Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 7
VII - O paciente.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo excessivamente triste e mais curto... Gomen pela demora. O computador ainda não voltou, mas eu achei que deveria postar um capítulo para não desapontar tanto meus leitores T_T~ O-BRI-GA-DA! *-*



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Olhos brancos e a imensidão preta à frente. Eu tremia, incapaz de expressar o medo de outra forma; encarava aquele olhar como se fosse a única Lua a me guiar, furtivamente.

 

Seria realmente Ville Valo ou estava a enganar-me? Sem piscar ou movimentar-se de qualquer outra forma, atraía-me, obrigava a segui-lo e eu não via absolutamente nenhuma alternativa. Era apenas eu, os olhos alvos e um magnetismo que me envolvia como uma tempestade impetuosa, cheia de si, por demais confiante.

 

Convencido, enxuguei o suor das mãos e resolvi deixar-me ir por aquele caminho imperfeito. Só para deixar claro, não, eu não via aquele olhar – apenas o sentia, como se o próprio residisse em meu coração medroso. A meu entorno, apenas ébano. Para ele eu me entregava, avançando reto, fosse ao norte, a oeste ou a qualquer outra direção inexplorada. Ouvia o eco de meus passos, sem distinguir se andava descalço ou de sapatos, pois não enxergava a mais de um palmo de distância. Aquilo não importava. As sensações haviam deixado-me momentaneamente, para que eu me concentrasse apenas àquele objetivo.

 

Qual objetivo? Respostas. Ou era agora, ou não era mais – eu não disse que as encontraria? O mundo exterior não queria me ajudar, mas eu não estava abandonado por mim mesmo. Eu as procuraria em qualquer lugar, até dentro de meus próprios pensamentos.

 

- Ville?

 

Silêncio, cortado apenas por passos pesados, passos de um condenado caminhando para a forca. A respiração pesava a atmosfera, poluindo-a, ingratamente roubando-lhe a essência da vida para devolver-lha imaculado dióxido. (?!) Porém, não era momento para culpar-se, eu não iria me esquecer o porquê de estar ali. Não mesmo.

 

- Por que a demora? Frank está lá fora me esperando, não posso ficar aqui o dia inteiro. – Despejei, automaticamente estagnando no mesmo lugar. Se eu não iria às respostas, elas que viessem até mim, pois não tinha toda uma vida para jogar fora.

 

E, como se a nuvem enfim resolvesse aliviar-me, ela destampou o luar e, ao mesmo tempo, minha visão. Um clarão e o olhar sumiu de minha imaginação para tomar forma logo adiante. Um homem, olhos claros, a pele da Lua, brilhando tanto que me doía os olhos. Incrível... Seria possível existir tanta beleza em um único ser?

 

Senti o sangue descer como uma montanha-russa e abandonar minha face, varrendo meus ânimos. Aquela divindade me deixara completamente sem rumo e também roubara minha energia. Ele não tinha feições definidas. Não demonstrava quaisquer expressões conhecidas. Era um deus em todos os detalhes, em toda a postura, em toda a calmaria que me inspirava confiança.

 

Eu tinha dito que acreditaria em tudo que Ville dissesse? Pois bem, agora a mesma sensação me dominava, só que multiplicada por cento e cinquenta. Eu poderia confiar naquele que se auto intitulava Deus. Afinal, ele era uma parte de mim mesmo, e uma parte realmente bem construída.

 

Deus existe, e foi extremamente avarento ao conceder-nos uma nova chance. Qualquer deslize pode ser fatal. Qualquer ato pode arrancar-nos a humanidade. E o amor, nossa única busca... É o maior crime que uma criatura como nós comete, sempre.”

 

- Você é um legítimo vampiro e, como tal, merece algumas explicações. Por favor, eu... Espero que não me amaldiçoe, assim como a maioria dos outros. – E sorriu, da maneira mais serena que já vi em toda a minha vida. Logo depois dessa sensação, o amor invadiu-me; e então cenas vieram em sequência, acordando em mim lembranças incrivelmente antigas...

 

~~~~~~

 

Dessa vez, era todo branco o lugar. Assim como a pele enrugada do moribundo, como o jaleco frio e inalcancável do médico, e como seus dentes já não eram há tempo. Tudo lhe doía, enquanto seus órgãos clamavam por misericória. “Perdoai-nos, monsenhor. Mas já não aguentamos mais”.

 

A guerra chegava ao fim.

 

Seu coração, porém, era o que mais chorava em desespero. A dor física diminuía-se diante da agonia emocional. Ele não podia acreditar.

 

Ele se esforçou tanto para aquele destino não se concretizar... Em vão.

 

Vez por outra, tremia. A carne perfurada por balas grosseiras ainda ardia, sangrava, esvaziava seu corpo quase sem alma. Mas suportava bem aquela humilhação. Seu lado esquerdo do peito, entretanto, é que o sugava do mundo humano, embora devesse estar intacto. Dava lugar ao completo medo.

 

Pavor, arrependimentos, repreensão – culpa. Por que se meteu em sua frente? Que imbecilidade! Que falta de amor próprio! Por que optou por oferecer-se daquele jeito, por alguém cujas gotas de sangue nunca prestaram...?

 

Para que aquele amor verdadeiríssimo destinado a uma pessoa de falso humanismo...?

 

Tão estúpido que só lhe restou a morte.

 

Na sala, o frio e a solidão. Sequer havia rosas murchas, letras borradas de lágrimas ou lençóis. Vazio absoluto. Só o médico, que mantia distância e profissionalismo, pensava provavelmente na mulher ou em outra banalidade. Para que se preocupar com mais um passageiro só de ida... Isso é apenas para inexperientes. Apenas os tolos ainda têm esperanças no mundo cruel, enquanto a inocência perdura dentro de si, e o caráter ainda não se deteriorou.

 

Ele finalmente havia percebido toda a escória que o cercara por tantos anos.

 

Mas ele ainda queria que fosse diferente. Só.

 

Que alguém estivesse triste. Que sua mão ainda pudesse se aquecer em dedos cálidos. Que soluços e lágrimas alheias abafassem seus suspiros resignados.

 

Que a morte não fosse a única a lembra-se dele...

 

E ele lutou tanto por isso!

 

E exatamente esse desperdício é que lhe doía o coração...!

 

Faltava bem pouco, e ele olhava para o teto, prometendo jamais se conformar. Talvez quisesse uma outra chance, para restaurar a felicidade que lhe fora roubada, quem sabe vingar-se. Provavelmente, só desejava uma oportunidade de mostrar para si mesmo que era capaz de amar a pessoa certa...

 

Bastaria sugar seu sangue.

 

O paciente chorou... e pronto.

 

~~~~~~

 

“Reencarnação”.

“O amor é nossa maior maldição, Gerard”.

 

- Já entendeu, não é, Gerard?

 

- Se eu entendi? – Meus olhos derramavam minhas mais puras lágrimas, e uma criatura inteiramente mística vinha perguntar se eu captara. – Existem milhares de frases latejando em minha cabeça, e nenhuma delas parece fazer sentido... O que era para eu entender?

 

Meu coração estava pesado e as lágrimas pareciam de ferro. Rasgavam-me ainda mais. Por quê? Por que aquele homem me fizera sofrer tanto quanto ele em seus últimos momentos? Como um coração poderia gerar tanta dor assim, se era o próprio que irradiava de amor há instantes antes?

 

- Aquele era você, Gerard. – A voz era passiva, como evitasse descontrolar-me. Mais que isso: a voz parecia sofrer em conjunto comigo. – Aquele era você agonizando talvez no momento mais triste de sua vida passada. Quando você percebeu que morrera de amor, e que fora um sacrifício desnecessário... Uma morte em vão.

 

“Percebe como dói perecer na mais completa escuridão, por um amor jamais correspondido?”

 

Meu coração fez questão de respondê-lo com duas batidas ocas, fazendo do sangue bombeado suas lágrimas silenciosas.

 

- Dói demais... Por aguentarem isso, criei uma segunda chance para essas pessoas. Reencarnação com um único objetivo... E a isso atribuí o nome de vampirismo. – Falava como se fosse realmente Deus, e estendia-me seus braços, estendia-me toda sua bondade sem contudo tornar-se vulnerável. Assombrava-me com cada palavra bem medida. – Pode me chamar de um humano incorrigível, Gerard.

 

Deus oferecia-me uma segunda chance? Renascer como vampiro, e assim recompensar uma vida inteira jogada fora por um amor desperdiçado. Questionei-me se existia arrependimento divino, ou se era apenas uma prova de sua... Generosidade, ou algo assim,

 

- Ame, e seja amado de maneira igual. De tamanha intensidade que não haja mais barreiras entre vocês... Que os faça derramar sangue e vida um pelo outro.

 

“Essa é sua razão, Gerard. Você irá amá-lo a esse ponto? Você conquistará a única pessoa que lhe satisfaz, conseguirá então fazer de sua segunda chance a vida mais feliz que alguém poderia ter?”

 

Então, era isso... Meu único objetivo era amar e ser amado. Só isso. Uma única pessoa, pelo resto da minha vida, e eu jamais duvidei de minha capacidade. A felicidade estendia-se a meus pés...

 

Só que não cabia somente a mim alcançá-la.

 

“O amor é uma faca de dois gumes, Gerard.”

 

E com essas palavras, Deus amaldiçoou-me – e chorávamos...


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Notas finais do capítulo

Ficou uma bosta? Reviews sinceras, por favor... Não eram os planos do capítulo, mas como tive de reescrevê-lo, saiu assim...

Prometo postar mais quando voltar do Chile D: Gomen, queridos! E muito obrigada pelas reviews!



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