Um Estudo Em Púrpura escrita por themuggleriddle


Capítulo 2
O Sonserino




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Mesmo que todos os alunos tivessem aula na mesma sala nas masmorras, aquele lugar parecia outro durante aquele horário do dia. As aulas da Lufa-Lufa e Corvinal ocorriam durante o início da tarde, quando o Sol estava alto e a iluminação da sala de aula era boa, tendo os inúmeros tons esverdeados dos vidros das janelas refletindo dentro de todo o cômodo. Mas agora era o final da tarde, horário no qual as casas da Sonserina e Grifinória terminavam suas aulas, e a sala estava escura e com um aspecto frio... Uma atmosfera totalmente diferente, ainda mais quando vazia do jeito que estava, salvo a um jovem que estava sentado em uma das mesas mais ao fundo da sala, debruçado sobre uma placa de Petri e com uma lupa em mãos.

“Bem diferente do que eu estou acostumado,” disse John, olhando em volta, antes de voltar a observar o rapaz na mesa. Este não havia se dignado a erguer os olhos da lupa e tudo o que se dava para ver dele era a sua cabeleira negra e cacheada que, na posição que estava, escondia-lhe o rosto.

“Stamford, pode me emprestar uma pena?” o garoto perguntou, sua voz saindo profunda e desinteressada, enquanto estendia uma mão na direção dos dois.

“Espere um pouco...” Mike enfiou a mão gorducha em suas vestes, a procura de uma pena, mas logo deu de ombros. “Foi mal, deixei as minhas na bolsa lá na sala da McGonagall... Sabe, tenho aula com ela daqui a pouco. Aliás, este é John Watson, um amigo meu da Lufa-Lufa.”

“Aqui.” John enfiou a mão na sua bolsa, achando o estojo metálico no qual guardava as suas penas e o abrindo para pegar uma delas e entregar ao aluno desconhecido. O outro finalmente ergueu a cabeça e o lufo pôde ver o seu rosto angular e os olhos claros e terrivelmente penetrantes... Assim como a gravata verde e prata que usava em volta do pescoço.

“O que acha do violino?” o garoto perguntou, puxando uma folha de pergaminho e rabiscando alguma coisa nele, antes de assobiar e esticar o braço para que uma coruja negra pousasse nele.

“O que?” perguntou John, vendo-o entregar a o pergaminho à ave, antes desta sair voando pela janela aberta.

“Para quem era a carta?” dessa vez foi Mike quem perguntou.

“Slughorn.”

“Mas ele está do outro lado do corredor. Não era mais fácil ir até lá falar com ele?”

“Se posso escrever, escrevo,” disse o rapaz, erguendo uma sobrancelha, antes de voltar a olhar para o lufo. “Então? O que acha do violino?”

“Não sei do que você...”

“Eu toco o violino para pensar, então, quando estudo ou faço alguma tarefa, fico tocando por um bom tempo, antes de realmente sentar-me e começar a trabalhar.” Ele deu de ombros. “Colegas de projeto em potencial devem saber dos pontos baixos um do outro.”

“Quem... Quem falou em colega de projeto?” perguntou Watson, começando a se sentir desconfortável perto do sonserino.

“Bom, hoje mais cedo eu comentei com Stamford sobre o fato de que ninguém naquela turma entediante querer fazer esse projeto do Slughorn comigo, depois ouço o professor falar sobre um possível aluno transferido da outra turma de Poções e, agora, Mike aparece com um amigo que, aparentemente, chegou só agora em Hogwarts,” ele falou, parecendo entediado. “É bem óbvio, na verdade.” O jovem olhou para a placa de vidro, onde havia um tipo de substância esverdeada e gosmenta, através da lupa outra vez, antes de colocá-la de lado e se levantar, pegando a capa que estava pendurada na cadeira e a vestindo. “Bom, se quiser, podemos começar o mais rápido possível para ter uma certa vantagem em relação aos outros. Estava pensando em fazer uma poção Polissuco, parece ser a mais complicada do livro... E, quanto mais complicada, mais pontos com Slughorn nós ganhamos, o que acha? Bom, sua próxima aula é o que? Amanhã depois do almoço você tem alguma aula? Não, só Defesas Contras as Artes das Trevas lá por três horas, estou certo? Então encontre-me no segundo andar, primeira porta no segundo corredor.”

John observou, confuso, enquanto o rapaz sonserino apanhava sua bolsa e dirigia-se para a porta da sala de Poções. “Espere um pouco... Como pode assumir que eu vou realmente fazer dupla com você? Quero dizer, não sabemos nada um sobre o outro... Nem o seu nome eu sei!”

Mike, que estava mexendo em alguns tubos de vidro que estavam sobre a mesa, apenas ergueu os olhos, rindo baixinho, ao ver o jeito como o outro aluno parou de andar e virou-se para encarar John.

“Eu sei que você passou as férias em Wales por causa do chaveiro ridículo que está pendurado na sua bolsa. É novo e parece ter sido dado de presente por algum parente – Mãe? Pai? Irmão? – porque ninguém em sã consciência compraria um chaveiro com o brasão de Wales e o colocaria na bolsa como se fosse a coisa mais legal do mundo, a não ser que tenha sido dado por alguém a quem você queira agradar. Você também está bronzeado, coisa que não estaria caso passasse as férias em Londres, de onde você, o que é perceptível pelo seu sotaque... Mas o bronzeado é só no rosto e nos dedos, ou seja, deve ter passado o tempo inteiro com roupas compridas e luvas. Isso me diz que você passou o verão jogando Quadribol em Wales, já que lá existem inúmeras reservas mágicas onde os bruxos podem executar suas tarefas não-trouxas livremente. Pelo seu físico você parece ser um batedor ou goleiro.” Watson aproveitou o pequeno intervalo entre as palavras para olhar para Stamford, que apenas deu de ombros e riu. “Mas aconteceu alguma coisa em Wales, algo que o deixou sem vir para a primeira semana de aula... E algo que o deixou mancando... Aliás, é apenas psicossomático, muito provavelmente, porque você se esquece disso quando está entretido. O que mais? Ah, sim, sei que você tem um irmão e que ele tem alguns problemas com bebidas. De qualquer maneira, eu tenho que ir... Aliás, meu nome é Sherlock Holmes.”

John observou, estático, enquanto o sonserino deixava a sala, antes de passar a língua pelos lábios e olhar para Stamford.

“Sim, ele é sempre assim,” disse o corvinal, rindo, enquanto arrumava os frascos em cima da mesa em seus devidos lugares.

***

A primeira porta do segundo corredor do segundo andar era uma antiga sala de aula que há muito não era utilizada e onde, antigamente, ocorriam as aulas de Feitiços Domésticos, aula a qual foi retirada do roteiro acadêmico de Hogwarts após um grupo de bruxas feministas fazerem um enorme protesto no Ministério sobre como aquelas aulas direcionavam as meninas à uma vida de servidão aos seus respectivos maridos, isso na metade da década de cinqüenta. Devido ao fato da sala ter servido para tal matéria, ela era extremamente confortável, como se tentasse imitar, realmente, uma casa em miniatura. Ao invés das pedras, as paredes ali eram revestidas com um papel de parede bordô enfeitado com arabescos mais escuros; as janelas, cuja vista dava para o Lago Negro, eram cobertas por cortinas escuras cheias de babados ; haviam pequenas mesas redondas ao redor do lugar, junto à poltronas que pareciam ser confortáveis, estantes e até uma lareira... Realmente, uma pequena sala de visitas em plena Hogwarts.

“Como você descobriu esse lugar?” perguntou John assim que entrou na sala no dia seguinte à ser apresentado à Holmes.

“Procurando.” O outro rapaz foi até uma das janelas e puxou as cortinas, deixando a luz do sol invadir o aposento. “Coloquei alguns feitiços para ninguém mais poder entrar nela a não ser que seja convidado... Então é como se fosse um canto apenas meu aqui no castelo e onde eu passo a maior parte do tempo.”

“Isso explicaria a razão de eu nunca ter te visto antes...” murmurou John, finalmente percebendo os traços que o sonserino havia deixado no lugar. Caldeirões espalhados pelos cantos, livros sobre as mesas, alguns papéis pendurados na parede sobre a lareira. “Isso é um crânio?”

“Um amigo,” disse Holmes, indo até a lareira e batendo com o nó dos dedos sobre o crânio humano que havia ali em cima. “Não se preocupe, não pratico nenhum tipo de magia negra com ele.”

“Onde você conseguiu um crânio?”

“Tenho meus métodos.”

‘Desde que seus métodos não incluam matar companheiros de projetos,’ pensou Watson enquanto ia até uma das mesas e analisava as coisas que estavam sobre ela. “Poções Mais Potentes? Como conseguiu assim tão rápido? Podia jurar que estaria em falta na biblioteca, já que todo o nosso ano está atrás dele...”

“Eu já o tinha antes do Slughorn passar o trabalho.”

“Ah, sim... Espera. Mas, como? É livro da Sessão Restrita.”

“Tenho meus métodos.”

“Isso é... Erva de Flux?” perguntou o lufo, pegando um frasco cheio de pequenas flores secas e cor-de-rosa.

“Colhidos na lua cheia, como diz o livro,” disse Holmes, colocando um dos caldeirões – o que parecia o mais limpo deles – em cima de um suporte e acendendo o fogo embaixo deste com a varinha.

“Pele de ararambóia?” O lufo franziu a testa ao erguer o que parecia ser um longo pano feito de um couro fino.

“Precisamos picar isso aí.”

“Como você conseguiu isso?!”

“O estoque particular do professor Slughorn,” disse o sonserino, como se fosse a resposta mais óbvia do mundo.

“Você já falou com ele sobre...? Ah, não, deixe-me adivinhar: você já tinha antes de ele passar o trabalho.” O outro concordou com a cabeça, antes de voltar a arrumar a mesa com o caldeirão.

“Então, o que precisamos fazer?”

Watson encarou o outro, que estava parado em frente ao caldeirão, sem a capa e com as mangas da camisa dobradas até o cotovelo, antes de pegar o livro e folheá-lo até encontrar a página onde estava a receita da poção Polissuco. O garoto franziu as sobrancelhas enquanto lia as instruções, já tentando pensar em um jeito de persuadir sua dupla de tentar outra poção.

“Você tem certeza de que quer tentar essa aqui? Parece meio complicada demais...”

“É claro que sim! Você quer que eu tente o que? Poção do Morto-Vivo? Poção Calmante?” O moreno revirou os olhos. “As quatro poções mais complicadas são a Polissuco, a Veritasserum, a Felix Felicis e a Amortentia. Veritasserum pode ser útil, mas também pode ser dispensável; Felix Felicis é para quem quer ter o trabalho facilitado e Amortentia é para garotinhas de quinze anos apaixonadas.”

“Bom, se é o que acha...” O lufo pigarreou, antes de arrumar o livro em seus braços. “Acho que podemos começar cortando a pele de ararambóia... Precisamos de bastante daquilo.”

John deixou o livro de lado enquanto via o outro apressar-se para pegar a pele que ele havia deixado na outra mesa e trazer para a deles. O lufo sentou-se em uma das poltronas, acomodando a perna direita sobre um dos pufes, e pegou seu material.

“Posso perguntar como você sabia tudo aquilo ontem?” O menor ergueu a cabeça assim que Holmes sentou-se a sua frente.

“Apenas o observei.”

“Eu estou te observando e não sei nem o que você comeu na hora do almoço,” riu Watson.

“Você está me vendo. A maioria das pessoa vê, mas não observa, John.”

“Certo, então, você descobriu que eu estive em Wales pelo chaveiro que minha mãe me deu, que eu jogo Quadribol porque já me viu jogando pela Lufa-Lufa...”

“Eu não assisto os jogos,” disse o sonserino como se o outro acabasse de o ofender.

“Ora, mas já deve ter visto uma partida de Hogwarts...”

“Não me interessa. Descobri que você joga pelo seu físico e pela marca de bronzeado.”

“Certo, então... Também soube sobre o incidente de Wales porque eu demorei para voltar para as aulas e pelo fato de eu estar mancando...”

“E porque eu também ouvi alguém comentando sobre um grupo de bruxos que foi atacado por Comensais lá. Bem por cima, mas achei que se encaixava na sua história,” disse Sherlock enquanto começava a cortar a pele em finas tiras.

“Certo, mas... Como descobriu sobre o fato de eu ter...?”

“Um irmão? Óbvio. Você me emprestou uma pena.”

“E...?”

“Com toda a confusão de Wales, você não teve tempo de comprar materiais novos e alguém da sua família quis agradá-lo dando-lhe de presente algumas penas e tinteiros novos. Por quê? Porque essa pessoa tem algum problema o qual o perturba. Nesse caso, a bebida.” O sonserino esticou a mão pálida e apanhou o estojo de penas que o outro havia deixado sobre a mesa, indicando uma pequena inscrição na lateral deste, por entre os detalhes que lá estavam entalhados. “De Clara para Harry, XOXO... Uma mulher chamada Clara deu isso à alguém. O beijos e abraços diz que ela gosta muito dessa pessoa, ou gostava... Não foi à você, porque a caixa já está um pouco gasta, assim como as penas, que vêm junto com ela – já vi esse conjunto para vender no Beco Diagonal. Veja.” Ele pegou uma das penas e mostrou a ponta desta. “A ponteira está gasta e amassada, como se quem a usasse não prestasse a menor atenção no que fazia enquanto escrevia... Quem faz isso? Alguém com pressa, desesperado ou bêbado. Além disso...” Sherlock passou a pena por debaixo do próprio nariz e respirou fundo. “Cheiro de álcool, como se tivessem derrubado um copo de firewhiskey sobre ela. Em resumo: você tem um irmão com problemas de bebida cuja namorada ou esposa deu à ele este conjunto.” Ele ergueu o estojo e a pena. “Mas eles terminaram, por isso ele não queria mais isso aqui... E ele queria te agradar, depois de tudo o que você passou em Wales, então juntou o útil ao agradável e lhe deu o estojo e as penas das quais tanto queria se ver livre.”

John ficou em silêncio por um tempo, tentando absorver todas as palavras que Sherlock havia dito, antes de voltar a falar. “Magnífico.”

“O que disse?” perguntou Holmes, erguendo a cabeça, desconfiado.

“Isso o que você fez... É magnífico!” O menor riu. “Deduzir tudo isso sem usar nenhum tipo de magia. Quero dizer, você não está usando Legilimência, está?”

“Você acha mesmo?” O sonserino franziu a testa, encarando-o. “E não, não uso Legilimência.”

“Sim.”

“Bom, não é isso o que eu ouço normalmente...”

“O que ouve, então?”

Some daqui,” respondeu o outro, voltando a olhar para baixo, e John riu, surpreendendo-se ao ouvir a risada dele também.


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Notas finais do capítulo

1- Feitiços Domésticos: eu já citei a matéria em outras fics que se passam na década de 40. Seria uma aula optativa apenas para garotas e tals, já que, naquela época, apesar do mundo trouxa enfrentar uma leve diferença no jeito de ver as mulheres (homens na guerra e mulheres trabalhando), o mundo bruxo, na minha cabeça, ainda enfrentava um certo preconceito para com mulheres.
2- "A primeira porta do segundo corredor do segundo andar": Segundo andar (2), segundo corredor (2), primeira porta (1). 221. 221B Baker Street.
Fandom de Sherlock, é hoje, como se sentem? Foi um prazer servir com vocês, pessoas lindas, e que nós superemos a queda com toda a dignidade possível. (/drama)
Reviews são muito bem vindos, vocês sabem disso.



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