When Youre Gone escrita por TaTa B-P, Babi


Capítulo 29
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Voltamos! Esperamos que gostem do capítulo! Boa leitura!


EDIT 2020: Continuando os ajustes, também gostaria de explicar que, conforme fui escrevendo a história e a personalidade de Anne Louise foi se moldando, achei que ela precisaria de alguém à altura dela. Depois que me toquei do quão errado o tipo de relacionamento que estava criando, tive o pontapé que precisava para ajustar tudo de acordo. Espero que gostem de como está ficando agora.



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Bella se sentira terrivelmente aliviada quando ficou sabendo que Dr. House resolvera o caso da menina, depois de consultá-la e fazer, como Carlisle previra, alguma coisa que a induzisse ao erro. Porém Bella teve êxito ao evitar as investidas do médico com ideias falsas, por mais pertinentes que parecessem, e o tratamento que ocorrera naqueles últimos cinco dias foi bem sucedido.

Batidas na porta de seu consultório a tiraram de suas divagações o cheiro de sangue misturado a analgésicos que vinha até ela indicou que era o próprio House que estava ali. Com um suspiro resignado, ela disse:

—Entre!

A porta foi aberta e por ela adentrou o médico apoiado em sua bengala. Ele estava sem nenhuma expressão e os olhos não transmitiam nada a Bella.

—O que posso fazer pelo senhor, Dr. House? –Ela perguntou educadamente sem nem levantar a cabeça de seus últimos relatórios médicos.

—Quem é você?

Bella ergueu a cabeça olhando para ele confusa e surpresa pela pergunta.

—Como?

—A senhorita ouviu minha pergunta muito bem.

—Tenho certeza que o senhor tem essa resposta. –Ela respondeu irritada e desconfiada.

—Ah é? Diga-me então, quem é você?

Bella estava profundamente desconfiada do que aquele médico, que ela já percebera ser psicologicamente abalado, pretendia e então ela tomou uma postura defensiva.

—Isabella Marie Swan.

—Será mesmo esse seu verdadeiro nome?

—Mas o que diabos você está insinuando?!

Bella se levantou perdendo a paciência com aquele humano, ao mesmo tempo temendo o que ele poderia ter descoberto. Outra parte de sua mente, por outro lado, dizia-lhe que ele estava tentando jogar verde para colher maduro. Seus olhos percorreram-no de cima a baixo e depois cravaram nos olhos dele e uma batalha de olhares se deu junto das palavras cuidadosamente calculadas de cada um.

—Eu sei que há algo de estranho em você que a torna diferente dos outros novatos. Algo que a torna diferente de todo mundo. –Ele se apoiou ainda mais na sua bengala estreitando os olhos.

Bella então se assustara por ele ter notado tanto em tão pouco tempo. Havia se passado um pouco mais de uma semana desde que ela começara a trabalhar no hospital e ele notara que ela era diferente dos outros, mas não apenas em aparência, mas em muito mais. Porém ela escondeu seu espanto com uma atitude displicente e sorriu para o médico perspicaz.

—Ora, doutor, eu sei como é difícil ser contrariado e ser derrotado, afinal eu vivo com cinco irmãos adotivos e adolescentes. Quando alguém mais novo ganha em uma disputa besta, nós sempre ficamos frustrados. Por isso não vou levar essa sua insanidade a sério. Volte a seus analgésicos e me deixe trabalhar, sim?

Ela virou as costas para ele e se sentou voltando usa atenção aos seus papéis. Ela ouviu-o mancar até a porta e ouviu seu esbravejo:

—Não importa! Finja o quanto quiser doutora, mas eu vou descobrir quem você realmente é.

Quando a porta se fechou com um baque, Bella largou os relatórios na mesa e passou a mão nos cabelos, suspirando. A primeira coisa que lhe ocorreu foi ligar para Carlisle, mas em seguida achou que envolver o pai naquele novo problema só seria pior, pois House jamais poderia ver Carlisle sem matar ao menos parte da charada que já se formava em sua cabeça.

Frustrada, Bella se virou para a janela e olhou para o céu tentado esfriar a cabeça. Precisava encontrar outra solução para aquele problema e não deveria ser difícil, afinal, quantas vezes não tivera de se mudar, sumir, mentir, enganar e até matar para preservar seu segredo? Mais tranquila e tendo passado o seu primeiro susto, Bella voltou a se concentrar no trabalho, pois sabia que acharia a solução para seu problema.

Quando o dia finalmente acabara, Bella voltou aliviada para casa, principalmente por não ter topado com o médico nenhuma vez mais naquele dia. Como era sexta feira e no dia seguinte seria véspera de Natal, Bella foi para casa se focando em outros assuntos - mais especificamente os preparativos dentro de casa e o presente de Edward que deveria ser levado para dentro e mantido lá sem que o leitor de mentes não soubesse.

Pegou o celular e apertou a tecla da discagem rápida e ligou para a cunhada. Alice atendeu no primeiro toque:

—Eu darei um jeito de mantê-lo ocupado e longe de casa.

—Não. Alice deixe que Emmett e Rose façam isso. Eu preciso de sua ajuda para esconder o piano em casa. Eu estava pensando em meu quarto... Eu não tenho certeza, talvez não tenha sido uma boa ideia, afinal.

—Relaxe Bella! –Alice exclamou e em seguida sua voz ficou mais baixa por um instante. –Rosalie, venha cá um segundo, por favor! –Então ela voltou a falar no celular. –Vá para casa, Bella que eu e Anne Louise te esperaremos lá! Já tenho um plano!

E então se encerrou a ligação. Bella jogou o celular no banco do passageiro e suspirou. O caminho até sua casa foi rápido e por mais incrível que podia parecer, a estrada entre Forks e Port Angeles estava quase vazia. Quando adentrou a garagem, Alice já a esperava na porta da frente.

—E então, qual o plano? –Bella indagou ao ir de encontro com a cunhada.

Alice abriu um largo sorriso.

—Siga-me. –Ela estava empolgada.

O hall e a sala de estar já estavam absurdamente enfeitados e uma árvore de Natal monumental estava próxima à parede de vidro no fundo.

—Puxa, Alice, você se esmerou, para variar!

—Se é para ser feito deve ser bem feito e nenhuma festa fica menos que perfeita quando Alice Whitlock Cullen está organizando!

Bella sorriu da empolgação da irmã. Quando indagou sobre o piano que comprara e que chegaria a pouco tempo, Alice disse:

—Deixei um espaço no seu quarto reservado para ele e então no Natal, Emmett vai me ajudar a manter Edward ocupado enquanto trazemos para baixo e o cobrimos.

—Eu tenho uma ideia mais simples. –Anne Louise disse.

O olhar de Alice ficou vago por um instante enquanto era invadida com uma visão e então sorriu animada. Anne Louise nem tivera a chance de dizer o que pensava.

—Você tem razão, Anne Louise, é muito mais prático! Ok, então eu tenho de providenciar já alguma coisa que cubra o piano e não denuncie o que é. Ah, antes que eu me esqueça, eu já movi seu piano para a cabana.

—Edward não vai ficar feliz com isso.

—Até ver o que lhe aguarda.

—Você teve alguma visão? –Bella ficou esperançosa.

—Só o vi abrindo o presente, mas não sua reação.

—Ah. –Ela murmurou decepcionada.

—Relaxe, vai dar tudo certo. –Anne Louise disse reconfortante para a amiga.

Alice continuou a andar em círculos, planejando. Bella olhou para a ruiva e perguntou:

—O que sugeriu?

—Manter o piano próximo à árvore, mas muito bem coberto e camuflado, para parecer com outro presente qualquer e não um piano.

—É, pode ser.

Um barulho estrondoso que se aproximava chamou a atenção das três vampiras. Era o caminhão com o piano. Alice se adiantou para abrir a porta e elas observaram enquanto o caminhão estacionava no jardim.

—Vamos pedir para eles deixarem na garagem aí nós podemos trazer para dentro sem problemas depois. Alice vá buscar aquilo que você queria usar para cobrir o piano. –Bella sussurrou apenas para elas ouvirem.

Alice se virou e sumiu para dentro de casa. Dois homens truculentos saíram do caminhão e andaram em direção à Bella e Anne Louise.

—Boa tarde! Entrega para Dra. Swan. –Disse aquele que continha a prancheta em mãos.

—Sou eu. –Bella se adiantou e se aproximou do homem.

Ambos ficaram embasbacados com sua beleza sobrenatural e afastaram um passo enquanto ela se aproximava, motivados pelos seus instintos de defesa. Bella sorriu educadamente.

—Onde... Onde deseja que deixemos o piano? –Perguntou o outro.

—Boa tarde para os senhores! Vocês poderiam deixá-lo na garagem, por favor, e depois que chegarem, meus irmãos o colocarão para dentro. –Instruiu.

O instrumento foi rapidamente descarregado e deixado onde indicado. Bella agradeceu, pagou-os pelo serviço oferecido e eles foram embora. Em seguida Alice e Bella levaram o piano para dentro onde Anne Louise cobriu-o e elas juntas enfeitaram-no. No fim de tudo, o piano coberto parecia uma mesa ao lado da árvore de Natal.

—Agora é só esperar pelo Natal! –Alice disse animada, observando o resultado.

—É. –Bella comentou por fim.

Elas ficaram poucos instantes em silêncio e foi Anne Louise quem quebrou dizendo que voltaria para casa. Bella aproveitou a deixa e foi para a cabana. Na verdade, a ruiva tomara uma decisão de última hora e fora visitar alguém no hospital.

Quando os Cullen chegaram a casa estranharam a mesa, mas não disseram nada acreditando que era mais um capricho de Alice.

—Anne Louise foi ao hospital no fim do meu expediente. Foi muita gentileza da parte dela visitar o pai de um aluno. –Carlisle comentou enquanto lia o jornal.

Bella franziu o cenho intrigada. Todos olharam confusos para ele, mas como Carlisle apenas deu de ombros sorrindo, eles deixaram o assunto de lado. Bella olhou para Alice e, ao ver que esta sorria, ficou mais intrigada ainda, mas resolveu deixar o assunto para depois. Ela tinha vários problemas próprios para resolver do que se preocupar com a amiga,  que parecia estar bem.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

O cheiro de sangue e medicamentos estava deixando Anne Louise quase tonta e sua garganta queimava mais do que o normal. Seu interior travava uma briga após ter tomado a decisão de ir até aquele hospital depois de ter deixado a mansão Cullen. Mas a ideia surgira e ela precisava saber se ele estava bem. Agora ela lutava contra seus instintos se arrependendo da ideia.

—Senhorita? –A voz da recepcionista tirou-a de seus devaneios. Anne Louise olhou para ela. –O quarto é o de número 212. Segundo andar à sua esquerda.

Anne Louise murmurou um agradecimento e saiu apressada daquele andar. Quanto mais rápido andasse e mais breve fosse, menos riscos as pessoas daquele hospital correriam. Ao dobrar no corredor indicado, ela topou com Carlisle que anotava distraidamente algumas coisas numa prancheta. Quando ergueu a cabeça sorriu surpreso ao ver a ruiva.

—Olá! Uma surpresa realmente agradável vê-la aqui, Anne Louise. Precisa de alguma coisa?

—Hm. –Ela hesitou. Precisava de uma desculpa urgente para estar ali. –Eu vim... Eh... Vim visitar o pai de um aluno, que passou mal enquanto o filho estava na minha aula. –Ela deu um sorriso amarelo. –Queria ter certeza de que está bem. O menino só tem o pai.–Disse mais confiante pela sua meia-verdade.

O sorriso de Carlisle passou a ser de compreensão e alegria.

—Que bom que veio. É muito... Legal saber que se preocupa. Bem, eu tenho mais alguns pacientes para ver. Obrigada pela visita, Anne Louise. Foi muito bom te ver.

E então ele seguiu andando. Anne Louise suspirou, aliviada, mas logo se arrependeu, pois o cheiro de sangue e medicamentos a invadiu novamente. Ela soltou uma praga em francês, baixinho e continuou andando em busca do quarto de Draco Simons. Uma plaqueta acima das portas indicava o número dos quartos.

Ao chegar ao número 212, Anne Louise parou e conteve o impulso de respirar profundamente, tentou relaxar os ombros, mas sua mente não parava de travar sua típica batalha interna, onde uma parte de sua mente e consciência dizia que não era certo se envolver daquela maneira, que ela estava sendo impulsiva; e a sua outra parte que estava ansiosa e preocupada com o homem do outro lado da porta. Por fim, seu lado influenciado pelas emoções venceu e ela bateu levemente na porta.

—Entre. –A voz masculina e abafada pala porta de Draco soou e Anne Louise pôde perceber como estava enfraquecida.

Ela abriu a porta. Na cama havia um homem jovem, de 33 anos, afrodescendente com sua pele escura e sedosa, seus cabelos cacheados e seus olhos de azeitona preta astutos e tenazes. Debaixo do cobertor, era possível ver o perfil de um corpo alto, porém magro. Magro demais como Anne Louise já havia notado quando o conheceu na reunião de pais.

Ela viu Draco ficar surpreso com sua visita. Fechando a porta atrás de si, a ruiva se dirigiu até a poltrona ao lado da cama e se sentou. Ela olhou para os olhos do homem e disse:

—Você quase matou seu filho de susto, sabia? E eu também.

—Achei que fosse me evitar ao máximo depois de ontem. –Ele retrucou.

Desde a reunião de pais há alguns dias, quando o conheceu, Anne Louise cruzou mais duas vezes com o rapaz, especialmente no fim do período de detenção que Kevin estava cumprindo por ter se atrasado às aulas. No dia anterior, ele a convidara para um café, e Draco havia tido uma conversa franca com a vampira onde dizia saber que ela era diferente, apontando tudo o que a denunciava. Porém, ele afirmara que não sabia dizer o que ela era e exigia respostas. Anne Louise ficara aterrorizada e fora enfática ao dizer que ele não saberia e nem deveria saber e que todo aquele avanço na aproximação deles tinha sido um erro por vários motivos e que eles deveriam se afastar pelo bem dele, do filho dele, do emprego e sanidade dela.

—Aparentemente o meu lado racional foi dar um passeio com os seus instintos de autopreservação. –Ela murmurou olhando para suas mãos. –Mas você não me contou que tinha problemas de saúde.

—Eu também tenho direito de ter meus segredos.

—E guardar pra você mesmo que pode morrer a qualquer momento é certo?! –Ela se exaltou, mas logo em seguida disse arrependida. –Desculpe.

—Por que você simplesmente não diz o que você é e poupa a ambos?

—É perigoso. Na verdade é perigoso eu estar aqui.

—Posso perceber que está sendo uma tortura e você está se esforçando, mas não entendo o porquê!

—Você é observador demais, sabia? –Ela suspirou e torceu o nariz. –Seu cheiro está estranho. Recebeu transplantes?

—Sim. –Respondeu automaticamente. –Você sabe o cheiro do meu sangue?!

—Ele geralmente é mais fraco por causa da doença que você tem, mas sim, consigo.

Draco ficou satisfeito por ver ela se mostrando mais aberta em relação a si mesma e não pôde evitar o sorriso que tomou conta de seu rosto.

—Eu falo que sinto o cheiro de seu sangue e você sorri? –Anne Louise pergunta confusa.

—Fico feliz em saber que voltou a ser você mesma comigo. Senti falta de conversar com alguém que realmente me entendia.

—Eu senti sua falta também, se te apraz essa confissão. –Ela desviou o olhar.

—Quando Alice me disse que você não era indiferente eu não acreditei, mas agora não tenho mais certeza.

—O que aquela baixinha andou falando para você?

A vampira ruiva ficou subitamente alarmada. Alice às vezes não sabia medir as palavras quando não via nada de errado depois. Ela fazia questão de esperar Anne Louise alguns dias após a detenção e ela já vira a baixinha conversando com o moreno quando ela e Kevin se aproximavam. Draco riu da exasperação da professora pela qual se apaixonara.

—Relaxe. Ela não revelou seu segredo. Ela diz que ou eu descubro sozinho ou você me conta, mas eu não estou tendo muito sucesso.

Anne Louise se remexeu desconfortavelmente na poltrona.

—Eu não deveria ficar tão perto de você. Não é saudável para nenhum de nós dois, além de que não é ético e faz menos de uma semana que nos conhecemos...

—Não é saudável se sentir vivo? –Draco questionou. –Eu não escondo de você o que sinto, mas você, por outro lado não ajuda em nada. Isso me angustia, sabia?! Não é justo! –Ele exclamou se levantando dos travesseiros e em seguida voltando a deitar-se pesadamente sobre eles, ofegante.

Anne Louise se levantou e se aproximou dele rapidamente. Segurou firmemente os ombros dele e ajeitou-o delicadamente nos travesseiros. Seus olhos passaram pelo rosto angulado, o nariz perfeitamente curvo e simétrico, alargado e combinando perfeitamente com as complexões dele. Finalmente se fixaram em seus olhos escuros e profundos, as olheiras fundas embaixo chamando sua atenção.

—Não deveria se esforçar tanto. Está doente, caramba! –Ralhou com uma intensidade que fez com que seu sotaque se acentuasse, mas sem erguer a voz.

—Você que me estressa com essa sua teimosia. –Ele voltou a implicar quando recuperou seu ar. –Eu me declaro que nem um idiota para você e você vem com ética para cima de mim?!

—Eu sou muito mais velha que você! Você vai continuar sua vida, fazer sua faculdade assim que Kevin também se formar, encontrar uma mulher mais adequada e ponto! É assim que deve ser. –Anne Louise tentou impor força em sua voz, mas soube que não obteve sucesso. Ela mesma já não podia mais lutar contra o que sentia.

—Faculdade? Esposa? Você está se ouvindo? –Draco perguntou com amargura. –Eu nem sei se vou estar vivo no ano que vem! Não sei se verei Kevin se formar! Eu amo você e quero viver esse amor agora! –Disse com convicção.

—Mas é lógico que vai estar vivo!

—Ah, é?! Venha dizer essa pra quem luta com a anemia a vida inteira!

Anemia?! –Anne Louise guinchou se encolhendo em dor e surpresa. –Achei que anemias não podiam ser tão graves assim. –Murmurou confusa.

Sabia que Draco estava doente, mas ela não conseguia assimilar que ele tinha uma doença tão grave. Para ela pessoas jovens deveriam ser saudáveis, ter uma vida longa. Morrer era coisa de idosos.

—Não é justo! –Ela exclamou.

—Eu sei, mas a vida não é justa. –Ele sussurrou. Depois de uma curta pausa continuou. –É anemia falciforme*. Eu preciso de um transplante de medula óssea, mas não acho ninguém compatível.

—Mas a expectativa de vida não é tão baixa.

—Eu não tenho sorte. –Ele retrucou com amargura.–Meu miocárdio está se deteriorando. Em pouco tempo posso precisar de uma cirurgia ou então posso sofrer uma parada cardíaca a qualquer momento. Eu tenho mais crises do que o esperado.

Um silêncio mortal se instalou no quarto enquanto Anne Louise se controlava para não mostrar o quanto a notícia a desestruturara. Além de ter se apaixonado por um humano, esse humano não viveria muito. Draco esperava pacientemente a professora se recuperar do baque.

—Não é justo! –Ela voltou a sussurrar para si mesma.

Cansado de suportar o silêncio, Draco voltou a falar:

—Será que desta vez você pode ceder? Ao menos finja que sente alguma coisa, só para que eu não morra sem saber o que é o amor que eu leio desde sempre em Jane Austen, Shakespeare ou Victor Hugo.

—Não quero que pense que ficaria junto de você por pena agora que sei.

—E por que mais você ficaria?

—Porque eu amo você também. Só é perigoso demais para nós dois ficarmos juntos. Eu sou perigosa.

Draco estava aturdido. Ela o amava também! Não pôde mais uma vez conter o sorriso.

—Não me importo com o que você seja.

—Mesmo se eu disser que sou uma assassina?

—Você não me matou ainda, então duvido muito.

Anne Louise bufou e revirou os olhos. Agora estava num beco sem saída. Já admitira que o amava e agora não podia mais manter-se indiferente. Não era justo mais privá-lo da verdade e da escolha.

—Irei entender se quiser se afastar de mim depois que eu contar a verdade a você.

—Nada me afastaria de você agora. –Ele não podia parar de sorrir, apesar da vampira estar séria. –Vamos, conte-me!

—Eu sou uma vampira.

O silêncio tomou o quarto mais uma vez. Draco conteve o ímpeto de perguntar se ela estava falando sério, pois estava claro que a ruiva não estava brincando. Por fim, ele assumiu a seriedade da situação e disse:

—Sangue, então?

—Por isso os olhos vermelhos. –Ela explicou inexpressiva. –Até pouco antes de me formar e vir para cá eu matava pessoas.

—Mas não mata mais. Eles estão cada vez menos vermelhos, sabia? –Ele disse tranquilizador.

—É. –Disse ela um pouco surpresa por ele ter notado a mudança em tão pouco tempo. –Mas depois que eu conheci Bella eu parei e agora caço animais.

—Bella? –Ele perguntou curioso.

—A filha mais velha dos Cullen.

—Espera um pouco aí! –Ele disse de olhos arregalados. –Os Cullen também...

—Sim.

—Isso significa que o meu médico é... –Um sorriso incrédulo e surpreso começava a se abrir em seu rosto.

—Um vampiro? Sim. –Anne Louise estava começando a achar graça.

—Isso é muito irreal! –Ele exclamou. –Imagine o controle, a tentação que o Dr. Cullen resiste todos os dias para trabalhar em um hospital e fazer cirurgias!

—Na verdade, eu imagino sim. –Ela disse com um sorriso amarelo.

Então Draco percebeu.

—Ah. Deve estar difícil para você agora, não é?

—Um pouco. Não mais que na sala de aula. Aqui os cheiros dos remédios e dos químicos ajudam um pouco.

—Puxa, é verdade! Você fica presa numa sala com uns trinta alunos todo o dia!

—O resto dos Cullen também. –Ela deu de ombros.

Draco assentiu e ficou pensativo. Anne Louise observava com humor ele coçar o queixo formulando perguntas. Ela percebeu logo que seria aceita por Draco não importando o que fizesse e isso a deixou feliz o suficiente para mandar o resto de o mundo explodir.

—Eu sou apetitoso pra você? –Ele perguntou.

—Tanto quanto os outros. Para mim todos ainda cheiram o mesmo, mas é porque mudei a dieta recentemente. Bella diz que há uma grande diferença nas essências e intensidades do sangue de cada um.

—Interessante.

O silêncio se instalara mais uma última vez entre os dois, mas daquela vez era um silêncio confortável refletido nos sorrisos satisfeitos de ambos os seres daquele quarto de hospital. Eles se fitaram e o sorriso se alargou. Anne Louise puxou a cadeira para mais perto de Draco e segurou carinhosamente a mão dele.

—Quando você vai ter alta?

—O doutor disse que amanhã à tarde. Kevin vai chegar daqui a pouco. Ele sempre passa as noites comigo. Por isso que, de vez em quando, ele atrasa para a escola.

—Então é melhor eu ir. –Anne Louise disse se levantando, seu sorriso se desvanecendo pela decepção de não poder ficar mais tempo com o rapaz.

—Por quê?! –O sorriso dele também desaparecera.

—Nosso relacionamento não seria bem visto, Draco. Eu sou a professora do seu filho, lembra-se? O que quer que tenhamos deve ser mantido em segredo até eu poder dar um jeito. E temos de proteger seu filho. Você não deveria saber a verdade. É perigoso. Para Kevin também pode ser.

Draco suspirou:

—Está certo.

Anne Louise sorriu maliciosamente ao se aproximar do homem. Rapidamente terminou a distância entre eles e selou os lábios em um selinho rápido antes de se levantar e voar para a porta.

—Wow! –Exclamou ele, rindo e sentindo-se como um adolescente novamente.

Anne Louise riu com vontade.

—Até amanhã, Draco!

—Até, Anne.

Então ela saiu. Depois foi para sua nova casa, já mobiliada e esperando os últimos retoques da reforma. Ela foi sorrindo.

*Anemia falciforme (ou drepanocitose) é o nome dado a uma doença hereditária que causa a malformação das hemácias, que assumem forma semelhante a foices (de onde vem o nome da doença), com maior ou menor severidade de acordo com o caso, o que causa deficiência do transporte de oxigênio nos indivíduos acometidos pela doença. É comum na África, na Europa mediterrânea, no Oriente Médio e regiões da Índia. A expectativa de vida é encurtada, com estudos reportando uma expectativa de vida média de 42 e 48 anos, em indivíduos masculinos e femininos, respectivamente. Esta expectativa de vida encurtada é resultado de algumas das complicações associadas, como por exemplo, megaesôfago, cardiomiopatia restritiva, sepse, doenças das vias biliares e câncer de intestino. Fonte: Wikipedia


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Notas finais do capítulo

Olá leitoras (e possíveis leitores),
Eu sei que sumimos e que vocês provavelmente querem nos matar, mas levando em conta que somos vestibulandas, tivemos de dar uma revisada em nossas prioridades ano passado e pra esse ano. Portanto deêm um desconto. Temos poucos reviews e uma bela quantidade de acompanhamentos isso já nos deixa felizes, mas saber se precisamos melhorar algo, ou estímulo pra continuar seria muito legal vocês nos darem um feedback. Se possível, comentem!
Espero que gostem do capítulo! ;)
Até o próximo!



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