- Oiii! – disse no meu ouvido a criatura que quase me matou do coração. Pera... Disse?? Não, não é disse... É BERROU MESMO!!

Olhei mortalmente para ele. Não, mortalmente é pouco, ainda mais considerando o fato que ele é filho de Hades. Olhei pra ele como se eu o torturasse mentalmente. E, olha, que coincidência! Era exatamente com isso que minha mente tava ocupada nesse momento! Com os piores tipos de tortura possíveis! Praticadas em quem?? No Nico, obviamente!! Como ele ousa quase me matar de susto?? No meu aniversário ainda por cima!!!

Bem...

Olha! Vocês devem estar meio confusos... Afinal, o Nico não é algo que não se mistura com as sombras facilmente... E vocês estão certos em pensar assim! O Nico se mistura facilmente as sombras, mas esse Nico não.

Sim, esse Nico é o Nico di Ângelo. Mas é um Nico muito não-Nico.

Imagine o Nico de jeans. Até aí nenhum problema.  Agora, imagine esses jeans verdes. Verdes. E agora uma camisa. Mas ele não usava uma camisa qualquer. Nãããão! Era laranja. Escrito ‘Be Happy’. Mas calma, ainda fica pior. Cada letra era de uma cor. Vermelho, azul. Roxo, verde, azul escuro, branco e... e... ah, a cor do pássaro! Verde, azul, sei lá! Depois da linda frase de efeito, ainda tinha um emoticon de carinha feliz amarela piscando! [N/a- ; )] Usava também um daqueles lindos óculos de sol coloridos, estilo Ray-ban que as meninas adoram... usar.

Sarcástico, eu?? Imagiiiina!

Não sabia se ficava bravo, confuso ou se eu ria da cara dele. Resolvi não ficar bravo, esqueci do susto e do grito, porque ele já devia estar sofrendo muito assim. E, se não tivesse, ele sofria de terrível mal gosto...

Durante um tempo fiquei encarando ele. Mas, como ele não percebeu o que eu queria com isso, arqueei uma sobrancelha. Ele olhou para trás, querendo saber para que eu arqueava as sobrancelhas. Ao não ver nada, percebeu que era pra ele. Não, imagina, eu tava arqueando as sobrancelhas pra parede de madeira! Dãã!

- Precisa mesmo, Percy?  - ele perguntou

Precisa de que?? Arqueei ainda mais a sobrancelha em resposta.

- Ok...  – disse desanimado – Caham... 

♪ Ela não gosta da minha roupa
Vive falando do meu cabelo
Reclama sempre o meu estranho jeito de falar
Mas quando beija a minha boca
Perde a cabeça e fica louca
É uma questão de tempo até você se entregar♪

Ok, você não sabe o quão pouco faltava pra eu rir da cara dele. Muito pouco. Mesmo.

- Desculpa, só deu pra decorar o refrão... – disse e só então olhou para mim – Mas você parece ter gostado do mesmo jeito – disse ao ver o sorriso no meu rosto, já mais animado – Eu posso cantar de novo!

♪ Ela não gosta da minha roupa
Vive falando do meu...

- Hahahahahahha – Uma risada nada escandalosa veio de trás de mim.

Virei pra trás e encontrei Annabeth com o Grover, o Quíron e o Tyson, perto da porta. Quíron deve ter ouvido o grito dela e veio ver o que que aconteceu, e Tyson estava com ele.

Enquanto Grover morria de rir, Annabeth estava muito chocada, Quíron parecia confuso (provavelmente muito parecido com a situação em que eu me encontrava) e Tyson... Seus olhos estavam brilhando??
- Caham. O que está acontecendo aqui?? – disse Quíron recuperando sua postura habitual.

Todos se viraram para mim, esperando minha resposta.

- Essa é uma ótima pergunta, Quíron. A mesma que eu me fazia há dois minutos, antes de ser interrompido pela risada do Grover.

Nico me olhou com uma cara tipo “Ahora no hablará?’ também conhecida como ‘A.N.H.?’ (Só porque eu não gosto de espanhol u_u). Depois me olhou tipo ‘Agora fala!! Falou Então!” também conhecida como A.F.F.E.! (N/a: Esse ‘falou’ é a gíria).

- Quíron – disse Nico andando na direção deles, me dando a privilegiada visão do escrito ‘Restart’ na parte de trás de sua camisa – há algum tempo, numa época em que eu estava no acampamento, fui até o chalé do tio Popô...seidon – completou Nico ao sentir um leve tremor na terra (N/a: Tá vendo?? Tio Popô pega!) – encontrar com o Percy. Mas encontrei o chalé vazio, com um pôster do Restart em cima da cama. E, como hoje é aniversário dele, resolvi fazer uma surpresa.  Vim vestido assim – disse apontando para suas roupas – e decorei o refrão de uma das músicas do Restart. Menina Esquisita, se não me engano...

- Mas eu não – comecei, defendendo meu gosto musical, mas fui interrompido.

- Na verdade – disse o Tyson... ofendido? – é Menina Estranha.

Assim que ele disse isso todas as pessoas do cômodo (que na verdade eram três semideuses, um sátiro e um centauro, não cinco pessoas) se viraram pra ele e o encararam interrogativamente. Mas ele não pareceu perceber, estava muito ocupado cantarolando no ritmo em que o Nico tinha cantado antes. E, inacreditavelmente, ele conseguia ser mais desafinado que o próprio Nico.

- Hum... Tyson? – disse, cutucando-o

- Que que foi? – disse olhando pra mim. Ao ver que todos o encaravam completou – Tem alguma coisa no meu rosto??

- Nãão! – disse, abaixando sua mão que tateava seu rosto em busca da coisa inexistente

– Tyson, como você sabe disso? – perguntou a Sabidinha educadamente.

- Disso o que?

- Do nome da música, Tyson – explicou ela, pacientemente.

- Ah... É que eu gosto – respondeu ele.

- Gosta dessa música? – perguntou Grover meio incrédulo.

- É, de Restart em geral – disse em tom quase inaudível.

Alguns momentos de silêncio depois o Nico pergunta:

- Então... o pôster era seu? – Ele parecia meio constrangido ao perguntar isso. Nico. Constrangido. Essa é nova...

- É... – respondeu o Tyson, dizendo o óbvio.

Mais alguns momentos de silêncio tenso.

- Bem, podia ser pior – conclui o Grover – ele podia gostar de música sertaneja... Você não gosta, né?? – pergunta o Grover um pouco depois.

- Não! Disso não!

- Imagina só, o Tyson cantando Ai Se Eu Te Pego! – disse eu tentando descontrair o clima.

Bem, de certa forma funcionou, pois eu, o Nico, o Grover e a Annie rimos. Quíron parecia ali só esperando para ver em que que isso vai dar.

Depois de rirmos um pouco, percebi que o Tyson não ria...

- Que que foi, Tyson? – perguntou a Sabidinha, de maneira doce.

- Qual o problema dessa música??

- Olha só a letra dela! – disse o Grover, meio chocado.

Tyson parecia pensando e refletindo sobre a letra. Estavamos só esperando ele dizer algo.

- Bem – disse de maneira conclusiva – não entendo o problema da música. – já íamos protestar quando ele completou – É ótimo, incentiva as crianças a brincarem! E tem brincadeira mais legal do que pega-pega??

Assim que disse isso saiu da sala, aparentemente, meio nervoso. Olhamos um para a cara do outro e começamos a rir. Nossa, tem um tempo que eu não rio tanto assim.

Quíron saiu, deixando só nós quatro aqui. Depois de um tempo, quando as risadas diminuíram, começamos a sair da sala.

Estavamos conversando normalmente, indo até onde todos estavam.

Ao chegarmos lá, ouvi um berro. E logo depois fui jogado ao chão, com uns 50 quilos em cima de mim.