Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 6
VI - Proteção.


Notas iniciais do capítulo

O-bri-ga-da a todos ^^~



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Desde manhã, eu encarava aquela saleta cercada de grandes placas envidraçadas no segundo andar. Ville não estava mais ali, porém as cortinas balançavam como se ele ainda as assoprasse, aquele hálito frio embaçando o vidro azulado.

 

Fora uma completa perda de tempo! Aquele imbecil ainda se insinuara para meus braços, fora explícito em seus desejos. E eu quase cedi... Claro, com aqueles olhos persuasivos, nem Frank seria capaz de resistir.

 

- Gerard, onde você tá? – Ouvi a tímida voz me chamando por trás daquelas paredes de madeira ensebada. Respondi um forte “Na varanda!”, virando os olhos para Ville e suas atitudes desgraçadas. Fechei os olhos sem o sono suavizá-los, apenas para convencer Frank de que eu apenas tirava um cochilo.

 

Ouvi o estalar da fechadura, e pus-me a duvidar se era Frank ou meramente o vento. Sua delicadeza me impedia de ouvir seus passos, era quase como se ele próprio fosse minha brisa saudável. Abri os olhos com preguiça, ele estava ali, parado, contemplando-me – ou seria eu a contemplá-lo?

 

- Ah, bobo. Por que abriu os olhos? Ia bem fazer uma surpresa para você.

 

Ele estava ali, e não era um sonho.

 

Por quê? Por que o vento teimava em bagunçar seus cabelos e dar-lhe um ar infantil bem à minha frente? Por que tudo aquilo acontecia a nós, e eu não podia simplesmente amá-lo? Maldição; maldição que nada – meu coração batia com tanto vigor que eu não conseguia acreditar nas palavras daquele vampiro.

 

E não havia vestígios de mentira, sua seriedade era óbvia. Tinha que acreditar. Éramos mesmo amaldiçoados. Toda aquela conversa de Deus e reencarnação...

 

Verdade.

 

- Quer que eu feche de novo?

 

- Ah, não. Agora perdeu a graça. Diz, você tá bem? – Ele sentou-se na beira da rede, forçando-me a abrir um espaço. Fez um cafuné rápido em meus cabelos já emaranhados, colocando simultaneamente um sorriso em minha boca ressecada.

 

- Por que não estaria? – Olhava em seus olhos, sentindo o calor de seu corpo quebrando o gelo a nosso redor. Aquilo sim era felicidade.

 

- Você está tão quieto... Não está pensando naquele Valo, né?

 

Ciúmes? Guardei o riso para mim mesmo, evitando maiores desentendimentos. Gostaria de perguntar-lhe “como não pensar?”. Fui fisgado por um olhar infinito. Você também! Como consegue estar tão livre e despreocupado? Frank, você é o meu maior mistério, mais do que minha própria natureza.

 

- Estou pensando em outras coisas, não se preocupe.

 

- Já estou preocupado... Gerard, você tem estado tão quieto, tão reservado! Deve ser essa atmosfera meio macabra. Ger, quando quiser, vamos embora, ok?

 

Querer ir embora? Querer não é poder, pequeno. Eu deixaria tudo para trás nesse exato momento – você também sente o medo? Estou quase apavorado, não tenho dicas de como será daqui para frente, não tenho nada.

 

Sequer tenho você.

 

Como espera que eu sobreviva por aqui? Fui criado em cativeiro – um vampiro inofensivo. De repente, jogam-me em meio à selva. Não conheço os animais ao meu redor, todos carnívoros; pior que isso, começo a duvidar de mim mesmo. Sou igual a eles? Devo agir da mesma forma?

 

E você, que se preocupa comigo? O que devo lhe dizer? Que te amo... Que te quero. Impossível. Não aqui, não agora. Óbvio que não.

 

Sou amestrado, mas ainda tenho meus instintos a marcar-me a pele e adocicar-me a boca.

 

- Não quero ir embora. Estou feliz aqui, e relaxado... – Grande mentira, estava mais tenso do que jamais estive. – Estou feliz por passar alguns dias aqui, contigo.

 

Pronto, destino selado. E então, o que é que vai ser, hein?

 

- Ok, então. Vamos curtir os dias aqui. Acho que vou dar uma volta pelo hotel, pode ser?

 

- Te espero aqui. – Encaixei o sorriso mais afável que podia fazer naquela hora, e com ele despedi-me de meu pequeno. Vi-o estender a mão, os dedos finos, e desistir logo depois; virou-se e continuou a correr. Parecíamos dois adolescentes envergonhados. Ri-me calado.

 

Levantei os olhos e deparei-me com a jabuticabeira. Queria que ela me ouvisse, queria que seu tronco fino, porém indestrutível, soubesse as respostas para minhas aflições. Queria sua proteção, queria ser um de seus frutos sagrados, intocáveis. Uma das piores sensações que já me dominaram é a que sentia naquele instante: a vulnerabilidade, o perigo exposto, ardendo em minha face. Eu era a ovelha em meio aos lobos – e sabe qual era o pior de tudo isso?

 

Eu era uma ovelha, e tinha a obrigação de proteger um pequeno trevo de quatro folhas e, por isso, ainda mais incrivelmente desejado.

 

Ou seja, mais cedo ou mais tarde, um de nós não iria resistir.

 

Suspirei.

 

- Sabe, nem sempre as respostas vão vir caminhando até você.

Atrás? Virei por mero reflexo, senti o medo congelar-me os braços e, sem perceber, coloquei o joelho para fora da rede. Foi o necessário para rolar e dar com as costas no chão gélido... Que patético.

 

- Calma, homem, não vou sugar-lhe o sangue. Para sua sorte, você não me é saboroso... Então, por favor, sossegue.

 

O cabelo castanho caía em mechas sobre seus óculos, e eu pude reconhecer o médico do dia anterior. Ele chegou caminhando calmamente, até parecia um velho amigo, com as mãos nos bolsos do jaleco branco, impecável. Nada parecido a sua alma corrompida, pensei.

 

Pus meu peso no joelho direito e levantei. Ele parou à entrada da varanda, aos pés da pequena escada, olhando-me de modo doce. Ficamos assim por um tempo, desvendando os olhos de cada um, esperando que a brisa parasse para nos concentrarmos somente à conversa.

 

- Então, Gerard. Me permite tratá-lo dessa maneira? Como vai o tratamento?

 

- Me chame da maneira que quiser. Na realidade... sequer sinto alguma dor. – Ele apoiava a mão numa estaca de madeira ante a varanda. Seu olhar era compreensivo, e eu finalmente dava graças a Deus por alguém como ele preocupar-se comigo. – Era para ser assim, doutor?

 

- Normalmente, nós, vampiros, temos uma boa recuperação. Talvez seja a movimentação de nosso sangue... Já reparou como seu coração bate muito mais rápido do que o normal? – Dito isto, imediatamente fui averiguar. Já havia sentido meu sangue mais ativo, e uma maior disposição em alguns momentos... Pura verdade. Meu coração parecia revoltar-se contra a caixa torácica que o envolvia. – Interessante, não é?

 

- Estranho, isso sim.

 

Ele sorriu, ajeitando os óculos. Sua pele era um pouco machucada, malcuidada. Havia um ar sereno circundando seus olhos paternais. E aquilo me fazia bem, por mais bizarro que isso soasse, já que ele era invariavelmente um vampiro.

 

- Você me chamou de “doutor”, não foi? Desculpe-me... Meu nome é Raymond Ortiz. Pode chamar de Ray, é sem dúvida mais fácil. – Ele pausou para sorrir mais uma vez, deixando-me ainda mais confuso. Como alguém conseguia ser tão bondoso e, simultaneamente, cheirar a sangue? – Foi uma completa perda de tempo com Valo, não foi?

 

- Obviamente... Ele é sempre insano daquele jeito? – O comentário fez Ray rir tranquilamente. Perguntei-me se teria permissão de tratar seu patrão daquele modo.

 

- Sempre. Tome... cuidado com ele. Deu para perceber que aquela aura não é inofensiva, eu suponho.

 

- Mais do que perceptível. Mas não me preocupo exatamente comigo, e sim com Frank. É ele que devo proteger.

 

- Então, você já sabe... É, isso facilita. Você o ama, incondicional e infinitamente, certo?

 

Meus movimentos travaram diante da pergunta. Se já era difícil admitir algo do gênero para mim mesmo, quem dirá para um completo estranho. Mas o brilho paterno de seus olhos avermelhou-se, invadiu-me como uma onda de calor – e eu não tinha outra opção.

 

Acenei com a cabeça, as palavras seriam extremamente humilhantes naquela situação.

 

- Não há que ter vergonha, Gerard. Bem... Acho melhor você se deitar.

 

Obedeci. Agora, ciente de meus verdadeiros sentimentos, sentia-se um boneco, uma marionete em suas mãos. Não havia véu algum cobrindo meus olhos. Ray poderia facilmente compreender qualquer vestígio de meu passado, escrever-me tintim por tintim em um diário e, consequentemente, também era capaz de complicar – e muito – meu futuro.

 

- Eu não posso explicar-lhe tudo, assim, sem mais nem menos. Não consigo e, além do mais, até hoje nunca vi alguém que precisasse. É muito mais fácil... – O médico abriu uma ampola que guardava no bolso do jaleco - ...fazer as coisas do método tradicional.

 

- Ei, tá maluco? Outra vez, agulhas? – Ele se aproximava com uma injeção e eu, instintivamente, esquivei-me.

 

- Isso? É só um medicamento para te fazer dormir.

 

- E como isso vai me ajudar? Só dormir? Eu dormi essa noite e não aconteceu...

 

- Quer, por favor, aceitar? Tudo bem, eu digo logo, tem um ou dois alucinógenos aqui dentro. Mas não é nada que vá te causar mal ou viciá-lo de alguma forma...

 

Minha cara de espanto foi impagável. Alucinógenos? Drogas? Por Deus, o que aquele homem queria de mim?! E ele não tinha mais o sorriso estampado, sua seriedade paralisava-me.

 

- Não há problema algum. Você precisa de respostas, e esse é o meio mais fácil de obtê-las. É realmente estranho que você não tenha tido algum sonho no dia em que despertou, mas dado o seu estado de saúde naquele dia, não me espanto... Confie, Gerard. É o único meio, já que Ville Valo foi dispensado.

 

- Por que você não pode simplesmente me explicar? – As palavras dele, infelizmente, me convenciam. Mas o medo permanecia, claro, desenvolto.

 

- Porque há uma diferença e tanto entre Ville Valo e nós dois.

 

- Loucura?

 

- Também.

 

Senti a leve pontada da agulha no meu braço esquerdo, enquanto Ray voltava a sorrir para mim. O que havia por trás daquele sorriso, não fazia ideia. Tinha receio de descobrir.

 

E a visão escureceu, um pouco antes do brilho invadir minha mente.

 

Ville Valo?

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo bobinho. Mas o próximo vai ser mais empolgante, prometo mesmo *-* estou até ansiosa para escrevê-lo.

Ahn, sobre o Ray médico e de óculos... Imaginem-no da maneira que quiserem. Eu imaginei o capitão Aizen, de Bleach -q e gostei muito SUADHAOSUDH.

Obrigada pelas reviews, recomendações e hits!



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