Pov. Bella

Eu não sabia o que era pior:

Ficar o tempo todo sob o campo de visão de um quase desconhecido, sendo analisada na maior cara de pau ou saber que dentro de instantes minha filha seria entregue nas mãos de uma maluca.

Eu seria sempre grata a Rosalie por ter cuidado de Carlie, mas ela não estava bem.

E a idéia de entregar minha filha a ela, ainda que por poucos minutos, me causava um arrepio.

Eu jamais seria capaz de esquecer a forma como ela me olhara no dia em que dera o tiro em Edward.

Rosalie parecia completamente alucinada e embora tivesse sido submetida a tratamentos psicológicos eu ainda não confiava nela.

_ Vejo que você está nervosa._ Ouvi a voz grave de Emmett e me virei para olhá-lo.

Ele estava abatido e com olheiras evidentes e me encarava atentamente, como se assim pudesse chegar aos meus mais íntimos pensamentos.

_ Um pouco._ Respondi simplesmente, na tentativa de evitar um confronto que certamente viria caso eu lhe dissesse o porquê do meu nervosismo.

Todos insistiam em defender Rosalie, mas eu ainda não confiava nela perto da minha pequenina.

_ Rosalie jamais faria mal a Carlie. Ela a ama como se fosse sua filha. Aliás, nós a amamos._ Emmett falou, como se adivinhasse meus pensamentos.

Estreitei meu olhar em sua direção e soltei um suspiro audível.

_ Rosalie ama Edward também. E mesmo assim atirou nele._ Respondi decidida.

Ele não faria sentir-me culpada por querer manter minha pequena longe da tia.

_ Ela jamais quis fazer mal a nenhum de vocês. Rosalie só estava abatida. Nervosa com a morte do pai.

Eu o olhei cinicamente e ele estava evidentemente nervoso.

Em pé como estava, me olhando atentamente eu via em Emmett uma figura muito assustadora.

Intimidadora para dizer o mínimo.

_ Perdi minha mãe e minha avó e mesmo assim não atirei em ninguém._ Falei decidida, me atrevendo a desafiá-lo, mesmo com todo o seu tamanho.

Sabia que ele jamais me faria mal.

Mesmo não o conhecendo bem, eu via em Emmett um homem íntegro, de caráter, que jamais faria mal a uma mulher.

Ele apenas bufou e não disse nada.

Ficamos um longo momento em silêncio.

_ Imagino que Edward nunca tenha lhe contado a história de vida da minha esposa, não é?_ Ele perguntou suavemente e sentou-se ao meu lado.

Fiquei nervosa com sua proximidade.

Seu tamanho exagerado ainda me intimidava.

_ Conheço bastante da vida dos Cullen._ Falei, encarando minhas pequenas que folheavam revistas sentadas no banco encostado do outro lado da parede.

_ Você sabia que Rosalie foi violentada quando criança?_ Ele me perguntou de repente, depois de mais alguns momentos de silêncio.

 Eu me virei para encará-lo, assustada com suas palavras.

Como assim violentada?

Por quem?

_ Ela tinha 11 anos. Foi um médico, amigo do Carlisle. Na época evitaram chamar a polícia e apenas Rose lidou com as consequências. Edward esteve ao seu lado, já que a mãe sofria sérios problemas de depressão. Sofreram muito por isso. Minha esposa ficou internada por muito tempo e os médicos foram claros. Talvez ela jamais pudesse engravidar.

Suspirei trêmula e passei as mãos pelos cabelos.

Que história mais maluca!

Eu o olhei discretamente e ele estava concentrado nas meninas sentadas a nossa frente.

_ Sobre o que Renesmee disse hoje... É verdade?_ Emmett me perguntou com a voz insegura e eu encarei Nessie por um tempo.

Sabia que ele se referia às palavras de Nessie sobre a tia estar grávida.

E eu tinha evidências concretas que minha princesinha jamais errava uma previsão.

_ Ela nunca erra._ Falei com a voz baixa.

Vi um sorriso aparecer em seu rosto e fiquei feliz por ele.

Por Rosalie.

E embora esse “dom” da minha filha me assustasse, era bom que ele pudesse ajudar as pessoas às vezes.

Segundo Renesmee, os tios teriam um bebê em breve e foi isso que Rosalie sempre quis.

_ Ela sempre achou que jamais seria mãe. Quando Carlie veio para nós eu a vi florescer e se dedicar ao seu dom mais lindo: a maternidade._ Emmett falou em voz baixa._ Ela finalmente sentia-se completa.

Olhei novamente para as meninas do outro lado da sala e Carlie sorriu docemente para mim.

Eu ainda me emocionava com suas demonstrações de carinho.

Parecia um sonho maravilhoso tê-la ao meu lado.

_ Eu sei que sofreu com tudo isso, Bella. Imagino que foi difícil ficar esse tempo todo longe da sua filha. Mas Carlie fez tão bem a Rosalie que eu agradeço todos os dias por você tê-la trazido ao mundo._ Emmett disse com a voz embargada e eu não consegui mais conter as lágrimas.

_ Eu também agradeço a Deus por tê-las. Meus filhos são as coisas mais certas que aconteceram em minha vida.

Emmett encarou as meninas e ficamos em silêncio por bastante tempo, apenas as observando.

Limpei minhas lágrimas e me concentrei na expressão feliz das minhas pequenas.

Elas conversavam entre si e pareciam tranqüilas mesmo cercadas por tanta loucura.

Eu adorava tê-las ao meu lado.

Poder cuidar das minhas pequenas, fruto do meu único amor, era meu maior presente.

_ Você é uma mulher de sorte. Edward e você formam uma linda família. Quando conheci Edward vocês ainda namoravam. Ele foi sempre muito feliz ao seu lado. Assisti seu sofrimento de perto quando você desapareceu.

Suspirei e sacudi a cabeça levemente, na tentativa de espantar as lembranças ruins.

_ Foi uma época difícil. Acho que agora superamos tudo._ Falei com a voz baixa.

Não gostava de me lembrar da época em que me separei de Edward.

Eu apenas sobrevivi naquele período.

_ Sempre fui considerado um playboy mimado. Até mesmo pelos meus pais. Conheci Rosalie em uma festa e me encantei por ela. Não apenas por sua beleza física, que certamente é fascinante, mas também pelo seu gênio explosivo. Ela era uma garota fria e me dispensou de cara. Mas eu era insistente. Passei a segui-la por todos os lados, até que finalmente ela aceitou sair comigo. Fiquei no céu.

Eu ouvia a tudo atentamente e percebia que Emmett precisava desabafar.

Era como se ele tivesse que me contar certos acontecimentos, na esperança que eu entendesse como funcionava a cabeça da Rosalie.

_ Aos poucos fomos nos aproximando e eu fui descobrindo que por baixo daquela capa mimada e arrogante existia uma pessoa frágil e carente que precisava desesperadamente de amor. Carlisle nunca fora um pai de verdade para os filhos. Ele sempre tratou minha Rose como uma cadelinha adestrada, pronta para segui-lo e repetir suas maldades. Demorou para que eu conseguisse mudar a cabeça de minha esposa e trazê-la para o meu lado. Para o lado do bem._ Ele suspirou cansado e passou as mãos pelos cabelos._ Namoramos por pouco tempo e logo que nos casamos eu a convenci a irmos para a Suíça. Eu queria mantê-la longe do pai. Pouco depois de um ano que estávamos vivendo lá Esme ligou dizendo que iria nos visitar. E foi nessa visita que ela nos trouxe Carlie._ Ele falou, me olhando de lado.

Eu gostava muito de Esme, mas jamais seria capaz de esquecer que foi ela que entregou minha garotinha aos cuidados de outra pessoa.

Por mais que seus motivos tenham sido nobres, eu convivi cinco anos sem Carlie e isso não era uma coisa fácil de ignorar.

_ Carlie era muito frágil e Rose se dedicou inteiramente a ela. No começo não sabíamos que ela era filha de Edward e eu confesso que cheguei a ter ciúmes dos cuidados que minha esposa dispensava à pequena bebê. Mas ela estava tão feliz! Sorria o tempo inteiro e cantava por todos os cantos da casa._ Ele sorriu sonhador com a lembrança. Sua expressão era tão boa que eu me senti bem com suas lembranças. Era reconfortante saber que Carlie crescera em um lar feliz.

_ Quando Carlie teve sua primeira crise respiratória, Rose quase enlouqueceu. Era evidente, em seu olhar, o medo de perder a sobrinha. Nessa época já sabíamos sobre a paternidade de Edward e minha esposa havia se apegado ainda mais a menina. Quando Esme a trouxe até nós, sabíamos do seu problema, mas jamais nos imaginamos passando por uma crise. Superamos juntos esses problemas, mas em pouco tempo Carlie teve outras crises e tivemos que aprender a cuidar dela. A apoiá-la. Foram momentos difíceis, mas vencemos um a um.

Eu assenti de leve e continuei em silêncio.

Eu imaginava perfeitamente o desespero deles frente a uma crise respiratória de Carlie. Embora tenha passado apenas uma vez por isso, eu não conseguia esquecer o desespero de ver minha garotinha debilitada e com dificuldades respiratórias. Doía demais vê-la doente.

_ Carlie foi submetida aos melhores tratamentos que uma criança pode ter. Fizemos de tudo para tentar curá-la. Quando ficamos sabendo que você tinha voltado e que em breve nossa pequena seria tirada de nós, Rose ficou desesperada. Há muito tempo que a garota mimada, egoísta e sem caráter não se manifestava, mas a partir do momento que foi ameaçada a ficar sem Carlie, Rosalie tornou-se novamente um monstro. Em nenhum momento ela tratara Carlie mal, mas passou a dispensar um ódio mortal por você.

Eu respirei fundo e encarei minhas mãos.

_ Tudo bem. Já me acostumei a ser odiada._ Disse com um sorriso sarcástico.

Ele sorriu também e ficou um tempo perdido em pensamentos.

_ Se fosse por Rosalie, Carlie jamais saberia sobre vocês, mas Esme nunca permitiu que disséssemos a nossa pequena que éramos os pais dela. Eu e Rosalie éramos apenas os tios que cuidavam dela porque os pais não podiam cuidar._ Fui capaz de sentir uma ponta de amargura em sua voz.

_ Sinto muito por isso, Emmett, mas se eu soubesse que minha filha não havia morrido, eu jamais teria deixado que a levassem. É um mistério ainda como eu as criaria, visto que eu não poderia contar com a ajuda de Edward, mas eu daria um jeito. Minhas filhas eram tudo pra mim. A única lembrança que restou de uma linda história de amor.

Ele suspirou e mais uma vez olhou para as meninas.

_ Pela primeira vez na vida eu e Rosalie tivemos uma família de verdade. Nós três éramos muito felizes. Minha infância também não foi fácil. Eu era um troféu que meus pais apresentavam para a sociedade. Nunca reclamei por ter nascido em uma família rica, mas acho que se eu fosse menos rico teria sido mais feliz.

_ Eu não acho isso. Sempre fui pobre e meus pais me negligenciaram a vida toda. Ainda sim eu fui uma criança feliz porque minha avó sempre cuidou de mim. Quando descobri que estava grávida, meu único pensamento era cuidar melhor do meu bebê. Eu queria oferecer a ele o que meus pais nunca me ofereceram.

Ele sorriu e me olhou atentamente.

_ Eu cheguei a duvidar do seu amor pela Carlie. Era difícil acreditar que uma mãe não sabia da existência da filha. Mas depois de vê-la com as meninas eu cheguei à conclusão que você é uma mãe maravilhosa e merece ter suas filhas ao seu lado.

Sorri sinceramente, o olhando pela primeira vez com simpatia.

_ Obrigada, Emmett. Eu amo minhas filhas. Amo o bebê que eu estou esperando. Amo Edward e tudo que eu quero é viver em paz ao lado da minha família. Eu nunca acreditei que seria feliz. Nunca tive essa esperança. Mas agora, depois de tanto tempo eu finalmente acho que serei feliz ao lado da minha família.

_ É uma bela família. Suas filhas são lindas e Edward te ama com loucura. Quanto a ser feliz..._ Ele suspirou e olhou para as próprias mãos._ Felicidade é um estado de espírito e momentos que nós mesmos construímos. Penso que ela depende exclusivamente de nós.

_ Talvez você tenha razão. Mas minha felicidade sempre esteve nas mãos de Carlisle. Enquanto ele vivesse minha paz seria ameaçada. Agora, eu acho que posso ser feliz. Acho que finalmente tenho essa oportunidade.

_ Carlisle era um homem perturbado. Tinha uma família linda e nunca deu valor. Rosalie adorava o pai. Por isso ela ficou tão perturbada com sua morte. Ela sempre fez de tudo para agradá-lo e por isso tinha tão pouco caráter. Para ela, o pai era um herói. Ela se enganou a vida toda com ele. Nem eu tinha permissão para falar umas verdades sobre aquele sujeito.

_ Edward nunca se enganou com o pai. Sempre soube das suas maldades. Ou melhor... Acho que ele descobriu da pior forma possível. Desde então, ele passou a gostar cada vez menos do pai._ Conclui.

_ Edward é homem e não precisava se enganar. Ele conhecia Carlisle e sabia do que ele era capaz. Mas Rosalie..._ Ele suspirou cansado._ Rosalie preferia se enganar a admitir que o pai não era um bom homem. Espero que ela supere isso. Minha esposa precisa ser liberta desse amor que é tão prejudicial a ela.

_ Tenho certeza que com o tempo ela vai esquecer e entender que o amor do seu pai era nocivo para ela. Ela vai superar isso. Edward e Esme estarão ao seu lado. Tenho certeza.

_ Não a odeie, Bella. Rosalie passou por muito sofrimento na vida. Muita decepção. Ela não tem nada contra você. Posso garantir. E quanto à Carlie... Rosalie a ama assim como você. Carlie é uma parte importante da vida de Rose. Não tente separá-las. Por favor.

Eu suspirei e olhei nos olhos de Emmett.

_ Carlie é minha filha e a única coisa que eu quero é que ela seja feliz. Se para isso ela precisar da tia, eu não hesitarei em mantê-las perto. Mas Rosalie não está bem. Tenho medo que ela se descontrole e magoe minha pequena. É tudo que eu não quero. Carlie já sofreu demais.

_ Carlie é maravilhosa. Veio ao mundo para fazer as pessoas ao seu redor felizes. É impossível não amá-la._ Emmett falou sorrindo e nesse momento Carlie virou-se para nós e nos presenteou com um lindo sorriso.

_ Eu sei. Esse é o encanto das minhas “gêmelas”._ Falei, me lembrando do termo que Nessie usava para se referir à irmã e nós dois rimos.

Sentia-me mais leve após ter tido essa conversa com ele.

Agora eu entendia as atitudes de Rosalie e me sentia mais tranqüila em deixá-la próxima a Carlie.

_ Obrigada por me ouvir, Bella. Eu precisava fazê-la entender que Rosalie não é a vilã que todos pintam. Por baixo daquela personalidade durona vive uma garota frágil e carente que precisa de apoio e amor.

_ Ame-a e cuide desse bebê que está a caminho. Construa ao seu lado a família que ela nunca teve. Em breve Rosalie será uma nova mulher. Um filho é capaz de transformar qualquer pessoa.

Ele meneou a cabeça em concordância e ficamos um tempo em silêncio, observando as meninas.

Ouvimos um barulho na porta e nos viramos para ver Edward entrando na recepção.

Seus olhos estavam vermelhos e ele parecia bastante emocionado.

Levantamos-nos e ele se aproximou de mim, me abraçando.

Olhei para Emmett por cima dos seus ombros e este também parecia emocionado.

_ Aquele homem destruiu nossa família. Eu o odeio. Não queria me sentir assim, mas sua morte foi uma dádiva._ Ele disse com a voz abafada contra meu ombro e eu sabia que ele tentava conter o choro por estar na frente do cunhado._ Minha irmã está assim por culpa dele.

_ Fique calmo, amor. Logo Rosalie estará bem. Carlisle está morto e não vai voltar para perturbar-nos._ Disse enquanto acariciava seus cabelos, na tentativa de acalmá-lo.

As meninas aproximaram-se e olhavam para Edward, apreensivas.

Levou um tempo até que ele conseguisse se acalmar.

_ Ela quer ver Carlie agora. Tudo bem?_ Edward me perguntou, enquanto pegava a mão de nossa pequena.

Eu assenti de leve e segurei a mão de Renesmee.

Eu queria acompanhá-los, mas não faria essa imposição.

Eles precisavam desse momento.

_ Eu vou ver a tia Rose, papai?_ Carlie perguntou quando Edward começou a guiá-la em direção aos quartos.

_ Sim, meu anjo. Sua tia quer vê-la, porque está morta de saudades._ Ele falou com voz suave.

_ Eu quero que a mamãe e a Nessie venham também._ Carlie falou decidida e virou-se para encarar-me.

Olhei hesitante para Edward e ele assentiu.

Ele sabia da minha vontade de não deixar Carlie a sós com Rosalie.

Seguimos pelo longo corredor e Emmett ficou nos esperando na recepção.

Eu estava com receio de Rosalie tratar-me mal.

Nosso último encontro foi bastante problemático, mas eu precisava estar ao lado da minha filha.

Essa era uma necessidade quase vital.

XXXXX

Rosalie estava nos esperando sentada sobre a cama e abriu um largo sorriso assim que colocou os olhos sobre Carlie.

_ Minha princesa..._ Ela disse vindo em direção à minha filha e a tomando nos braços.

Era incrível como ela jamais confundira as meninas.

Elas eram idênticas e muitas pessoas não sabiam distingui-las, inclusive Alice, Esme e Alda.

Apenas Edward, Jacob e eu jamais confundimos as duas.

E Rosalie.

Ela jamais tinha qualquer dúvida de quem era Carlie e quem era Renesmee.

Elas tinham um jeito único de ser e a convivência mostrava que apesar de serem iguais fisicamente, elas eram bem diferentes entre si.

Renesmee era explosiva, impulsiva e até imperativa, às vezes.

Carlie era doce, suave e muito tímida. Estava sempre seguindo a irmã e quase nunca se ouvia o som de sua voz.

E essa diferença as completava de um modo que eu não sabia explicar.

Tornavam-nas duas peças de um único elemento.

_ Oi, tia._ Ouvi a voz suave de Carlie abafada contra o peito da tia.

Elas ficaram um tempo abraçadas e Rosalie só a soltou quando notou minha presença.

Ela me olhou atentamente e depois de sentar Carlie em seu colo e beijar seus cabelos ela suspirou e fechou os olhos.

_ Eu tinha certeza que você viria. Eu sabia que você não deixaria Carlie sozinha comigo. Não depois do que eu fiz.

Engoli em seco, sem saber o que responder e senti Edward apertando minha mão, me dando forças para enfrentar Rosalie.

_ Eu sei que não faria nem um mal a ela, Rosalie. Na verdade foi Carlie quem pediu para que eu viesse._ Falei tentando atenuar a situação.

Ela olhou para Carlie por um momento e depois me encarou novamente.

_ Me desculpe._ Ela falou baixinho que eu pensei que tivesse ouvido errado. Mas quando ela levantou o rosto banhado em lágrimas eu soube que ela realmente havia se desculpado.

_ Tudo bem, Rosalie. Já passou. Edward já está aqui conosco. Bem. É isso que importa._ Falei suavemente, na tentativa de acalmá-la.

Saber sobre o passado de Rosalie fez com que eu a entendesse melhor e não julgasse tão mal suas atitudes.

Ela sofrera bastante e embora isso não justificasse muitos de seus atos eu não tinha mais vontade de travar uma batalha com ela.

Na verdade eu queria confortá-la.

_ Eu amo meu irmão, Bella. Não queria machucá-lo. Eu..._ Ela suspirou e apertou Carlie ainda mais em seus braços._ Eu acho que não queria machucá-la, tão pouco. Não sei por que fiz àquilo. Sinto muito.

_ Já passou. Agora você precisa se concentrar em sua recuperação.

Ela sorriu amargamente e encarou Edward.

_ Às vezes eu não queria me recuperar. Sempre tive a certeza que minha existência não tinha sentido nenhum. Até Carlie aparecer. Deste dia em diante minha vida se transformou e eu encontrei um sentido. Encontrei um motivo para viver. Mas aí, veio você e a tirou de mim..._ Ela disse enquanto voltava o olhar para meu rosto.

Era evidente seu sofrimento.

Olhei para Carlie e notei que ela chorava.

Eu queria tirá-la dos braços da tia e não permitir que ela sofresse.

Mas nesse momento eu estava de mãos atadas.

_ Eu não a tirei de você, Rosalie. Ela é minha. Nasceu de mim. Seu lugar é ao meu lado._ Falei suavemente, tentando não deixá-la ainda mais nervosa.

_ Eu sei. Mas eu odeio o fato dela pertencer a você. Ela deveria ser minha. Deveria ter nascido de mim.

Não falei mais nada e deixei que ela chorasse apoiada em Carlie.

Minha pequena parecia assustada, mas não disse nada.

Apenas acariciava os cabelos da tia com as mãos pequenas.

_ Tia... Eu amo minha mamãe. Eu amo você também. Não briga com ela. Não fica triste._ Carlie pediu suavemente e Rosalie chorou mais ainda.

Nessie olhava a cena concentrada e parecia ter vontade de dizer alguma coisa, mas mantinha-se calada.

Edward abraçou minha cintura e eu pude senti-lo emocionado.

_ Eu queria que Carlie vivesse comigo outra vez. Eu queria ter a família que ela, Emmett e eu construímos..._ Rosalie disse quando estava mais calma._ Eu queria, só por um momento, não me sentir incompleta. Queria fingir mais uma vez que eu sou mãe. Que eu posso ter filhos. Que eu não sou seca...

Nessie respirou fundo e me olhou por um momento com os olhinhos suplicantes.

Eu sabia que ela queria contar para a tia o que sabia sobre a gravidez, mas eu temia uma reação negativa de Rosalie.

Soltei sua mão, fazendo um movimento leve com a cabeça, dando permissão a ela de fazer o que tinha vontade e ela foi aproximando-se lentamente da cama da tia.

Rosalie a encarou por um tempo e depois relaxou quando Nessie tocou sua mão.

_ Não chore, tia. Em breve você vai ser mamãe. Meu priminho está bem aqui._ Renesmee falou enquanto depositava suavemente a outra mãozinha sobre o ventre liso da tia.

Prendi a respiração à espera da reação de Rosalie e pude sentir Edward tenso ao meu lado.

Rosalie olhou fixamente para Nessie e depois colocou Carlie no chão, agachando-se para ficar na altura das sobrinhas.

_ Como sabe disso, pequena?_ Ela perguntou tocando suavemente o rosto de Nessie.

_ Eu sei, ué. Se não acredita pode perguntar pro médico. Você vai ter meu priminho e da Carlie. Não vai mais precisar fingir ser mãe de ninguém.

Rosalie fechou os olhos por um momento, e colocou as mãos sobre o ventre.

Senti a presença de alguém atrás de mim e me virei para ver Emmett parado à porta, encarando a cena, emocionado.

Ele aproximou-se lentamente da esposa e a tomou nos braços.

Ambos choravam e Carlie e Renesmee vieram para perto de nós, que a tomamos nos braços também.

Pode parecer bobagem, mas naquele momento eu senti os laços de amor nos envolvendo.

Éramos realmente e finalmente uma verdadeira família.

Sem ódio, sem mágoas, sem infelicidade...

_ Carlie, você será sempre minha princesinha. Não importa quantos filhos eu tiver, você será sempre minha pequena._ Rosalie disse quando já estava mais calma.

Carlie sorriu sinceramente e foi novamente para perto da tia, a abraçando e sendo abraçada por Rosalie e por Emmett também.

_ Também te amo, tia. Você sempre será minha tia favorita.

Nós rimos de sua declaração inocente.

Tecnicamente, Rosalie era a única tia que ela tinha.

Rosalie se levantou e aproximou-se de mim.

_ Me desculpe por tudo, Bella. Prometo deixá-los em paz. Eu sei que vocês merecem ser feliz.

Eu sorri sinceramente para ela.

_ Obrigada, Rosalie. Você será muito feliz, também. Terá uma linda família.

Ela sorriu e se abraçou a Emmett.

_ Se Nessie estiver certa, eu serei a mulher mais feliz do mundo. Mas não quero criar expectativas..._ Ela disse séria.

Nessie colocou a mão na cintura indignada e encarou a tia.

_ Eu nunca erro, tia. Pode apostar.

Nós rimos e esse momento feliz pareceu levar embora toda a tensão.

Ficamos mais algum tempo no quarto de Rosalie enquanto ela paparicava Carlie e Nessie.

A enfermeira veio nos avisar que Rosalie precisava descansar e nós fomos embora.

Edward abraçou mais uma vez a irmã e ela prometeu que assim que pudesse iria conhecer nossa casa em Forks.

Ela parecia hesitante ainda.

E isso era normal.

Há poucas horas ela ainda me odiava.

Eu estava tranqüila.

Teríamos tempo para construir uma relação de amizade e respeito.

Afinal, éramos uma família.

Uma bela família.

XXXXX

_ Cansada?_ Edward me perguntou, abraçando-me de lado.

Estávamos no avião rumo a Forks e eu não conseguia mais manter os olhos abertos.

_ Muito. Foi um dia muito longo._ Falei baixinho, encostando-me em seu ombro.

_ Descanse, então. Ainda temos um longo caminho pela frente.

Olhei para as meninas adormecidas nos bancos a minha frente e relaxei em seu abraço.

O dia tinha sido exaustivo.

Depois da visita a Rosalie, fomos para a casa rapidamente para apanhar as bagagens e nos despedir de Alda.

Em breve ela iria para Forks para me ajudar com o bebê, mas por enquanto ela precisava ficar ao lado de Esme.

Esme e Seth foram até o aeroporto e a situação não foi nada agradável.

Edward ainda não conseguia levar a relação dos dois numa boa.

Mas pelo menos não discutiram.

Esme também nos prometeu uma visita e eu tinha esperança que até lá Edward tivesse amanssado o coração.

Mãe e filho precisavam se entender.

E Edward precisava perdoar o amigo também.

Conseguimos chegar ao Aeroporto a tempo, mas toda essa correria me deixara muito cansada.

Eu precisava dormir desesperadamente.

Mas ainda tinha um assunto que eu gostaria de conversar com Edward.

_ Emmett me contou que Rosalie foi violentada._ Falei baixinho e senti Edward tenso.

Ele suspirou e beijou meus cabelos.

_ Foi um período muito difícil em nossas vidas. Imagino que Rosalie nunca tenha se esquecido._ Ela falou depois de um tempo em silêncio.

_ Eu sei. Situações assim a gente nunca esquece._ Falei, me lembrando do tormento que vivi nas mãos de Carlisle.

Estremeci com a lembrança e Edward beijou meu rosto.

_ Ela tinha uma lembrança mais tangente de tudo isso. As lesões advindas do estupro foram tão profundas que ela nunca conseguiu engravidar.

_ Até agora._ Falei sorrindo e ele me acompanhou._ Tenho certeza que Nessie não errou. Sua irmã terá mesmo um bebê.

_ Eu espero que sim. Ela se tornará uma pessoa bem melhor se isso acontecer.

Eu concordei com um aceno de cabeça e deixei o sono me embalar.

_ Nessie conversa com meu pai, Bella?_ Ouvi a voz de Edward e foi minha vez de ficar tensa.

Eu ainda não havia conversado com ele sobre isso.

Tinha medo de sua reação.

Ele não gostaria de saber que Nessie conversava com o avô morto.

_ Aparentemente sim. Seu pai tinha uma ligação muito forte com ela. Assim como minha avó. Imagino que isso faça com que ela possa vê-los e conversar com eles.

_ Não aprovo isso. Quero que Carlisle desapareça para sempre. Que nos deixe em paz de uma vez por todas._ Ele falou, tentando conter a raiva.

_ Nessie disse que tem medo dele. Que não quer que ele continue a visitar. Vamos torcer para que isso aconteça, ou que esse dom de nossa filha acabe.

Ele suspirou e me apertou ainda mais em seus braços.

_ É. Vamos torcer._ Ele falou e beijou meus cabelos._ Agora dorme. Quando chegar eu te acordo.

Eu me aconcheguei em seus braços e me entreguei ao cansaço.

Depois conversaríamos mais sobre o assunto.

Precisaríamos ajudar nossa filha a superar isso.

Fechei os olhos e me entreguei a sensação de paz de ter Edward junto a mim. De sentir seu cheiro único e maravilhoso.

Quando eu acordasse dessa vez, minha vida seria diferente.

Finalmente eu estava indo de encontro com a felicidade.

E desta vez, seria difícil deixá-la escapar.