O Erro de John Winchester escrita por AngelSPN


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

A fé move montanhas, acredite!



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John estava perdido em seus pensamentos sombrios, seria verdade o que Azazel falara sobre Dean? O homem caiu de joelhos, não sabia mais o que fazer. Todas suas tentativas de desfazer o erro que cometera foram em vão. E pela primeira vez em toda sua vida de caçador ele começou a rezar. Perdeu-se nas palavras apenas falava olhando para o alto, em uma tentativa desesperadora de encontrar uma solução, um conforto, ter seu filho de volta. John jamais se sentiu desta forma, mesmo quando perdeu sua Mary. Estava na hora de enfrentar seus demônios. Levantou-se tirou o telefone do bolso e discou.

- Alô, Pai! Onde você está? – Sam realmente estava aliviado em ouvir a voz de John.

- Filho, nós precisamos conversar. O assunto é sério, encontrarei vocês dentro de três horas. – E John desligou o telefone.

- Quem era Sam? – Chegava Bobby com uma garrafa de cerveja.

- Era o papai, ele estava estranho. Algo aconteceu Bobby, ele nos encontrará em três horas.

- Tome Sam. Vamos esperar então. – disse Bobby um tanto carrancudo. Sam sabia que havia alguma coisa errada com o velho caçador.

- Bobby, qual o problema? Você parece que vai explodir de dentro para fora! – Sam o olhava fixamente, seria difícil ocultar o que havia descoberto. Mas não iria falar nada, até que John colocasse suas “patas malditas” onde estavam.

- Sam, assim que seu pai chegar...conversaremos. Vamos entrar.

Sam concordou para alivio de Bobby. O jovem entrou na casa, precisava de um banho, sua cabeça estava à mil. Leu tudo sobre magias, ressurreições e invocações. Sam lembrou que em uma noite ele sonhou com o irmão, era tão verdadeiro...

“Dean! Cara que saudades, vim te buscar mano. Vamos sair deste lugar...mas afinal que lugar é esse Dean? Você está me ouvindo?”

“Estou Sammy, e quero que você me prometa. Me prometa a não fazer o pacto com os demônios, eles são traiçoeiros...apenas me prometa!”

“Não se preocupe, mano. Darei um jeito de trazer você de volta.”

“Cuidado, Sammy. Isso é o inferno, se você cair nele...coisas ruins te acontecerão e ao mundo!”

E Sam acordou ofegante, quente. Sua mente estaria pregando peças? Os livros que lera estariam mexendo com sua cabeça? Apenas perguntas e mais perguntas, todas sem respostas.

Horas se passaram, a noite já caíra. E o som do motor de um carro anunciava a chegada de John. Sam segurou o pingente de Dean entre seus dedos, era uma forma de tê-lo por perto.

- Pai...eu...- John não deixou o filho falar. Apenas o abraçou tão fortemente, tão necessariamente. Seria seu pai? Não estaria possuído? Encarou-o nos olhos e só enxergou um poço de amarguras e sofrimento. Seu pai estava sofrendo tanto quanto ele a perda de Dean.

Bobby aproximava-se logo atrás, deixando ambos perplexos quando o caçador engatilhou seu rifle e apontou para o peito de John. Podia-se ver em seu rosto a determinação, a raiva tentando controlá-la, todos seus músculos estavam sob uma pressão visível.

- Bobby! O que está fazendo? É o papai! Por favor, não vamos brigar e... – mais uma vez Sam foi interrompido, mas desta vez pelo som seco do disparo de Bobby.

- Pai!!! O que você fez Bobby? – Sam correu para ajudar seu pai que caiu no chão com um buraco de raspão na perna.

- Desculpa, Sam. Mas esse homem na minha frente...e depois de tudo que ele fez...eu queria era acertar a cabeça deste infeliz, mas em consideração a você deixarei esse verme viver.- Bobby suava, suas palavras saíam em forma de gritos, Sam nunca viu o velho tão descontrolado.

Neste momento, John sabia que Bobby havia descoberto a verdade. De modo distorcido é claro, jamais imaginou que Azazel estaria por perto controlando seus passos e preparando uma emboscada.

- O que está acontecendo, aqui? Bobby, pelo amor de Deus, o que deu em você? – Sam tirava seu cinto para apertar a perna de seu pai, numa tentativa de estancar um pouco o sangue. Por sorte não pegou em cheio, talvez porque Bobby assim o quisesse.

- Você fala ou eu falo John? – Bobby continuava com o olhar tão feroz, tão ameaçador que naquele momento nenhum inseto sequer emitia qualquer que fosse o som.

- Bobby...deixe-me explicar...tudo que fiz foi pelo bem de meus filhos e – John sentiu que Sam o largou, ficou em pé e o escutava atentamente com aquele olhar de surpresa.

- Bem de quem John? Seu? Você não foi capaz de ser homem o suficiente para nos contar o que houve naquela maldita noite? Tive que saber da verdade por um demônio de encruzilhada? – Bobby agora se aproximava lentamente, Sam estava confuso. Já era hora de dar um basta e saber a verdade.

- Pára tudo! O que está havendo aqui, o que você escondeu de nós, pai? – John tentava encontrar as palavras, Bobby abaixou a arma. Se John não falasse, ele falaria.

- Seu pai, esse idiota colocou uma espécie de sonífero na bebida de Dean...

- O quê? – Sam agora encarava o pai, seu rosto transformou-se em incredulidade e ódio.

- É, ele dopou Dean, porque tinha um plano infalível de trazer você de volta. Ele e o maldito Josh, que deve estar no inferno, simularam uma caçada e atraíram Dean. Seu irmão cairia em um sono e o levariam para algum lugar e te ligariam para ajudá-los a “achá-lo”. – se Bobby tivesse problemas no coração, estaria morto logo no início da discussão, ele literalmente bufava.

- Pai, isso é verdade? Olhe para os meus olhos e diga que Bobby está errado, fale alguma coisa! – Sam sentia suas pernas enfraquecerem ao ver o olhar de John desviando-se dos seus.

- Filho, eu...não pensei que...

- Deixa de conversa homem! Seu filho estaria vivo se não fosse pelo seu egoísmo, a maldita coisa não teria levado nosso menino se ele não estivesse dopado! Eu tenho... juro, tenho uma vontade de meter uma bala em sua cabeça seu imbecil! – Agora Bobby o segurou pelo colarinho e desfechou um soco em sua mandíbula. Sam apenas o olhava com desprezo, estava pronto para explodir.

- Como pôde fazer isso com o Dean? Ele te idolatrava, você era o herói dele, você o traiu! Jamais, ouça bem, jamais serei capaz de perdoá-lo!

John não conseguia emitir um som, uma palavra sequer. Ele merecia, sabia até o último fio de seu cabelo que era culpado por toda essa desgraça.

- Você já cometeu muitas burrices, John. Mas esse foi o seu pior erro! E escondeu de todos nós!

- Como soube, Bobby? – As palavras simplesmente saíram de sua garganta rouca.

Bobby suspirou, olhou para Sam que esperava também por uma resposta.

- Invoquei um demônio da encruzilhada, o desgraçado não quis fazer o pacto. Pois tinham Dean onde eles queriam.

- Como assim Bobby? – Perguntou Sam temeroso com a resposta.

- Não sei Sam, o desgraçado sorriu e me contou os detalhes deste sórdido acontecimento. Logo de inicio tudo me pareceu loucura, depois juntei os pedaços desta história maquiavélica. Lembrei do médico dizendo que Dean havia ingerido tranqüilizantes, e quando chequei dois copos de cerveja sob a mesa...um deles havia resíduo da droga que John...- Bobby virou de costas, se continuasse a olhar para John o esfolaria vivo.

- Você quis vender sua alma, Bobby? Sabe o que Dean faria se descobrisse que você morreu em seu lugar? – Sam falava, mas estava prestes a fazer a mesma coisa, lembrou-se de seu sonho. – Bobby, o que o demônio da encruzilhada lhe disse sobre o pacto?

- Que não o faria que, o tinham onde queriam. E depois de despejar toda essa merda, desapareceu.

- O que eles queriam dizer com isso...

- Eu sei – John falou com tanto ódio que dava para sentir.

- O que você sabe pai? O que mais tem para nos dizer? – Sam tentava usar um tom menos ameaçador.

- Invoquei Azazel.

- Como? Você está louco? Aquele filho das trevas, não me diga que...

- Cala a boca Sam! Vocês dois não sabem o que estou passando, estava a ponto de acabar com minha vida. Faria de bom grado o acordo com o maldito do olho amarelo se trouxesse seu irmão de volta. Mas o que aconteceu com Bobby também aconteceu comigo. Ele negou, não quis minha alma e nem essa colt. – John tirou do casaco a colt e mostrou aos dois caçadores que arregalaram seus olhos. Bobby foi o primeiro a falar.

- Essa é a famosa colt? A que mata qualquer criatura? Como a achou? Conseguiu matar o desgraçado?

- Não, Bobby. Ele fugiu antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Mas atormentou minha mente, com uma revelação.

- Quê revelação? – Ambos falaram juntos.

John agora estava sentindo-se o pior de todos os vermes, suspirou. A dor para ele era um bálsamo para seus pecados, merecia sofrer bem mais.

- Temos que nos unir, temos que salvar Dean, salvar seu irmão! – John olhava fixamente para Sam.

- Do que você está falando, pai? – Sam estava ficando nervoso com o que estava para ser revelado.

- Meu garoto...está no inferno...sendo torturado pelos desgraçados...eles o querem lá por algum motivo que não sei. Não sei! Não sei! – Lágrimas agora lavavam seu rosto, seus punhos encontravam o chão com violência. Bobby e Sam ficaram parados, não conseguiam respirar, não poderia ser verdade.

- Meu sonho...meu sonho era real!

- Do quê você está falando Sam? – Bobby voltava sua atenção para o moreno.

Sam então contou seu pesadelo que tivera cada detalhe do lugar onde estivera enquanto estava adormecido.

- Eu falei com o Dean, ele me alertava a não fazer pacto. Pois eles tinham um plano para mim.

John não acreditava no que estava ouvindo, os malditos queriam seus filhos. Mas isso não ficaria assim, daria um jeito. Ele encontraria uma solução, tentou levantar-se, caiu. Começou a rastejar-se para o carro. Tinha que agir rapidamente, Dean já deveria estar com sérias seqüelas do inferno. Talvez ainda houvesse uma chance, um milagre de salvar o filho.

- Pai...- Sam observava, sentiu raiva, ódio e pena daquele homem. Ele engoliu sua vontade de acabar com a vida do próprio pai. Era o momento de se unirem e salvarem Dean. Como? Não tinha idéia, mas juntos conseguiriam. Depois o tempo iria dizer o que lhes aconteceria. – Pai, espere...eu, você e Bobby precisamos ficar unidos, pelo Dean!

Bobby não parecia ter gostado da idéia de ficar sob o mesmo teto que John, mas pelo Dean faria qualquer sacrifício.

- Ok, Sam. Mas não espere gentilezas John. Por mim...você já estaria morto! – o caçador virou as costas e entrou na casa.

Sam sentia tanta raiva que sua pele tremia, ajudou John levantar-se. Levou-o para dentro em silêncio, pegou o kit de primeiros socorros e entregou ao pai.

- Tome, faça seu curativo. Vou dormir, amanhã acharemos uma forma de livrar meu irmão das garras dos desgraçados.

- Obrigado, filho.

- Não me agradeça, não faço por você. Faço pelo Dean. – Sam virou-se e subiu as escadas, atirou-se na cama, olhou o amuleto do irmão e sentiu-se um derrotado. Sentiu-se culpado por ter deixado Dean sozinho com seu pai, maluco. Adormeceu, estava muito cansado.

John limpava suas feridas, parecia mais uma máquina agindo sem quaisquer indícios humanos. Deitou-se no sofá e adormeceu seguido de gritos em sua mente...gritos de Dean, de suas últimas palavras de desculpas “Me...me desculpe, pai. O senhor...pede para mim cuidar de Sam desde pequeno...cof..cof..agora deixo ele sob sua proteção..”isso matava o velho caçador noite após noite.

Dias se passaram e a conversa entre eles e John era estritamente profissional, não havia perdão, Bobby jamais perdoaria. Sam, apenas pensava em uma forma de salvar o irmão. Eles fizeram uma emboscada para um demônio, mas não conseguiram nada, e exorcizaram o infeliz. O desespero começou a tomar conta do trio, não havia nada que pudessem fazer. Todas as tentativas foram falhas. A noite caía mais uma vez, e no semblante de nossos amigos a derrota de mais um dia.

Bobby recolheu-se, não era do seu feitio entregar os pontos. Ele estava desesperado, sem esperanças, perdido. Caiu de joelhos, elevou as mãos e pediu ajuda aos céus.

- Sei, que não mereço...cometi vários pecados...mas peço que nos ajudem, peço que nos guie para o caminho da salvação de meu garoto – um sorriso ao lembrar da face de Dean ainda moleque.

Sam aproximou-se do quarto, havia ouvido conversas e como John estava lá embaixo resolveu averiguar o que o velho caçador estava fazendo. Sam sentiu seu coração falhar, havia uma aura tão boa, tão sincera vinda do quarto. Teve medo, sentiu um poder divino vindo daquele ambiente. Espiou pela porta entre aberta, Bobby continuava sua reza. Sam encostou sua cabeça contra a parede e acompanhou mentalmente o velho caçador.

As luzes piscaram, algumas explodiram...um som forte acabou com os vidros da janela. Apavorados todos os três se encontraram para enfrentar o que quer que fosse, ouviram o estrondo da porta sendo arrancada, desceram e na frente deles um homem de, sobretudo e de olhar como a imensidão do céu os encarava serenamente. John apontou a colt para o invasor, Bobby pegou um ferro e com uma agilidade acertou o ser a sua frente.

- Mas que diabos! – Bobby viu o ferro ficar torto ao contato com o corpo de homem que continuava parado.

John disparou, não poderia arriscar perder ninguém naquela casa, e para espanto do trio, a bala que entrou foi expelida pelo corpo do homem. Estavam perdidos.

- Quem é você? E o que quer de nós? – Sam perguntava, tentando ganhar tempo para algum tipo de idéia do que estavam enfrentando.

- Meu nome é Castiel, vim ajudá-los a resgatar Dean do inferno. – ele falava pausadamente e sua voz era firme e determinada.

- Porque quer nos ajudaria? E como sabe sobre Dean? – Bobby agora indagava com o pedaço de ferro retorcido em suas mãos.

- Vocês pediram minha ajuda...

- Como? Nós não te conhecemos? O que você quer em troca? – John continuava apontando a arma inutilmente para Castiel.

- Sou um anjo do Senhor! Estava pronto para ajudá-los, mas precisava de fé e vocês dois hoje – apontou para Sam e Bobby – depositaram toda suas preces aos céus de forma pura, sincera.

- Já vi de tudo nesta vida, agora você superou os limites da sanidade. Você um anjo? Conta outra amigo! – Bobby estava ficando indignado por tal blasfêmia. Ele não era religioso, mas respeitava.

- Eu falo sério – sua voz rouca e de tom ameaçador colocou os três em alerta. Todos os olhos estavam voltados para o anjo, que mostrava suas imensas asas. Todos os três foram acometidos de uma paz que nunca sentiram antes.

Sam encheu seu coração de esperanças, suas preces foram ouvidas! Eles salvariam o irmão não através de pacto com os seres das trevas, mas porque Deus assim o queria.

– Porque Deus perderia seu tempo conosco? – John ainda não acreditava, aproximou-se mancando e com a arma engatilhada.

Castiel aproximou-se, John não conseguiu se mexer, nenhum dos três movia-se. E Castiel colocou sua mão na perna do caçador, uma luz branca emanou de suas mãos, curando o ferimento de John.

– Deus tem planos para vocês, Dean é uma peça fundamental ele será capaz de salvar o mundo, através de seus sacrifícios. – o anjo virou-se para Sam. – Você Sam, terá que me prometer uma coisa.

– O quê? – Sam não sabia mais quais armas utilizar, estava envolvido pela segurança nas palavras do anjo.

- Prometa, que quando chegar o momento aconteça o que acontecer, morra quem morrer, você dirá NÃO! – O anjo agora estava frente a frente com Sam.

- Como assim? O que quer dizer com isso? – Sam sentiu o peso daquelas palavras, o anjo sabia de alguma coisa do futuro.

- Apenas prometa, não estou autorizado a falar. No momento certo você saberá do que estou falando. E então, qual será sua resposta?

Sam olhou para Bobby e para seu pai. Era incrível o poder de cura daquele ser, seu pai estava ereto e parecia não sentir mais dor.

- NÃO! Eu prometo dizer Não!

- Sábia escolha Sam, sábia escolha. Venham comigo, peguem suas armas e munições, vamos sitiar o inferno.

Os três se entreolharam, jamais leram em algum livro sobre ajuda ou intervenção divina, nenhum caçador havia comentado em ter visto um anjo, muito menos de serem ajudados por um deles. Quando tudo isso passasse eles certamente agradeceriam pela oportunidade, mesmo sabendo que algo no futuro os aguardasse para cumprirem sua missão na terra.

- Estão prontos? – Todos concordaram e em um piscar de olhos eles estavam em um lugar tenebroso, mãos saiam da “terra”, lamentações tomavam conta daquele lugar.

Castiel caminhava soberano, as criaturas não conseguiam tocá-lo, a luz que emitia do seu corpo assustava os “zumbis”. Sam olhava para uma imensidão de dor e sofrimento.

- Esse é o inferno? – Sam tentava se livrar de uma mão pegajosa em sua perna.

- Sim. – disse Castiel - O INFERNO é dividido em dez círculos para punição de pecados. O primeiro e o maior círculo é o dos rufiões e sedutores, chicoteados constantemente sem misericórdia. No segundo, ficam os lisonjeadores, mergulhados em fezes de demônios. O terceiro abriga os simoníacos (contrabandistas de relíquias sagradas), amarrados pela cintura em buracos cheios de fogo. No quarto círculo, adivinhos e feiticeiros andam sem parar para frente, mas com as cabeças viradas para trás e sem os olhos. Os Malebranches (ou "garras más") são os demônios do quinto círculo. Os condenados são mergulhados em piche fervente e espetados com garfos pelos demônios. Os hipócritas são castigados na sexta, onde caminham eternamente usando pesadas capas de chumbo. No sétimo círculo, os violentos são picados por cobras e consomem-se em veneno até virarem cinzas, para depois ressuscitarem e passarem novamente pelo tormento. No oitavo, as almas são vestidas com as roupas que usavam em vida, ardendo constantemente no fogo do inferno. E as almas “seqüestradas” têm seu lugar no nono círculo, onde são golpeados pela espada de um demônio conhecido como Alastair, o carrasco, ele passa a eternidade lacerando e cortando suas vítimas é onde seu irmão está aprisionado. No décimo e último fosso, os condenados, feridos e cheios de vermes, cobertos por chagas da lepra e tomados por uma terrível coceira, vão rasgando o próprio corpo com as unhas. Depois disso, chega-se ao centro do inferno, onde Satanás e o rei do inferno juntam suas sombras gigantescas escurecendo tudo a seu redor. (trecho baseado em A Divina Comédia, de Dante Alighieri e adaptado a minha história).

Sam sentiu um súbito mal estar, só de imaginar seu irmão sendo torturado era atormentador.

- Como é o tempo aqui. – perguntou Bobby com os olhos arregalados.

- Meses no tempo de vocês, aqui são considerados como anos. – Castiel continuava sua caminhada.

- Então meu irmão está aqui como se fossem quatro anos? – O coração de Sam acelerou.

- Não Sam...são como quarenta anos! – Castiel sentiu o sofrimento que sua revelação causou no grupo. – Eu sinto muito.

Haviam chegado à primeira porta onde ouviam os estalidos dos chicotes, cortando a “carne” dos condenados. O cheiro era forte e repulsivo, havia muitas pessoas, homens, mulheres, crianças mutiladas.

- Eles não nos enxergam? – John estava realmente assustado de como encontraria seu menino naquele inferno de sangue.

- Não, são seres pouco evoluídos. Consumidos pela dor e pelo passado. Mas em cada final de porta há um guardião. Treinado a sentir a presença de estranhos, teremos que lidar com cada um deles. A colt que carregam funciona neles. Preparem-se para a primeira batalha.

Castiel orientava seus novos amigos, rumo à libertação de seu protegido. As três primeiras casas foram ultrapassadas com segurança. Ninguém entre o demônios imaginavam serem abordados em seu próprio território. Só loucos fariam isso. John conferiu a munição, realmente a colt era muito poderosa. Havia três balas, e certamente ele guardaria a última para Azazel.

- Temos pouca munição, como faremos para liquidar com o restante? – John perguntou em voz baixa.

- Aqui em baixo meus poderes são consumidos rapidamente, não posso ajudá-los, pois isso poria a nossa fuga em sérios riscos. Terão que atordoá-los com suas armas de sal e água benta. – Castiel continuava sua caminhada firme em direção da outra saída.

E assim fizeram os caçadores, colocaram em prática suas habilidades, Bobby fulminava o quarto monstro que guardava a saída onde poderia ver milhões de almas de feiticeiros andando e suas cabeças viradas devorados por labaredas e uma angustiante dor.

Sam sentia cada vez mais seu coração acelerar, eles já estavam na oitava casa e logo encontrariam seu irmão. Conforme avançavam os obstáculos iriam ficando cada vez mais tortuoso. A oitava casa John viu-se obrigado a utilizar a colt, mesmo com a bala enterrada no peito o monstro demoníaco avançava para cima de Sam. Sam com movimentos rápidos desviou-se das garras afiadas do monstro e as almas torturadas avançaram contra o demônio e o dilaceravam com as próprias mãos.

- Essa foi por pouco. – Bobby disse apoiando as mãos em seus joelhos, tomando fôlego.

- Estamos na nona casa, vamos resgatar Dean deste inferno! – Sam avançou com uma vitalidade e determinação.

Mas aos poucos seu medo aumentou, centenas de almas penduradas e totalmente disformes. Não sabia distinguir que parte do corpo ainda continuava em pé. Castiel os chamou para próximo de uma montanha de carne humana, o odor era insuportável. Os três ficaram atrás do anjo, aguardando o sinal. Sam estremeceu, ouviu o som de um grito rouco e angustiante, era seu irmão! Reconheceria seu sofrimento a distância. Avançou e foi impedido pelas mãos firmes de Castiel.

- Espere Sam, um deslize e podemos todos ficar eternamente aqui. Aquele é o carrasco Alastair, nós estamos quase desarmados, temos que esperar ele sair. E então resgatar seu irmão. Sei que não será nada fácil para nenhum de vocês presenciarem o sofrimento de um ente querido. Mas confiem em mim, haja o que houver mantenham-se firmes. Hoje venceremos o mal e libertaremos Dean.

Mais um grito. O fio da espada de Alastair alcançava a carne do loiro, Sam pôde ver o corpo do irmão em retalhos, o peito nu, apenas a cintura até suas coxas eram cobertas por uns vestígios de seu jeans.

Dean estava com ganchos o sustentando no ar, preso em sua carne. Sam jamais esqueceria aquela visão e odiou mais uma vez o pai e os desgraçados que fizeram isso ao seu irmão.

Castiel estava compadecido, para ele que era um anjo estava sendo difícil ficar aguardando, olhou para o rosto dos três, lágrimas estavam contidas em seus olhares esforçavam-se para não avançar e acabar com tudo. Então ouviram a voz pesada e arrastada de Alastair.

- Vamos lá Dean. Por quanto tempo continuará resistindo? Vamos recomeçar onde paramos? – Sua voz era zombeteira.

- Vá para o inferno, seu desgraçado. – Dean ainda esforçava-se para falar, seus dentes estavam cobertos de sangue.

- Já estou, esqueceu? Será que terei que trazer uma motivação para você aceitar minha proposta? Que tal o doce Sammy?

Desta vez Dean conseguiu mais uns cortes profundos ao debater-se no alto onde estava sustentado pelos ganchos.

- Seu amaldiçoado! Você pagará por todas suas maldades, e serei eu a deliciar-me com seu sofrimento.

- Você não aprendeu nada ainda. – A espada atravessa o corpo de Dean, a dor tão forte ocasionada pelo golpe deixou o rapaz imóvel com a cabeça pendida para frente. Castiel teve que paralisar os movimentos de Sam e Bobby, ambos já não agüentavam mais a situação. John seguia as ordens do anjo, não seria tolo por duas vezes.

Alastair afastou-se, sua diversão acabou no momento, voltaria assim que o loiro estivesse restabelecido, pronto para provar outras formas de torturas. Castiel libertou os amigos e deu sinal para avançarem, olhou-os com repreensão, por pouco não colocaram a missão em perigo.

Sam aproximou-se, não havia pedaço do corpo do irmão que estava intacto, tocou nas correntes e imediatamente suas mãos queimaram, elas estavam em brasa.

Bobby tirou da sacola que carregava um alicate de cortar aço e correntes. Utilizaram nas cinco pontas e viram o corpo do jovem desabar nos braços de Castiel. Ele pousou delicadamente o loiro no solo, os ganchos ainda estavam em sua pele e um a um foram tirados pelo anjo e por Sam que não segurava mais as lágrimas a tanto contidas.

- Vai ficar tudo bem Dean, você vai ficar novo em folha. Vou cuidar de você irmão! – Sam falava baixinho, tirando os malditos ganchos afiados.

- Sam..my? – dos lábios ensangüentados do loiro essa palavras tocaram o coração de todos os presentes.

- Mano, é isso aí! Você é O Dean. Logo, logo sairemos daqui. – Sam limpava as lágrimas misturadas com o suor com o braço.

- Mas que cena comovente! A família toda reunida, para um churrasco!

John imediatamente conheceu aquela voz, era Azazel. Os caçadores ficaram em alertas, Castiel não estava mais entre eles. Sam pôde perceber o medo do pai, sua mão tremia com a colt em punho. Mas o som do disparo foi ouvido, a bala projetava-se na frente do peito do desgraçado de olhos amarelos, finalmente chegara seu fim. Mas Azazel sorriu, elevou a mão para frente parando a trajetória da bala.

- Vocês acham que podem me enfrentar com a colt aqui? Onde meu poder é infinitamente poderoso? Tolos. Agora o que me deixa curioso...- Azazel arremessou os três contra a muralha de carne, braços agora abraçavam o corpo dos caçadores e o demônio de olhos amarelos apenas com o poder de sua mente movimentou as correntes, os ganchos agora estavam em pé se direcionando novamente para o corpo de Dean.

- Páre com isso, já não foi o suficiente o que você fez com minha família? – John gritava, seu ódio era palpável.

- John, já te disse. Temos planos para seus garotos. Mas como eu estava dizendo...estou curioso para saber como chegaram até aqui?

- Eu os trouxe!

Castiel colocou sua mão no ombro de Azazel, que tomado pela surpresa percebeu a força de um anjo. Seus olhos ficaram totalmente amarelos, sua língua estava presa na garganta, apenas grunhidos eram ouvidos, a claridade de que Castiel emanava concentrou-se dentro do demônio. Os três caçadores conseguiram sair da imobilidade, as correntes cessaram seu caminho até o jovem loiro ainda caído. Sam correu até o irmão e assistia prazerosamente a agonia do desgraçado do olho amarelo. Castiel intensificou o seu poder, estava sem tempo tinha que acabar com Azazel e tirar seus amigos daquele lugar. Azazel olhou para suas pernas, elas estavam virando cinzas, ele nunca imaginou sentir tanta dor, tanto medo. Olhou para os olhos brilhantes do anjo.

- Piedade!

Castiel nem sequer cogitou esta possibilidade e em meio a uma explosão o corpo de Azazel virou fagulhas no ar.

- Dêem as mãos, vamos sair daqui. Agora! – Castiel e os demais sentiram o inferno estremecer sob seus pés.

Sam levantou o corpo do irmão em seus braços e todos se uniram em um raio de luz tão forte que não abriram os olhos até chegarem ao local predestinado.

Bobby abriu os olhos, estavam na velha casa novamente, olhou Sam, John e Castiel.

- Onde raios está Dean! – Sam gritava não sentindo o irmão em seus braços.

- Acalmem-se – Castiel falava devagar, havia esgotado boa parte de seus poderes – Vá desenterrar seu irmão, a alma dele voltou para o corpo. Neste momento ele deve estar confuso e perdido.

Castiel foi amparado por Bobby, suas energias deveriam ser recarregadas.

- Você vai ficar bem, Castiel? – Bobby perguntou sinceramente, com uma profunda gratidão.

- Sim, Bobby. Obrigado. – E Castiel desapareceu.

Sam sentiu a sua pá atingindo a madeira do caixão, começou ir com calma e pôde nitidamente ouvir o tossido de seu irmão em busca de ar. Com as próprias mãos arrancou pedaços da madeira, e tirou Dean do maldito local.

- Calma, calma...respire devagar mano. Isso. – Sam estava no limiar de suas forças, queria muito abraçar o irmão. Parecia que havia acordado do pesadelo em que ficou nesses quatro meses. Como era bom tê-lo ao seu lado.

Dean foi ganhando forças novamente, a respiração voltava ao seu ritmo quase normal, seus olhos encontraram os de Sam.

- Sammy! – o loiro o abraçou fortemente. Bobby já começava a se costumar com suas lágrimas. Esses garotos ainda o matariam do coração.

- Cara nunca pensei que adoraria ouvir você me chamar de Sammy novamente!

- O que aconteceu? Porque eu acordei neste caixão?- Dean estava confuso, imagens iam e vinham de sua mente. Sam sentiu o irmão estremecer ao ouvir a voz de John.

- Você não se lembra de nada, filho? – John arriscou, estava com medo.

- Pouca coisa. Lembro de estar preso no teto, tonto e depois escuridão. – mas Dean se lembrava de muita coisa. Bobby falou:

- Vamos você deve estar exausto e louco por um banho. Depois conversaremos.

- É, tô cheio de fome! – risadas foram ouvidas novamente pela família, há tanto tempo a escuridão havia tomado conta de suas vidas. Sam sentiu-se protegido pelos poderes do bem e cumpriria seu acordo com o anjo Castiel, embora não soubesse realmente o que seria o NÃO.

Os quatro seguiram para a velha casa, ajudaram Dean a se locomover. O loiro não conseguia entender o que realmente acontecera, parecia bem fisicamente, mas estava sentindo-se tão machucado que mal podia manter-se em pé.

Após longas horas de repouso, estavam todos reunidos na sala. Ninguém queria comentar o que ocorrera se Dean, não lembrava era uma benção divina, pensava Sam. E não seria ele a quebrar essa barreira.

Dean caiu em um sono profundo, o loiro estava muito cansado. Todos precisavam de uma noite tranqüila de sono. Sam acordou no meio da noite, ouviu o peito do irmão arfar rapidamente, provavelmente um pesadelo. Resolveu acordá-lo.

- Hein, Dean acorde! Acorde, Dean!

Dean levantou-se assustado, estava banhado em suor. Respirou ao ver o irmão e sorriu.

- Quer me matar de susto, Sammy! Isso é jeito de me acordar?

- Sam, sorriu. Tirou de seu pescoço o pingente que carregava do irmão e o entregou.

- Acho que isso, lhe pertence.

- Ah, obrigado Sam. – Dean pegou com ternura seu pingente e recolocou em seu pescoço. Sentiu de imediato uma sensação de alivio. Elevou a mão na cabeça. Sam percebendo perguntou:

- Quer uma aspirina?

- Não doutor, House. Estou bem.

Sam deixou suas covinhas aparecerem em sua face, seu irmão não tinha jeito.

Dias se passaram, e John aproveitou o momento para falar com Dean a sós.

- Filho, você está me evitando ultimamente. Não sou burro, você se lembra de tudo, não é? – Encarou aqueles olhos verdes, profundos e uma tristeza escondida no olhar.

- Lembro, pai. Mas pelo menos...Sam está de volta, não é?

John sentiu a dor daquelas palavras, queria explicar-se. Mas Dean não deu chance, apenas sorriu.

- Está tudo bem, pai. Eu cuidarei de Sammy. Ele me contou sobre o anjo Castiel, vamos partir em algumas horas. Sammy encontrou um caso de um fantasma em...

John o abraçou, Dean foi pego de surpresa. Nunca havia visto seu pai tão emotivo. John pedia perdão, suas lágrimas banharam o ombro do loiro. Dean retribuiu o abraço.

- Está tudo bem, pai. Não há o que perdoar.

John encarou mais uma vez o filho, o homem a sua frente, o guerreiro. Apertou seu ombro agradeceu com o olhar e um meio sorriso.

Dean saiu, os raios de sol estavam ficando mais fraco, a noite logo chegaria. Bobby aproximou-se e logo foi ao encontro dos meninos.

- Vocês vão ficar bem? – Bobby estava preocupado, Dean estava escondendo a verdade deles. E Bobby sabia disso.

- Vamos sim, Bobby. Ah, Bobby...- Dean abraçou o caçador – Obrigado por cuidar de nós.

- Ah, me larga garoto, tá ficando mole, Dean! – dizia Bobby, limpando os olhos.

- É, mas não sou eu que estou chorando. – Dean sorria com o constrangimento dos sentimentos do amigo.

- Essa poeira, desgraçada me irrita seu moleque! E até algum dia, me liguem caso se meterem em alguma encrenca. – E o velho caçador com seu boné surrado entrou em seu carro e acelerou para o norte.

- O senhor, se cuide. Se precisar, sabe como nos encontrar. – disse Sam despedindo-se de John e entrando no impala.

- Adeus, pai. – Dean acenou, deixando para trás um rastro de poeira e um homem sozinho com seus pensamentos.

- Adeus, filhos!

John estava feliz por eles estarem vivos. Mas seu erro jamais seria esquecido, jamais teria a confiança dos filhos. Jamais teria Dean ao seu lado, como ele não havia percebido a dedicação do menino, a fé que ele depositava em John, o pai herói perante aqueles olhos verdes. John carregaria essa culpa para o resto de seus dias. Perdera os dois filhos que tanto amava. Talvez um dia pudesse retribuir todo o sofrimento que causara em seus meninos, de forma correta. Sabia que eles tinham um destino e uma trilha sombria pela frente.

John podia ouvir a distância o som do impala embalado pela canção Back In Black de AC/DC, era a cara do Dean. (http://www.youtube.com/watch?v=CfbcZwMuXXE&feature=related)



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Notas finais do capítulo

Agradeço aos leitores que ficaram comigo até o final, e me ajudaram com seus reviews motivadores. Vocês embalaram minha mente de idéias. Obrigada e espero que tenham gostado. Beijos.