente tinha sido expulso da sala, novamente, puf - mas pareceu ter mudado de ideia no meio do caminho, dando meia volta e ficando de cara com ela.

–E aí, Gardner? - ele disse antes de jogar a mochila alguns degraus abaixo de Katie e usá-la como travesseiro.

–Olá Percy.... - ela comentou vagamente.

–Bem, Travis já criou coragem para te dizer logo?

–Ãn? Dizer? Dizer o quê? - seu rosto já estava vermelho, e ela tentou disfarçar a inabilidade em mentir e a vergonha arrumando seu cabelo.

–Rá, parece que sim. Ele realmente gosta de você. Devia dar uma chance a ele. Stoll não é uma má pessoa. - ele balançou os ombros enquanto falava.

–E você? Criou coragem para falar com a Annabeth? - disse outro garoto que se aproximava.

Dessa vez, aí sim, era Travis, que também estava vermelho por descobrir que seu amigo falava sobre seus sentimentos tão abertamente assim com a dona de todo seu amor.

–Ah, você estava ai, Travis - Percy desconversou coçando a barriga.

Travis sentou um degrau abaixo de Katie, e olhou-a. Ficou ali, parado um bom tempo, sem saber o que fazer. A garota, também, não sabia o que fazer. Além de ter de pensar como agir, ainda havia o primo da amiga sentado ali, só observando.

Demorou um tempo, mas mesmo com toda sua lerdeza, Percy percebeu que não era ali mais um bom lugar para ficar. Colocando a mochila nas costas novamente, anunciou para os amantes sua partida:

–Vou, ãn, ali. Pra qualquer lugar.

Quando o garoto dos olhos verdes tomou certa distância, o loiro virou para a sua amada, sorriu de canto e soltou um "oi". Katie respondeu com um "ei" quase inaudível, mas, criando coragem, perguntou:

–O que Percy disse é verdade?

–Eu já te disse que sim, Katie... - ele se aproximou um pouco da tão sonhada boca, a dona do sorriso mais lindo, segundo seus pensamentos.

Ela podia sentir seu coração palpitando cada vez mais forte, e abaixou o rosto, com muita vergonha para olhar nos - lindos - olhos castanhos do garoto.

–Hey, Katie - Travis puxou seu queixo, delicadamente, para cima, obrigando-a olhar em seus olhos - Meu beijo foi tão ruim assim?

Até mesmo com sua timidez, ela não podia aguentar tanta coisa falsa saindo da linda boca que ele tinha. Não fazia sentido "meu beijo" e "ruim" estarem na mesma frase de Travis. Então, ela se aproximou um pouco e sorriu, ainda olhando para os olhos do querido, esperando ele vencer o pouco espaço que os separava.

O coração do menino não podia suportar tanta alegria: ela parecia corresponder seu amor. E, quando ele já ia quebrar o espaço remanescente, ouviu um "rã-rãn" vindo de suas costas. Separaram-se e viram todos os seis amigos - três dela e três dele - parados, olhando-os.

–Não queríamos mesmo interromper mas... - começou Charlie coçando a cabeça, sem saber como prosseguir.

–Mas... - continuou Silena - nós vamos matar o resto das aulas para irmos ao parque de diversões que chegou a cidade.

–E queríamos que vocês fossem conosco... - Thalia completou.

–Até mesmo a Annabeth vai ir conosco - Percy disse, com alegria escorrendo de seus olhos.

–Vamos conosco? - Nico completou.

Travis olhou para Katie, que olhava para ele também.

–Por que não? - Travis deu de ombros, levantando-se, esperando que Katie viesse também.

–Vamos lá.

Enquanto os oito caminhavam pelos corredores, a mão de Travis alcançou a de Katie, apertando seus dedos tão firmemente, como se não fosse soltá-los jamais.

–Posso?

–Por favor.

Seguiam não mais dois grupos de quatro, mas um só grupo de oito, esquecendo todos os tipos de problemas.