Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 6
Destinos Traçados (Vol. 1) - Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bora lá pessoal! ;)
Toca a fazer reviews :p



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De noite, as ruas de Cila tinham um novo brilho. As luzes estendiam-se ruas fora e a vida nocturna dos bares, casas de jogo e cafés tinham agora outra cor. Independentemente dos perigosos assassinatos que têm decorrido, as pessoas continuam a levar as suas vidas normalmente e dava para comprovar isso pelo número de pessoas que se encontravam nas esplanadas à beira-mar. Estavam ali todos em massa devido à noite fabulosa e quente de Cila. A estas horas, as praias eram essencialmente frequentadas por casais de namorados e grupos de jovens estudantes que em noites como aquelas se dirigiam para lá, onde geralmente acendiam uma fogueira e desfrutavam a noite para relaxarem do stress do dia. Na zona rochosa era onde alguns jovens também se juntavam para beberem uns copos e por vezes, fumarem erva, já que tais actos são proibidos de praticar nas ruas de Cila. O que os jovens não sabiam era que ali perto se situavam umas grutas secretas onde habitavam seres obscuros. De noite ainda conseguiam ser mais arrepiantes que de dia. As suas paredes tornavam-se viscosas da humidade, o ar pesado e os seus caminhos não eram visíveis pois estavam envolvidos numa escuridão densa e profunda.

Nessa noite em especial, o espaço onde Abaddon habitava estava muito quente pois além da própria temperatura ambiente que já era alta, as tochas que iluminavam o recinto ainda a aumentava mais. Carlota já tinha saído há alguns minutos para procurar a criatura… Abaddon estava de joelhos com a cabeça encostada ao chão. Para um demónio, estava habituado a altas temperaturas, mas uma vez preso naquele corpo inútil e mortal a situação era outra… E começava a manifestar-se de maneira diferente. No momento em que se encontrava assim, algo lá dentro lutou para vir ao de cima… Ou alguém. Vanda, a verdadeira proprietária daquele corpo, aproveitou a fraqueza do demónio para comandar de novo. Assim que percebeu que tinha tido sucesso e que comandava novamente os seus sentidos, levantou-se muito rápido e com o olhar, analisou a área onde se situava.

Vanda - Está aí alguém?

Vanda tremeu à medida que a sua voz ecoou na gruta. Ao não ouvir resposta tenta mais uma vez…

Vanda - Está aí alguém?

Ao certificar-se que não havia realmente nenhum barulho a não ser a sua voz, Vanda começa apressadamente a dirigir-se à saída da gruta quando de repente algo lhe bloqueia o caminho, aquele horrível homem de máscara, o Lunatik. Devagar, saiu das sombras, colocou-se em frente a Vanda e abanou a cabeça em modo de negação. O demónio já devia estar a contar que talvez pudesse ter uma recaída e pediu àquele temível homem que tivesse de guarda. Vanda quando percebe que não consegue passar, finge dar meia volta para voltar ao mesmo lugar e quando Lunatik menos espera, esta começa a correr na direcção contrária para mais uma vez tentar fugir. Para seu azar o homem, ou monstro, foi mais rápido e conseguiu agarrar-lhe o braço.

Vanda pensou que o seu braço ia partir-se com a força com que a besta a estava a agarrar e num piscar de olhos foi a última memória que teve daquele momento, já que de seguida, Lunatik com um movimento
brusco e violento lançou-a para longe.

Vanda foi projectada no ar e embateu contra uma das paredes da gruta e foi atirada para o chão violentamente. Nesse preciso instante, Abaddon regressou e a usar o corpo da jovem, levantou-se e começou a
limpar-se do pó que ficara agarrado à roupa. Também a fraqueza de Vanda foi o momento ideal para o demónio surgir de novo.

Abaddon – Quando finalmente este corpo morrer e eu voltar a ter a minha original forma terás paz… Até lá, estamos presos
neste…

Abaddon pronuncia estas palavras para o próprio corpo, para Vanda. E esta, presa lá dentro, ouve as gargalhadas doentias do demónio…

*

A hora de jantar já tinha passado e alguns habitantes de Cila vinham agora para as ruas, para beberem café ou simplesmente passear. Aqueles que já lá se encontravam ainda permaneciam, aquela noite estava agradável demais para as pessoas estarem recolhidas em casa…

Melissa ainda se encontrava no seu quarto. Desde que falara com a sua madrasta não saíra daquela divisão… Apenas para ir buscar o seu jantar, o qual comeu no quarto. Não gostava de ter atitudes destas, mas não lhe apetecia encarar a sua “nova mãe” e em certa parte, também o fez para a irritar um pouco uma vez que a sua madrasta era muito dada a este tipo de educações, como por exemplo, haver uma hora para almoçar e jantar e que a essa hora todos estivessem presentes. Claro que todos eram apenas ela e o seu pai. Melissa estava agora deitada e ao seu lado encontrava-se um prato já vazio. Ao ouvir alguém a bater à porta do seu quarto, sentou-se rapidamente…

Melissa - Podem entrar…

Para seu alívio, era o pai desta que estava a bater à sua porta e assim que Vasco Monserrate entrou no quarto com o seu sorriso afectuoso pela filha, ainda vestido do trabalho, de cabelos já um pouco
grisalhos e olhos azuis tal e qual os de Melissa, esta apenas pode sorrir com ternura para o pai em resposta.

Melissa - Pai… Então já jantaram?

Vasco - Já! Acabámos agora! Posso perguntar-te porque não te juntaste a nós hoje?

Vasco Monserrate tinha uma maneira amigável para com a filha e geralmente sempre que a abordava, fazia-o com ternura e carinho. Não havia nada mais importante para ele na vida que Melissa, a sua filha, por quem ele dedicara a sua existência. Mas agora também tinha entrado
nesta imagem Clara e desde que isso aconteceu, Vasco tenta partilhar a sua existência com as duas. Ele percebia que elas não se conseguiam ainda entender, mas sempre pensou que o tempo tratasse deste problema… E dois anos já passaram mas as coisas não mudaram assim tanto. Mesmo assim, Vasco era um homem muito paciente e sabia que para Melissa devia ser muito difícil aceitar uma nova mulher em casa já que toda a sua vida só existiam os dois. Então, a mostrar uma atenção especial na filha, Vasco aproximou-se e sentou-se na cama ao pé dela
para os dois continuarem a conversa…

Melissa - Desculpa… Não estava muito bem-disposta e além disso hoje à tarde tive uma pequena discussão com a Clara…

Vasco - Eu sei, ela contou-me… Ela só age assim para teu bem, preocupa-se contigo. Ela só quer que sejas alguém importante para teres uma vida segura. Entendes?

Melissa - A sério? Maioria do tempo tenho a sensação é que ela desejava que eu não existisse!

Vasco - Melissa, não digas isso… Vou contar-te uma coisa… Ela está sempre a explicar-me que quando era miúda os pais nunca tinham nada para lhe dar. Ela sozinha teve de lutar pela vida quando apenas tinha 16 anos. Lembra-se muitas vezes da fome e do frio que passou… Ela não
quer que te aconteça o mesmo quando eu um dia já cá não estiver. Acredita, as intenções dela são boas!

Melissa - Estamos mesmo assim? Quase sem tecto?

Vasco - Não! Apenas estava a dar um exemplo. Talvez um pouco exagerado, mas era só para entenderes. Ela está a tentar, está a esforçar-se…

Melissa - Já sei o que vais dizer… E sim, eu prometo também me esforçar!

Vasco orgulhoso, passa a mão pelos longos cabelos pretos da filha…

Vasco - Cresceste tão rápido… Tens os meus olhos, mas o teu cabelo e as tuas feições são da tua mãe!

Melissa olhou para o pai feliz com as palavras que este proferira…

Melissa - Já não recordavas a mãe há algum tempo!

Vasco - Tens razão! Acho que com os problemas e dificuldades que estamos a passar preferi não me lembrar… Já bastam as saudades!

Melissa desta vez, sentiu um pouco de pena do próprio pai que acabara de lhe fazer uma confissão. Com ternura, agarrou a mão dele e depressa o pai mudou para uma expressão mais alegre. Definitivamente não queria que a filha o visse assim, então, mudou de assunto.

Vasco - De qualquer dos modos tenho uma notícia que talvez aumente os ânimos!

Melissa - A sério pai? Porque sinceramente precisamos de boas notícias já há algum tempo…

Vasco - Então o que achas de eu hoje ter sido contratado para chefe de contabilidade?

Melissa - Paiii…

Melissa não conseguiu esconder a felicidade que a notícia do seu pai criou nela. Aquilo era uma excelente novidade. A vários níveis! Significava que salário do seu pai ia ser aumentado, o que naquela altura do “campeonato” era óptimo derivado à crise financeira pela qual passavam. Vasco Monserrate tinha tirado o curso de contabilista durante a sua adolescência e poucas vezes tinha exercido. O facto de ter ficado a criar Melissa sozinho, ocupava-lhe muito tempo que não podia ser desperdiçado. Então, optou sempre por ter empregos que lhe ocupassem menos tempo. Quando chegou a Cila conseguiu logo orientar a sua vida e começou a trabalhar como contabilista da zona industrial da vila. Pelo menos da maior parte, a qual pertencia ao Sr. Duarte, pai de Camila. No seu 1º dia, Vasco ficara admirado com a quantidade de trabalhadores e contabilistas que se encontravam lá empregados.

Aquelas indústrias e empresas faziam realmente muito dinheiro, mais do que ele alguma vez sonhara. E hoje, quando recebera a notícia de que ia ser chefe de todos aqueles contabilistas, ficou muito contente… Agora que contou à filha ainda ficou mais, principalmente quando esta lhe deu um grande abraço.

Melissa - Isso são excelentes notícias!

Vasco - Eu sei, pode ser que agora as coisas finalmente comecem a estabilizar!

Melissa - O que fizeste para merecer o cargo?

Melissa finalmente larga o pai, mas continuava a irradiar um grande sorriso de alegria.

Vasco - Não sei, devem ter gostado do meu trabalho… Os outros trabalhadores ficaram o resto do dia um pouco mal-humorados.

Melissa - Invejosos…

Vasco - É normal! Muitos já lá estão há alguns anos e nunca tiveram outra posição senão a actual. O Sr. Duarte foi realmente generoso comigo!

Melissa - Pelo menos não é como a filha!

Melissa não resistiu e teve de fazer este comentário… O Sr. Duarte fora impecável com o seu pai. Mas a sua filha jamais faria algo assim por alguém.

Vasco - Mas vocês não são amigas?

Melissa - Algo parecido!

Vasco - Bem, ao menos lembra-lhe que o pai dela é um homem impecável!

Melissa - Tenho de concordar contigo…

Vasco levanta-se e Melissa permanece sentada.

Vasco - E agora ouvi dizer que alguém tinha uma festa com os amigos! Não estás atrasada?

Melissa põe-se de pé muito rápido e ri-se para o pai.

Melissa - Obrigado pai!

Vasco aproxima-se e dá um beijo na testa de Melissa.

Vasco - E não te preocupes tanto em arranjar um trabalho. Terás tempo um dia! Foca-te nos estudos! Eu trato da Clara.

E pisca o olho para a filha. Esta sorri e abraça mais uma vez o pai.

Melissa - Não faz mal. Se calhar até é melhor arranjar algo! Pode ser que assim aprenda as tão faladas dificuldades da vida!

Vasco - Desde que não percas rumo aos estudos! Vai divertir-te!

Melissa – Até logo pai!

E com uma última despedida, Melissa pegou no casaco e saiu. Quando ia a passar no corredor a sua madrasta passou por ela e olhou-a em tom desaprovador. Melissa desprezou-a, aproximou-se da cadeira onde tinha deixado a sua mala para a ir buscar, vestiu o casaco e saiu de casa.

*

Ninguém é perfeito! Todos temos coisas que por vezes gostaríamos de mudar, ou que pelo menos, gostaríamos que fossem diferentes e que não fizessem mal. Como é o caso de tantos vícios conhecidos. E o pior de Leonardo Almeida era fumar! Depois das refeições não havia nada que
lhe desse mais prazer que vir à porta de casa e acender um cigarro.

Claro que Leonardo não fumava dentro de casa, além de não gostar do cheiro do tabaco em sítios fechados, a sua avó, Emília Almeida, era contra fumadores. No entanto, nada pode fazer quando o seu neto começou a fumar, não o podia proibir, só iria piorar a situação. Mas mesmo assim tentou de tudo, até chegou ao ponto de lhe mostrar várias imagens que apresentavam doenças humanas causadas pelo tabaco.
Nada resultou e chegou a conclusão que tinha de ser por ele e não porque ela queria. Então, como a rotina o indicava, Leonardo encontrava-se à porta de casa a fumar um cigarro e Emília Almeida decidiu ir fazer-lhe companhia e tentar algo novo…

Emília - Posso juntar-me a ti?

Leonardo - Mas eu estou a fumar!

Leonardo ficou surpreso pela presença da avó que nunca antes tinha ido para a rua fazer-lhe companhia, ainda para mais de noite quando já tinha o seu pijama vestido, mas ainda com o típico avental por cima, e chinelos calçados.

Emília - A noite está tão boa…

Mais uma vez Leonardo ficou surpreso mas desta vez desconfiado. Para a avó estar ali era porque tinha alguma coisa para lhe dizer. Emília é a típica idosa simpática, de cabelos curtos e brancos e com uns óculos pequenos onde por trás se encontram uns olhos que muitas histórias têm para contar. Geralmente, quando queria tocar num assunto que não era muito desejado, abordava a pessoa com calma e subtileza. Leonardo conhecia-a muito bem, foi aquela senhora que o criou e que sempre fez o papel de mãe e pai. Este gosta muito dela e tem-lhe muito respeito…

Leonardo - Vá… Diga lá avó! Eu sei que quer dizer qualquer coisa…

Emília - No meio de tantas tentativas nunca te perguntei… O que é que será que os teus pais diriam se te vissem a fumar?

Leonardo - Avó… Uma das poucas fotos que tenho do pai, ele tem um cigarro na mão!

Leonardo já estava um pouco farto daquele tema, mas tinha de ter paciência para a avó, era normal ela preocupar-se.

Emília - A tua mãe não fumava!

Emília recordava sempre a filha como exemplo. Não era por mal, apenas um efeito das saudades que tinha dela. Leonardo evitava falar dos pais, as recordações eram poucas…

Leonardo - Acho que aceitariam. Mas se a fizer sentir melhor, ultimamente tenho pensado em deixar isto de vez!

Emília - Oh, isso deixava-me tão feliz…

Emília era querida e todos gostavam dela lá em Cila. Leonardo gostava muito dela e tinha de a tratar muito bem, pois a sua avó já não era nova e os seus 80 anos já lhe pesavam um pouco em cima…

Leonardo - Tem de parar de se preocupar tanto comigo. Eu sei ter cuidado, ensinou-me bem!

Ambos sorriem um para o outro e Emília decidiu descontrair um pouco o ambiente.

Emília - Vais sair?

Leonardo - Sim! Estou só à espera que a Ísis passe aqui e seguimos rumo à noite.

Ísis era sua vizinha, morava apenas duas casas mais à frente. Emília já a conhece há alguns anos e sempre gostara muito dela…

Emília - Tu e ela, ela e tu! Estão sempre
juntos! Um dia ainda vão casar.

Leonardo - Casar? Eu e a Ísis?

Leonardo estava um pouco em choque.

Emília - Passam a vida um com o outro. Certamente existe mais que uma amizade!

Leonardo riu-se… Era normal a sua avó dizer algo assim, até porque, é de outra geração. Uma geração onde não existiam relacionamentos de amizade como ele e Ísis possuíam.

Leonardo - Nada disso avó! Posso garantir-lhe que eu e a Ísis somos só amigos! E não estamos interessados um no outro. Nem consigo imaginar isso!

Emília - Isso é o que dizes agora… Deixa o tempo passar!

Leonardo - Já passou muito tempo. Além disso, não tenciono envolver-me com ninguém tão cedo e a avó sabe isso!

Emília - Eu sei… Tens os teus objectivos! Mas para que conste, gosto muito dela, é muito inteligente e útil, sem dúvida uma boa parceira para ti!

Leonardo - Estamos bem assim! Mas obrigado pela dica!

E quase como se fosse de propósito, ambos começam a ouvir passos de alguém que se aproximava, Ísis tinha saído de casa e já ali estava a chegar. Para Leonardo foi um alívio pois significava que a conversa ia ficar por ali. E agora que observava Ísis, tirou a conclusão definitiva de que era mesmo impossível ver-se com ela numa relação amorosa, além de a ver só como uma grande amiga, ele achava que se
alguma vez se envolvessem aquela amizade poderia ficar destruída. Leonardo é muito independente e não gostava muito de namoros, para ele, eram uma fraqueza humana.

Ísis, como sempre, vinha com a sua expressão angelical estampada no seu rosto e com uma mochila às costas.

Ísis - Desculpa Leo, demorei um pouco mais porque estive a arrumar umas coisas no meu quarto! Boa noite Sra. Almeida!

Ísis cumprimentou Emília Almeida e esta riu-se logo muito rápido e fez um pequeno sinal para o seu neto ao dar-lhe, disfarçadamente, um toque no braço. Leonardo não reagiu, como era de esperar…

Emília - Olá minha querida! Vou agora deixar-vos à vontade, tenho a cozinha para arrumar!

E com um último olhar comprometedor, virou as costas e entrou em casa deixando-os sozinhos. Leonardo rapidamente começou a falar acerca da noite para Ísis não desconfiar que estavam a falar dela.

Leonardo - Deixa-me adivinhar… Tiveste a juntar material em caso de emergência!

Ísis - Sim, mas sinceramente nem sabia o que trazer! Espero que a Érica já tenha mais informação por esta altura!

Leonardo - Então o que trouxeste?

Ísis - Alguns itens gerais! Uns pós, umas velas, um ou outro cristal de protecção e o meu manual de magia!

Leonardo - Gostas mesmo de usar os pós!

Ísis - Com as orações correspondentes são muito rápidos e eficazes! Então e tu? Já tens tudo contigo?

Leonardo não tinha nada com ele a não ser a roupa que trazia vestida.

Leonardo - Eu? Não tenho nada… Se for preciso a Érica passa-me uma arma qualquer.

Érica possuía uma vasta colecção de armas de todo o tipo que muitas vezes a ajudavam nos seus confrontos. Era a única coisa que Leonardo também podia usar, uma vez que ele tinha pouca técnica de combate e não tinha nenhum dom sobrenatural que o favorecesse.

Ísis - Então vamos andando para não nos atrasarmos mais!

A casa de Érica ficava 3 ruas a seguir da casa dos dois jovens, cerca de 10 minutos a caminhar. Leonardo e Ísis não fizeram cerimónia e rapidamente começaram a andar em direcção àquele destino.

Leonardo - Achas que teremos sorte esta noite?

Ísis - Quando dizes sorte queres dizer o quê? Encontrar o causador dos crimes? Sim, provavelmente…

Leonardo - Era bom! Tenho andado só a pensar nisto, nem consigo concentrar-me a estudar!  

Ísis parecia aliviada pois mais alguém entendia o seu ponto de vista…

Ísis - Eu sei, é difícil não é? Parece que nem sequer conseguimos ler uma frase como deve ser!

Leonardo - Eu só espero que consigamos resolver isto bem rápido! Senão depois de amanha é que vão ser elas! Não devíamos precisar de fazer exames!

Ísis - E depois como escolhiam quem merecia passar ou não?

Leonardo - Sei lá! Nós nem devíamos estudar só pelo trabalho que estamos a fazer! Podíamos ter privilégios, ou fazer parte de outro escalão!

Ísis - Era bom não era? Não nos podemos queixar muito… Imagina a Melissa! Ela nem se lembrava que íamos fazer o exame!

Leonardo - Ela tem muita coisa em mente neste momento!

Ísis - Já tentei de tudo para a ajudar, até falei-lhe em Magia!

Leonardo - Magia? Com a Melissa? Já basta o que lhe está a acontecer…

Ísis - Pensei que talvez ela encontrasse alguma paz se praticasse a Grande Arte! Não me lembrei do resto…

Leonardo - Por falar nisso, tens de me emprestar esse teu manual!

Ísis - A ti? Só agora é que tás interessado?

Ísis ficou surpreendida. Leonardo nunca antes lhe tinha pedido aquele livro. Na verdade, desde que o encontrara ninguém pareceu ter muito interesse em o ler a não ser Érica por razões de investigação e mesmo assim, Ísis nunca deixou o livro sozinho com ninguém. Foi assim que a jovem começou a praticar Magia. Ísis quando era nova costumava passear na zona florestal dos arredores de Cila, sempre gostara de apreciar a Natureza e muitas vezes Leonardo a acompanhava. Aos 18 anos, quando andava a caminhar sozinha no meio das gigantes árvores de Cila, foi contemplada com um belo presente… Metros à sua frente encontrava-se uma linda raposa. A jovem, maravilhada, aproximou-se cautelosamente e o animal não saía do mesmo sítio, apenas a observava atentamente. Quando Ísis alcançou a raposa, tocou-lhe com muita calma e para seu espanto, o animal não fugiu e deixou-se ali ficar. Sentou-se no chão e numa das vezes que lhe afagava a cabeça, a raposa começou a afastar-se e mais à frente voltou a parar e a olhar para trás.

Ísis rapidamente entendeu… Parecia que o animal queria que ela o seguisse. E assim o fez! Enquanto a raposa caminhava e ela seguia o seu trajecto, muitas coisas lhe passaram pela mente… “Seria aquilo uma dádiva da natureza?” Pouco depois a sua pergunta fora respondida quando chegaram ao destino. Uma clareira no meio da floresta. Possuía uma beleza mística e Ísis na altura ficara encantada. No centro da clareira estavam duas pedras, muito idênticas, que lhe davam mais ou menos pela cintura. A jovem aproximou-se pois um objecto qualquer estava em cima de uma delas. Era um livro, mais propriamente, um Grimório. Ísis abriu-o e
verificou que no seu interior constavam centenas de receitas mágicas, feitiços, rituais e orações. Aquilo certamente fora escrito e pertencera a alguém, mas o seu dono não estava indicado em nenhuma zona do livro. Quando olhou para a raposa já só teve tempo de a ver a fugir por entre uns arbustos que iam dar ao resto da densa floresta. Ísis guardou o livro, regressou a casa e desde daí tem praticado quase tudo o que este tem lá indicado… Ísis e Érica já tentaram descobrir quem seria o feiticeiro ou feiticeira portador daquele diário mágico, mas as suas buscas foram mal sucedidas…

Leonardo - Naaa... Só por curiosidade! Gostava de entender como funciona…

Ísis - Leo, não devemos brincar com estas forças só porque nos apetece! Já devias saber isso…

Leonardo - Quando começaste também não foi por curiosidade? Apenas o encontraste, não queria dizer que começasses a praticar o que ele tem…

Ísis - Sabes perfeitamente que foi diferente! Não o encontrei ao acaso, fui levada até ele!

Leonardo - Ya… Por um animal! Não achas que possa ter sido coincidência?

Ísis - Eu não acredito em coincidências! Já lá voltei tantas vezes para ver se encontrava a raposa e nada! Em 4 anos nunca mais a vi! Estranho, não é?

Leonardo - Sinceramente? Não… Desculpa!

Ísis parecia um pouco desiludida…

Leonardo - Não é que eu tenha alguma coisa contra Magia, mas nem sequer sabemos de onde isso veio! Não tens medo de usar uma
coisa que não é tua?

Ísis - Porque haveria? Eu tenho a certeza que fui levada até ele e não foi por acaso. Pensa bem… Encontrei o livro e ainda não sabíamos nada acerca das coisas monstruosas que andavam por aí. Passado um
tempo conhecemos a Melissa e a Érica e olha para nós agora… Como é que ainda acreditas em coincidências?

Leonardo - Ok ok, já percebi o teu ponto de vista! Realmente os últimos tempos foram reveladores…

Ísis - Muito! E este Grimório até tem sido útil! Tens de concordar…

Leonardo rendeu-se perante aqueles factos… Ísis até tinha a sua razão.

Leonardo - Sim, se vir por esse lado faz algum sentido… Bem, os livros da Érica também são uma boa ajuda!

Ísis - Ela tem um ou outro sobre bruxaria mas nunca ainda não consegui debruçar-me sob nenhum…

Ísis calou-se por um instante e parecia estar a pensar claramente em alguma coisa…

Ísis - Nunca tinha parado para pensar, mas já imaginaste como deve ser a vida da Érica?

Leonardo - Como assim?

Ísis - Saber estas coisas todas, ter de lidar com elas todos os dias, ter a vida em risco a qualquer minuto… Como é que ela consegue?

Leonardo - Como é que ela consegue? Da mesma maneira que nós! Sabemos que estamos a contribuir para algo grande, um bem e uma causa maior e essencialmente, a salvar vidas!

Ísis - Pois… Ela também foi toda a vida educada para isso…

Leonardo - Deve ser bacano ser um Night Watcher! Ela tem bastante orgulho!

Ísis - Achas que um dia vamos conhecer mais algum? O líder ou isso?

Leonardo - Ísis, são uma Ordem Secreta…

Ísis - Ah…

Leonardo - Ninguém sabe! Só eu, tu e a Melissa! E o Rodrigo, por razões óbvias!

Ísis - E a Camila…

Leonardo - Sim, mas ela não conta! De certeza que a Ordem não sabe que nos envolvemos nisto!

Ísis - Achas que a Érica nunca lhes comunicou a nossa existência?

Leonardo - Penso que não… Lembraste dela dizer-nos que os Night Watchers eram contra o envolvimento de civis nesta grande luta? Pois bem, já deve ser mau o suficiente o Rodrigo às vezes envolver-se, imagina nós…

Ísis - Não entendo porquê… Alguém como a Melissa té lhes podia fazer jeito! Aposto que nenhum deles tem aquelas aptidões! Até nós ajudamos!

Leonardo - Pois, e o que é que pessoas como a Camila fazem?

Ísis - Oh, ela foi só um acidente! Uma pessoa qualquer no seu perfeito juízo jamais a contrataria para alguma coisa…

Leonardo - Aí é que te enganas!

Ísis ficou confusa. Para o que é que Camila era boa? Ela não estava a conseguir decifrar…

Ísis - Então?

Leonardo - Não te poderei dizer… És uma pessoa muito susceptível!

Rapidamente Ísis entendeu, riu-se e deu uma pancadinha com o cotovelo no braço de Leonardo. Era óbvio que este estava a gozar com Camila.

Ísis - Oh, Leonardo! Não sejas assim! Pode ser que ela até aprenda algo com o que se tem passado…

Leonardo - Que alguém te ouça Ísis, que alguém te ouça!

Ísis - Lembraste daquela professora que tivemos no 11º ano?

Leonardo - Aquela que teve o acidente?

Ísis - Sim… Ela só dava importância ao que era material e pensava que tinha o rei na barriga! Depois do acidente que quase lhe tirou a vida ela mudou, passou a ser mais calma, simpática e passou a dar valor ao que realmente é importante…

Leonardo - Como é que sabes isso tudo?

Ísis - Mantive contacto com ela durante um tempo… Ela ficou mesmo mudada!

Leonardo - Tu e o bom relacionamento com os professores…

Ísis - Que tem mal? Também não é com todos, só com aqueles que realmente marcaram-me!

Leonardo – A mim pessoalmente nenhum me marcou! À medida que aprendemos mais sobre o mundo paranormal tenho menos vontade de estudar… Já quase tudo o que os stores nos ensinam acho desnecessário ou conversa de ignorantes!

Ísis – Não é bem assim… O nosso curso até nos dá jeito. Através da psicologia podemos estudar muito melhor as pessoas. Pode ser que ajude também para os restantes seres!

Leonardo – Continuo com a minha opinião! Temos é de aprender é a ser como a Érica!

Sem dúvida que para Leonardo, Érica tinha-se tornado um ponto de referência e Ísis já tinha reparado nisso.

Ísis – Eu também mantenho a minha! Seja como for, não digas isso à Melissa. Ela precisa de se aplicar.

Leonardo – Hum… Tás com medo que ela me dê razão?

Perguntou Leonardo em tom de brincadeira e a rir-se.

Ísis – Não é por causa disso! É porque ela já tem problemas em casa que cheguem. Não vamos ajudar a criar mais um…

Leonardo – Ya, não convém! Claro que quando digo isto não tenciono desistir de estudar. Já ouço o que chega por fumar…

Ísis – Mas isso era uma coisa que realmente podias deixar!

Leonardo – Talvez um dia…

Quando deram por eles, já se estavam a aproximar da casa da Night Watcher. Cá fora já se encontravam Érica e Melissa, ambas com uma mochila às costas.

Érica – Já estão atrasados! O que é que se passou?

Leonardo – Desculpa, foi a Ísis que demorou um pouco mais para se despachar!

Leonardo foi directo. Não gostava de mentir nem nunca foi disso. Ísis ficou a olhar para ele um pouco atrapalhada. Muito rapidamente olhou para Érica e tentou disfarçar o máximo que pode mudando de assunto…

Ísis – Então? Onde está o Rodrigo?

Érica – Vai ficar a descansar, amanhã trabalha cedo. E indo nós os quatro não há necessidade de ele vir!

Melissa – Estão prontos? Têm tudo?

Leonardo – Não trouxe nada… Se for preciso tens material a mais contigo Érica?

Érica – Sim Leonardo, trago sempre a mais a contar contigo!

Leonardo – Já me conheces… Então vamos?

Melissa – Calma aí… Ainda nem nos organizámos!

Ísis – Sim… Érica, já sabemos quem está a causar estas mortes?

Érica – Desculpa Ísis, mas as minhas pesquisas não foram conclusivas, já falei com a Melissa enquanto não chegavam… Só teremos a certeza quando encontrarmos o causador!

Ísis – Ohhh… Se não sabemos nada onde vamos procurar?

Melissa – Pelo que a Érica estava a contar-me, os 3 acidentes deram-se em zonas remotas das ruas do norte! Pensamos que talvez seja um bom sítio pra começar a procurar!

Érica – Exactamente! Estes factos também me levam a pensar que seja lá o que for que ande aí, deve habitar ou esconder-se na zona florestal durante o dia! As zonas dos ataques são em ruas com pontos de acesso fáceis à floresta.

Leonardo – Mas de que lado? Das zonas de habitação ou da zona industrial?

Érica – Das zonas de habitação! De noite ninguém vai para perto das indústrias, não há lá ninguém. O assassino precisa de zonas onde pelo menos haja a probabilidade de aparecer alguém e poder atacar sem ser interrompido. Todos os corpos só foram encontrados de manhã!

Ísis – Vamos então descobrir! Trago alguns pós que podem ser úteis se formos atacados!

Ísis parecia estar a começar a ficar bastante nervosa e Melissa tentou acalmá-la…

Melissa – Não te preocupes Ísis! Temos a minha força e a Érica que é uma especializada no assunto! O assassino é que precisa de ter cuidado!

Afirma Melissa com um sorriso confiante e Ísis fica um pouco mais calma.

Érica – É melhor irmos andado. Já está noite cerrada e é melhor não perder tempo! A noite ainda pode ser longa…

Com um pequeno acenar de cabeça, todos concordam. E assim, começam a caminhar em direcção às ruas mais a norte de Cila…


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Notas finais do capítulo

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