Pegue O Metrô Da Meia Noite escrita por Anna B4nana


Capítulo 2
Capítulo 2




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Vai... Continua... Não, não, assim não... Isso, com calma... Deus do céu, isso é o Paraíso... PORRA!!!!”

Sabe um ótimo jeito de acordar de um sonho muito louco? É o jeito que meu padrasto me acordou: Na base do sacode. Odeio quando ele faz isso. É a pior coisa do mundo. É como se te interrompessem quando você está muito ocupado, sabe? Tipo, te contar o final do filme que está vendo, ou do livro. É assim que chamo o marido da minha tia, é que descobri que ele ficou com a minha mãe antes de ficar com ela. Minha tia é daquelas que nunca sabe o que acontece em casa, pois está ocupada demais em seu trabalho. Ela é juíza e passa muito tempo fora de casa, pode ser que muita gente nessa área não trabalha, mas minha tia quase se mata de trabalhar. Já o meu padrasto, ele é agente de uma banda. Às vezes ele viaja, mas nesse dia ele tinha voltado e, aparentemente, para me dar um sacode.  Ele disse que era pra eu ajudar ele nas compras do mês e que era melhor eu ir tomar banho, porque estava fedendo a suor, cigarros e bebida alcoólica. Ele disse que eu parecia o vocalista da banda que ele é agente. Dei um sorriso irônico e me levantei. Fui pro banheiro e a primeira coisa que eu fiz não foi me olhar no espelho, como todo mundo faz e sim ir ao pequeno armário e abri uma embalagem e sentir aquele aroma que me acalmava, despertava e me deixa loucão já de manhã. Não, não é cocaína e sim uma embalagem cheia de álcool. “O que? Álcool? Você cheira isso?” É o que minha mente me diz toda manhã quando faço isso. E aposto que seria isso que muita gente diria se soubesse desse meu louco segredo. Mas é uma mania que tenho desde criança, não sei como começou, mas sempre me deixou mais calmo e ligado ao mesmo tempo e sempre me impediu de ir para a cocaína. É tipo, uma mania como roer as unhas, comer a pelinha dos dedos ou se cortar. Cada um com as suas manias e segredos, certo? Tomei um banho rápido, peguei uma roupa limpa e vi o meu Ipod se tinha bateria. Nada, como sempre. Então vi o celular, ainda tinha pouca bateria, mas iria agüentar até o mercado, ida e volta, deixei o Ipod carregando e peguei os fones do celular. Voltei pro banheiro e vi o meu estado. Deplorável. Que seja, porque pior que ta não fica. Descabelado e com cara de ressaca. Era, no fundo, um pouco engraçado. Lá fomos nós dois, eu e meu padrasto as compras. Estanho, muito estranho mesmo. Estava acostumado a fazer isso sozinho, afinal, é sempre sozinho que estou. Ele começou a falar de como foi a turnê com a tal banda e no meio de tudo disse que iria pedir o divórcio da minha tia

- O quê? – Se ele achou que eu estava não prestava atenção, estava completamente enganado

- O quê o quê? – Ele perguntou. Apertando os lábios e fazendo uma careta de quem finge que não falou besteira.

- Você disse que vai pedir o divórcio, por quê? – O sinal ficou vermelho

- Porque sim – Ele me olhou. – Carla está sempre trabalhando e eu viajando, a gente não se encontra mais e... – O sinal abriu e ele apertou o volante, como se fosse dizer algum segredo. Ele andou devagar com o carro, porque os de trás tinham começado a buzinar. – Eu andei traindo ela. – Ele olhava pra frente com aquela cara de sonso.

- Puta que me pariu! Por quê? Cara, se queria um transa, batia uma punheta, mas pô, trair a minha tia? Ela nunca faria isso com você. Ela te ama de verdade. Acho

- Acho? – Ele riu, parecia que tinha engasgado. – Moleque... você não entende nada da vida, das pessoas. E essa mulher que conheci não é uma puta, Ela é uma moça descente

- Moça? É mais nova que você? Puta merda, você ta ferrado com a minha tia.

- Garoto, dá pra parar com os palavrões ou está sobre o efeito do álcool ainda?

- Você não manda em mim, falo quantos palavrões eu quiser. Caralho! – Fiz isso porque estava fulo da vida com o Roberto [o nome dele é esse]. Putz, trair a minha tia com uma... Ninfeta? [é, eu sei, meio ultrapassada essa palavra].

- Você ta pior que o Pedro Bear. – O carro parou e desci, enquanto ele fechava as janelas e trancava tudo, fui em busca de um carrinho.

- To parecendo quem?

- Meu amigo. Adora uma menininha em desenvolvimento.
- Ela não é uma menininha em desenvolvimento, ela tem vinte anos

- Tá com uma garota que tem dois anos a mais que eu? Tenho nojo de você

- Dá pra parar com esse ataque de bicha? –Tá na falta é, companheiro?

Ele riu. Fiquei sério. Ele aparou de rir. Fizemos as compras normalmente, fomos ao caixa, levamos as comprar pro carro e voltamos em silêncio. Quando levava as comprar para a cozinha ele pediu algo pra mim:

- Fica tranqüilo, vai dar tudo certo. Nada vai alterar a sua vida. Afinal, você quase não vê ninguém mesmo, certo?

Isso era verdade e como toda verdade, doeu dentro de mim. Ele sabia que se tinha algo que eu adorava e odiava ao mesmo tempo, era ficar sozinho. Meu ponto fraco, mas sozinho eu fazia de tudo: pensava na vida, escrevia poesias, músicas, relaxava, entrava em pânico, tinha ataques de “emos”, pensava na morte, na minha família sem rumo... Essas coisas que as pessoas geralmente pensam no banho. Tranquilidade dura pouco. Decidi deixar Roberto falando sozinho e fui rumo ao meu quarto. Liguei o rádio, modo “reproduzir CDs” e coloquei o meu CD de uma das minhas bandas favoritas: Asking Alexandria. Toda vez que estava perto de atacar alguém, ouvi música, apesar de ser “scremo”, essa banda me dava uma tranquilidade enorme. Deitei na cama, tirei os tênis e fiquei olhando o teto. Me senti sendo observado e quando viro pro lado, minha vizinha está me olhando, ela tenta disfarçar mas não consegue. Dá pra ver de longe que ela ficou toda vermelha. Meu quarto tem uma varanda que dá de frente pro quarto dos meus vizinhos. Na casa ao lado, mora uma garota e seu avô. Só eles. Sempre que eu olho pela varanda, às vezes para apenas tomar um ar, a garota está lendo, estudando ou assistindo TV. Raramente eu a vejo com seu notebook. Ela é uma graça, todo mês seu cabelo está de uma cor diferente. Esse mês, ela usava verde e me espionava. Fui porá varanda, tentar puxar um papo com ela. Estava tão carente de pessoas que falaria até com o pessoal tarado dos chats da internet.

- Oi?

- Ah... Desculpa, mas estava ouvindo música vindo daí e reconheci a banda, desculpe se incomodei você.

- Que isso, conhece a banda?

- Claro! Minha segunda favorita. – Ela riu sem jeito e falava olhando pra todos os lados, mexia nos cabelos sem parar.

- Legal.

- É.

- Então, qual o seu nome?

- ...

- Cara, se tem de falar mais baixo ou vou acabar ficando surdo. – Ela riu. O riso dela é diferente, usa aparelho. Vermelho.

- Vitória

- Lindo nome, em. Sou o Danilo – Falei me espreguiçando. Estava me sentindo um caco.

- O seu também é muito bonito. – Ela usava uma camiseta enorme, ia além da cintura, usava um short, deu pra ver quando ela começou a torcer a blusa. Era uma que dizia que os sonhos são tão fortes quanto sua alma. Parecia algo encomendado. Achei a frase diferente e poética. E um pouco estranha também.

- O que significa a frase da sua blusa? – Perguntei

- Que se sua alma é forte, seu sonhos serão tão fortes quanto ela. Se sua alma é fraca, seus sonhos serão feitos em pedaços.

- Interessante. – Quando digo que algo é interessante, das duas uma: Ou estava a procura de alguma palavra melhor e não achei, ou não estou prestando atenção. Que não era o caso. – Onde comprou?

- Eu que fiz

- Jura? Original? Até a frase?

- É. – Ela estava ficando rosinha. Decidi deixa - lá vermelha.

- Caramba, você é boa nisso em. – Pronto. Adorei ver Vitória toda corada sem saber onde enfiar a cara. Não sei, esse jeitinho dela me deixou louco e atraído. Ela riu, sem jeito.

- Obrigada.

- Só digo a verdade. – Meu telefone começou a tocar e me despedi da doce vermelha Vitória. Ela se retirou mais rápido que um rato fugindo de gato. Quem era? Minha tia pedindo pra eu me arrumar e ir ao encontro dela no shopping. A roupa que eu estava usando era boa e meu Ipod já estava carregado. Ótimo. Peguei ele, dinheiro e documentos e fui ao encontro da tia Carla. O que será que ela vai falar?


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