Together escrita por giuguadagnini


Capítulo 31
Cortes, Muffins, Fica Comigo e Garotos São Idiotas


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, vocês querem me matar.
Ah não, Giulia! Você só sumiu por um mês e meio e nem sequer deus as caras. Seus leitores devem estar super de boa com isso. Nem devem mais lembrar de você!
Ok, deixando a discussão comigo mesma de lado, eu queria pedir mil desculpas pelo meu desaparecimento.
Tive algumas coisas ruins esse mês e não deu para postar nada, porque tudo o que eu escrevia ficava um lixo.
Bom, eu explico melhor sobre isso lá em baixo, ok?
Vou poupar vocês de ficarem lendo minhas tagarelices antes do capítulo. Capítulo esse que é muito importante para o corrimento da fic, então se preparem :D
Como já sabem, as músicas ficam logo abaixo de cada POV, nos parênteses. Ô, vou te contar, viu? Tá cada vez mais difícil achar músicas que combinem, sem repetir nenhuma vez. Isso também dificulta, pois eu só consigo escrever escutando música :/
Enfim, espero que gostem e que não me abandonem, tá?
Boa leitura e nos vemos lá em baixo :)
LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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POV Charlotte Lewis

[Deer in the Headlights – Owl City]

– Ai Fred! Tome cuidado com isso, garoto! – eu gritei com ele, dando um tapa forte no seu braço.

– Eu? – ele riu ao mesmo tempo em que bufava – Você que enfia um pedaço de vidro bem no meio da sua mão e eu que tenho que tomar cuidado?

Grrrr. Eu odiava quando ele estava certo. É o seguinte, eu não enfiei aquele vidro na minha mão por acaso, claro que não! Quem em sã consciência faria isso, afinal?

O que aconteceu foi o seguinte: eu estava na sala de Poções, bem quietinha e comportada, fazendo minha poção do sono e tudo mais. Isso até eu notar que ela estava borbulhando um pouco acima do normal, além do cheiro forte de laranja e canela que exalava. Não era para ser assim, é óbvio, mas eu nunca fui a mestra das poções para saber de tudo, e devo dizer que essa aula em nenhum momento foi minha favorita. Foi então que meu caldeirão começou a estremecer sozinho, e eu logo vi que isso não era um bom sinal. E foi aí que uma ideia genial me veio à cabeça: colocar a tampa no caldeirão.

Caramba, como eu me detesto.

O troço começou a fazer um barulho estranho e liberou muita fumaça pela sala inteira. Slughorn, vendo meu pequeno grande desastre, mandou todos se afastarem, dizendo que aquilo estava prestes a explodir.

Todo mundo saiu correndo, foi um empurra-empurra geral e eu acabei sendo jogada de encontro a uma estante de vidro, e é claro – só porque a vida é minha e não de outra pessoa qualquer – a coisa toda quebrou em cima de mim.

– Char, é melhor irmos até a Ala Hospitalar – falou Fred, segurando minha mão com cuidado.

– NÃO! – eu praticamente gritei, puxando minha mão da sua e me afastando dele. Logo me arrependi por isso.

– Mas por que... – ele me olhou e eu pude ver um ponto de interrogação bem no meio da sua testa. De repente tudo isso se transformou em um sorriso sarcástico. – Não me diga que você tem medo de hospitais...

Ele estava trancando o riso. Como é que ele fazia aquilo, logo na situação em que eu me encontrava? E qual era o problema em ter medo de hospitais, hein?

– Se eu não tivesse um vidro ralando os ossos da minha mão você ia sentir minha fúria, Fred Weasley!

Ele só riu mais, me olhando de um jeito que até parecia que tinha ido ao circo para apreciar um espetáculo, que naquele momento era nada mais, nada menos do que eu!

– Eu estou mesmo morrendo de medo de você – ele me puxou para perto e tentou começar um beijo, mas eu me afastei. – O que foi?

– Para com isso Fred! Eu estou tentando ficar com raiva, mas você está estragando tudo.

Ele deu um sorriso fofo e puxou minha mão de volta. Estava com uma aparência horrível, e me dava aflição só pelo fato de ter um vidro meio ensanguentado bem ali no meio. Blergh.

– Você quer que eu tire? – ele me olhou, enquanto fazia carinho no meu pulso.

– Vai doer?

– Vai – ele respondeu, sincero. Duramente sincero.

– Obrigada por me deixar relaxada, Fred. Muito obrigada mesmo! – falei com uma voz que esbaldava sarcasmo. – Mas só tente ser delicado, tá?

Ele assentiu e beijou minha bochecha.

– Você é meio fraca para esse negócio de sangue, não é? – ele levantou o meu rosto para o teto, para que eu não tivesse um contato visual direto com a minha mão.

– Por que você acha isso? – eu tentei desviar-me da pergunta, pois já estava claro que eu odiava sangue. Fazia-me ficar enjoada e tonta só de olhar.

– Acho isso por que você está totalmente branca, feito uma folha de papel – ele mexeu de leve no vidro e, sinceramente, eu queria gritar de dor. – Desculpe.

– Pelo quê? Por dançar com esse vidro nos meus vasos sanguíneos ou por me chamar de branquela?

Tentei dar uma olhada para a minha mão, mas Fred virou meu rosto para o outro lado em seguida. Ele não falou nada, apenas permaneceu concentrado em meu corte.

Uma ardência e um vazio ao mesmo tempo me deixaram confusa.

– Tirei – anunciou Fred, que conjurou um pano limpo e o colocou sobre a minha palma.

– Foi profundo? – perguntei, tentando mover de levinho meus dedos.

– Um pouquinho – ele respondeu, pressionando o pano contra minha mão. – Nada que não suma com alguns feitiços curativos.

– EU. NÃO. VOU. PARA. A. ALA. HOSPITALAR.

– Ok. Eu. Já. Entendi – ele falou pausadamente, me imitando. – Então pelo menos me deixe fazer um curativo nisso.

E ele ficou lá, colocando ataduras em volta da minha mão por um tempinho, no qual nos mantivemos em silêncio. Estávamos em uma antiga sala de Poções, que parecia não ter sido usada durante séculos.

Algumas caixas ficavam empilhadas a um canto, enquanto um armário vazio e algumas cadeiras e móveis quebrados cobertos por lençóis brancos se espalhavam pelo cômodo. Aquilo estava mais para depósito do que para sala de aula.

– Char – murmurou Fred, dando um nozinho firme no fim da faixa que envolvia desde a minha mão até meu pulso.

– O que foi?

– Nós estamos namorando...

Eu o olhei, sem saber ao certo como reagir.

– Isso foi uma pergunta? – questionei.

– Não, não. Eu só estou te avisando – ele guiou meu rosto até o dele e, a milímetros de seus lábios, ele parou.

Com a ponta das unhas, eu arranhava de leve suas bochechas, como um carinho, o que parecia ter um poder enorme de fazê-lo relaxar.

– Por que, Fred? – eu perguntei. – O que eu tenho que faz com que você queira estar do meu lado? Eu sou toda atrapalhada, vivo caindo pelas janelas e enfiando vidros em minhas próprias mãos.

– O seu toque, o seu olhar, o seu sorriso, o seu jeito. E você ainda me pergunta por que eu me apaixonei por você. Ligo mais para os seus sentimentos do que para os meus! – ele exclamou, jogando as mãos para o alto e abrindo um grande sorriso.

Sorri também, deixando de reprimir minhas covinhas. Ele tocou seu sorriso no meu, envolveu seu braço em volta da minha cintura e me puxou para ainda mais perto, fazendo com que eu me encostasse toda em seu peito. Fiquei na ponta dos pés, apenas roçando minha boca na sua. Ele sentiu que eu estava provocando, e quando teve a intenção de aprofundar a situação, eu o empurrei para trás e me afastei até a porta.

– Venha, Fred. Vamos comer alguma coisa. Todo esse sangue me deixou sem forças.

Tentei não rir da cara que ele fez. Era um misto de “fiquei na vontade” com “você vai ver só, Charlotte”.

– Engraçadinha. E se eu tentar te agarrar? – ele foi se aproximando, sorrindo de um jeito malvado.

– Eu corro.

– E se eu te alcançar?

– Eu grito.

– E se eu te calar com um beijo?

– Eu te mordo!

Nesses sete segundos de discussão, já estávamos novamente frente a frente.

– E se eu te largar e for embora? – ele levantou uma sobrancelha, gerando-me inveja. Eu sempre tentei, mas nunca consegui fazer isso direito.

– Bem – eu o enrolei, passando a mão boa pelos seus cabelos, ajeitando-os para trás - Eu imploro para você voltar – respondi.


POV Blaise Zabini

[I Never Told You – Colbie Caillat]

Eu não sei quanto a vocês, mas quando eu estou nervoso com alguma coisa, tendo a pensar nela o dia todo, a não ser que me surja um truque mental complicado para me distrair. E mesmo assim, ainda estou realmente pensando na coisa por NÃO pensar nela, se isso faz algum sentido. É como se alguém chegasse para você e dissesse, “Tá legal, agora faça o que fizer, mas NÃO pense na cor vermelha”. Você fica tentando imaginar uma cor diferente ou repetir uma receita várias vezes na cabeça ou contar até cinquenta e nove, mas no fundo da sua mente, você está pensando, “Amarelo... laranja... vermelho... NÃO! Três ovos separados... cinco fatias de queijo... vermelho... DROGA! Cento e dezessete... cento e dezoito... olha a boca avermelhada da Luna na minha bochecha... vermelho... ARGH!”.

– Oi boboleco – a loira sentou ao meu lado.

– Luna, você está parecendo um guaxinim com toda essa neve no cabelo.

Ela sorriu e balançou a cabeça, parecendo um cachorrinho que acabou de sair de uma bacia cheia d’água.

– O que está comendo? – ela perguntou com aquela voz suave.

– Mingau de velha – eu inclinei a tigela na sua direção e ela franziu as sobrancelhas.

– Mingau de aveia, você quis dizer? – ela brotou a hipótese.

– É, mingau de velha – confirmei, afundando mais uma vez a colher no creme pastoso e, depois, o levando até a boca – Quer um pouquinho?

Ela negou com a cabeça, rindo de mim. Luna passou os olhos pela mesa à nossa frente, certamente procurando algo mais saboroso do que um mingau de velha para comer.

Enquanto ela se distraía com as comidas do café da tarde, peguei um muffin – algo que ela de imediato notou. Aqueles olhos lindamente grandes e azuis encaravam-me com curiosidade. Beijei o topo do bolinho e entreguei a ela, que pareceu surpresa e totalmente sem reação. Ela pegou o muffin da minha mão e o mordeu bem onde eu havia beijado.

Sinceramente? Eu bem que fiquei pensando em alguma forma de beijar minha própria boca – como se fosse possível – só para que Luna mordesse meus lábios.

Eu não tinha a menor ideia de que um dia, eu – Blaise galinha Zabini – gostaria de observar uma garota comer um bolinho. Antigamente, se me pedissem para descrever essa cena, eu diria simplesmente que ela estava comendo um muffin, mas hoje... Há, hoje é bem diferente.

Luna mordia o bolinho com tanta delicadeza que eu tinha certeza que ela estava pensando que podia machuca-lo. Os farelos nos cantos dos seus lábios a deixavam com um ar inocente, mas ao mesmo tempo realçavam sua boca, que ficava entreaberta de um jeito extremamente convidativo.

Mas tudo ao seu tempo. Lembra quando eu mencionei que estava nervoso e que nada conseguia me distrair? Ela também notou isso.

– O que você tem? – Luna perguntou, apoiando o queixo no meu braço. Como eu estava com as mãos em cima da mesa, ela estava praticamente me observando enquanto eu observava outra coisa.

– Estou preocupado.

– Com o quê?

– Com... isso – eu entreguei um O Profeta Diário nas suas mãos.

Luna passou seus olhos pela manchete principal e, imediatamente, eles se arregalaram. Ela trancou um gemido de desespero na garganta, me olhou – como se perguntasse se aquilo era mesmo real – e, quando eu fiz um sinal com a cabeça, para que ela continuasse a ler, ela obedeceu. Algumas vezes ela levou a mão até a boca, chocada demais, mas corajosa o suficiente para continuar lendo.

– Blaise, isso é terrível – ela dobrou o jornal, colocou-o sobre a mesa e o empurrou para longe, como se isso ajudasse a afastar o peso da notícia.

Engoli em seco, sentindo cada músculo do meu corpo se contraindo de tensão. Tentei me ajeitar no banco em uma posição diferente, mas nada parecia melhorar a situação. Eu continuava com a sensação de ter algo de muito errado – e realmente havia. Parecia mais que eu havia comido péssimas notícias no café da tarde, ao invés do mingau de velha.

Olhei para a mesa da Grifinória por um momento, algo que eu estava evitando fazer desde que li aquele jornal, e as vi, arrasadas.

Padma e Parvati estavam chorando e, em volta delas, várias pessoas que tentavam dar consolo e amparo, com batidinhas amigáveis nos ombros e costas das garotas.

Segundo o jornal, o primo delas, Jeremiah Patil, havia sido atacado na noite anterior, enquanto saía de uma loja no Beco Diagonal. O garoto devia ter no máximo dezesseis anos. Fenrir Greyback - um lobisomem famoso por sua selvageria e preferência por atacar crianças – o apanhou enquanto o garoto cruzava o Beco até o Caldeirão Furado. Fenrir não só o mordeu, como também o desfigurou quase por inteiro. Jeremiah não resistiu, como era de se esperar. Dificilmente alguém sobrevivia aos ataques de Greyback se ele decidisse que era a hora do festim.

Meu estômago embrulhou e eu empurrei a tigela de mingau para o lado. Agora se dava para escutar os soluços das gêmeas, o que me deixava ainda pior.

– Nós devíamos ir até lá – disse Luna, olhando as garotas com ternura.

Eu a olhei diretamente, para ver se ela falava sério. E ela falava.

– Não sei – respondi receoso.

– Blaise, podia ser um de nós no lugar de Jeremiah. Podia ser meu pai, podia ser sua mãe... Poderia ser... qualquer um.

A imagem da minha mãe me veio à cabeça, e eu simplesmente me senti destruído. Depois veio a de Luna, e parecia que havia alguém pisoteando em cima dos destroços que restaram do meu emocional.

– Venha – Luna levantou do banco e pegou minha mão.

Ela me guiou entre as pessoas que atravessavam o salão, apertando minha mão com força. Eu nem conseguia cogitar a hipótese de perdê-la um dia, quanto mais imaginá-la no lugar do primo das Patil.

Respirei fundo e, com a mão livre, segurei contra o peito o amuleto de rolha que Luna havia me dado naquela tarde chuvosa, em Hogsmeade.

Chegamos à mesa da Grifinória, onde o clima era ainda pior. As meninas choravam, desoladas. Gina e Hermione estavam ali tentando confortá-las, mas também tinham os olhos um pouco marejados e brilhantes além da conta.

Luna soltou minha mão por um momento e tocou os ombros de Padma e Parvati. Elas viraram o rosto para nos olhar e tentaram sorrir, mas acabaram ficando no meio termo entre sorriso triste e careta de choro.

– Sentimos muito – disse Luna, sentando no meio das irmãs, pegando a mão de cada uma delas e as pousando sobre seu colo.

Eu fiquei ali, na frente delas, tentando pensar em algo para dizer, mas nada me vinha à cabeça. Então, Luna falou mais uma vez.

– Eu perdi minha mãe quando tinha nove anos – a loira começou, secando uma lágrima do rosto de Parvati – e me lembro de como eu caí no chão e não conseguia mais levantar.

Padma trancou um soluço e desviou o rosto para o chão. Luna apertou forte a sua mão, e a morena voltou a olhá-la.

– Eu não vou pedir para que vocês não chorem – disse ela, docemente – Isso não seria nem um pouquinho bom. É só que... não há um dia que eu não lembre da minha mãe. E toda a noite, quando deito na cama para dormir, eu sinto falta dela.

Parvati e Padma olhavam atentas para Luna, com o rosto molhado de lágrimas grossas e quentes. Hermione e Gina também prestavam atenção, e pude perceber que estavam com o coração apertado quase tanto como o meu.

– Ela penteava meu cabelo, fazia carinho das minhas bochechas e lia um conto de pequenos vagalumes aventureiros até que eu pegasse no sono. E hoje... – Luna deu uma parada e suspirou fundo – Hoje só me resta olhar para cima, e saber que as estrelas estão a segurando toda a noite, enquanto ela toma conta de mim.


POV Hermione Granger

[Hey There Delilah - Plain White T's]

Por que tudo estava desse jeito? Eu já estava em uma pilha de nervos só pelo fato de Ron e Pansy não se acertarem, então veio àquela notícia terrível sobre o primo de Padma e Parvati, além do sentimento de pena ao ouvir Luna falar sobre a sua mãe. Eu não gosto de sentir pena de ninguém, e acredito que ninguém goste que outros sintam pena de você mesmo, mas a situação estava tão caótica que aquilo soou como uma pontada no coração. E eu ainda nem mencionei a preocupação gigantesca que Harry sentia por Astória e o meu nervosismo por Draco. Lúcio Malfoy, o pai dele, havia vindo até Hogwarts esta tarde e mandou chama-lo, seja lá para o que fosse.

E eu temia isso.

Muito.

Resumindo: Eu estava mais do que sobrecarregada. Ultimamente eu mal dormia, não sentia fome e raramente falava, só quando era realmente necessário. Confesso: isso já estava acabando comigo.

– Mas Ron... – eu tentei protestar quando o ruivo colocou mais um pedaço de torta de banana no meu prato.

– Vai comer sim! – ele retrucou, largando seu próprio garfo, pegando o meu e praticamente enfiando um pedaço da torta na minha boca. – Deixe de ser teimosa, Mione.

Ele ficou me olhando enquanto eu mastigava a tal torta de banana e, quando terminei, ele apontou de novo para meu prato.

– O quê? – questionei.

– Santo Merlin – ele resmungou, enfiando o garfo mais uma vez na torta. – Abra a boca!

Reprimi minha vontade de rir e a abri. Me senti uma criança, sendo alimentada pela mamãe. Ron errou um pouco a pontaria e alguns farelos se espalharam pelo canto da minha boca. Quando eu o encarei, ele não pareceu entender.

– Quê?

– Não vai passar um guardanapo, não?

– Ok, isso já passa de gentileza para trabalho de elfo doméstico!

– Então seja um elfo bonzinho e, por favor, passe um guardanapo para cá!

Ele riu baixinho, inclinou-se sobre a mesa, pegou um chumaço de guardanapos e os jogou no meu colo.

– Pronto, senhora. Está satisfeita assim, senhora? A senhora gostaria de mais alguma coisa, senhora? – ele afinou a voz e arregalou os olhos, tentando imitar Dobby.

– Seu biruta! Eu pedi um só!

Ele estava rindo, algo que eu não o via fazer a muito tempo, mas depois de uns dois segundos, uma borracha havia passado pelos seus lábios e apagado seu sorriso. Olhei para onde ele estava olhando e logo entendi. Pansy havia acabado de entrar no Salão Principal e se dirigia à mesa da Sonserina, sozinha.

– Ela não me escuta – disse ele, evitando me olhar. – Ela simplesmente não quer ouvir nada do que eu tenho a dizer.

– Ela está magoada, Ron.

– E você acha que eu não? – ele virou o rosto para o meu, e pude jurar que seus olhos estavam mais úmidos do que o normal.

Logo ele desviou o olhar para o nada, parecendo totalmente infeliz. Eu não tinha muito que falar para ele, com toda essa situação de sobrecarga meus conselhos não pareciam mais ter sentido nenhum. Em vez disso, apenas apertei seu ombro e ofereci um guardanapo para ele. Ron sorriu de um jeito triste, mas aceitou o pequeno pedaço de papel.

– Agora coma – disse ele, ajeitando meu prato e devolvendo o garfo a meus dedos.

E foi isso que fiz. Para se ter uma ideia de como eu estava exausta, eu tinha preguiça até de mastigar. Meu maxilar doía um pouco, mas não ousei a parar. Ron, de um jeito ou de outro, me faria comer aquele pedaço de torta, e eu preferia que fosse por bem do que por mal.

– Oi – disse Draco, sentando ao meu lado.

Ele parecia um pouco abatido, seus olhos estavam um pouco vermelhos e sua boca estava seca, fora que ele estava muito mais branco do que o normal.

– Você está bem? – perguntei, lhe passando um copo de suco de abóbora.

Ele assentiu com a cabeça ao mesmo tempo em que levava o copo até a boca. Eu sabia que ele não estava, mas como ele nem me olhava, decidi não insistir.

E lá estava eu, no meio de dois garotos cabisbaixos, entre os meus dois únicos amores. No meio do ruivo e do loiro.

Ron deixara de mirar o nada e observava Pansy com olhos cansados, mas atentos a cada movimento dela.

Já Draco estava tão concentrado em sua maçã verde que eu até me senti ignorada. Por que ele não me olhava?

– O que você tem? – indaguei, pousando a mão no seu braço esquerdo. Ele contorceu-se em uma careta de dor.

Tirei a mão, assustada.

– Não é nada – disse ele, não me olhando de novo.

– É, estou vendo. É um nada bem doloroso.

Ele deu um suspiro forte e lento, aparentando estar escolhendo muito bem as palavras que usaria comigo.

– É só... – ele engoliu em seco, pegando minha mão – Nada. Nada de importante.

Ele apertava minha mão com força, mas ainda era incapaz de me olhar. Levei minha mão até seu queixo e, de leve, virei seu rosto para mim. Até esse pequeno gesto pareceu machuca-lo, pois seus músculos ficaram tensos e sua boca se retraiu.

– Draco...

– Só... – ele finalmente focou o olhar em mim, e suas pupilas aumentaram um pouco – Fica comigo. Só fica comigo, Granger.

Permaneci o olhando e, aos poucos, assenti com a cabeça.

– Fica comigo – sussurrou ele, apertando minha mão com força.

Ali, naquele momento, Draco parecia tão frágil e exausto que um misto de preocupação e vontade de protegê-lo me invadiu. Ele precisava de mim.

– Fico – respondi, passando de leve os dedos pelo seu pescoço, mal tocando em sua pele. – Eu fico com você.

Ele se inclinou para frente e beijou minha testa de um jeito demorado. Foi descendo o rosto até ficar na altura do meu, roçou seu nariz no meu e, de leve, beijou meus lábios. Pude sentir o gosto da maçã verde que ele comia vindo da sua boca enquanto meus pensamentos se embaralhavam uns com os outros.

O que teria acontecido na “conversa” entre Lúcio e Draco? Será que... Não. Não podia ser. Eu negava tudo em minha mente, mas a imagem de Draco sentindo agonia quando eu tocava seu braço esquerdo, ele se retraindo de dor como se minhas mãos fossem feitas de chamas, passava e passava incansavelmente na minha cabeça.

“Só fica comigo, Granger. Fica comigo.”

Nos separamos lentamente, quase como em câmera lenta, e ele me olhava. Olhava como se eu fosse a sua única chance de seguir em frente, me olhava como se tivesse vontade de permanecer assim por um dia inteiro.

– Eu fico com você – afirmei mais uma vez ao loiro. – Eu fico.


POV Pansy Parkinson

[I’ll Be - Edwin McCain]

Ron não parava de me olhar. E quando eu digo que não parava, estou querendo dizer que ele não parava mesmo. Nem sequer disfarçava!

Peguei um croissant para me distrair - por que na realidade tinha até perdido a fome - e dei uma pequena mordida.

Tentava me concentrar nas coisas mais banais possíveis, como nas velas que flutuavam pelo teto, nos fantasmas que passavam de lá para cá e até em um mosquitinho que flutuava de um lado para o outro na minha frente, mas tudo estava parecendo quase impossível de prender minha atenção quando um ruivo me observava o tempo inteiro, evitando até piscar os olhos.

Resolvi adotar uma postura arrogante e o olhei do jeito mais desprezível que pude, tentando intimidá-lo.

Ron se levantou do banco e fez a volta na mesa da Grifinória, arrancando olhares de várias pessoas. E ele andava de uma maneira decidida, até um pouco apressada. Quando já estava próximo da saída, da grande porta do Salão Principal, ele virou à direita.

Não! Ele não estava fazendo isso! Ele não podia estar nem cogitando a possibilidade de vir até aqui! Mas a cabeça do ruivo não estava conectada à minha para ouvir o que eu pensava, e foi exatamente o que eu não queria que ele fez.

Ele diminuiu a velocidade dos seus passos quando estava mais perto de mim, e então parou bem às minhas costas.

– Preciso falar com você – foi o que ele disse.

– Não.

– Se você pensa que vai me afastar com esses “não, não e não” está enganada, Pansy. Pare de me bloquear e me escute.

– Eu já disse que não!

Ele bufou, irritado, e então segurou meu braço e me fez ficar de pé. O croissant caiu não chão e eu quase pisei em cima dele.

– O que você pensa que está fazendo?! Me solta!

Ele se fez de surdo e foi me arrastando até a saída do salão, e eu tinha absoluta certeza de que éramos a atração principal da noite. Quando finalmente saímos de lá, ele me puxou para a parede ao lado da porta, onde ninguém mais podia nos ver.

– Certo! Agora que você já me trouxe até aqui na base do puxão, me solte! Você está me machucando!

– Eu solto, mas só se você jurar que vai me ouvir – disse ele, tentando parecer calmo.

– TÁ! Eu juro te ouvir, Ronald. Agora me solte.

Ele assim o fez, e ficou até me olhando por um tempo, para ter certeza de que eu não fugiria. Como permaneci com meus pés praticamente colados no chão, ele continuou.

– Olha, eu sei o que você está sentindo e...

– Não! Você não sabe o que eu estou sentindo, Ronald! Não sabe!

Eu queria dar um soco em toda a pessoa que me dizia que “sabia” como eu me sentia. Ninguém sabia como eu me sentia.

– Pode me deixar terminar? – ele perguntou, também irritado.

Cruzei os braços e fechei minha boca. Eu odiava quando fazia juramentos que nem queria cumprir.

– Escute. Eu fui na pilha do McLaggen, e você sabe como ele é!

– Não, eu não sei! Eu sabia como você era, Ron. EU CONFIEI EM VOCÊ! EU CONFIEI!

– EU SOU UM GAROTO! – ele gritou em resposta. – Garotos são idiotas, mas... Eu te amo, Pansy.

Aquilo fez com que meu coração se dizimasse a zero. Ele nunca havia falado aquilo para mim. Nunca.

Fiquei tentando achar alguma coisa bem ruim para dizer para ele, mas vi que eu estava criando desculpas para mim mesma, desculpas para me convencer de que eu não sentia sua falta.

Ron caiu de joelhos no chão de pedra, e ele estava... chorando. Aquilo simplesmente acabou comigo. Eu me senti uma monstra, uma anomalia terrível por fazer com que ele ficasse daquele jeito.

Como eu pude deixar que o idiota do McLaggen atrapalhasse tudo? Como pude culpar Ron por tanto tempo? Ele também errou, eu sei, mas também compreendo que ele é impulsivo e está sempre se sentindo menos do que os outros, como um elefante entre gazelas.

E ele... ele me ama. Ele acabou de dizer isto, bem na minha frente.

Com passos pequenos, fui até ele, que ainda chorava de joelhos. Me ajoelhei na sua frente e levantei seu rosto para o meu. Ele estava vermelho e seus olhos um pouco inchados.

Meus olhos embaçaram e, quando os fechei com força, uma lágrima de cada lado riscou minhas bochechas. E ele viu.

– Pan – pronunciou ele entre soluços – Eu... me desculpe.

– Shiu – eu coloquei o dedo indicador sobre seus lábios. – Venha aqui.

Peguei sua mão e fomos engatinhando até que nos encostássemos na parede. Eu o puxei para mais perto e ele deitou a cabeça no meu peito, ao mesmo tempo que envolvia seus braços na minha cintura.

– Eu fui um idiota, Pan. Eu fui um...

– Eu te amo, Ron – eu o interrompi.

Seus braços afrouxaram ao redor da minha cintura, como se tivessem perdido a força. Ele levantou a cabeça e me olhou profundamente, com os olhos molhados.

Sorri para ele, ao mesmo tempo em que mais lágrimas desmoronavam pelo canto das minhas pálpebras. Ele as secou com ternura e chegou mais perto.

– Sem dor dessa vez – ele cochichou para mim, fazendo-me sorrir de novo.

Com as mãos em sua nuca, eu o puxei para mais perto. Ele me agarrou pela cintura e beijou meus lábios com pressa, matando a saudade e o desespero de nós dois por completo.

Mordi seu lábio inferior de leve, o que o fez arrepiar. Ele adorava quando eu fazia aquilo. Imediatamente ele começou a me morder também, desde a bochecha até o pescoço e à orelha.

Ok, ele também sabia me deixar arrepiada.


POV Astória Greengrass

[Warzone – The Wanted]

Eu tinha vontade de gritar. Eu queria sair correndo. Eu estava explodindo de dentro para fora, mas tentava ao máximo evitar transparecer isso.

– Tori – disse Harry, ao pé do meu ouvido. – Você não comeu nada.

Olhei para meu prato, intocado, e senti meu estômago embrulhar.

– Estou sem fome, Harry – respondi.

Ele parecia estar inquieto, me olhava de dois em dois segundos e dava os ares de que estava louco para perguntar algo.

– O que você tem, Tori? – perguntou ele, segurando minha mão de baixo da mesa. – Eu sei que você não está bem, só, por favor, me deixa entender.

Eu não podia contar. Ele não podia entender, não podia! Eu o amava demais para fazer com que ele entendesse.

– Preciso ir – falei, levantando do banco – Eu te amo, Harry.

Beijei sua bochecha e segui andando para fora do salão. Quando estava na porta, virei-me para olhá-lo. De seus olhos transbordava preocupação, por isso procurei sorrir o melhor que eu conseguia. Ele baixou o rosto e me olhou pelo canto dos olhos. Sibilou um “eu te amo” mudo que simplesmente me atingiu como uma facada no peito.

Eu não podia contar para ele. Eu não podia contar para ninguém.

Segui pelo corredor, onde vi Ron e Pansy abraçados no chão. Aquilo me fez sorrir, me fez esquecer por um momento tudo o que vinha me atormentando a semana inteira.

Aquele sentimento de alívio me preencheu por um momento. Pansy e Ron haviam voltado. Isso era maravilhoso.

Virei um corredor e segui pelo caminho das masmorras, rumando para o Salão Comunal da Sonserina. No meio do caminho comecei a escutar alguns passos além dos meus.

Tudo bem, Astória. Você não mora sozinha em Hogwarts. Pessoas circulam de lá pra cá todos dos dias. Não enlouqueça. Mantenha o foco.

Continuei andando, mas não conseguia perder a cautela. Um barulho fez com que eu me virasse de costas, procurando sua origem. Olhei para os lados, com o coração martelando insistente contra o peito.

Eu só precisava chegar à sala comunal. Só isso. Nada aconteceria. Nada.

Escutei uma risada rouca, muito baixinha. Aquilo foi o suficiente para me deixar em modo de fuga. Preparei meus pés para correr de volta para o Salão Principal, totalmente alerta.

Algo me puxou para trás e tapou minha boca ao mesmo tempo, abafando meu grito iminente. Tentei continuar gritando, mas tudo o que saíam eram urros abafados de desespero e puro terror. Fui jogada com violência contra a parede e encarei olhos muito pretos que tanto me atormentavam.

– Oi Tori – eu o escutei zumbir de um jeito ansioso, mas totalmente insano.

À minha frente estava a pessoa com quem eu tinha meus piores pesadelos, o ser que eu mais repugnava e mais temia.

À minha frente estava Jeremy Rosier, o meu estuprador.



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Notas finais do capítulo

Ok, é hoje que eu morro!
Vocês podem por favor deixar um reviewzinho, me contando o que acharam?
É sério galera, é muito desestimulante escrever para caramba e não receber quase nada em troca. Eu digo isso porque em certas fics que eu leio, a pessoa nem escreve tanto assim e recebe mais de 30 reviews por capítulo, enquanto eu me mato aqui e nem dez aparecem para comentar.
Together está em um ponto que é importantíssimo o apoio de vocês. Não vou dizer que pensei em excluir a fic, mas pensei em parar de escrever.
Eu estou passando por uma fase não tão boa, é extremamente desestimulador quando eu vejo que o que eu faço não está gerando muitos frutos. Eu amo escrever, e já tem um bom tempo que eu tenho feito isso apenas para eu mesma do que para postar para vocês.
Isso desanima! :(
Fora que o Nyah! deu uma atualizada e engoliu mais de 30 dos meus leitores. Isso contribuiu muito para o meu desânimo e, de verdade, eu quase chorei, hahaha.
Mas tudo bem, eu sei que a maioria vai ignorar tudo o que eu estou dizendo, mas se você se realmente se importa, pode me dizer o que está achando?
Eu realmente espero que isso passe, porque estou me sentindo um lixo total.
Vamos fazer um jogo? Eu sei que isso é um pouco absurdo de dar certo, mas vou confiar em vocês. Together tem 445 comentários. Será que conseguíamos chegar aos 465?
Vamos ver do que vocês são capazes, meus lindos :)
Se alcançarem esse número, eu tentarei postar o próximo capítulo amanhã mesmo. O que acham?
Ok, essas notas devem estar gigantescas, portanto vou parar por aqui. Vou imitar o Draco e pedir para que vocês fiquem comigo. Por favor, fiquem com a giu e com Together.
Beijos meus amores. Eu continuo amando vocês ♥
P.S. Minha professora de português pediu que minha turma pegasse contos de fadas e transformassem-nos para os dias de hoje. Meu conto ficou muito grande, como já era esperado, e eu fiz sobre a Branca de Neve. Vai contar a história de uma menina que perdeu os pais quando era pequena, e que desde então foi viver em um reformatório. Quando acontece uma revolta lá, a tutora - que sempre foi amiga dos pais dela - diz que é para que ela fuja, diz que é para que ela vá para a Universidade, que já está tudo preparado para ela por lá. E ela vai, e acaba indo morar em uma casa onde sete garotos vivem, cada um mais incomum que o outro. Disso já é normal de se esperar muitas confusões, risadas e é claro, romance. Fora que ela passa a querer descobrir o passado dos pais dela, e acaba tendo uma revelação que vai mudar todo o seu futuro. Hmmmm, o que vocês acham se eu postá-la aqui no Nyah! ? Me digam também no review.
Agora sim eu vou embora, hahaha.
465 viu?
Beijos, Giu ♥