Todos os dias, por norma, a pizzaria “Lacrau” ficava aberta até à meia-noite, sem contar com o tempo extra que demoravam pra fechar. Como era óbvio, esse tempo não era acrescentado no salário… Como gerente, o Sr. Silva era um homem complicado e por vezes, arrogante. Quando as coisas não funcionavam à maneira dele, tratava as pessoas como queria. Pelo menos, era o que a jovem Melissa achara. No pouco tempo que ali estava já assistira ao gerente a gritar com dois dos trabalhadores. Reparou que com ela, o homem tem tentado manter a calma, talvez por ser nova no serviço e ainda ter algumas dúvidas. Felizmente, tinha sido colocada atrás do balcão, mais precisamente, na caixa. O que não significava ter menos trabalho, até pelo contrário… As filas para atendimento pareciam não acabar. Tudo o que tinha de fazer era registar o pedido dos clientes e o respectivo pagamento. Algo que antes, parecia mais complicado do que realmente é.

   A sala estava cheia, o barulho das pessoas e o cheiro a comida eram fortes e penetrantes. Melissa imaginou como seria estar ali todos os dias, não devia ser fácil… Dava-lhe a sensação que muito tempo naquele espaço faria a cabeça de qualquer um acabar por explodir. A jovem pensou que talvez o truque fosse abstracção geral, concentração no trabalho e fazer tudo com imensa calma. Ao tentar pôr em prática a sua ideologia, recebeu um comentário propício ao momento…

Sr. Silva - Melissa! Mais rápido, eficiência! Não queremos que as filas chegam ao outro lado da rua!

Avisou o gerente… A jovem olhou para o homem e esboçou um sorriso forçado.

Melissa - Ok Sr. Silva! Farei o meu melhor!

O gerente seguiu em frente e foi direito a outro trabalhador pra fazer um novo comentário. Melissa tirou o sorriso do rosto, o seu plano não ia resultar, tinha de ser mais rápida. De cabeça baixa olhou para a máquina registadora, concentrou-se e finalmente seguiu com o trabalho.

Melissa - Próximo!

Ao ouvir a voz que lhe respondeu por detrás do balcão, Melissa até teve medo de levantar a cabeça para ver quem era…

Camila - MELISSA?

Pergunta espantada… Melissa olhou e verificou que as suas suspeitas estavam certas, Camila estava ali. E trazia consigo o sobrinho, Francisco. “Fantástico!”, Pensou Melissa…

Melissa - Oi Camila!

Camila - O que é que estás aí fazer? Estás a trabalhar?

Pergunta Camila bem alto.

Melissa - O que é que te parece? Fala mais baixo!

Camila - Estás a brincar comigo?

Melissa - Qual é o mal?

Camila - Fui eu pedir ao meu pai para o teu ser promovido e agora estás aqui?

Melissa ficou confusa… O seu pai tinha sido promovido, é verdade… Mas tinha sido por causa de Camila? Pensava…

Melissa - Foi por tua culpa? Porque haverias de fazer isso?

Camila revirou os olhos…

Camila - Devias era agradecer-me! Não estavam com dificuldades?

Melissa - Camila, o meu pai pensa que foi promovido porque estava a fazer um bom trabalho! E não porque a filha do patrão contou que estávamos com dificuldades!

Camila - E depois? Ainda bem! Saímos todos felizes e a ganhar!

Francisco puxa a mão de Camila…

Francisco - Tia, tenho fome…

Camila - Espera, já aqui estamos! Não vês que a tia está a falar?

Respondeu muito séria à criança… Melissa abanou a cabeça e pensou: “Típico!”

Camila - Vá, agora que já sabes sai daí!

Melissa - Achas? Não posso! E já me devias ter contado há mais tempo!

Camila - Deixa-te de coisas!

Melissa - E de qualquer dos modos faz-me bem trabalhar! Aprendo coisas novas e desenvolvo-me!

Melissa ao acabar de proferir aquelas palavras fez uma cara estranha… Parecia a sua madrasta a falar. Camila estava estupefacta.

Camila - Estás a ouvir o que estás a dizer?

Geralmente, uma pergunta daquelas era direccionada a Camila e não feita pela mesma.

Melissa - Esquece a última parte!

Camila - Bem me pareceu… Com o que já descobriste aqui na vila ainda achas que precisas de aprender coisas novas?

Logo de seguida Camila sentiu um toque nas costas e virou-se para ver quem tinha feito aquilo. Deu de caras com um rapaz que estava atrás dela, na fila.

Rapaz - Desculpa, mas podes despachar-te? Existem mais pessoas atrás de ti!

Perguntou o jovem de um modo educado e simpático para não parecer nem invasivo nem arrogante. Camila ergueu uma das sobrancelhas e observou o rapaz…

Camila - Ai é? Também já estive na fila e soube esperar!

Respondeu de uma forma amarga. O rapaz tirou o sorriso dos lábios e não disse mais nada. Camila voltou a virar-se pra Melissa…

Camila - Então vais mesmo ficar aí?

Melissa - Camila, viste como falaste com o rapaz?

Camila - Quando as pessoas são intrometidas é assim!

Não havia nada a fazer, Melissa não podia esperar outro tipo de comportamento vindo de Camila.

Melissa - Pois, mas ele tem razão! Tenho de atender-vos, estou aqui pra trabalhar!

Camila - Ok pronto… Se insistes…

Melissa olha para Francisco e sorri.

Melissa - Olá! Desculpa fazer-te esperar, estás cheio de fome não é?

Perguntou a jovem de uma forma simpática e carinhosa. A criança acenou que sim.

Melissa - Então e o que vais querer comer?

Francisco - Não sei…

Camila - Não sabes? Viemos aqui porque querias pizza! Queres uma a meias comigo?

Francisco - Pode ser!

Melissa - Ok, então vou registar!

Camila - Melissa, sabias que partiram o meu carro?

De repente um das montras da pizzaria é partida e as pessoas assustaram-se e recuaram… Os cinco Goblins entraram pelo restaurante a dentro e rapidamente começaram a partir as mesas e a atirar as cadeiras contra as paredes. Não deu tempo para ninguém fugir e Melissa não percebeu de imediato o que é se estava a passar. Numa enorme gritaria as pessoas tentavam esconder-se onde pudessem.

Camila - Outra vez?

E olhou para Melissa.

Camila - Sempre que estou ao pé de vocês acontece estas coisas!

Melissa - O que é são estas criaturas?

Camila - Não sei! Mas partiram o meu carro e destruíram a exposição no museu!

Melissa tentou observá-las, mas não fazia a mínima ideia do que eram… Era uma pena Érica não estar ali… Mais uma vez Cila estava a ser alvo de uma nova ameaça. O gerente apareceu na sala desesperado e aos gritos para os Goblins…

Sr. Silva - PAREM! PAREM POR FAVOR!

As criaturas pareciam não ligar a nada nem ninguém e continuavam a partir tudo o que podiam, desde candeeiros a quadros e desde pratos a copos. As pessoas estavam assustadas e espalhadas por toda a sala… Alguma encostadas às paredes, outras aglomeradas em cantos e até uns poucos foram pra trás do balcão.

Francisco - Olha, são outra vez os dinossauros!

Diz a criança a Camila.

Camila - Pois são! Não saias de ao pé da tia!

Depois olha para Melissa.

Camila - E agora?

Melissa estava a olhar para o Sr. Silva… Naquele momento teve pena do homem, o qual estava sozinho no meio da sala a implorar para que parassem de lhe destruir a pizzaria. Mais ninguém o ajudava, estavam todos assustados.

Melissa - Fica aqui, isto vai parar e é já!

A jovem sai detrás do balcão e dirige-se aos Goblins. Todas as pessoas presentes ficaram a olhar para a rapariga. Melissa chega ao pé de um dos “monstrinhos” que estava a tentar comer um pedaço de madeira de uma das mesas e agarra-o… No entanto, no momento em que o pegou, este virou-se e arranhou-lhe a cara, fugindo das mãos dela. Os outros quatro centraram as atenções na jovem que os tinha incomodado e avançaram na direcção dela. Melissa não estava a contar que estes fossem tão organizados. Alternadamente começaram a atacá-la. Com sucesso, deu um soco certeiro numa das criaturas afastando-a para longe. De seguida pegou num pedaço de uma cadeira e atirou direito ao segundo que preparava-se pra saltar em cima dela. Os outros dois atacaram-na pelas costas, um atirou--se a uma das pernas da jovem e mordeu-a, o outro agarrou-se aos cabelos dela e recusava-se a largá-los. Melissa não teve outra hipótese senão atirar-se para trás de modo a que caísse em cima de ambas as criaturas.

Assim que o fez, eles largaram-na e ela bateu com as costas no chão, magoando-se a si própria. Finalmente, o primeiro que tentara agarrar saltou pra cima dela, mas desta vez a jovem já estava farta e com muita agilidade pegou-o pelo pescoço e atirou-o contra uma das paredes. Ao levantar-se, já os cinco Goblins estavam a cercá-la novamente. Eram rápidos… Melissa rodava sob si mesma, atenta… Por alguma razão que ela desconhecia, um deles fez sinal aos restantes e numa fila organizada, voltaram a sair da pizzaria pelo mesmo sitio onde tinham entrado, a montra. Uma atitude um pouco estranha...

   Aos poucos, as pessoas começaram a levantar-se e ficarem mais calmas… Melissa ficou satisfeita, as criaturas tinham ido embora. Quando olhou para o Gerente, este parecia estar em choque a olhar para ela.

Melissa - Está tudo bem Sr. Silva?

Sr. Silva - Tu! Conhecias aqueles animais?

A jovem ficou confusa…

Melissa - O quê?

Sr. Silva - Tu conhecias aqueles bichos! Olha o que eles fizeram ao meu estabelecimento!

Disse o homem muito enervado.

Melissa - Eu não os conheço! Estava só a tentar ajudá-lo!

Sr. Silva - Partiram-me o material! É tudo culpa tua!

O gerente estava vermelho de tanto gritar… Melissa estava espantada a olhar para o homem, que acabara de depositar a culpa toda nela. Camila aproxima-se…

Camila - O senhor é parvo? É óbvio que não foi culpa dela!

Disse Camila em defesa de Melissa, a qual ficou igualmente espantada por aquela atitude.

Melissa - Está a ver? Não tenho culpa!

O Sr. Silva olha para as duas jovens, chateado…

Sr. Silva - Saiam daqui! Desapareçam da minha vista! Estás despedida! Não quero voltar a ver-vos aqui!

Melissa teve a sensação que não tinha ouvido bem. A sala estava toda em silêncio…

Melissa - Mas Sr. Silva…

O homem nem a deixou acabar de falar…

Sr. Silva - SAIAM!

Melissa não queria acreditar… Não podia ser já despedida, ainda agora começara. Camila agarra a mão do sobrinho e aproxima-se de Melissa. Pela primeira vez não respondeu mal ao homem, como era de esperar.

Camila - Vamos!

E segue porta fora… Melissa baixa a cabeça, envergonhada, e vai atrás de Camila.

Ao chegarem à rua pararam e ficaram uns segundos em silêncio…

Camila - Desgraçados! Por culpa deles fiquei sem carro e tu foste despedida!

Melissa - Não quero pensar mais nisso, quem me dera esquecer este momento… Acho que devíamos fazer algo!

Camila - O quê? Esqueces-te que não estou sozinha!

E olha para Francisco.

Melissa - Liga à Érica a avisar o que aconteceu! Eu vou atrás das criaturas!

Melissa começa a correr…

Camila - E como sabemos onde te encontramos?

Diz a jovem de modo a que Melissa a ouvisse.

Melissa - Tentem ligar-me… Ou separem-se… Não sei! Façam como quiserem, mas despachem-se!

E continuou o seu caminho… Camila ficou para trás. E só depois é que se lembrou… Não tinha o número de Érica.