Durante a tarde o clima tinha mantido o seu registo e em todos os canais televisivos já tinham avisado como notícia de última hora que o tempo ia piorar e havia grandes hipóteses de nas próximas 48 horas um ciclone passar por Cila. Os habitantes daquela vila já estavam habituados àquele tipo de tempestades e quase todas as suas construções estavam
equipadas para estas situações. Em dias como este, maioria das pessoas ficavam em casa e as ruas de Cila passavam a estar vazias e sombrias… Quase todas a lojas, cafés e restaurantes fechavam mais cedo pois não havia necessidade de fazerem o seu horário completo, o pouco movimento que havia em dias daqueles acabava a horas diferentes. Então, o restaurante “A Paragem”, que se situava cinco ruas depois da praça central e ao pé da grande farmácia da vila, tinha decidido fechar as suas portas às 18 horas da tarde. O patrão decidira passar a hora de jantar em casa e queria que os seus empregados fizerem o mesmo. O
ciclone podia abater-se em Cila a qualquer momento e ele queria que estivessem todos em segurança com as suas famílias. Enquanto fechavam, cada um dos trabalhadores ficou encarregue de uma responsabilidade. Uns arrumavam as mesas e as cadeiras, outros faziam a caixa, alguns limpavam a cozinha e um ficou responsável por ir despejar o lixo aos grandes contentores que havia no outro lado da rua. O jovem que ficou encarregue desta última função ficou um pouco abatido por lhe ter calhado a ele ir lá fora… Estava a chover imenso e de vez em quando vinham fortes rajadas de vento. Contra a sua vontade, pegou no chapéu-de-chuva com uma mão e na outra levava o saco de “entulho”. Não lhe
serviu de muito, a forte chuva corrida a vento fazia o chapéu dançar pra todas as direcções… Mesmo assim levou-o aberto até aos contentores. Já não se via ninguém nas ruas e muitas lojas também já tinha fechado. Quando lá chegou abriu uma das tampas e com algum esforço laçou lá pra dentro o enorme saco de lixo, apenas com uma mão. Por momentos teve vontade de mandar o chapéu também, pouco o estava a proteger. Ao fechar a tampa e virar a costas para regressar, ouviu algo vindo dali perto… Parecia o som de um bebé. O jovem parou e olhou para trás… Nesse momento tirou as dúvidas quando o pequeno som transforma-se numa choradeira enorme… Era mesmo um bebé e encontrava-se ali perto, o que era estranho pois o rapaz não conseguia avistar ninguém. Como qualquer pessoa faria, o jovem seguiu o som que estava a ter a sua origem atrás de um dos contentores vizinhos. Ele nem queria acreditar… Estava uma criança, mais concretamente um bebé de meses, ali no chão… Abandonada… “Quem faria uma coisa destas?” Pensou o rapaz. O bebé chorava bem alto, devia estar cheio de frio da chuva que estava a apanhar. Sem pensar duas vezes, avançou em direcção à criança e pegou nela ao colo para a proteger daquele tempo e levá-la consigo pra um sítio seguro. De repente o choro terminou e ele ficou admirado com a rapidez que aquilo tinha ocorrido. Ao olhar admirado para o bebé reparou num pormenor estranho… Parecia que o seu olhar estava a ser correspondido, o que não era natural. Inesperadamente, os olhos da criança ficaram vermelhos e esboçou um sorriso fora do comum… Aquela cor tomara proporções assustadoras e quase parecia emitir luz. O jovem começou a recuar confuso e assustado… “O que é isto que tenho ao colo?” Pensava…

Ao longe, apenas se ouviu um grito seguido do som de algo a rasgar severamente… Depois, silêncio… No meio da chuva, só se viu o chapéu do rapaz a ser arrastado pelo vento…