Margarida

Desde aquela hora que não o vi mais, estava preocupada, não deveria ter sido assim, ele deveria-me apoiar. A Sandra já tinha seguido para casa há horas e eu já estava na cama deitada a ver televisão. Ouvi a porta do quarto dele se fechar, tinha chegado, queria pedir-lhe desculpas queria que ele compreendesse que tinha medo e que ainda o amava e apenas queria voltar a ter um pouco da minha vida normal. Estou a ser orgulhosa demais para falar com ele, por isso deixei me ficar na cama, vendo as tretas que passavam no ecrã.

Acabei por adormecer, não dormi como deve de ser é claro, a consciência pesava-me cada vez mais, decidi levantar-me, fui até a casa de banho, tomei um banho e fui comer uns cereais, ainda estava enrolada na toalha quando ele apareceu na cozinha, estava com cara de quem também não tinha dormido nada, senti culpa por ele estar assim.

-Bom dia, queres que te prepare alguma coisa para comeres? – Perguntei-lhe, de modo a puxar conversa.

- Pode ser, dá-me uns cereais também! – Sorriu, mas não foi como aqueles sorrisos que gostava de receber, tirei uma tigela e vazei cereais também para ele, levei o leite para a mesa e sentamo-nos a comer.

- Diogo?

- Sim – Ele olhou para mim, a espera que fosse sair alguma coisa da mesma boca que lhe tinha tirado do serio ontem. Levantei-me e pus de frente para ele.

- Desculpa por ontem, eu fui uma estupida e sei que só queres o meu bem. – Ele ficou estático a olhar para mim, talvez não estivesse a espera daquela minha reacção, mas a verdade é que não conseguia estar bem comigo mesma se ele estivesse chateado.

- A culpa foi minha! Eu tenho te prendido muito e talvez o melhor seja mesmo esperar que te sintas de novo bem comigo, e dar-te espaço. – Disse me, olhando-me nos olhos.

- Mas…não é isso que eu quero, sim é isso mas não da maneira que queres! – Engoli em seco, eu não queria que ele se afastasse, eu precisava dele aqui.

- É o melhor, não quero que me odeies, não quero que um  dia me mandes a cara que a razão de te sentires tão presa sou eu e muito menos tenhas medo de mim.

- Tu não entendes nada…. – Ele levantou-se e encarou-me.

- Eu entendo, por te amar, por te querer proteger, por tudo é que eu sou assim contigo, por isso acho que te devo dar espaço, pra tomares as duas decisões.

- Não! – Fitei-o enraivecida. – Eu tenho medo, não entendes? Eu tenho medo que tudo volte de novo e eu não consiga desta vez! Porque tu és a pessoa mais importante para mim no meio disto tudo e aquilo que mais me fará sofrer é não te ter aqui comigo.

- Manda esses medos todos para trás Margarida, eu sei que te fiz sofrer muito, eu falhei e só quero que me perdoes, que não faças como tens feito… - Suspirou – Fugires de mim e agires como se eu fosse um nada na tua vida!

O silêncio abateu-se naquela cozinha, baixei a cara, sim ele tinha razão em tudo o que tinha dito, eu falhei com ele. Há uns tempos atras tudo o que eu queria era ter o meu Diogo de volta e agora que o tinha um instinto repulsivo afastava-o de mim, e não era isso o que eu queria.

Ouvi a chave a rodar e a porta de entrada abrir-se, era a Clara.

- Bom dia, bem que caras! Tiveram a discutir? Eu estava a espera que já tivessem feito as pazes por causa de ontem! – Sorriu-nos deixando umas coisas em cima da mesa. – O Tiago já saiu pra ir trabalhar vim logo para aqui para preparar o almoço. Passei na padaria, trouxe uns bolinhos.

- Obrigada Clara, já aqui venho buscar um, vou tomar banho! – Sorriu, deixando a conversa que a Clara interrompeu, pendurada.

- Estão mesmo apetitosos, Maggie vai-te vestir e vem comer um, são 10 horas, entras a uma não entras? – Perguntou -me a Clara enquanto via o Diogo a sair da cozinha.

-Sim! Vou já comer um – Sorri-lhe. – Então que será o almoço?

- Hum, pensei em fazer um frango fricassé, passei no talho e lembrei-me que gostavas.

- Com batatas fritas – Pus um bolinho a boca e ri-me.

- Sim, com batatas fritas. Adoras o meu comer não é? – Riu-se

- Sim, mama! Vou despachar-me! – Sai da cozinha para o meu quarto, vesti-me escovei o cabelo ajeitei a cama arrumei uns livros que estavam para ali caídos, sempre pensando nele, no quanto eu o amava e o quanto precisava dele.