Um Estudo Em Púrpura escrita por themuggleriddle


Capítulo 6
Jogo de sorte




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Quando Sherlock Holmes viu o Sr. Hope olhando-o de uma maneira curiosa e admirada, não houve dúvida de quem aquele homem realmente era.  Era óbvio que John não percebera, tanto que o amigo lhe certificara depois que não achava possível um homem como Hope ser um assassino... Bom, se Watson achava aquilo, então Sherlock teria que seguir com o seu plano – que ele havia montado em sua cabeça em menos de um minuto – por si só.

“John,” disse Holmes, bebendo o resto de cerveja que havia em seu copo. “Já volto, vou ao banheiro.”

“Tudo bem, acho que, depois, é melhor voltarmos para Hogwarts.”

“Sim, sim,”’ murmurou o sonserino, levantando-se e indo para os fundos do Três Vassouras, onde ficavam os banheiros. Ficou parado em frente a porta por alguns segundos, antes de ver o velho bruxo que conversava com a dona do bar se despedir e sair de lá. Olhando rapidamente para John e vendo que este estava distraído com sua bebida, Sherlock apressou-se para fora do bar.

Hope queria que Holmes o seguisse e foi isso que o mais novo fez, acompanhando-o lentamente pelas ruas de Hogsmead até se ver entrando na propriedade da Casa dos Gritos. Um tanto clichê, na opinião de Sherlock, mas, mesmo assim, não falou nada.

“Realmente, você é melhor do que eu imaginava, Sr. Holmes,” o velho finalmente falou assim que os dois se viram dentro da casa, em um dos quartos no segundo andar. Não era o mesmo no qual o homem em roxo havia sido encontrado. “Nem falou comigo e já descobriu quem eu era.”

“Não foi preciso, ouvi John falando com o senhor.” O jovem sorriu levemente. “A Casa dos Gritos novamente? Não ficará meio suspeito?”

“Quem disse que terá o mesmo destino dos outros?”

“Não é o mais óbvio a se pensar?”

“Você, dentre todas as pessoas, deveria saber que o óbvio nem sempre está certo.” Hope riu. “Afinal, um velho faxineiro do Ministério não era o que se esperava como assassino em série.”

“Apenas para quem não observa, meu caro,” explicou Holmes. “O assassino não usava força física e nem mágica, mas sim palavras. Um homem como você não tem muita força para usar e, não o desqualificando, acredito que sua experiência com magia não seja das melhores, não em comparação com os bruxos de alto escalão do Ministério... Mas você tem algo que eles não tinham: palavras e informações. O assassino também conhecia os maiores detalhes da vida de cada uma das vítimas, a informação que usava para chantageá-las e fazê-las ir até o lugar do crime.” Sherlock sorriu, balançando a cabeça, como se estivesse se divertindo com tudo aquilo. “Você descobria algo e usava essa informação para forçá-los a ir aonde quer que você quisesse que eles fossem e, então, os forçava a tomar o veneno que os matava...”

“Você vê cada coisa dentro do Ministério da Magia, Sr. Holmes,” Hope falou, deixando uma risada baixa escapar por entre seus lábios. “Quando se é invisível lá dentro, você vê tudo, sabe de tudo.”

“Imagino.”

“Mas você está errado em um detalhe: eu não os forçava a tomar o veneno.” O velho pareceu se divertir ao ver o olhar confuso do jovem. “Eu lhes dava uma escolha.” O Sr. Hope enfiou a mão dentro do casaco, tirando de lá dois frascos, ambos cheios de um líquido transparente. “Eu os forçava a escolher... O resto era sorte.”

“Um veneno e uma poção inofensiva?”

“É uma poção sonífera, apagaria a memória da pessoa e a colocaria para dormir.” Ele sacudiu os dois frascos, rindo. “A sorte deles não foi muito boa.”

“E por que, exatamente, você fez isso?”

“Por que eu posso? Estou nos meus últimos dias, Sr. Holmes, e passei anos vendo esses bruxos e bruxas se vangloriando de suas posições, como se fossem donos do mundo. Gente, devo dizer, muito parecida com você, sempre achando que sabe de tudo sobre todos, que tem o poder de controlar tudo a sua volta pois têm dinheiro, educação e poder,” disse Hope. “Mas existem coisas as quais eles não podem controlar... Diga-me: o senhor sabe qual é o veneno e qual é o sonífero?”

“Não vou jogar esse joguinho de adivinhação...”

“Ah, vai sim.” O bruxo mais velho tirou a varinha do bolso e a apontou para Holmes, que ficou estático. “Coloque a varinha no chão, garoto.”

“Vai fazer o que?” perguntou Sherlock, fazendo como fora mandado e colocando sua varinha aos seus pés. “Acertar-me com uma maldição da morte? Vai quebrar o seu padrão.”

“Não, vou fazer você escolher, Sherlock Holmes.” O homem sorriu, parecendo ser o senhor mais gentil da face da terra. “Eu sei, e você também sabe, que um desafio como esse não passa em branco pelas suas mãos.”

Sherlock estreitou os olhos. Infelizmente, Hope estava certo. Ele sabia que o fato do outro estar lhe ameaçando com uma varinha não fazia a menor importância, afinal, o desafio de descobrir qual era o frasco correto era maior e mais estimulante do que a perspectiva de levar um Avada Kedavra. Respirando fundo, o jovem aproximou-se do outro e pegou os vidrinhos da sua mão, olhando-os atentamente, tentando perceber alguma diferença entre os dois, mas não havia absolutamente nada que pudesse distingui-los.

“Me diga, Sr. Hope, esse seu trabalho de seqüestrar, chantagear e matar bruxos do Ministério é uma coisa solo? Ou tem algum parceiro.”

“Foco, Holmes, foco,” disse Hope. “Mas, se está interessado, digamos que eu tenho um... ah, patrocinador.”

“Patrocinador, interessante.” Sherlock fixou o olhar no líquido dentro de um tubo, verificando a sua consistência e coloração, antes de olhar para o outro. Eram idênticos. “São iguais.”

“Não, não são. Vamos fazer isso ficar mais divertido, Sherlock: você bebe o que escolheu e eu fico com o outro, que tal?” O velho inclinou a cabeça e sorriu. “Mas vamos logo, o tempo está passando.”

“Esse é o sonífero,” disse Holmes, após mais alguns minutos de observação, e ergueu o frasco que estava em sua mão direita. “Estou certo?”

“Tem certeza disso?” perguntou o mais velho, rindo enquanto pegava o frasco restante, ainda sem abaixar a sua varinha. “Certeza de que sua intuição está correta?”

“Não é intuição.”

“Ah, é sim, pois você não viu nenhuma diferença entre os dois vidros, garoto, admita isso.”

“Não é...”

“Viu o que eu disse? Bruxos que se acham no controle de tudo e todos!” Holmes estranhou o novo tom que tomou conta da voz de Hope, como se o homem tivesse se irritado com ele. “Você não é Deus! Você não pode saber tudo!”

“Mas eu sei que esse é o correto!”

“Não sabe!” O velho gritou, erguendo a varinha ainda mais e, pela primeira vez na noite, parecendo realmente ameaçador aos olhos de Sherlock, como se estivesse pronto para lançar alguma maldição nele. “Sherlock Holmes, você não sabe de tudo e nunca saberá! Existem forças maiores nesse mundo, garoto, pessoas maiores!”

“Este é o vidro correto...”

“Se tem tanta certeza, abra-o e beba a poção.”

Sherlock olhou para o frasco em sua mão e, hesitando um pouco, abriu-o. Viu Hope fazendo a mesma coisa com o que segurava, ainda sem abaixar a varinha, e levou o vidro até os lábios... Mas, antes de o líquido chegar a entrar em sua boca, ouviu um alto estampido e um grito agoniado vindo do outro lado do quarto. Abaixou o frasco e, para a sua surpresa, viu Hope caído no chão, com uma poça de sangue a sua volta. Olhou em volta, esperando ver quem o atacara, mas ele estava sozinho no quarto, mas conseguia ouvir passos vindos do andar de baixo. Passos apressados que agora corriam para o andar de cima.

“Oh, pelas barbas de Merlin!” Era Lestrade quem agora estava parado na porta, olhando para a cena que ocorria ali dentro. “Sherlock, você está bem? Merlin, Merlin, Merlin! Quem fez isso?”

“Eu não... Eu não sei...” o rapaz murmurou, sem tirar os olhos da figura caída do velho bruxo a sua frente, que ainda se mexia e gemia de dor.

“Hey, você! Vá buscar ajuda! Algum curandeiro, algo assim!” a voz de Lestrade agora gritava para outra pessoa que parecia estar no andar debaixo, antes que o mais velho descesse até lá para ele mesmo ir atrás de ajuda.

Vendo-se sozinho com Hope novamente, Sherlock aproximou-se, não se importando com o fato de estar sujando as solas de seus sapatos com o sangue vermelho escuro que se acumulava ao redor do outro, vendo como pareciam haver grandes cortes na pele do bruxo. Ele nunca havia visto um feitiço que fizesse um estrago daqueles.

“Eu estava certo?” perguntou Holmes, abaixando-se. “Estava certo sobre o frasco?”

“Me ajude...”

“ME RESPONDA!” O velho se encolheu no chão ao sentir a mão do rapaz segurar a frente de seu casaco, erguendo-o levemente. “Eu estava certo, não estava? Escolhi o frasco correto, não?”

“Ele disse... Disse que você ficaria assim.” O bruxo riu.

“Quem? Quem disse isso? O seu patrocinador? Quem é ele?” Hope apenas sacudiu a cabeça, rindo. “QUEM É ELE!?”

Mas, antes que Sherlock pudesse perguntar mais uma vez, a cabeça do velho bruxo pendeu para trás e seus olhos fixaram-se no nada,  logo ficando desfocados.


***

“Por que tem uma curandeira que não sai do meu lado?”

“Porque você está em choque, Sherlock.”

“Eu não estou em choque!” o rapaz falou, esquivando-se das mãos da curandeira e seguindo Lestrade.

“Pare com isso, Sherlock, sente-se.” O mais velho colocou as mãos em seus ombros e o fez se sentar na cadeira em frente à lareira dos Três Vassouras. “Tudo bem, se você que ajudar, vamos lá: o que houve?”

“Hope estava aqui no bar e eu o achei suspeito. Decidi segui-lo e chegamos à Casa dos Gritos.”

“Onde ele lhe explicou o que havia feito...”

“Onde eu deduzi o que ele havia feito.”

“Certo.” Lestrade revirou os olhos. “Continue.”

“Hope sabia dos podres do pessoal do Ministério e usava essas informações para chantageá-los e forçá-los a escolher...”

“Escolher entre o que?”

“Ele carregava dois frascos de poção: um com um veneno e um com um tipo de sonífero. Ele forçava a vítima a escolher e tomar o conteúdo do frasco escolhido, por isso era considerado suicídio.”

“E quem lançou a maldição? E que feitiço era aquele?”

“Não sei, não conheço nenhum feitiço que tenha aquele efeito, Lestrade.” Holmes deu de ombros. “Quanto a pessoa que o lançou... É alguém maior de idade e com licença para aparatação, pois aparatou logo que atingiu Hope. É alguém rápido e que já se viu em uma situação parecida com essa antes, pois já sabia como reagir e não hesitou em atacar. Para conhecer esse tipo de magia, deve ser um bruxo ou bruxa que estuda magia negra – porque aquilo era magia negra, sem dúvida – ou que já entrou em conta...”

“Sherlock?” A voz de Lestrade parecia distante quando este o chamou, mas o sonserino não respondeu, apenas virou o rosto, vendo os outros funcionários do Ministério que estavam dentro do bar, a curandeira que supostamente deveria estar cuidando de si, mas que agora estava com uma cara emburrada, sentada em uma das mesas, Madame Rosemerta, que parecia desolada enquanto tentava manter todos que estavam ali confortáveis... E, do lado de fora, sendo visto apenas pela janela, John. “Você está bem?”

“Não.”

“O que?”

“Essa última parte, risque tudo!” disse Holmes, pegando a pena e o pergaminho das mãos do mais velho e riscando todo o texto referente às últimas coisas que ele havia falado.

“Mas...!”

“Eu estou em choque, Lestrade!” Sherlock se levantou e foi até a curandeira, sentando-se ao lado dela colocando as pequeninas mãos da mulher em seus ombros. “Tenho até uma curandeira apenas para cuidar de mim... E do meu estado de choque.”

Lestrade o encarou por um tempo, antes de suspirar. “Se é assim, você está liberado assim que... Assim que se sentir melhor.”

O sonerino observou enquanto o outro se distanciava e, assim que percebeu que ele estava a uma distancia segura, escapou das mãos da mulher novamente e, ignorando os chamados dela, apressou-se para sair do Três Vassouras.

“Você está bem?” perguntou Sherlock, aproximando-se do lufo.

“Eu? Estou ótimo, obrigado por perguntar, mas... E você? Quero dizer, quase... Quase foi morto por aquele homem e...”

“Você sabe muito bem que eu estou bem,” disse Holmes, parando em frente ao outro e o encarando, sério, antes de murmurar. “Você acabou de matar um homem, John, tem certeza de que está bem?”

“A intenção não era essa, você sabe disso.” Watson olhou em volta, parecendo desconfortável. “Mas, sim, estou bem, não se preocupe.”

“Vamos.” O mais alto segurou-o pelo braço e começou a guiá-lo pelas ruas do vilarejo. “Aquele feitiço, qual é?”

“Sectumsempra.”

“Nunca ouvi falar.”

“E nem vai ouvir, não em Hogwarts,” disse John, passando a língua pelos lábios. “Foi um... Um comensal da morte que o usou, em Wales.”

“Quando o atacaram?”

“Obviamente. Eu me lembro do feitiço porque ele atingiu... atingiu um dos rapazes que estava no nosso grupo. Foi a coisa mais horrível que eu já tinha visto. Sangue por todo e qualquer lado, ninguém conseguia fazer parar.”

“Entendo. Bom... Estou com fome.”

“O que?”

“Estou com fome,” disse Sherlock. “Vamos passar na cozinha quando chegarmos em Hogwarts, pode ser?”

“Claro,” respondeu o lufo, sorrindo levemente, mas logo o sorriso sumiu de seu rosto ao ver, parado em uma esquina, o homem que, há algumas semanas, o havia interrogado sobre seu colega no Três Vassouras, acompanhado da moça que parecia ser algum tipo de secretária sua. “Sherlock, é ele. O homem do Ministério sobre o qual eu lhe falei...”

Sherlock estreitou os olhos quando se aproximaram do casal. O homem desconhecido estava sorrindo, aquele mesmo sorriso quase simpático e, ao mesmo tempo, ameaçador, enquanto a mulher parecia mais interessada no bloco de notas no qual estava anotando algumas coisas.

“Sherlock, que bom vê-lo por aqui hoje.”

“O que você quer?” perguntou o sonserino, finalmente parando de andar.

“Só queria ver como você estava,” disse o homem, fingindo estar magoado com a indelicadeza com a qual Holmes o tratava. “Por mais que você não acredite, eu quero vê-lo em segurança...”

“Ah, por favor...!”

“Sem contar que você não dá notícias!” O outro sacudiu a cabeça. John, enquanto isso, continuava em silêncio, confuso com o que via e ouvia. “Você sabe muito bem que mamãe fica louca de preocupação...”

“Ora, não comece a envolver a mamãe no meio dos seus interesses, Mycroft!”

“Espere, espere um pouco!” disse Watson, erguendo as mãos e, finalmente, conseguindo a atenção dos dois. “Mamãe?”

“Mamãe, nossa mãe,” disse Sherlock, encarando o mais velho. “John, este é meu irmão, Mycroft Holmes.”

“Ir... Irmão!? Vocês... Vocês são irmãos?

“Sherlock não gosta de dizer que tem parentes, aparentemente,” disse Mycroft, rindo.

“Não gosto de dizer que tenho você como parente,” disse o Holmes mais novo, antes de sair andando, pisando forte e de cabeça abaixada.

“Boa noite para você também, Sherlock!” O homem virou-se para olhar John, que o encarava, confuso.

“Você disse que era inimigo dele.”

“Bom, ele me considera um.” Mycroft deu de ombros. “Nunca nos demos muito bem... Você deve imaginar como eram os jantares de Natal lá em casa.”

“Sim... Digo, não! Prefiro nem imaginar!” Watson sacudiu a cabeça, tentando tirar de lá a imagem de uma família Holmes constituída por Sherlock, seu irmão mais velho, seu pai e sua mãe, todos brigando dentro de uma sala toda decorada para o Natal. “Eu... Acho melhor eu ir indo.”

“Sim, sim... Boa noite, Sr. Watson!” disse Mycroft, vendo o lufo apressar o passo para alcançar o seu irmão. “Percebeu que ele parou de mancar?”

“O que, senhor?” a mulher ao seu lado finalmente ergueu o olhar. “Oh, é verdade.”

“Anthea, querida, pode me fazer um favor?” o bruxo perguntou, sorrindo de leve para a moça. “Mande avisar para ficarem de olho nos senhores John Watson e Sherlock Holmes lá no castelo de Hogwarts.”

“É claro, Sr. Holmes.”




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Notas finais do capítulo

E é isso... Eu talvez escreva um dos outros episódios (menos Blind Banker). Queria escrever o Moriarty e a Irene nesse AU... Bom, de qualquer maneira, espero que tenham gostado. Muito obrigada Mychelle_Wilmot, WickeeedMind e Chris_chan, que deixaram reviews (:
E, como sempre, não se acanhem, reviews são lindos.



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