Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 8
VIII - Bifurcação (Levógiro).


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora... E muito obrigada aos que esperaram e torceram para que eu voltasse. Obrigada mesmo! *-*



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Assim como não me lembrava de ter dormido, também não me lembrava de ter acordado. Na verdade, quando dei por mim, já estava no café da manhã, vestido, com um croissant em mãos, que pecava por excesso de manteiga. Um nó mental me deixava com uma cara absurdamente demente, olhava para a cortina branca como se olha para um buldogue de quatro rabos.

 

Sentia o olhar de Frank a vigiar-me, de soslaio, embora muito pouco discreto. Nem de longe o pequeno Iero sabia conter-se, ainda que tivesse plena noção das situações... Sempre se alarmava mais do que deveria. Aqueles olhos, ora claros, outrora escuros, estavam constantemente curiosos e arregalados para o exterior. Meu deleite, meu vício.

 

Pequeno Frank, então tudo o que se falou é verdade? Aquele que se auto intitula Deus estaria sério ou buscava em nossas faces a confusão, doce alimento para sua zombaria? Agora filosofo, e admito que só mesmo Deus sabe o porquê. Filosofar não é exatamente uma de minhas urgências. Enfim, o que seria? Duvido da única verdade que a mim se estampa. Aqueles olhos...

 

Seriam sinceros?

 

Porque minha única certeza, agora, era que eu o amava. Frank pairava em meus pensamentos e em meu coração, de modo que eu só agia por ele e para ele – soa hipócrita? Sob quais valores você julga minhas atitudes?

 

Não se esqueça – sou um vampiro.

 

Mais que isso – um vampiro em um mar de dúvidas, pisando em incerteza.

 

Como era possível que eu ficasse ainda mais confuso com aquelas declarações de meu Deus interior, posto que elas deveriam esclarecer-me? Quando iria reencontrá-lo? Como iria averiguar tudo aquilo?

 

Como alguém é capaz de fazer tantas perguntas a si mesmo enquanto degusta um croissant amanteigado? Sou mesmo um mistério...

 

- O que vamos fazer hoje, Gee? – Comentou o pequeno, com graça, misturando seu achocolatado.

 

- Não sei, não tenho planos. Poderíamos simplesmente dar uma volta pela região, o que você acha? – Já era mais do que hora de esquecer-me um pouco de todas as maldições e problemas que me cercavam, a começar pela manteiga que escorregava por meu dedo. Olhei para Frank e dei um sorriso descontraído. Vamos, alegremo-nos.

 

- Eu acho ótimo. Seria desperdício ficar o resto da semana trancafiados aqui! Você poderia conversar com algum hóspede para descobrir o que tem por aqui, né?

 

- Eu? Por que eu?

 

- Oras. Você mal chegou e já fez amizade com todo mundo, o médico, o dono da pousada... – Não sabia se aquilo era sarcasmo, uma provocação barata, mas eu caíra.

 

- Eu jamais serei amigo daquele homem. Ele é... – Não sabia bem o que iria falar, mas garanto que não seria certo. Melhor deixar esse assunto entre vampiros, sem espalhar terror para quem não merece. -...apavorante.

 

Frank parou de mexer o achocolatado e levou o copo à boca, bebendo tudo de uma só vez. Quando terminou, estava com aquela doce mancha leitosa ao redor da boca. Espaireceu-me completamente, esqueci Ville e suas artimanhas, e decidi-me que iria realmente fazer aquele dia valer a pena.

 

- Então, vamos.

 

Logo estávamos caminhando por sobre o cascalho da velha estradinha, aparentemente a única via de comunicação com a pousada. Aquilo tinha toda a pinta de fim de mundo: a névoa constante, a floresta que a engolia, os hóspedes nada comuns. Difícil seria encontrar algo a se fazer por ali, mas tudo bem, estávamos dispostos o suficiente para tentarmos.

 

 

Ao sentir o doce aroma daquele clima, sorri. Embora a névoa predominasse, não estava frio, havia apenas uma brisa deveras agradável balançando nossos cabelos e roupas, mas nada que impedisse ou dificultasse nossa caminhada. Um branco puro, iluminado, nossos olhos claros misturavam-se à cor de natureza ao redor. Fantástico. Olhei para Frank, que se mostrava descansado e relaxado, e contive meus impulsos para não abraçá-lo com força.

 

- Direita ou esquerda, Gee? – Uma bifurcação nos aguardava, promovendo minha desconfiança.

 

- Você não acha que as chances de nos perdermos é maior se começarmos a dividir o caminho?

 

- Gerard, é só uma bifurcação. Direita ou esquerda, a gente não é tão burro assim para se perder. – Frank riu. Eu ainda não estava nervoso, nem pretendia ficar: era exatamente o que o pequeno dissera, somente uma bifurcação.

 

Mas eu não iria para a direita, de jeito algum.

 

- Esquerda, então.

 

Assim fomos (ainda bem que Frank não resolveu implicar com minha escolha). Qual era o problema da direita, eu não sabia, e preferiria não saber enquanto não pudesse me proteger. Surgiu-me então uma ideia absurda... Eu não deveria ter presas?

 

Disfarçadamente, passei a língua pelos meus caninos – claro que eu não encontrei nada. Supus que eu deveria sentir meus dentes crescendo da noite para o dia, afinal, eu ainda sentia a dor miserável, só havia adquirido uma maior resistência. E só.

 

Meu olhar recaiu sobre o pescoço de Fran. Límpido, surgindo por entre a névoa, a folhagem e a gola de sua jaqueta.

 

Não, eu não havia só adquirido uma maior resistência. Havia também outra necessidade, que não só amor. Outro instinto, além do de proteção. Contradições. Vontade de amá-lo e machucá-lo ao mesmo tempo. Rasgar seu pescocinho imaculado enquanto passasse meus dedos singelamente por sua barriga. Esses eram meus nada cuidadosos pensamentos quando senti uma dor alucinante na boca e na cabeça, que me fez descer ao chão e apoiar-me na perna direita de Frank.

 

- Ahn? Ai, Deus, Gerard! – Dispôs uma das mãos em minha testa, checando a temperatura, e a outra no ombro. Até seu toque foi doloroso, e eu procurei evitá-lo, mas fui incapaz. Doeria mais ainda afastá-lo, pois ele era o único que poderia exterminar todo aquele suplício. Ele estava ali agachado, a minha altura, desprotegido.

 

O que exatamente eu estava fazendo?

 

Puxei a mão que estava em meu ombro e trouxe-o para meus braços. Abracei-o. Havia um cheiro de lavanda em sua pele pura, fez-me inspirar o mais forte que pude, e o eucalipto veio junto.

 

Nós dois ali, agachados, e eu prestes a fazer qualquer coisa que nos iria despedaçar para sempre. Agindo como uma besta incontrolável. Exatamente como Ville Valo.

 

Antes que pudesse condenar-me, cheio de vergonha, ouvimos uma buzina alta e desesperada: quiséssemos ou não sair do meio da rua, nossa única possibilidade de sobrevivência era darmos espaço àquele motorista impaciente. Frank levantou-me, e eu sequer pude sair de seus braços, graças a minha incontestável tontura e confusão. O carro passou, veloz e com um tanto de falta de educação; porém, em poucos instantes, ele dava ré e o motorista surgia em nosso campo de visão. Nosso campo de visão uma vírgula, porque tudo estava incrivelmente embaçado para mim.

 

Vi cabelos pretos e vi uma pele pálida, tão branca como a minha. Vi uma cara séria, uma boca ríspida e um motorista nada amigável. Ainda assim, ouvi que perguntava como estávamos. Só então comecei a encontrar-me: pendurado no ombro de Frank, cabeça baixa, uma das mãos arranhada pelo cascalho.

 

- Ah... Acho que sim, não tenho certeza... – A voz de Frank tremia, provavelmente por dois motivos. Preocupação... e medo.

 

- Querem ir a um hospital? Posso levá-los. – A voz do motorista era escorregadia e deixara-me enjoado. Não era, nem de longe, gentil; então por que ele oferecia com aparente boa vontade de levar-me a um hospital? Não era ele que quase nos atropelara segundos atrás?

 

- Não... – A voz saía com indefinida dificuldade, quem diria então manter-me em pé. Tanto fazia, levantei-me com toda a força que tinha e olhei nos olhos daquele motorista. Sem vida, sem batimentos, sem sanidade. – Estou bem. Obrigado.

 

Ele não murmurou mais nada, de modo que só ouvimos o barulho da marcha engatando e um ruído qualquer de desaprovação. Quando o intrometido já ia embora, Frank interrompeu-o mais uma vez.

 

- Só um instante... Sabe me dizer se há algo por aqui que dê para passar o tempo? Um point ou qualquer coisa assim, não agüentamos mais ficar naquela pousada.

 

Eu poderia jurar que o homem iria simplesmente ignorá-lo, fechar o vidro e zarpar, como se faz normalmente com criancinhas de rua. Não... Foi bem diferente. Houve um brilho repentino naquele olhar, houve também um esboço de sorriso, o qual ele imediatamente repeliu. Mas os olhos mantiveram-se em Frank.

 

- Vocês estão naquela pousada a uns quinhentos metros daqui? A de Ville Valo?

 

- Sim, estamos. Por que a pergunta? São conhecidos?

 

Não houve resposta imediata, levando-se em consideração palavras. Mas os olhos expressaram-se: deleite. Ele via a graça da situação. Ele sabia de minha natureza e, em menos de cinco minutos, provavelmente compreendera as circunstâncias bem melhor do que eu. Tive uma raiva imensurável daquele olhar convencido.

 

- Mais à frente, essa estrada liga-se à avenida principal. Há um spa aqui perto e alguns outros pontos destinados a turismo. Porém, não acho que agüentariam ir e voltar andando...

 

Gostariam de uma carona?

 

Minha voz falha não foi capaz de retrucar um argumento sólido.


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Notas finais do capítulo

Ok, ok. Alguém reparou como a escrita e a tensão variaram ao longo do capítulo? T_T~

Observações necessárias:

— O homem que aparece ainda não tem uma identidade! Eu fiz com ideia no Jack White... Sabem, de White Stripes? Eu adoro ele, mas o acho um nojo 8D bem, dêem a opinião de vocês!

— "Levógiro", em química, é um composto que faz a luz virar-se para a esquerda. Daí o nome do capítulo.

— Desculpem por mudar tanto as personagens OO' achei tanto o Fran como o Gee meio pestes nesse capítulo OSAHDUOASHD. Só digo que vai mudar - para pior 8D~

Que mistério, hein? Obrigada, gente. Principalmente a minhas queridas geezinha e nunes-gi. Putz, vocês são fantásticas, e os outros leitores também



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