Um Estudo Em Púrpura escrita por themuggleriddle


Capítulo 5
Hogsmead outra vez




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Quando já se passara quase um mês desde que começara a trabalhar com Sherlock Holmes, os dois tiveram que interromper o projeto por algum tempo. Na realidade, interromper não era bem a palavra certa, já que, na verdade, o trabalho com a poção Polissuco ainda estava em andamento, mas simplesmente não havia nada que eles podiam fazer naquele meio tempo, já que, como o livro especificara, era necessário um certo tempo até que a poção atingisse um estágio no qual poderia ser terminada.

Isso significava que os dois não precisavam mais passar tanto tempo trancados na antiga sala de Feitiços Domésticos, debruçados sobre ingredientes e cheirando poção incompleta, mas, como havia esperado que aconteceria, ir até aquela sala acabou virando um tipo de hábito para John assim como já era para Sherlock. Outra coisa que continuou entre eles foram as corujas. Holmes tinha o – péssimo – hábito de enviar cartas em todos os possíveis momentos, até mesmo nos mais inoportunos, como, por exemplo, quando o sonserino decidiu mandar um berrador de madrugada para lembrar John de lhe emprestar um livro sobre feitiços protetores. Afora o incidente do berrador, as cartas de Sherlock eram, na maioria das vezes, uma boa distração.

“Molly Hooper está aqui e não para de me falar do gato dela, Toby. O que fazer? – SH”

John riu, pegando a pena e rabiscando uma resposta (“Seja legal com ela, por favor. – JW”), antes de entregá-la à coruja negra do amigo, que saiu voando rapidamente.

“Aquela era a coruja de Holmes?”

John ergueu o rosto, vendo uma grifinória de cabelos e pele escura parada ao seu lado, olhando-o com os olhos estreitos.

“Ahm, sim... Por quê?”

“Se eu fosse você, ficava longe daquela aberração.” A garota deu de ombros.

“Hey! Sherlock não é uma aberração!”

“Ele conseguiu outro cão de guarda, Sally,” outro grifinório, um garoto de cabelos escuros e óculos grossos que estava sentado na mesa da casa vermelha e dourada, falou. “Como aquele outro sonserino que havia conseguido há um tempo atrás, aquele pequenininho.”

“Só estou te avisando, garoto,” disse a moça, “Saia de perto dele enquanto ainda há tempo.”

“Sherlock é meu amigo, eu não vou... fugir dele, como você está sugerindo.”

“Sherlock Holmes não tem amigos,” a menina falou, olhando para ele com o que parecia ser pena. “Ele tem pessoas que o admiram, aquelas que não o conhecem direito, e, acima de tudo, inimigos.”

***

“Boa tarde,” disse John ao entrar na sala abandonada onde ele e Sherlock haviam praticamente se estabelecido, mas suspeitou não ter sido ouvido devido ao barulho alto do violino que o sonserino estava ocupado em tocar enquanto olhava para  fora da janela.

Percebendo que seria ignorado, pelo menos, até a música terminar, o lufo-se sentou-se em uma das poltronas e tirou o livro de erva mágicas que havia pego emprestado da professora Sprout, ocupando-se em lê-lo enquanto esperava que o outro saísse do transe no qual entrava quando tocava violino.

“Ah, você está ai,” falou Sherlock, quando finalmente abaixou o instrumento.

“Se quiser eu posso...”

“Não se preocupe.” Holmes foi até a poltrona em frente a John e sentou-se, como de costume, de cócoras nela. “Estava pensando.”

“Você sempre está pensando, Sherlock...”

“Sim, mas estava pensando sobre o homem de roxo.”

“Stephen Blattea?”

“Conhece algum outro homem de roxo?” perguntou Holmes, erguendo uma sobrancelha. “De qualquer maneira, estava pensando nele...”

“Alguma nova notícia sobre o caso? Mais alguma morte parecida?”

“Não. Aparentemente o Ministério abafou a história dele com Rache,” disse o sonserino. “E não tente começar com o ‘ou você estava errado, Sherlock’... Eu estava certo.”

“Eu não ia falar nada disso.”

“Bom, de qualquer maneira, eu estive pensando. Blattea foi visto a última vez em sua sala, no Ministério. Ninguém o viu saindo de lá, mas o seu corpo foi encontrado em Hogsmead,” murmurou Holmes, deixando os olhos fixarem-se no nada enquanto continuava a sua linha de raciocínio. “Ele tomou o veneno por conta própria, mas não deve ter ido até Hogsmead por si só.”

“Então você acha que alguém fez uma aparatação conjunta... Mas Blattea era um bruxo treinado, poderia se recusar a aparatar junto com outra pessoa.”

“A não ser que a pessoa o estivesse ameaçando.”

“Ameaçando? Ameaçando com o que?” perguntou Watson. “E quem?”

“Alguém do Ministério, com certeza, mas não alguém grande lá dentro,” disse Sherlock. “Alguém que possa ter passado despercebido pelos poucos funcionários que ainda estavam lá na hora... Você já viu o Ministério da Magia, John?”

“Não, nunca.”

“É um lugar grande que fica cheio de bruxos e bruxas o dia inteiro, mas, de noite, apenas os plantonistas permanecem lá, ou seja, pouca gente. O lugar fica praticamente deserto e apagado. Então alguém de alto escalão seria notado perambulando pelo departamento de Blattea, entende? Devia ser alguém com um cargo mais simples, alguém que deveria estar por lá e, por isso, ninguém estranhou a presença.” O sonerino juntou as pontas dos dedos e, como de costumes, levou-as até os lábios. “O Departamento de Execução das Leis Mágicas fica no segundo nível do Ministério... Para chegar até lá você tem que atravessar o grande hall, ou seja, atravessar todos os seguranças e bruxos de saída. Depois, pega-se o elevador, ou seja, encara mais as pessoas que estão nele.” Holmes fechou os olhos e ficou em silêncio por um tempo, antes de continuar. “Para chegar ao escritório de Blattea deve-se passar pelo escritório dos aurores, onde ficam alguns dos plantonistas nesse horário, pelo escritório de uso impróprio de magia, que deve ficar vazio de noite, e pelas salas dos tribunais, também vazias... Nosso amigo passou pelos aurores sem ser percebido e atravessou duas sessões vazias.”

“E o que isso significa?”

“Que ele estava praticamente invisível dentro daquele lugar.”

“Hm... capa da invisibilidade?”

“Duvido. Capas da invisibilidade atraem mais atenção do que escondem, pelo menos as que encontramos para vender em uma loja qualquer do Beco Diagonal, sabe, capas com feitiços da invisibilidade.”

“Ou seja: todas elas.”

“Não, existe uma que não é assim, mas não vem ao caso agora.” O sonserino sacudiu a cabeça. “Quem poderia ser tão insignificante que não é notado!?”

“Qualquer um que seja subestimado, Sherlock.” Watson suspirou. “Aqui em Hogwarts, por exemplo, qualquer um da Lufa-Lufa consegue passar despercebido, pois ninguém dá muita bola para nós... No Ministério pode ser qualquer um assim. Um funcionário de algum departamento menos importante, um guarda, um zelador, uma senhora da limpeza,...”

Holmes ficou em silêncio mesmo após o companheiro ter parado de falar, o que fez John achar que alguma coisa havia clicado dentro da cabeça do outro. Ele não sabia como, mas suas palavras pareciam ter levado algum tipo de luz aos pensamentos de Sherlock.

“Sherlock?”

“Que dia da semana é hoje?”

“Sábado.”

“Bom,” Holmes respirou fundo. “Quer ir até Hogsmead? Acho que uma Cerveja Amanteigada me faria bem.”

“É uma boa idéia.”

***

Hogsmead não estava tão cheia quanto nos fins de semana anteriores devido ao fato de os terceiranistas daquele ano já não acharem mais tanta graça na vila, então os poucos alunos que se ocupavam em visitar o lugar eram, em sua maioria, setimoanistas que queriam aproveitar as atrações do vilarejo muito bem naquele seu último ano no colégio. Aparentemente era por isso que Sherlock decidira ir no Três Vassouras naquele dia, pois ele estava relativamente calmo.

“Duas Cervejas Amanteigadas,” disse John, debruçando-se no balcão do bar, enquanto o sonserino já se acomodava em uma das mesas mais isoladas do lugar.

“Duas? Está com alguma garota por aqui hoje, John?” perguntou Madame Rosemerta, dando um risinho. “Você geralmente pede para, no mínimo, três pessoas quando vem com seus amigos.”

“Ah, não, não.” Watson sentiu o rosto esquentar e riu. “Estou com um amigo.”

“Ah, John, achei que finalmente tivesse encontrado alguém.” A bruxa suspirou, antes de virar-se para o bruxo que estava ao lado do garoto no bar. “John aqui é um ótimo rapaz, sabe, mas é tímido demais...”

“Todos somos, nessa idade, não é, garoto?” o bruxo, um senhor de cabelos grisalhos e bagunçados que apareciam por debaixo da boina marrom que estava usando, falou, batendo de leve nas costas do lufo.

“Este é o Sr. Hope, John, ele se mudou faz pouco tempo aqui para Hogsmead...”

“Três dias.”

“Três dias, isso mesmo.” Ela riu. “Vai trabalhar como vigia aqui da vila durante a noite, você sabe, desde o que aconteceu na Casa dos Gritos...”

“Todos ficamos chocados,” disse o Sr. Hope. “Um lugar tão calmo quanto Hogsmead... Sem contar com a quantidade de crianças que passam por aqui todas as semanas!”

“Sim, todos em Hogwarts ficaram preocupados com o que houve,” disse John, antes de pegar as canecas de cerveja que a bruxa estava lhe entregando. “Obrigada, Madame Rosemerta... Sr. Hope, foi um prazer conhecê-lo, mas agora vou ali com Sherlock e...”

“Tudo bem, meu garoto, o prazer foi meu.” O homem sorriu, simpático, enquanto o rapaz se afastava.

Ao chegar na mesa a qual Holmes havia escolhido, Watson percebeu a maneira esquisita como o amigo fixava os olhos no bar onde Rosemerta e Hope estavam conversando em um clima amigável.

“O que foi?” O lufo colocou uma das canecas em frente ao outro enquanto sentava-se e tomava um gole da sua. “Não vai me dizer que acha aquele homem suspeito, Sherlock.”

“Por que você não o acha?”

“Porque... Olhe para ele! Não consegue nem vencer em um duelo contra um aluno de quatorze anos, Sherlock,” disse John, olhando de esguelha para o senhor. “Está velho, não tem perfil de assassino em série, é bem capaz que uma de suas vítimas o derrubasse caso ele tentasse atacá-las.”

“Se você diz...” murmurou o sonserino, finalmente pegando o copo e bebendo.

“Você pode estar errado as vezes, sabe?” disse John, sorrindo.

“Raramente.”

“Estava errado sobre o meu irmão.”

“Não, não estava,” disse Holmes, encarando o outro com os olhos estreitos.

“Estava sim, eu não tenho irmão nenhum.” O lufo riu, achando graça no olhar desesperado que o outro garoto lançava para ele.

“Mas na caixa das penas, estava escrito ‘De Clara para Harry’ e você não disse nada quando eu falei de ser parente próximo...”

“Bom, Harriet é um parente próximo.”

“É uma irmã!” O bruxo moreno fechou os olhos e sacudiu a cabeça. “Harry é apelido para Harriet!”

“Ela acha menos ‘delicado’.” John deu de ombros.

“E Clara?”

“Ex-namorada dela,” explicou Watson. “Viu? Você errou.”

“Eu me confundi, fui induzido ao erro pela sua irmã.”

“Errou, de qualquer maneira.”

O resto da tarde passou rapidamente e, quando se deram conta, já havia anoitecido e vários copos de Cerveja Amanteigada estavam abandonados no canto da mesa, mas, mesmo assim, a vontade de voltar para o castelo ainda não havia chegado.

“John,” disse Sherlock, antes de tomar o resto de líquido que sobrara em seu copo e deixá-lo de lado. “Já volto, vou ao banheiro.”

“Tudo bem, acho que, depois, é melhor voltarmos para Hogwarts.”

“Sim, sim,” murmurou o outro bruxo, levantando-se e logo sumindo para os fundos do pub.

John ficou sentado, terminando o seu copo de cerveja amanteigada, enquanto esperava o amigo. Não percebeu o tempo passar e só começou a se preocupar com a demora de Sherlock quando percebeu que até Madame Rosemerta já começava a arrumar o bar para fechar.

“John, querido, está esperando alguma coisa?” a bruxa perguntou, aproximando-se da sua mesa.

“Sherlock, ele foi ao banheiro, mas ainda não voltou... Acho que talvez seja bom eu ir ver se ele está bem.”

“O rapaz alto e de cabelos escuros que estava com você? Ora, ele já saiu fazem alguns minutos, John... Achei que você tivesse ficado para pagar a conta ou coisa assim.”


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Notas finais do capítulo

1- Não, existe uma (capa da invisibilidade) que não é assim, mas não vem ao caso agora.: a Capa do conto dos três irmãos, o próprio Sr. Lovegood fala isso pro trio em DH. O Sherlock provavelmente já ouviu o conto e acredita nele para acreditar que a capa do irmão Peverell existe.
Espero que tenham gostado (mesmo achando que não tem ninguém lendo).



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