Um Estudo Em Púrpura escrita por themuggleriddle


Capítulo 4
O inimigo




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Procurar Sherlock por Hogsmead acabou se tornando uma tarefa mais difícil do que John achava que fosse ser. Mesmo sabendo que não seria muito difícil achar um rapaz tão alto e tão singular quanto Holmes, o lufo percebeu que, quando queria, o colega sonserino conseguia praticamente ficar invisível sob os olhos de quem quisesse.

“John Watson?”

O garoto ergueu o rosto e se deparou com uma jovem parada a sua frente. Ela tinha cabelos castanhos longos que estavam soltos e caiam sobre os seus ombros que estavam cobertos por uma capa escura e seu rosto bonito parecia gentil com o jeito que ela sorria.

“Ahm, sim?”

“Será que poderia me acompanhar?”

Watson sentiu um frio correr por sua espinha ao perceber que aquela mulher deveria ser do Ministério e sabia muito bem que ele e Sherlock haviam estado na Casa dos Gritos mais cedo. Ela sabia e iria questioná-lo sobre aquilo... E se ela quisesse apagar a sua memória? Ou, pior, e se ela fosse puni-lo por ter ido até lá? Será que haviam pego Sherlock também? Será que os professores sabiam do que estava ocorrendo?

“Pode entrar.”

O rapaz lufo nem percebeu por onde andou com a moça, só sabia que estava dentro do Três Vassouras, no andar de cima do pub, entrando em uma sala que parecia ser uma sala de visitas que deveria pertencer à Madame Rosemerta. O lugar estava vazio a não ser por uma figura alta e robusta que estava parada perto da janela que dava vista à rua principal do vilarejo.

“Ahem...”

“Ah, Sr. Watson.” A figura se virou e mostrou-se ser um homem. John não sabia se devia baixar a sua guarda perto dele ou não, pois, apesar de parecer um pouco amigável com aquele sorriso estranho nos lábios, havia algo nele que o lembrava Sherlock... Talvez o ar de superioridade que ele lhe passava. “É um prazer conhecê-lo. Chá?”

“Não, obrigado,” disse o rapaz. “Olha, se for sobre a Casa dos Gritos, eu juro que não fizemos nada de mais, Sherlock só queria dar uma olhada...”

“Crianças sempre se traem, sabia?” O homem riu, sentando-se em uma das poltronas e, com um movimento da varinha, preparando uma xícara de chá para si mesmo. “Mas não estou aqui para falar sobre seja lá o que houve na Casa dos Gritos...”

“Então o que...?”

“Sherlock Holmes.”

John estreitou os olhos, analisando o outro dos pés a cabeça. Estava bem vestido, o que sugeria uma boa família, afinal, não eram todos que poderiam comprar vestes daquela qualidade, também tinha em mãos um guarda-chuva no qual parecia estar se apoiando. Os cabelos bem cuidados estavam penteados para trás e, apesar de, a primeira vista, parecem escuros, o brilho da luz do lado de fora o deixava parecendo meio ruivo. Mas o que chamou a atenção de Watson não foram as roupas caras, nem o guarda-chuva e nem os cabelos ruivos, mas o broche dourado que tinha preso em seu peito... Um M inscrito em um círculo.

“O que o Ministério da Magia quer com Sherlock?”

“Quero saber sobre ele.”

“O que?”

“O que você poder me contar, Sr. Watson.” O homem sorriu.

“Não tenho o que contar, não o conheço por muito tempo.”

“E ainda assim deixou-o arrastar para dentro de uma cena de crime quando vocês deveriam estar passeando por Hogsmead,” o desconhecido falou, rindo. “É muita confiança para quem conhece pouco alguém.”

“Olha, seja lá o que você quer saber sobre ele, terá que perguntar ao próprio Sherlock, desculpe-me.” Dizendo isso, John deu as costas ao homem e se dirigiu à porta da sala.

“Vou lhe dar um tempo para pensar sobre o assunto, Sr. Watson,” disse o homem, antes de assobiar. John virou-se e viu que agora ele tinha uma coruja parda pousada em seu joelho enquanto afagava a cabeça desta. “Vou deixar Andrea no corujal de Hogwarts e, caso mude de idéia de deseje me contar algo sobre Sherlock, pode usá-lo. Ele saberá onde me encontrar. Certeza que não quer o chá?”

“Sim, muito obrigado.”

***

John só teve notícias de Sherlock novamente na segunda-feira, quando estava na aula de História da Magia. Não que ele fizesse essa aula com o colega sonserino, pois, na verdade, a Lufa-Lufa dividia o horário com a Grifinória – sem contar que Watson nem sabia se o outro se preocupava em fazer aquela disciplina -, mas Holmes dera um jeito de entrar em contato com ele mesmo estando, aparentemente, no outro canto do castelo.

“Psst, Watson!” um lufo de cabelos escuros o qual ele conhecia por ser o capitão do time de Quadribol da casa, Carl Powers, o chamou e, assim que obteve a sua atenção, apontou para a janela que ficava logo ao lado de sua carteira.

John sacudiu a cabeça, tentando se livrar do sono que sempre o invadia naquela aula, e virou-se. Havia uma coruja negra parada do lado de fora. Ela não era muito grande e ocupava-se em bater com o bico no vidro... Fazendo uma leve careta, o lufo olhou rapidamente em volta, vendo que o professor não havia percebido o barulho da coruja, assim como o resto de seus colegas, que pareciam estar apenas de corpo presente, e abriu a janela. A ave nem se preocupou em entrar na sala, apenas largou a carta que trazia no parapeito da janela, antes de sair voando, apressada.

Franzindo as sobrancelhas, Watson apanhou o envelope e, após ver que não havia nada escrito nele que pudesse identificar o remetente, abriu-o. A letra que estava no pergaminho era elegante e, ao mesmo tempo, apressada, mas fora possível lê-la de qualquer maneira.

“Cinco horas. Nossa sala. - SH”

Aparentemente Sherlock decidira apelidar a antiga sala de Feitiços Domésticos de “deles”. Bom, de qualquer maneira, quando deu cinco horas e Binns finalmente os liberou, John apressou-se para o segundo andar e, ao chegar a frente da porta, lembrou-se do seu encontro com o homem do Ministério. Haveria algum problema ele estar se envolvendo com Holmes? Afinal, ele poderia muito bem estar metido em coisas mais sérias do que invadir cenas de crimes alheias... Não, o lufo disse a si mesmo, aquilo era só um projeto de escola, não era como se ele estivesse virando parceiro de crime de Sherlock Holmes ou coisa parecida.

“Olá,” o rapaz falou ao entrar na sala, mas logo ficou quieto ao não ver o sonserino ali. Levou alguns minutos até John ver que apenas as pernas de Sherlock estavam visíveis e que o outro estava, ao que parecia, meio deitado em uma das poltronas, com as pernas longas penduradas para fora desta. “O que você está fazendo?”

“Estou entediado,” o outro murmurou e Watson se aproximou, vendo que o rapaz parecia estar tentando tirar um cochilo ali, já que nem se dignara a abrir os olhos para olhá-lo.

“Me chamou aqui por que está entediado?”

“Não, chamei-o aqui porque alguém tem que acender o fogo do caldeirão daqui...” o sonserino abriu os olhos e olhou para o relógio de pulso. “Três minutos.”

“E o que, em nome de Merlin, o impede de fazer isso?” perguntou John, começando a achar que Holmes era mais um dos sonserinos que acreditavam que eles, lufos, eram feitos apenas para servir as demais casas.

“Estou ocupado.”

Ocupado?” Ele riu. “Com o que?”

“Estou pensando,” disse Sherlock, juntando pontas dos dedos e as encostando nos lábios.

“Aposto que não é na nossa poção... Posso acender o fogo?” perguntou o jovem, apanhando a varinha de dentro das vestes.

“Pode.” Holmes respirou fundo. “E, você está certo, não é sobre a nossa poção, é sobre o homem da Casa dos Gritos.”

Incendio... Sherlock.”

“Diga.”

“Ontem, depois que você sumiu de Hogsmead, eu... eu conheci alguém,” disse John.

“Alguém?” o sonserino finalmente pareceu prestar atenção na conversa, erguendo uma sobrancelha, mas ainda não abrindo os olhos.

“Acho que talvez seja um conhecido seu.”

“Conhecido?” O moreno abriu os olhos e encarou o outro.

“É, acho que talvez combine com a situação chamá-lo de inimigo.” Watson deu de ombros enquanto olhava para o conteúdo do caldeirão, que estava de uma cor verde escura e borbulhava. “Se formos querer ser dramáticos...”

“Ah, qual deles?”

Qual deles?”

“Tenho vários inimigos, John.” O sonserino deu de ombros.

“Um cara do Ministério.”

“Hum.”

“Devo me preocupar? Com ele, quero dizer.”

“Sim, deve,” disse Sherlock. “Ele é perigoso.”

“Perigoso?”

“Existem pessoas no Ministério da Magia que conseguem ser mais perigosas do que comensais da morte, John Watson.” O mais alto espreguiçou-se, antes de, em um pulo, ajeitar-se no sofá. Agora ele estava sentado de cócoras, com as mãos finas agarradas aos seus próprios joelhos. “Diga-me, John, o que você acha que aconteceu na Casa dos Gritos?”

“O que eu...? Ora, como eu vou saber?!” O lufo soltou um muxoxo, antes de sentar-se na cadeira a frente do outro.

“Estou perguntando o que acha, não quero saber se é o que de fato ocorreu ou não. Preciso de um olhar de fora.”

“Não tenho idéia. O que você acha?”

“Acho que Stephen Blattea não foi à Casa dos Gritos por conta própria...”

“Stephen Blattea?”

“Nosso homem de roxo. Funcionário do Ministério da Magia no Departamento de Execução das Leis Mágicas.”

“Como você sabe tudo isso? Não pode ter deduzido tudo só de olhar para ele! E aquele cara, Lestrade, não nos falou sobre quem ele era.”

Sherlock o encarou por um tempo, antes de apontar, com a cabeça, para um maço de papéis que estava ao lado do caldeirão.

“Eu apenas li o jornal, John.”

“Ah...” Watson apanhou a edição do Profeta Diário que estava em cima da mesa e que parecia ser daquela segunda-feira, vendo a foto de um homem loiro e sorridente na capa. O homem morto da Casa dos Gritos.

“A última vez que foi visto foi em sua sala no Ministério, terminando de arrumar uma papelada sobre a nova lei sobre o uso de feitiços protetores em casas dentro do perímetro urbano de Londres,” disse Holmes. “Acho que ele foi abordado lá, levado à Hogsmead, onde tomou o veneno que o matou.”

“Qual a dificuldade de aceitar que o homem se matou, Sherlock?” perguntou John, passando uma mão pelo rosto, parecendo cansado.

“Blattea não tinha razão para se matar. E também não acontecem quatro suicídios seguidos e com o mesmo padrão.”

“Todos tomaram um veneno, grande coisa...”

“Todos tomaram um veneno, o mesmo veneno, todos eram funcionários do Ministério da Magia, todos foram encontrados fora de Londres e todos não apresentavam razão aparente para se matarem.” Holmes estreitou os olhos, encarando-o. “E esse último veio com uma pista.”

“A palavra no chão?”

“Sim, Rache.”

“Já descobriu o que ela significa?”

“Acho que sim.”

“E o que é?” Um sorriso apareceu no rosto do sonserino, como se ele estivesse apenas esperando para que essa pergunta fosse feita.

“Johannes Rache.”

“Quem?”

“O Sr. Rache trabalha para o Ministério alemão e esteve, há pouco tempo, na Inglaterra,” explicou o outro, parecendo se divertir com a situação. “Parece que o assassino não se contentou em apenas matar Blattea, mas também acabar com a reputação dele...”

“O que o nome desse Rache influenciaria na reputação dele?”

“Blattea era figura pública. Carismático e coisa e tal... Assim como Rache. Não cai bem para nenhum dos dois o público saber que eles mantinham um caso. Certo, um  já está morto, mas a memória dele fica manchada e...”

“Você está dizendo que...?”

“Blattea e Rache mantinham um caso extraconjugal. Vamos, John, você sabe que a sociedade bruxa, apesar de posar como boa moça que aceita tudo e todos, é preconceituosa ao extremo.”

“E... Será que, talvez, Rache não desapontou Blattea, que achou um motivo válido para acabar com a própria vida e, aproveitando, expor o... parceiro... ao público?”

“Pouco provável.”

“Mas...”

“Quatro mortes iguais, John, lembre-se disso.”

Watson permaneceu em silêncio, encarando Sherlock, antes de suspirar e olhar em volta.

“Como tem tanta certeza de que Blattea era gay?”

“Já o conheci e, acredite em mim, é óbvio.”

“As roupas roxas?”

“Elas são o detalhe de menor importância, muitos bruxos usam essas coisas ridículas.”

“Sherlock?”

“Como você conhecia aquele tal de Lestrade?”

“Não se lembra dele?” John sacudiu a cabeça. “Lestrade, monitor da Grifinória, não? Ele se formou há uns três anos e está se preparando para o teste de auror, mas já os acompanha em algumas missões. Costumava me liberar de algumas detenções aqui em Hogwarts.”

“Pega muitas detenções?”

“Tendo a irritar os professores.” Sherlock riu.

“Eu imagino.”


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Notas finais do capítulo

1- Crianças sempre se traem, sabia?: eu tinha uma professora que falava isso... Crianças sempre confessam os seus crimes sem querer.
2- "[...]o brilho da luz do lado de fora o deixava parecendo meio ruivo.": tanto o Mark Gatiss quanto o Benny Cumberbatch são ruivos e sempre dá aquela impressão de que o cabelo deles é um castanho meio avermelhado quando bate o sol.
3- "Vamos, John, você sabe que a sociedade bruxa, apesar de posar como boa moça que aceita tudo e todos, é preconceituosa ao extremo.: isso é verdade.
4- Stephen Blattea: o nome "original" dele era James Vronsky, porque foi o primeiro nome que veio a minha cabeça quando eu tava escrevendo e tava sem internet pra pesquisar mais nomes... Vronsky veio do personagem do livro "Anna Karenina". Mas ai eu mudei, então ficou Stephen Blattea, sendo que Blattea, em latim, significa roxo.
Booom... gente, reviews, reviews são lindos, por favor D:



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