Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer
Notas iniciais do capítulo
Olá! Aqui estou eu com um capítulo novo! Era para eu ter postado ontem, mas o sinal caiu e não teve jeito de consertar.
Os textos entre aspas representam conversas por pensamentos ou telepatia.
Boa leitura!
O início da semana chegara e com eles a tão agradável viagem também chega ao fim. Todos voltavam para casa com sorrisos estampados nas faces. Alguns com motivos, outros sem, mas sempre mantinham a alegria e a convivência agradável que tanto gostavam. Ino estava feliz e insegura ao mesmo tempo. Feliz por finalmente amar e ser correspondida; insegura porque não tinha a menor ideia do que poderia esperar para o futuro, o futuro deles. Gaara estava tranquilo como sempre. Muitas vezes ela estranhava aquele jeito tão sereno de lidar com tudo o que via e sentia, mas aquilo também era algo que o deixava ainda mais encantador. Ela não sabia ser assim e sabia que ele preencheria esse espaço vazio em seu ser. Sempre ouviu falar que em um namoro um deveria ajudar o outro a superar suas fraquezas e estava, desde que soube que mesmo os semideuses podem ter fraquezas, disposta a ajudar o ruivo, seja com o que fosse.
Chegaram à enorme casa e logo uma loira levemente bronzeada pelo sol adentrou correndo o lugar. Não tinha ardência na pele, afinal o cuidado quase obsessivo com sua aparência não permitia um deslize como se descuidar com o sol da praia. Depois de arrumar suas coisas no quarto e tomar um bom banho resolveu dormir um pouco.
“Gaara”
O semideus foi chamado em pensamento. Conhecia bem aquela voz e tratou logo de responder.
– “O que quer?”
– “Só dizer que estou impressionada com você.”
Quem o havia chamado era a semideusa de cabelos brancos. O ruivo sabia que ela ficaria interessada na sua história com a Ino e não deixaria de estar por perto sempre.
– “Devo ficar feliz?”
– “Não por mim, mas por você”.
– “Como assim?”
– “Vi que você confessou seus sentimentos para ela. Meus parabéns”.
– “É. Até alguns meses atrás eu diria que seria impossível isso acontecer”.
– “Eu tenho mais fraquezas do que vocês. Fazer o que...”
– “Pelo menos está lutando por algo que vale a pena”.
– “Nisso eu concordo, e como sei que vai continuar a me vigiar sempre, eu peço que não veja demais”.
– “Pode deixar. – disse sorrindo – Eu não sou inconveniente, mas estarei sempre aqui quando precisar. Agora vou embora, ela está acordando”.
Nessa hora a loira abriu os olhos preguiçosamente. Olhou em volta e viu Gaara no lugar de sempre. Resolveu fazer algo diferente, trocou de roupa e saiu para dar uma volta, algo que há muito tempo não fazia. Se sentia muito segura, pois sabia que tinha um protetor sempre ao seu lado.
– Gaara. – a garota o chamou sem o olhar.
Sentindo que havia ganhado a atenção do semideus ela prosseguiu.
– Obrigada.
Ele não entendeu aquele gesto e não respondeu. Ela continuou:
– Obrigada por retribuir os meus sentimentos. Eu sempre quis ser amada de verdade. Mesmo que eu não possa te tocar, fico muito mais feliz em que você sente o mesmo que eu.
– Eu não menti Ino. Sei que não sou humano, mas isso não impede de gostar de você. E com uma garota como você não é esforço nenhum te amar.
A cada frase dita por ele era como se tudo o que a afligia fosse chutado para longe. Tudo ficava em paz e se sentia invencível.
– Por que é tão difícil achar alguém como você hein? – perguntou a garota com uma voz pesarosa.
– Simplesmente porque os humanos são impacientes.
– Impacientes?
– Você não entenderia se eu explicasse.
– Me explica por favor... Eu prometo prestar atenção...
Ele se sentia extremamente vulnerável quando a ouvia pedir algo com tanto carinho. Essa era mais uma consequência do amor: a dependência. Como sabia que ela iria insistir resolveram ir até uma pequena praça que ficava perto de onde estavam. Ela sentou-se em um dos bancos que estavam completamente vazios e ele ficou de pé em sua frente pensando em como deveria começar aquela explicação. Enfim decidiu pelo modo mais fácil.
– Acho que uma comparação vai tornar mais simples. Talvez você não goste do que vou usar como comparação, mas se foque apenas no sentido da história.
– Tudo bem. – disse Ino sorrindo.
Ele respirou fundo e começou:
– Imagine um concurso de caçadores. Não um concurso qualquer, mas um campeonato especial. Esse campeonato, obviamente, premiaria quem conseguisse a melhor presa. Ela foi amplamente divulgada e a notícia se espalhou rápido pela região.
A loira parecia concentrada no que ouvia. Ele continuou:
– No dia determinado o campo estava lotado. Um grande campo aberto tendo à sua frente uma grande floresta. Todos estavam com as mesmas armas. As regras foram anunciadas: a prova começaria ao meio-dia, teriam vinte e quatro horas para entrar na floresta e trazer a melhor presa que conseguissem, cada um poderia levar quantas balas quisessem em suas armas, mas teriam que pegá-las antes da prova na mesa do juiz responsável. Terminadas as explicações, cada um foi até a mesa para pegar as balas. Um pegava cem, outro cinquenta, outros quarenta outros oitenta, mas o que mais impressionou foi um caçador que pegou apenas uma bala. O juiz nada falou, já que não havia quantidade mínima para levar. Quando chegou meio-dia todos entraram na floresta. Pouco tempo depois os primeiros tiros puderam ser ouvidos. O caçador com apenas uma bala na arma só avançava floresta adentro. Enquanto caminhava via várias presas no chão com marcas de tiros. Viu também caçadores que atiravam nas presas, a examinavam e depois a deixavam lá para procurar outra melhor. Viu que eles consideravam uma espécie de tiro ao alvo ao ar livre. Enquanto pensava nisso viu uma bela e pequena presa por entre as árvores. Convicto a pegá-la passou a segui-la. A seguiu por muito tempo até descobrir aonde era seu esconderijo.
Ino estava em um estado em que mal piscava os olhos.
– O tempo passava e logo os primeiros caçadores foram saindo da floresta. Carregavam grandes presas e aparentavam muito cansaço. Outros davam largas risadas e exibiam com orgulho o fruto de suas habilidades, outros voltavam de mãos vazias por não terem mais balas. Veio a noite e o dia seguinte. Todos os caçadores já haviam saído da floresta, menos o que havia pegado uma bala. Quando ninguém mais acreditava que ele voltaria, o viram retornando com uma pequena presa nos braços. O juiz foi até ele e perguntou o motivo de ter demorado tanto. Ele apenas respondeu:
“Eu achei uma presa que nunca havia visto na vida de tão bela. Fiquei todo esse tempo atrás dela e jurei que iria trazê-la para mim. Demorei porque não queria que ela viesse comigo ferida.”
Em seguida mostrou que a presa ainda estava viva e a única bala que havia em sua arma ainda estava lá.
Ino estava absorta em seus pensamentos, mas disse:
– História linda!
Ele começou a explicar:
– Assim acontece com os humanos. Muitos deles quando atingem certa idade parecem que não conseguem controlar os próprios desejos. Com a desculpa de “curtir” se comportam como os caçadores que pegam muitas balas antes de partir para a floresta da vida. Ficam com várias garotas tentando achar a certa, mas nem sempre conseguem. Alguns voltam de mãos vazias porque acabaram as balas, ou seja, por já terem ficado com tantas acabam perdendo a confiança delas; outros voltam com uma “presa” grande, pois se contentam com o exterior, se deixam levar pela beleza física e esquecem do que realmente importa. Mas o mais corajoso é aquele que foi à caça com uma bala só. Ele não ligou em demorar ou tentar ter algo grande. Se interessou por uma “presa” que muitos deixaram passar por ser pequena e insignificante. Ele correu o risco de se perder na floresta e não voltar a tempo. Para ele interessava o que ela tinha por dentro e ele não poupou forças para trazê-la com ele. Ele poderia usar de métodos fáceis para tê-la (a bala), mas ele viu que preferia demorar e trazê-la por sua própria vontade e confiança do que usar a bala e tê-la somente por algum pouco tempo. Esses são os humanos corajosos Ino. Esses valem a pena. O que dificulta muito as coisas é que eles quase sempre são os que não possuem tanta beleza física, por isso são deixados de lado. As garotas reclamam de não encontrarem bons garotos, mas a esmagadora maioria delas visam mais o exterior infelizmente.
Ino estava estática com aquelas palavras. Infelizmente ele tinha razão. Ela mesma sempre considerou muito a beleza física como algo essencial para um homem que quisesse namorar com ela. Somente naquele momento viu que estava vivendo exatamente o contrário. Amava Gaara e o achava lindo, mas não podia tocá-lo, ou seja, de nada adiantou a beleza que ele ou ela tinha. Ela já estava pronta para falar algo quando o celular da garota toca.
– Alô.
– Ino!!!!!
– Hinata?
– Ino! Aconteceu algo terrível!!
– Calma Hinata. Está me deixando assustada. Me conta o que houve!
Ino ouviu a amiga respirar fundo antes de dizer.
– A Sakura foi atropelada e está no hospital!
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