Peguei o papel de suas mãos e li em voz alta:

“Ell,

Desculpe-me por não te avisar que sai, não culpe Martie nem nenhum de meus irmãos, eles também não sabiam... Você provavelmente nem sabe o que é uma missão, mas o ponto é que é secreta, tenho que recuperar um objeto perdido dos deuses. Eu nem deveria estar dizendo isso... Eu vou ficar bem, você não precisa se preocupar, antes de sair deixei uma carta com Martie e Erik, eles saberão o que fazer se você precisar de ajuda. Você deve estar com raiva de mim, mas eu precisa ir em uma missão, venho pensando nisso a muito tempo.

Espere por mim,

Mark”

Fechei os olhos.

- Obrigada, Martie.

Levantei do chão do chalé de Hermes e sai. Sequei os olhos e imaginei que todos já sabiam aquele momento sobre o meu sonho e seu conteúdo, mas ninguém me abordou como eu imaginava, nem nada parecido. É claro que olhavam para mim de eu jeito estranho, como se quisessem... Sei lá, se curvar o tempo todo!

Eu já vestia a blusa do acampamento, minhas botas e um short, então não me importei em passar no chalé 10 novamente. Fui para o pavilhão, sozinha, onde pedi para Hermes, Afrodite e Eros para proteger Mark. Sentei a mesa de Afrodite e quando estava acabando de comer, alguém atrás de mim disse:

- Mark vai ficar bem.

Era Erik parado segurando uma maça e usando sua típica calça preta.

- Sei que vai. – Virei de volta para a mesa.

- Ele não podia te contar. – Disse Erik sentando ao meu lado.

- Você sabe que não pode sentar aqui, não sabe? – Falei sem olha-lo nos olhos.

- Mark queria isso ha muito tempo... Provar para seu pai que ele era capaz. – Erik disse me fazendo olha-lo.

- Eu não fico triste, fico feliz por ele... E um pouco preocupada.

Erik levantou suspirando.

- Sei que ele disse que te deixou nas minhas mãos.

Levantei o olhar para Erik e ele não tinha expressão nenhuma.

- Se precisar de alguma coisa... – Ele disse deixando a frase no ar.

Balancei a cabeça afirmando e voltei a olhar para o meu prato cheio. Não tinha mais vontade de comer.

...

- Se você apoiar assim, terá mais força e provavelmente sua flecha chegará mais longe. – Um dos filhos de Apolo me ensinava.

Apoiei a mão nos lábios como ele tinha me ensinado e soltei a corda. Minha flecha disparou rápida e certeira, fazendo o alvo balançar hesitando em cair.

- Muito bom! – Elogiou o filho de Apolo.

Sorri e olhei para a minha direita. Ricardo reparava em Carol que estava passando, e sem querer disparou a flecha pronta em seu arco, atingindo uma árvore sem querer, fazendo sua ninfa despertar e correr atrás dele com uma flecha na perna.

Torci a boca e lembrei da minha promessa. Agora que eu não podia falhar mesmo com ele, afinal eu era uma deusa filha de dois deuses do amor... Pensar antes de prometer algo? Anotado.

- Ell!

Virei e vi Steve e Will vindo até mim.

- Meninos... oi. – Falei sorrindo.

- Soubemos do que houve. – Will disse.

- Você fala do que? Aconteceram muitas coisas.

- Sobre as duas, mas quanto a Mark... Ele ficara bem.

- Sei que sim, ele é valente e esperto.

- Esse é o espírito! – Will disse empolgado.

Nos rimos.

- Eu queria saber sobre o meu irmão, Nathan. Vocês sabem algo dele?

Eles se entreolharam.

- Ah, Nathan... Ele era um ótimo conselheiro chefe, legal com todo mundo e corajoso, sabe? – Steve começou. – Queria uma missão tanto quanto Mark queria, quando conseguiu deixou Nissa no comando. Era algo um pouco arriscado, achar um objeto roubado dos deuses, mas ele foi. Mas nunca voltou e depois de alguns meses, soubemos que tinha morrido. E um dia a noite, uma de suas irmãs sonhou com ele, no sonho ele dizia para encontrarem seu corpo e fazerem um velório, como você sabe se o corpo não é enterrado dignamente, seu espírito fica vagando por ai. Procuraram seu corpo em todo lugar até que enfim acharam e você não vai querer saber como ele estava...

- Que horror! – Cobri a boca.

- Mas morreu como herói! Em suas mãos estava o tão objeto roubado! Os deuses já começavam a brigar, quando a lira de Apolo foi devolvida.

- Mas o chalé de Afrodite esta sem conselheiro. – Steve observou.

- E Nissa?

- Ela é apenas uma substituta, seus irmãos já quiseram que ela assumisse o cargo, mas ela disse que não faria bem.

Pensei em como Nissa se saia bem comandando o chalé, não entendia o porque de ela não ser a conselheira. Mas entendi o porque de que todos quisessem que eu não enlouquecesse. Eles provavelmente pensavam que eu já sabia da história de Nathan, pensaram que eu pensaria que aconteceria o mesmo com Mark.

- Eu vou dar uma volta...

- Acho melhor vir comigo antes, Helena. – Uma voz ligeiramente embargada disse.

Era o Sr. D.

- Claro.

Caminhamos em silêncio para a casa grande. Não arrisquei falar nada. Chegando lá, Quíron me esperava em sua cadeira de rodas em frente a uma mesinha com outros dois lugares. Sr. D sentou na frente de Quíron e eu sentei na que ficava entre eles dois.

- Helena, sei que sabe que nos sabemos que você sabe que é uma... deusa.

No inicio, a quantidade de “sabe” da frase de Quíron me deixou confusa, mas depois consegui elaborar uma ótima resposta:

- Hum...

- Também sabemos que Afrodite e Eros se comunicaram com você em seus sonhos. – Sr. D, disse. – Ela me pediu para que eu acabasse de explicar.

- Sim. Quando sua mãe estava gravida, os deuses votaram, eles decidiram a sua vida ou sua morte. Todos foram contra, menos Hermes, Deméter e Perséfone. – Quíron disse.

Olhei para Sr. D, ele parecia ligeiramente envergonhado.

- Você continuou viva, porem com a maldição. Os deuses decidiram outra coisa... Sobre a sua imortalidade... Que você pudesse escolher entre ela ou a morte, somente com 16 anos.

- Quer dizer que quando eu fizer 16 anos poderei escolher entre ser semideusa ou uma deusa? – Perguntei esperançosa.

- Não exatamente... Entre ser uma deusa... Ou uma mortal.

Sorri. Seria muito fácil. É claro que escolheria ser uma mortal! Poderia me casar com alguém comum, ter filhos comuns, uma vida comum... Uma morte comum!

- Está claro que você não pode fazer ninguém se apaixonar por ninguém e nem você pode se apaixonar por ninguém até seus 16 anos? – Dionísio retrucou.

- Isso não será problema. Mas eu tenho uma pergunta... Por que eu não fui criada no Olimpo? Sem riscos de me apaixonar, apaixonar ninguém ou fazer ninguém se apaixonar por mim? Se eu não soubesse, poderia ter criado outra guerra!

Sr. D e Quíron se entreolharam.

- Percebemos isso tarde demais... Tivemos que interromper de alguma maneira... Seus pais adotivos não queriam contar, por tanto, mandamos algo que os fizesse contar. – Sr. D disse.

- O que você quer dizer com isso?

- Foram os deuses que mandaram o monstro que matou seus pais adotivos, Helena.

Fiquei em um pequeno estado de choque.

- Quem teve a ideia?

- Todos os ... – Interrompi Quíron.

- Quem teve a ideia?

- Sua mãe. – Quíron abaixou a cabeça.

- Eu... Eu... Eu acho que já vou... – Disse me levantando sem olha-los. – Terminamos aqui.

Eu não corri, eu não chorei. Apenas andei para o meu chalé. Ricardo veio falar comigo, estava falando algo, mas eu não prestei atenção, só passei direto por ele e entrei no chalé 10. Deitei em minha cama, mas não chorei. Já bastava de lágrimas por alguns dias. No principio ia dormir, mas não queria sonhar com ela. Não queria que ela me consolasse com suas palavras vazias. Não precisaria de Afrodite e nem de nenhum deles quando fizesse 16 anos.