Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 53
I Hope That It's Worth.


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap! Espero que gostem!
Divirtam-se!



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—Já vai? - perguntou, baixo. Neguei com a cabeça.

—Ainda não. Preciso ver Dash.

Como conheço Caspian, sei que seu primeiro impulso foi impedir-me de ir ver Dash, mas conseguiu conter e não demonstrou reação além da já presente expressão de quem está sem saída. Era assim também que eu me sentia. E era assim que estávamos a um passo de ficar.

Deixei o quarto de Caspian e caminhei para o outro lado da casa, para o de Dash. Ele estava em sua cama, acompanhado de um livro. Sua melhora era gradativa, mas visível. Naquele dia, permaneci algumas horas com ele e a cor já estava voltando à seu rosto. Voltei a visitá-lo nos dias seguintes e, por algumas horas no dia, juntamente com sua visível melhora, vi o Dash que conquistou minha confiança e amizade ressurgindo e dando-me bons momentos de alegres conversas que distraíam nós dois de tudo o que desmoronava em nossa família.

Não tocávamos nesse assunto. Dash evitava fazer isso e eu agradecia, mesmo sabendo que sua vontade era falar a respeito. Foi inevitável não notar o esforço que ele fazia para conter seu impulso de questionar e argumentar durante os dias que lhe visitei. Porém um dia, quando Dash já estava bastante recuperado, quase totalmente, não conseguiu mais evitar.

—Sou muito grato, Su. - disse ele, sentado na cama, após ficarmos um pouco em silêncio. Olhei-o, esperando que continuasse. - Por você estar aqui como esteve todos esses dias.

Sorri-lhe de leve.

—Você esteve comigo quando eu mais precisei, Dash. - falei. - Não poderia deixá-lo quando precisa de mim. - Um pequeno sorriso se formou em seus lábios, que alargou-se, como se ele risse de algo que lhe ocorrera em pensamento. Olhei-o curiosa. - O que foi?

—Cada vez mais me dou conta de que não há jeito de reverter o que você despertou em mim, Su.

—Dash... - comecei, pousando o livro que lia sobre meu colo.

—Por favor não diga nada. - pediu, fechando os olhos, interrompendo-me. - Não vou continuar implorando por seu amor, Su. - disse, convencido do que dizia. - É inútil e está fora do meu alcance qualquer resultado positivo.

—Meu mais profundo desejo é poder não causar qualquer sofrimento, Dash. - disse. Ele sorriu de leve, sem olhar-me e sem tom de deboche ou sarcasmo.

—Seu desejo mais profundo é Caspian. - disse ele, calmo. - É isso que faz sofrer.

—Eu só queria resolver tudo isso de uma vez. - insisti.

—A solução sempre esteve debaixo de nossos narizes. - tornou ele. - Sempre esteve à mostra, mesmo quando é negada.

Fechei os olhos, respirando.

—Dash, você sabe que eu não posso...

—O que eu sei, Su – interrompeu ele, sem alterar o tom de voz, mas a gravidade de suas palavras estavam em seus olhos. - É que você tem medo das consequências da escolha que você já fez. Por que sabemos quem você escolheu realmente.

—Dash...

—Sou muito grato por você estar vindo aqui todos esses dias, me sinto recuperado. - disse. - Mas não podemos fechar os olhos para os fatos, Susana. Tudo isso foi inútil. E só servirá até você realmente assumir sua escolha. - os olhos esverdeados de Dash me encararam com profunda dor.

—Estou sendo sincera, Dash. - falei, pondo-me de pé. - Lamento que você não veja assim. Você já parece bem melhor, é melhor eu ir.

Dash não falou ou fez nada no tempo em que pus-me de pé, até alcançar a porta.

—Sabe pelo que mais sou grato? - perguntou, fazendo-me parar, com a porta entreaberta e olhá-lo. - Sou grato por você não precisar sentir a angústia de ter sua vida nas mãos de quem insiste em não ver, e de alguém egoísta o suficiente para passar por cima do próprio irmão e do seu direito, para buscar seus próprios interesses.

—Ah, Dash.- lamentei. - É tudo muito além da esfera que você vê. - sufocada, fechei a porta, deixando Dash sozinho no quarto.

Só eu sei o quanto lamentava por Dash. Não pelo caso da escolha. Se ele pudesse ver minha real intenção e mais do que sua mágoa lhe permitia enxergar, saberia que não existem vítimas ou algozes em toda essa história. Não escolhemos a Herança, mas estávamos destinados a ela.

—Finalmente! - uma voz sussurrou por trás de mim, quando me aproximei das escadas.

—Estava me esperando? - questionei.

—Sim – respondeu Caspian, vindo em minha direção e conduzindo-me em frente. - Quero levá-la a um lugar.

Descemos as escadas, atravessando a sala vazia em direção ao lado de fora.

—Para onde vamos? - perguntei, quase pisando no assoalho da sala.

—A história de seu irmão não tem me deixado dormir nos últimos dias. - disse ele, ao meu lado.

—Caspian, se você pretende insistir naquela ideia, é melhor que pare. - expirei as palavras e o ar.

—Escute. - pediu ele, paciente. - Surpreendeu-me muito essa descoberta. - explicou, parando a minha frente, quando descemos os degraus. - E não entendi por que meu pai nunca comentara nada a respeito. Mas ontem eu o procurei e consegui algumas informações a respeito do seu irmão. Nada que seu pai não tivesse descoberto, mas achei que você gostaria de saber.

—Claro que sim! - confirmei. Caspian sorriu diante de minha animação.

—Eu já desconfiava. - riu. - Conversando com meu pai, eu descobri o nome do detetive que auxiliou seus pais na época. Pesquisando mais um pouco, consegui encontrá-lo. Ele está nos esperando esta tarde.

—Ora essa, vamos!

—Caspian. - uma voz soou no cômodo. Ao virar para ver seu dono, por breves segundos, achei ter visto alguém no alto da escada, mas quando busquei com o olhar, não havia ninguém. Do outro lado da sala, Digory acabara de sair da biblioteca.

—Sim?

—Estão de saída? - perguntou, com tom de quem sabia a resposta.

—Estamos. - respondeu Caspian.

—Sr. Holmes não os espera mais hoje. - disse.

—Quem é Sr. Holmes? - perguntei baixo.

—Eu o avisei que não poderiam comparecer ao encontro hoje. - explicou Digory.

—O detetive. - respondeu Caspian, para mim, para logo se dirigir ao pai. - Como descobriu?!

—Ora, Caspian, como se eu não o conhecesse! - replicou o duque, em tom óbvio.

—Susana tem todo direito de... - Caspian começou.

—Eu sei, eu sei. - Digory o interrompeu, apaziguando.

—Ela já passou muitas horas ajudando Dash, deve estar exausta. - continuou. - Deixe que ela vá para casa descansar, ela pode vê-lo outro dia. Vou precisar de você aqui, Caspian. - disse. Eles trocaram olhares por alguns rápidos segundos, e Caspian suspirou.

—Ele tem razão. - cedeu. Rolei os olhos. - Você precisa descansar. - virei para ele, claramente questionando-o sobre o que estavam escondendo. Com o olhar, Caspian torceu para que eu concordasse. Rolei os olhos novamente e ele lambeu os lábios para não rir. - Venha, pedirei a Bri que lhe leve para casa.

Assenti, vencida. Despedi-me cordialmente de Digory e Caspian acompanhou-me até a saída. De costas para seu pai, Caspian segurou minha mão e a levou aos lábios, beijando-a, passando para minha palma um pedaço de papel, que cuidei de manter escondido ali.

Despedi-me dele com um suave aceno de cabeça antes de dar-lhe as costas, atravessar a porta, e ir ao encontro de Bri, que estava à espera na entrada. Dentro da carruagem em movimento, desdobrei o pequeno papel onde estava a caligrafia de Caspian com o endereço do Sr. Holmes.



Caspian



Susana entendeu o recado e partiu, tomando o cuidado de manter o papel escondido na palma de sua mão. O recado de meu pai também foi bem claro e fechei a porta de vagar para ganhar um pouco de tempo, respirei fundo para então voltar-me a ele, ainda parado onde estava, esperando pacientemente. Ele sabia que não teria como fugir.

—Certo. - disse-lhe, cruzando os braços.

—Podemos conversar? - indicou a sala da qual acabara de sair. Não pensei duas vezes antes de caminhar até lá, rendido, com as mãos nos bolsos.

Adentramos a sala e, calmamente, ele fechou as portas enquanto tomei assento no sofá mais confortável, deitando-me nele. Sem pressa, meu pai caminhou até escorar-se na mesa, de frente para mim.

—O que você estava planejando? - perguntou.

—Susana descobriu sobre seu irmão. - respondi. - E me contou. Você nunca comentou nada a respeito do irmão dela.

—Não havia o que comentar. - explicou ele. - Você era só um bebê quando ele desapareceu. Nós o procuramos como pudemos. Quem o levou, morreu sem abrir a boca, a única que talvez soubesse alguma coisa a respeito seria Jadis, mas nunca conseguimos provas contra ela ou fazer com que ela dissesse qualquer coisa.

—Ela certamente sabe de algo!

—Certamente – concordou. - Mas já havia sido derramado sangue suficiente. Nós usamos todos os recursos possíveis, mas nunca o encontramos. Carregamos esse peso e esse sofrimento pelos último anos. Agradeço por você, seus irmãos e Susana terem sido poupados de todo esse sofrimento. Esse foi um dos motivos que fizeram Raphael e Helen decidirem proteger Susana a todo custo e de tudo. Já estamos lidando com problemas demais para despertar mais este agora, Caspian.

—Já se passou muito tempo, quanto mais tempo ainda passar, pior vai ser. - argumentei. - Devemos ir até essa Jadis! Ela é a única que pode dar respostas!

—Você não pode seguir adiante com isso, Caspian. Pelo menos não agora. - começou.

—Pai, por favor, Susana tem di...

—Não use Susana como desculpa. - interrompeu-me. - Nós dois sabemos qual é seu maior interesse nesse história. Pode até ter algo a ver com Susana, mas não é a intenção principal.

Bufei, passando as mãos no rosto.

—Não sou tão egoísta quanto você faz parecer.

—Eu sei. - disse ele, tranquilamente. - Mas você não pode ignorar as consequências de suas intenções.

—Estou encurralado! - declarei. - Essa é a única saída que vejo!

—Ela não devia sequer ser considerada. - comentou.

Expirei, cansado com toda aquela situação. Estávamos cada vez mais sem saída, e isso era angustiante. Houve um tempo de silêncio, até que meu pai voltou a falar.

—Você não vê, Caspian – começou, calmamente. - a Ordem existe por uma razão. E não adianta o quanto reclame de meu posicionamento! - esclareceu, quando ameacei protestar. - Você não é o primeiro e não será o último a tentar ir contra a Ordem, mas dá prioridade à emoção em vez da razão e não percebe que só trará sofrimento para si mesmo e para todos os que o rodeiam! Ouça a voz da razão Caspian, não há como mudar e seria muito mais simples, muito menos sofrido, seguir conforme o costume. - comecei a negar com a cabeça seguidas vezes. - Mesmo sendo inútil tentar alertá-lo e ser obrigado a ver todo o sofrimento que sua teimosia vai causar.

—Não é tão simples como parece! - protestei. - Você me pede para abrir mão de tudo! Abrir mão de Susana, de uma vida ao lado dela, uma vida feliz em que o peso dessa maldita Herança seria mais leve, e devo trocar tudo isso para vê-la casar-se com meu irmão enquanto eu estarei condenado a viver só para o resto da vida, ora isolado, ora acorrentado... - olhei-o nos olhos.

Era claro nos olhos do meu pai que ele sofria ainda mais por não poder fazer nada, mas não estava disposto a ceder. Ele não abriria mão da vida de Dash ou da minha, e para que ambas se preservassem, era preciso seguir a Ordem.

—Abrir mão de nossas vontades e sonhos em prol do bem de todos vale muito mais do que lutar lutas em vão. - continuou.

—O que me pede é impossível.

—Não, não é. - falou, sério. - Por tudo o que é mais sagrado, Caspian! Por você, pela sua vida, por sua família e por Susana, você entender que não há como fugir disso! A tradição deve ser seguida! Uma Intentum intocada para um Immunis intocado! É assim que deve ser, é isso o que tem nos mantido vivos...!

—O que...? - ergui a cabeça, surpreendido pelo que ele dissera. De repente, todo furor da discussão amenizou perante o choque da constatação.

—Não se faça de desentendido...!

—Espere! - pedi, meu pai parou, olhando-me. - O que você disse?

—É inútil continuar insistindo numa...

—Não, não. - interrompi. - Uma Intentum o que?

Meu pai hesitou antes de responder, como se temesse por algo muito grave.

—Intocada. - respondeu, franzindo os lábios. Expirei, fechando os olhos. Meu pai não precisou de palavras para entender. Eu o ouvi bufar, passar as mãos no rosto e andar inquieto, um passo lá, um passo cá. Permaneci quieto, como o culpado de algo grave, como era.

—Então Susana não pode se casar com Dash. - concluí, baixo. Meu pai ficou em silêncio por mais alguns segundos, sua decepção e sua preocupação pesando no ar.

—Desconfio que sua inconsequência não vá mais me surpreender. - disse ele, e suas palavras me atingiram de cheio. Fechei os olhos. Não havia mais volta, fora decidido sem nem mesmo nos darmos conta.

—O que acontece agora? - perguntei, apreensivo. Meu pai não dirigiu o olhar a mim. Com uma mão no bolso e a outra passando em sua testa.

—Dash... - ele respirou fundo, sua voz cansada. - A única solução é encontrarmos o irmão de Susana e casá-lo com Lúcia. Esse seria o único jeito de manter seu irmão vivo.

Assenti silenciosamente, mesmo sem que ele pudesse ver. Meu pai não falou mais nada, nem eu. Levantei-me.

—Então o encontraremos. - disse, dirigindo-me à porta. Antes que eu saísse, de costas para mim, meu pai falou.

—Você sacrificou a felicidade de seus dois irmãos para ter a sua. Espero que valha a pena.


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Notas finais do capítulo

Faltam 4 capítulos para o final, mas ainda tem muita coisa para acontecer! Espero que estejam gostando! Não esqueçam dos reviews!
Beijokas!!



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