Together escrita por giuguadagnini


Capítulo 29
Um Natal com os Zabini


Notas iniciais do capítulo

Ok. Eu menti para vocês. Este é sim o MAIOR CAPÍTULO QUE EU JÁ ESCREVI.
Espero que com 7.608 palavras vocês me perdoem pelo tempo que fiquei sem postar. Realmente pensei que nas férias daria tempo, mas simplesmente não consegui.
Escrevi um capítulo para postar, mas como eu sou muito sortuda (não) eu acabei apagando o capítulo inteiro.
Vocês tinham que ver com a cara que eu fiquei. Acho que seria capaz de jogar um Crucio no meio da minha cara de tanta raiva que fiquei. HAHAHAHA.
Mas acho que isso aconteceu por um motivo muito bom. Quando fui escrever este capítulo aqui, ficou beeeem melhor que o outro, então espero que vocês gostem.
Ele está em um formato diferente. Só tem POV da Hermione dessa vez. Contando tudinho. As músicas aparecem no meio dos colchetes -> [...]
Acho que assim fica até melhor para vocês ouvirem e lerem.
Enfim, eu gostaria de agradecer a cada leitor que acompanha Together, e hoje, agradeço especialmente à Sofia que deixou uma recomendação perfeita. Obrigada minha linda. Você sabe como eu te amo.
Obrigada também à Isa, que sempre me faz sorrir nos piores momentos. ♥
Então... Vamos ao capítulo minha gente?
YEEEEEEEEY o/
Boa leitura e nos vemos lá em baixo, só para não perder o costume :)



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POV Hermione Granger

[Good Life – OneRepublic]

O Expresso de Hogwarts mantinha-se constante sobre os trilhos. As paisagens iam mudando através das janelas conforme o trem se movia. Dava para se ver alguns campos não tão verdes devido ao inverno rigoroso, árvores com pouca folhagem que continham pequenas gotas congeladas presas aos seus galhos esqueléticos e às vezes até algum curto rio gelado espalhado pelas planícies.

– Por que você não vem comigo, Gina? – eu perguntei a ela enquanto trocávamos de roupa no banheiro feminino do trem. Tudo balançava levemente, dando-me a impressão de estar no meio de um pequeno terremoto. Se tinha uma coisa estranha para se fazer, essa coisa era trocar de roupa no Expresso de Hogwarts.

– Hermione, pelo amor de Merlin. Pense um pouco – Gina jogou um gorro de lã na minha cara – Eu? Passar o Natal na casa do Blaise? Você só pode estar louca.

Ela estava certa. Era loucura. E mais do que isso, era loucura minha de estar indo para casa de Blaise, passar o Natal lá. Nem eu acreditava que estava fazendo isso de verdade. Mas havia um motivo. Havia sim.

Estava indo por causa de Pansy. No mesmo dia em que tivemos aquela conversa no corredor, eu a encontrei chorando no banheiro feminino no final das aulas. Fui até ela e a abracei. Ela me contou o que Ron havia dito. Senti vontade de encontra-lo e lhe dar um chute, mas não o fiz. Sei como Ron é impulsivo e não se controla facilmente, então decidi não fazer nada, e esperar que ele me contasse. E ele me contou. Acredite, eu já odiava o McLaggen, mas agora eu não posso nem pensar na hipótese de vê-lo que já sinto vontade de pular em cima dele e dar-lhe umas boas bofetadas na cara. Então – acalme-se, Hermione. Você já deve estar roxa de raiva por causa desse idiota - eu fiquei com Pansy, até que ela se acalmasse. Foi aí que ela teve a ideia de me levar para a casa de Blaise, no Natal. Meus pensamentos foram de negação, é óbvio, mas eu via que Pan estava sofrendo e que precisava de mim, a sua válvula de escape mais improvável de todas.

– Tudo bem, Gina – eu joguei o gorro de volta para ela – Você tem razão.

– Ainda não entendo por que você está indo com eles, Mione – ela penteava o cabelo na frente de um pequeno espelho – Pensei que fosse passar o Natal na Toca, comigo. Como sempre.

A ruiva me olhou triste, fazendo um biquinho com a boca.

– Pode parar com essa carinha, dona Ginevra – fui até ela e baguncei seus cabelos recém escovados – Isso não funciona comigo – eu disse em tom divertido, enquanto vestia meu casaco – E além do mais – acrescentei -, Pansy precisa de mim agora. Eu nunca a havia visto chorar antes.

– O Ron é um pateta desmiolado, Mione – disse Gina, guardando algumas coisas em sua bolsa – Você deve saber disso mais do que ninguém, já que quase virou minha cunhada.

Gina – eu a repreendi. Ela sorria.

– Eu sei, eu sei. Você mudou de ruivo para loiro. Compreendo.

Abri minha boca, pensando em alguma coisa bem desaforada para dizer, mas logo a fechei. Cruzei os braços e fiquei a olhando arrumar o cachecol ao redor do pescoço, enquanto tinha certeza de que estava corando violentamente.

– Seus pais deixaram? – ela perguntou – Você avisou a eles, não é?

– Claro que avisei – eu logo disse – Mandei uma carta, explicando tudo. Eles queriam que eu fosse para casa, mas acabaram deixando.

Alguns minutos passaram. Eu havia trocado os sapatos por botas quentinhas e ainda não sabia o que fazer com o meu cabelo. O deixei solto, e então percebi que Gina estava me olhando. Ela quebrou o silêncio.

– Neville vai passar o Natal comigo – ela sorriu para mim, passando os dedos pelas pequenas franjinhas da manta que usava – Minha mãe convidou a avó dele também. A Sra. Longbottom deve ser uma figura depois de algumas taças de vinho.

Eu ri, já imaginando a cena. Gina, quase pronta, chegou mais perto para falar, mesmo que o banheiro estivesse vazio, a não ser por nós duas.

– Nev quer conhecer meus pais – ela disse, completando com um sorriso doce – Quer me pedir em namoro na frente deles.

– E como é que você está? – eu perguntei animada, cheia de expectativas.

– Eu estou apavorada, é claro – Gina riu junto comigo, enquanto arrumava um de meus cachos para frente dos meus ombros.

– Não se preocupe – eu a tranquilizei. Suas mãos estavam trêmulas – Vai dar tudo certo, você vai ver.

Ela assentiu com a cabeça, tirando uma boina de dentro de uma sacola e a arrumando sobre minha cabeça.

– Ei! – eu tentei me esquivar, mas ela me fez parar e ajustou o pequeno chapéu molengo nos meus cabelos.

– Ficou bem francesa – ela sorriu e me guiou até o espelho – Bem charmosa para o Draquinho.

Eu dei um tapa na sua mão enquanto via meu reflexo no espelho. Nada mal. Havia ficado bonitinho.

– Cala essa boca, ruiva – eu passei por ela, tentando não sorrir. Estava difícil.

– Ele vai, não é? – ela chegou a mim novamente, enquanto eu me abaixava para pegar minha mochila no chão.

– Eu não sei Gina – fechei o zíper tão rápido que acabei machucando o dedo, mas não me importei muito – Mas é provável que sim.

A ruiva sorria de um jeito sapeca, me alfinetando com aqueles olhos maliciosos.

– E como é que vai ser? – ela passou o braço ao redor do meu enquanto saíamos do banheiro – Vai deixar rolar ou o garoto vai ter que aparecer com um ramo de visco em cima da sua cabeça?

– Shiiiiu – eu coloquei o dedo sobre seus lábios, fazendo com que ficasse quieta. Ela sorria mesmo assim, mas de um jeito amassado.

– Tudo bem, eu entendi – ela arrastou minha mão para fora – Mas me fale, quem vai com você? – a ruiva perguntou. Era possível enxergar cada cabine enquanto andávamos pelo corredor.

– O Blaise, obviamente – eu sorri e Gina revirou os olhos, enquanto contava nos dedos -, Pansy, Astória, Harry...

– Harry? – ela perguntou incrédula – Mas ele...

– Sim, eu sei. Ele sempre passou o Natal com vocês. Mas Astória é a namorada dele agora. Além do mais, Blaise que o convidou, antes que você pense que Astória é uma monstra.

– Tá – ela disse irritada, o que me deu vontade de rir – Entendi. Continue.

– Enfim... Pansy, Astória, Harry, Luna, eu e o...

– Draquinho!? – Gina praticamente gritou, vingativa, enquanto passávamos pelas cabines da Sonserina.

– Cala a boca, Ginevra! – eu ralhei com ela, que apenas riu.

– Desculpa, eu não consegui me segurar. Ei – ela cutucou meu braço, como se tivesse que chamar minha atenção mais do que o normal - Você sabia que Fred chamou a Charlotte para ir com a gente? Ele não se desgruda mais dela!

– O que importa é que ele está feliz, não é? – eu meio que respondi com uma pergunta - E Charlotte parece ser legal. Dê uma chance a ela, Gina.

– Está bem – ela concordou um pouco na defensiva – Veja só, se eu entendi: Neville vai no lugar do Harry e Charlotte no seu?

– Basicamente isso – eu concordei com a cabeça, sentindo a boina balançar levemente.

Continuamos andando, desviando das pessoas no apertado corredor do trem. Senti Gina segurar minha mão, me puxando de volta.

– O que foi? – perguntei. Sua expressão era levemente triste.

– Eu vou sentir sua falta – a ruiva me abraçou em volta do pescoço. Eu sorri, apertando-a pela cintura.

– Não exagere Gina – eu fiz uma careta quando ela se soltou de mim, para que sorrisse. E ela sorriu – São só dois dias. Passa voando. E além do mais, com Neville por lá, você nem me notaria se eu fosse com você.

– Dramática... – ela revirou os olhos e sorriu para mim, enquanto voltávamos a caminhar com os braços entrecruzados.

Paramos na frente de uma cabine, onde eu via Blaise, Luna, Pansy e Draco conversando. Pansy estava mais reservada, Draco tentava animá-la fazendo-lhe cosquinhas. Blaise e Luna comparavam o tamanho de suas mãos. As de Blaise, claro, eram maiores.

– Você vai entrar? – Gina perguntou, me fazendo acordar.

– Vou. Minhas coisas estão com Luna. Preciso guardar minha mochila dentro do compartimento das malas.

– Tudo bem. Vou procurar Neville. Ele deve estar conversando com o maquinista.

Gina sorriu para mim, como se dissesse vai ficar tudo bem e seguiu andando, enquanto eu dava duas batidinhas na cabine dos sonserinos.

Pansy virou-se e me viu. Na verdade, todos direcionaram seus olhares para mim, só que Pan estava mais perto da porta.

– Posso entrar? – perguntei. O vidro ainda nos dividia.

Pansy levantou do assento e veio destrancar a cabine, quando Draco a puxou para trás e ela caiu sentada novamente.

– Você está maluco? – Sua voz era abafada pela camada sólida e transparente à minha frente. Pansy deu um tapa nas costas de Draco, mas ele já havia se levantado e ficado na minha frente. Logo atrás do vidro, é claro.

– Qual é a senha? – ele perguntou, sorrindo de lado. Um sorriso torto que chegava a me desconcentrar, a ponto de me esquecer de o que eu tinha que falar.

– Senha? – eu questionei forçando a cabeça a funcionar, apoiando o peso em uma perna só. Estava cansada de ficar de pé.

– Uma dica – disse Blaise, vindo até o vidro – Foi Luna que escolheu.

– Hmm, é... – eu estava mesmo fazendo isso? Pensando em uma senha para abrir a cabine?

– Tempo! – Blaise gritou, e logo depois começou a fazer um barulho de tic toc com a boca. Draco ria, provavelmente da minha cara de desespero.

– Zonzóbulos? – eu tentei. Luna balançou a cabeça – Nargulés...?

– Não – a loira descordou, movendo a cabeça de um lado para o outro. Pansy estava sorrindo para mim, como se achasse aquilo uma basteira, mas pelo menos ela estava se divertindo um pouquinho.

– Testrálios? Gnomos? – eu chutava uma coisa mais improvável que a outra.

Apoiei minha mão no vidro, cansada. Eles continuavam lá, torcendo por mim. Blaise ainda contava os segundos.

– Vamos, não é tão difícil assim - Draco colocou sua mão no mesmo lugar onde a minha estava. Apenas o vidro nos separava naquele momento.

Ele sorriu, olhando para nossas mãos juntas, e por um minuto, achei que ele estava mascando chiclete. Espere. Não.

Não era bem isso que ele estava fazendo. Ele fingia mastigar alguma coisa. Então a senha seria algo comestível?

Acho que eu estava no caminho certo. Eu o olhei, franzindo o cenho, e ele apenas sorriu, confirmando com a cabeça.

Algo comestível e que Luna goste? Bom, só poderia ser...

– Pudim...? – eu digo meio incerta, mas logo os quatro estão pulando e fazendo festa dentro da cabine. Blaise pega Luna no colo e a gira no ar, feito um bebê. Draco está pulando, erguendo os braços para cima. Pansy ri, apenas batendo palmas.

Não posso evitar sorrir depois disso. Draco volta ao vidro e destranca a porta. Ela abre, e o loiro está na minha frente. Eu ainda estava sorrindo de forma boba.

Mademoiselle – ele diz, com uma pronúncia impecável do francês, enquanto ajeita minha boina. Eu derreto, mas tento não demonstrar o quanto seu toque me faz prender a respiração.

Os outros ainda estão comemorando. Luna esperneia para que Blaise a solte. Pansy olha para os dois com um sorriso pequeno, mas na verdade, eu sei que ela está se lembrando de Ron, e que isso a deixa com um nó na garganta.

– Pode entrar – Draco sussurra de um jeito rouco quase que no meu ouvido. Eu tremo por dentro. O loiro dá passagem e eu, meio abobada, entro na cabine – Vou comprar alguns doces – ele avisa.

– Se tiver pudim, você trás um para mim? – Luna pergunta. Ela está jogada sobre os ombros de Blaise, feito um saco de batatas. O moreno não havia a soltado ainda.

– Tudo bem, eu compro pudim para você – disse Draco, contendo um sorriso - Tentem se controlar enquanto eu estiver fora. E Blaise – ele falava agora especificamente com o moreno, apontando para ele. Esse seu gesto fez com que sua camisa levantasse levemente, deixando uma parte lateral da sua barriga à mostra. Uma parte de mim queria deixar o queixo cair, enquanto outra me mantinha onde estava, extremamente paralisada – Controle sua boca. Não quero que todo mundo esteja louco quando eu voltar. E vê se deixa sua namorada de pé. Não tá vendo? O sangue tá indo para a cabeça. Só falta ela ficar ruiva.

– Tá bom, papai. Como o senhor quiser – Blaise brinca e solta Luna. A loira dá um peteleco na bochecha do moreno, o que nos faz dar gargalhadas.

– Ruiva? – eu questiono ao loiro parado na porta. Eu continuava olhando para sua camisa levemente levantada, mas o fazia discretamente. Pelo menos tentava.

– É o que dá quando se mistura o amarelo com vermelho, né? – ele sorri, e meu estômago vira cambalhotas dentro de mim.

Draco segue pelo corredor, ajeitando a camisa e tapando minha fonte de atenção até o momento.

Guardo minha mochila no compartimento dos malões e sento ao lado de Pansy. Eu desmorono sobre ela, que ri e deixa que eu deite no seu colo pelo resto da viagem.

– - -

[All Those Pretty Lights – Andrew Belle]

Já havia me despedido de Gina e Neville e também de Fred, Charlotte e Jorge.

– Mione! – eu escutei a voz de outro ruivo – Dá licença, eu preciso passar! – Ron atravessava a multidão de alunos e pais que estavam na volta da plataforma.

– Mas que grosseria – disse uma senhora que aparentava ter seus setenta anos. Ron deu uma topada com o ombro dela. Coitada.

– Ei – ele veio até mim e me deu um abraço forte. Seu queixo encaixava perfeitamente no vão do meu pescoço.

– Ei – eu falei o mesmo que ele, o abraçando de volta.

– Queria dizer Feliz Natal – o ruivo me largou devagar.

– Você ainda está adiantado – disse Harry, vindo até nós e dando um meio abraço em Ron.

– Antes adiantado do que não desejar nada, não é? – o ruivo riu um pouquinho. Mas não durou muito tempo. Seu sorriso se desfez no momento em que viu Pansy. Ela estava com Blaise, Draco e Luna em um canto mais afastado.

– Feliz Natal, Rony! – Astória apareceu correndo e pulou em cima dele. Harry e eu rimos.

– Obrigado – o ruivo recuperou o meio sorriso e abraçou a loira rapidamente – Feliz Natal, Astória.

– Roooon, você vem ou não?! – eu escutei a voz de Gina o chamando aos berros já do outro lado da plataforma.

– Preciso ir – ele disse, ainda olhando na direção de Pansy – Nos vemos em dois dias.

Harry passou o braço sobre os ombros de Astória e seguiu andando, colocando a mochila dela nas próprias costas. Eu sorri e puxei Ron de volta, dando-lhe mais outro abraço antes que ele pudesse se afastar demais.

– Você tem que fazer algo, Ron – eu sussurrei em seu ouvido, enquanto ainda estávamos apertados um contra o outro – Pan não vai perdoá-lo com meras desculpas.

– Eu sei – ele se afastou e deu um sorriso triste – Bem, Feliz Natal Mione.

– Feliz Natal, Ron – eu me despedi do ruivo e andei até outros.

E com outros, eu me refiro a Blaise, Luna, Pansy, Draco, Harry e Astória.

– Como assim, você não vai com a gente? – Blaise perguntou, mas eu não sabia exatamente para quem era a pergunta.

– Desculpa, irmão – Draco deu um tapinha nas costas do moreno que ainda desacreditava – Eu iria se pudesse. Mas você sabe. Ordens de Narcisa Malfoy.

– Droga – Blaise resmungou – Tudo bem, coisa loira, vem aqui – ele puxou Draco para um abraço e o loiro só ria. Isso me gerava arrepios na espinha.

– Feliz Natal – Draco falou para o grupo, mas seu olhar estava mais preso em mim do que nos outros. Ele foi se afastando aos poucos, mais ainda se virava às vezes para me olhar. Tive vontade de desviar o olhar para o chão, mas não o fiz.

Foi então que a situação me atingiu: Draco não iria mais. Algo dentro de mim estava estranho, como se um pedaço de gelo se alojasse no meu peito. Tive vontade de correr até o loiro e o levar comigo para a Mansão Zabini, mas de novo, não o fiz.

Nunca faço nada, essa é a verdade.

– Vamos lá meu povo. O motorista não vai esperar para sempre – Blaise me arrancou da minha crise interna e eu me forcei a entender a situação.

– Motorista? – questiono.

– É, a menos que você queira ir andando até minha casa, docinho – Blaise passa a mão pelos meus ombros e logo a solta.

Ele vai à frente com Luna, Harry e Astória, todos se perguntando se já estaria nevando lá fora. Sigo-os com Pansy ao meu lado. Ela troca sua pequena mala para a outra mão e, como se adivinhasse minha frustração, segura a minha e entrelaça nossos dedos. Mais uma vez estamos de mãos dadas, e isso me faz sentir melhor.

– - -

[Nothing On You – Bruno Mars ft. B.o.B]

– Mããããe?! – Blaise gritou absurdamente alto, a ponto de eu sentir os ossinhos do meu ouvido protestarem – Cadê você?! A alegria da casa chegou, mama mia – ele continuava gritando, enquanto adentrávamos a um cômodo amplo e bem decorado.

As paredes eram num tom de creme fosco, dando a sala uma expansão incrível. Toda contornada de sofás em tons claros, as almofadas de estampas e cores diferentes espalhadas por ali faziam charme aos meus olhos. Havia também uma mesinha de centro quadrada de madeira escura, bem baixinha, onde ficavam algumas velas aromáticas e pequenos enfeites. Além de uma lareira bem desenhada, embutida na parede, havia uma janela enorme (que ia do chão até quase o teto, parecendo uma parede de vidro) atrás de um dos sofás, deixando à mostra a vista do fim de tarde, onde parece que o céu está confuso em relação às cores que vai vestir e acaba deixando várias nuanças diferentes através das nuvens. E eu nem mencionei a grande árvore de Natal que se encontrava ao lado da lareira. Cada bolinha colorida, bengala de açúcar ou anjinho de porcelana pendurado ali parecia criar uma harmonia com todos os outros enfeites. Pequenas luzinhas piscantes a rondavam por inteiro, enquanto no topo, uma única estrela dourada reluzia. Era lindo. Mais do que isso, era deslumbrantemente deslumbrante.

– Blaise! – uma senhora muito elegante, alta, bonita e igualmente morena como Blaise o abraçava com uma felicidade abundante – Que bom te ver, meu filho.

– Para de me amassar, mãe – Blaise disse praticamente sufocado, mas parecia feliz de mesmo jeito. Eu olhava para Harry um pouco apreensiva. Ele, em troca, só deu de ombros e voltou a olhar para Blaise e sua mãe. Decidi fazer o mesmo.

– Como foi a viagem? – ela perguntou animada ao filho, o soltando do abraço maternal.

– Foi boa... – Blaise foi falando, e então a mulher ao seu lado nos notou. Cinco adolescentes cheios de malas e mochilas na entrada da sua sala. Extremamente normal. Ou não.

– Oh, você trouxe amigos novos esse ano, querido – a senhora Zabini se aproximou de nós, sorrindo abertamente – Você é... – ela estava na frente de Luna.

– Luna Lovegood – disse a loira, sorrindo timidamente – Eu sou a...

– A minha nora! – a mãe de Blaise abraçou Luna com entusiasmo – Luna, é um prazer em finalmente conhece-la. Blaise me falou muito de você em cartas e eu estava doida para te conhec...

– Mãe...! – Blaise a repreendeu. Obviamente ele não havia contado à Luna que escrevia sobre ela nas cartas que enviava à mãe.

– Tudo bem, querido – a senhora Zabini sorriu, sem ressentimento algum – Tenho certeza de que Luna achou isso muito fofo, não achou? – ela se dirigiu a loira, que sorriu e assentiu, um pouco sem graça.

Luna foi até Blaise e o abraçou, enquanto a senhora Zabini cumprimentava Astória, já sua conhecida, e Pansy, igualmente querida por ela.

– Oh meu deus – ela parou estupefata e com uma expressão de surpresa no rosto. Todos se olharam, sobressaltados, menos Blaise e Pansy, que permaneciam apenas sorrindo – É Harry Potter, parado bem no meio da minha sala de estar.

– Er... Olá – disse Harry, meio embestado. A mulher o cumprimentou e sorriu para ele de um jeito carinhoso.

– Seja bem vindo, querido – ela deu duas batidinhas no ombro dele – Fique a vontade, sim? – ela completou com uma voz acolhedora, olhando para um Harry levemente duro e tenso. Logo Astória o puxou pela mão e ele deu uma relaxada.

E de repente, a senhora Zabini virou-se para mim.

– E você deve ser... – ela disse simpática, fazendo uma cara pensativa.

– Hermione Granger – eu completei, e ela pareceu se lembrar de mim (?). Será que Blaise havia mencionado meu nome em alguma carta?

– É claro – ela me envolveu em um abraço caloroso – É muito bom que esteja aqui, Hermione. Fico feliz em conhecê-la. Sou Helen Zabini, a mãe daquele menino agitado que trouxe você para cá. Me chame como quiser, viu? Mas nada de “Senhora Zabini” – disse ela, fazendo pouco caso e me fazendo sentir mais a vontade – Isso me faz parecer uma velha rabugenta. Espero estar longe disso, né?

Eu sorri, meio boba. Nunca sabia como reagir em momentos assim. Era a mesma coisa quando minha avó me apresentava a suas amigas. Elas geralmente apertavam minhas bochechas e diziam que me viram quando eu era apenas um bebezinho, pequeno e adorável. E eu ficava lá, apenas sorrindo e me sentindo uma estranha. Mas com a mãe de Blaise foi diferente. Ela parecia bem liberal e extrovertida, o que passava longe de uma velha rabugenta. Muito longe.

– Onde está Draco? – Helen perguntou, espiando por cima dos meus ombros.

Isso me fez pensar se Blaise havia contado a ela que eu e Draco estávamos juntos. Será que...

– Ele não vem, mãe – disse Blaise, meio chateado, me deixando em igual estado de espírito. Luna o abraçou mais forte, e ele continuou, um pouquinho melhor – Tia Narcisa queria vê-lo e ele teve de ir para casa.

– Oh, tudo bem – Helen sorriu – Tenho certeza que vamos nos divertir muito esta noite, não é? – ela olhou para todos nós, entrando em expectativa.

O incrível era como Helen Zabini contagiava a todos com sua alegria. Em todo tempo que fiquei olhando para ela, sempre via seus dentes brancos perfeitos expostos em um grande sorriso. Blaise puxou tudinho dela. Tudo mesmo.

– Vocês querem se acomodar primeiro? – ela olhou para nossas malas e mochilas – Isso deve estar pesado, não é? Oh! Esperem, esperem! – ela pareceu lembrar-se de algo importante – Vocês nem vão acreditar no que eu comprei para festejarmos mais tarde – ela foi até um vão (que me pareceu a entrada da cozinha) e desapareceu por alguns instantes.

– Ah não, mãe... – Blaise falou pouco animado. Acho que ele já sabia o que a mãe planejava.

Tudo o que eu vi depois foi Helen Zabini saindo da cozinha, usando na cabeça um gorro vermelho que tinha um pompom branco e felpudo na ponta.

– E então... – disse Helen, balançando a cabeça de um jeito engraçado – Gostaram do meu chapéu natalino?

Mais sorrisos e risadas ecoaram, enquanto o “sinta-se em casa” começava a fazer efeito.

– - -

[Fidelity – Regina Spektor]

– Blaise?! – gritou Helen – Solte já esse pote de amêndoas e volte para a mesa!

Já havíamos nos instalado em nossos quartos e deixado nossas malas por lá. Eu e Pansy ficamos juntas em um bem espaçoso, com papel de parede floral e delicado. Luna deixou Blaise dormir com Harry enquanto puxava Astória para o outro quarto de hóspedes. Segundo ela, era melhor assim. “O que sua mãe vai pensar de mim se nos vir dormindo juntos?” foi o que ela falou ao moreno quando ele tentou protestar e arrombar a porta do quarto dela e de Astória.

Agora estávamos sentados à mesa, nos deliciando com a ceia de Natal. Cada prato disposto ali me fazia ficar com água na boca.

– Blaise?! – Helen voltou a chama-lo – O que você faz tanto na frente dessa lareira, meu filho? Venha comer.

Da mesa eu podia ver quase toda a sala e Blaise, que saía a contragosto da frente da lareira e vinha até nós, sempre olhando para trás disfarçadamente. Afinal, o que ele estava fazendo?

– Você não sabe que dá sorte comer amêndoas na frente da lareira na véspera de Natal? – disse o moreno, enquanto voltava para a mesa.

– Que bobagem! – protestou Pansy – De onde você tirou isso?

– De... De... De um livro aí – disse ele, se enroscando em sua própria mentirinha.

Blaise sentou e o banquete seguiu normalmente. Ríamos de coisas que nem tinham tanta graça assim, comíamos piru assado, tortas e todas as variedades de comidas natalinas possíveis. Estava ótimo, a ponto de eu me segurar para não repetir. Também escutávamos histórias da família Zabini. Nesse momento, Helen nos contava sobre os seus sete ex-maridos.

– Sete? – perguntou Harry, se engasgando com sua taça de vinho.

– Sim, querido – Helen assentiu, enquanto Astória dava batidinhas nas costas do namorado sufocado – Ah, o que se pode fazer quando não se acha o verdadeiro amor nas sete primeiras vezes, hein?

– Não se casar nas últimas seis, talvez – Blaise sugeriu, tomando seu vinho em um gole só.

Blaise – Luna o cutucou na barriga e ele se retorceu todo.

– Obrigada, filho – Helen sorriu – Você bem que podia ter me dado essa ideia antes, não é?

Helen deu uma gargalhada alta, o que praticamente nos forçou a rir até que nossa barriga doesse.

Comemos mais um pouquinho e escutamos a história sobre os sete ex-maridos de Helen Zabini. Ela estava falando sobre o sexto quando um som absurdamente alto explodiu na sala. Todos nos viramos de supetão, assustados. Blaise sorria. O que ele havia feito, afinal? Colocado uma bomba dentro da lareira? Ou será que ele havia escondido algo altamente barulhento debaixo do sofá quando ninguém estava vendo?

Tirei o guardanapo do colo e me levantei calmamente da cadeira. Todos faziam o mesmo, e iam até a sala na minha frente, tapando minha visão.

– Não acredito! – disse Helen, me deixando mais curiosa ainda. O que havia acontecido?

– Acharam mesmo que eu ia faltar?

E então eu congelei e fervi ao mesmo tempo, confusa e levemente tonta pelo vinho. Os pelos da minha nuca se eriçaram me deixando arrepiada da cabeça aos pés. Pés esses que estavam tão embestados que nem me sustentavam direito e, o melhor (perceba a ironia) é que pareciam ter desaprendido de como se faz para andar. Aquela voz, meu Deus, era a voz de...

– Draco – eu disse em um sussurro. Espera, eu estava pensando alto demais. Era para eu só ter pensado. Droga. Como eu me detesto.

O loiro se virou direto para mim, todo abarrotado. Ele acabara de sair da lareira, limpando a camisa com tapas afastadores de cinzas. Seu olhar se fixou em mim, assim como o meu nele.

– Oi – ele disse baixinho como eu, exibindo um sorriso que parecia ser feito apenas para mim.

E então começou a sessão de abraços, dando às boas vindas a Draco e tudo mais. Eu precisava me esconder. Cavar um buraco e sumir. Mas todo esse clima de Natal me deixava com o coração mole e, infelizmente, com as pernas plantadas no chão.

Natal é tempo de perdão, não é? Bom...

– Uh, Draquinho veio – disse Blaise, pulando em cima do loiro. Lembrei de Gina assim que Blaise pronunciou Draquinho – Você não consegue ficar longe de mim né, coisa loira?

– Nem você de mim, criatura – Draco devolveu ao amigo, alegre.

Abraçou Helen, que disse que estava muito feliz por ele ter aparecido, assim como Astória. Draco girou Pansy pela sala, soltando gargalhadas. Ele cumprimentou Luna, que lhe deu um beijo na bochecha, e Harry, que só sorriu e acenou com a cabeça. Todos já estavam distraídos, falando sobre as amêndoas que Blaise tanto comia na frente da lareira. Ele havia enganado a todos nós, com aquela história boba de sorte natalina.

– Psiu – eu escutei algo parecido com um assobio fraco e senti alguém me segurar de um jeito suave pelo cotovelo. E então, meus pés saíram do chão, enquanto eu era levantada e esmagada em um abraço gostoso. Só percebi quem era quando me agarrei ao seu pescoço e senti sedosos fios loiros por entre meus dedos. Seu perfume me envolveu aos pouquinhos, me dando um misto de confusão, alegria e a sensação de saudade sendo morta.

Draco me colocou no chão, mas continuou me abraçando. Não sabia ao certo o que fazer. Se eu me afastasse dele, certamente todos iam ficar me olhando, o clima de feliz Natal quebraria em incontáveis pedacinhos e meu pulmão murcharia pela falta de oxigênio.

A verdade? Bom, eu não queria me afastar dele. Por isso fiquei ali, envolta por seus braços, sentindo sua respiração bater de leve na minha nuca.

A minha volta, as coisas pareciam murchar. O som foi ficando abafado e as luzes se tornaram menos intensas por manter meus olhos fortemente fechados.

– Você veio – minha voz saiu fraca, bem no pé do seu ouvido.

– Eu vim. E estou aqui agora – eu pude perceber o riso atravessar seus lábios por estar tão perto - Pode abrir os olhos, eu não vou desaparecer – ele disse e, assim como a minha, sua voz saiu baixa e rouca, arranhando graciosamente meus ouvidos.

– Promete? – eu perguntei, apertando ainda mais minhas pálpebras.

– Prometo – ele disse.

Abri meus olhos e pude enxergar os dele, tão perto e tão reais que tive vontade de me beliscar, só para ver se eu estava sonhando.

E então...

– Quem topa um joguinho? – a voz de Blaise irrompeu o ar, me tirando do meu próprio mundo. Draco sorriu de leve e, seguindo todos os outros, fomos até as escadas para o andar de cima.

– Você primeiro – ele parou ao pé do corrimão, dando-me passagem. Subi apenas o primeiro degrau.

– Por quê? – questionei. Seu maxilar definido se alargou em um pequeno sorriso tímido. Olhou para o chão por uns instantes e depois me encarou. Por eu estar um degrau acima dele, ficávamos quase da mesma altura.

– Se você se desiquilibrar, eu estarei logo aqui atrás para te segurar.

Por um momento achei que ele fosse me beijar. Seu rosto foi ficando cada vez mais perto do meu e nossos narizes quase se tocavam.

– Então, não se desequilibre – seu tom irônico e seu sorriso debochado não machucaram. Muito pelo contrário. Uma raiva boa percorreu meu corpo, me fazendo rir.

– Idiota.

– Eu sei que sou – ele deu de ombros, como se aquilo fosse algo para se gabar.

– - -

[Have Yourself a Merry Little Christmas – Andrew Belle]

O quarto de Blaise era bem grandão, com uma das paredes em um tom escuro de azul e as outras três em um tom mais claro. O azul mais forte se estendia até o teto, deixando, de alguma forma, o cômodo mais acolhedor e confortável.

As luzes estavam apagadas e a única fonte que produzia luminosidade ao quarto vinha de um abajur de lava que ficava a um canto.

Eu ainda me pegava olhando para o objeto, observando as grandes bolhas densas e roxas flutuarem de cima para baixo em um líquido laranja claro.

– Ah, qual é? – Blaise reclamou, jogando-se na própria cama – Você é muito ruim de mímica, Pansy. Alguém tem ideia de quem ela está imitando?

Pansy fez uma cara de fúria, como se estivesse pronta para pular em cima de Blaise para dar-lhe uns bons tapas. Mas continuou muda, como mandava o jogo.

Ela usava um pijama de coelhinhos, vários deles espalhados pela blusa e pela calça branca. Eu simplesmente não conseguia a levar a sério daquele jeito. Estava mexendo o corpo de um jeito esquisito, como se tivesse um problema sério para caminhar. Achatou a cabeça para baixo, escondendo seu pescoço entre os ombros. Isso era no mínimo engraçado.

Astória ria abertamente, já alegrinha demais. Harry ria também, tentando tirar a taça de champanhe da mão da namorada. Ela já havia derramado a bebida duas vezes em menos de meia hora.

Blaise, deitado na cama, ainda tinha a cara confusa, interpretando os movimentos de Pansy. Agora ela fingia tirar uma calça imaginária e balançava o bumbum.

Draco ria a um canto, um pouco mais contido. De vez em quando me lançava olhares significativos. Desviei a maioria deles. O abajur ao meu lado havia levantado mais uma bolha roxa e molenga. Bloop.

Luna, que tinha meias fofinhas e de cores diferentes em cada pé, estava atirada no tapete branco e felpudo ao lado da cama, segurando a mão de Blaise na metade do caminho. Os dedos do moreno faziam carinho na mão dela, indo de cá para lá. De repente, os dois riram até espernear, apertando os dedos uns contra os outros. Pansy acabara de fazer o formato de um coração no ar e logo em seguida, apontou para seu bumbum novamente.

Ela estava surtando, arregalando os olhos e puxando os cabelos. Não poder falar uma palavra sequer em quase dez minutos devia estar sendo difícil, ainda mais com todos rindo e bebendo a sua volta.

A morena abaixou e fingiu pegar algo no colo, como última tentativa de uma mímica falha. Agora ela acariciava essa “algo” em seu colo.

Olhei em volta e fiquei aliviada ao notar que não era apenas eu que estava confusa. Todos a olhavam com caras pensativas, como se dissessem: o que diabos você está fazendo, garota?

Estava voltando meu olhar novamente para Pansy, mas algo me impediu no caminho.

Draco, que estava sentado em uma posição mais do que confortável em uma poltrona de couro perto da janela, fixou seus orbes azuis acinzentados em mim mais uma vez.

– Eu desisto – se rendeu Pansy em uma voz irritada – Eu fingi marchar, fiz caretas e até achatei meu pescoço! Fingi perder as calças e ficar com uma cueca samba canção de coraçõezinhos. Até peguei madame Nora no colo! EU ESTAVA IMITANDO O FILCH, GÊNIOS! Que difícil isso estava...

Draco ainda estava me encarando. Senti meu rosto ficar vermelho.

Por fim, resolvi que a melhor estratégia seria também olhar fixamente para ele. Foquei nele enquanto todos riam a nossa volta, fazendo Pansy deixar a irritação de lado e rir também. Logo aquilo virou um jogo do sério entre o loiro e eu. Depois de um tempo, Draco sorriu e, até que enfim, desviou os olhos azuis.

Quando me olhou de novo, arqueei as sobrancelhas como que dizendo: ganhei.

Levantei do chão e andei até a porta. Não tardou muito até que alguém perguntasse...

– Aonde você vai? – indagou Harry.

– Vou pegar um copo d’água. Minha garganta está seca – respondi, levando a mão até o pescoço e engolindo em seco.

Harry levantou a taça com champanhe de Astória, me oferecendo, mas neguei com a cabeça, sorrindo logo depois. Chega de álcool para mim, hoje.

Fechei a porta à minhas costas e me encaminhei até as escadas. Tudo no completo breu, apenas com a luz da lua que entrava por uma grande claraboia no teto.

Fiquei com medo. Meus passos eram cautelosos ao pisar em cada degrau. Olhava para cima e para frente a todo o momento, como se algum tipo de monstro se escondesse nas sombras esquisitas que se formavam em todos os luares possíveis.

Logo percebi que estava praticamente correndo até a cozinha, desviando de garras e mãos imaginárias que pretendiam me puxar pelos pés. Cheguei lá aos tropeços, topando com o ombro na parede e batendo o dedo mindinho em um móvel de madeira. Droga, como eu odeio machucar o mindinho. O mesmo eu digo com os joelhos e cotovelos. Isso me dá uma aflição terrível!

Manquei até a geladeira e a abri. A luz que saiu lá de dentro iluminou um pouco as coisas. Dobrei o corpo para pegar uma garrafinha d´água que se encontrava lá no fundo. Voltei a minha postura normal, ainda apoiada na porta da geladeira, aproveitando cada instante de luz.

Certo, vamos seguir um plano – eu disse a mim mesma. Assim que eu fechar a geladeira, eu agarro a pequena garrafa de água e saio correndo escada acima. Assim, nenhum monstro vai... Monstro? Ugh, eu só posso estar maluca. Ou bêbada.

Fechei a porta da geladeira, decidida, e então a luz acabou. Com a garrafa agarrada contra o peito, passei pelo vão que dividia a cozinha da sala com uma velocidade relativamente rápida.

Tudo bem, não há motivo para pânico. Meu coração nem está tão acelerado assim. Tum, Tum, Tum! – ele gritava agitado em resposta.

A garrafa fez um barulho estranho em minha mão. Eu a apetava tanto que o plástico cedeu aos meus dedos nervosos e brancos de tanta força que faziam para segurá-la.

– AAAH! – gritei ao bater de frente com algo mais sólido do que o ar. Isso, Hermione. Agora diga que você é feita de material gasoso!

Acontece que esse sólido tinha braços fortes e cabelo loiro. Draco tapou minha boca e reprimiu meu grito.

– Shhh – disse ele arregalando os olhos e levando o próprio dedo até a boca, em sinal de silêncio. Fiquei quieta, praticamente líquida por senti-lo tão perto.

– Hmmm – eu concordei com a boca abarrotada debaixo da sua mão.

– Você precisa fazer silêncio – ele disse, tirando a mão dos meus lábios. Seus dedos roçaram levemente na minha bochecha, gerando-me arrepios – A mãe do Blaise já foi dormir. São quase quatro da manhã.

Apenas concordei de novo, com a garrafa plástica quase explodindo em minha mão. Parei de apertá-la tão forte e o plástico rangeu de volta.

Draco olhou para a garrafa e depois para mim, exibindo o mesmo sorriso torto de hoje cedo, no trem. Tremi de novo e, tenho a leve impressão de que ele percebeu.

– Quero te mostrar uma coisa – ele disse. Seus lábios se moviam de uma maneira perfeita.

– O que é? – perguntei, curiosa.

– Algo que você vai gostar, eu acho – ele disse, fechando seus dedos fortes ao redor do meu pulso e me puxando em uma direção diferente, sem ao menos me dar uma mísera pista de onde estava me levando. Como na noite do baile, em que eu e ele fomos para o jardim.

E estranhamente, estávamos indo em direção à uma porta de rolar que levava até o jardim da casa de Blaise quando eu voltei a mim. Um frio cortante invadiu cada minúsculo poro da minha pele quando Draco rolou a porta para o outro lado, me fazendo recuar um pouco. Eu estava só de pijama! Nós estávamos de pijama!

E... Estava nevando. Estava mesmo nevando.

– Venha – Draco me segurou mais forte, mas eu continuei parada – Estamos quase chegando, eu juro. É logo ali.

– D-Draco – meu queixo começou a tremer – Olhe. É nev-v-e.

Ele pareceu finalmente notar a massa branca e espessa espalhada pela grama.

– Com medo de um gelinho desses, é? – ele arqueou as sobrancelhas, me desafiando.

– Sim, eu estou! – reprimi meu sorriso com fracasso – Eu não quero pegar hipotermia.

Ele levou a mão até os cabelos, olhando para mim pensativo.

– O que foi? – perguntei, cruzando os braços na tentativa de me aquecer um pouco.

– Você não me deixa outra escolha, Granger – ele disse se aproximando de mim aos pouquinhos. “Granger” ficava tão mais bonito vindo da boca dele.

Foi então que eu senti seu braço passar por trás do meu joelho, me erguendo do chão como se eu fosse um bebê, enquanto o outro segurava envolvia minhas costas. Minha única opção foi passar meu braço por trás do seu pescoço, buscando algum apoio.

– Draco! – eu dava soquinhos no seu peito com a mão livre – Me solta!

Infelizmente eu não soei nem um pouco convincente pelo fato de estar rindo. Ele atravessou o branco jardim comigo no colo. O vento gelado soprava e eu aninhava minha cabeça no seu pescoço. Ele pareceu ficar arrepiado de uma hora para a outra, mesmo que estivesse atravessando um jardim em meio à neve.

– Então você ainda lembra, é? – ele perguntou me deixando confusa.

– Lembro? – levantei a cabeça para olhá-lo. Draco sorria. Seus lábios estavam levemente roxos pelo frio.

– Você sabe que é jogo sujo! Pescoço é meu ponto fraco. Simplesmente não vale!

Eu sorri, lembrando de quando ele havia revelado isso a mim. A vista do Lago Negro à noite me trouxe nostalgia, saudade de quando tudo era mais fácil.

Levei minha mão fria até sua nuca, provocando-o.

– OOOH! – ele tremeu, deitando a cabeça para um lado – Você vai ver só! Quando eu descobrir seu ponto fraco você vai implorar para que eu pare, e eu não vou parar!

Continuei rindo, assoprando seu pescoço como uma cosquinha e dando-lhe uma boa dose de dedos gelados de vez em quando.

Draco parou na frente de uma árvore. Ele puxou uma escadinha mole feita de corda e foi subindo. Olhei para cima e me deparei com uma pequena casinha de madeira, cercada de folhas e agora, neve.

– Venha – ele já estava lá em cima e estendia a mão para mim.

– Você está brincando? – eu comecei a subir a escadinha de corda e alcancei seus dedos – Uma casa na árvore?

– Costumava ser um forte quando eu e Blaise éramos pequenos – ele me puxou para dentro. Um calorzinho foi tomando conta de mim aos poucos, deixando o frio lá fora.

O teto era levemente ondulado, sustentado por galhos da própria árvore. Havia uma série de luzinhas enroladas ao redor de um galho mais grosso que saía do chão, como as da árvore de Natal, só que todas de cor amarela. Pareciam pequenos vagalumes. A um canto, ao lado de uma pequena janelinha, havia um sofá baixinho, rodeado de almofadas que pareciam muito macias e confortáveis. Queria deitar em cima delas. Queria muito.

– O que achou? – a voz de Draco veio de perto. Ele estava atrás de mim, esperando uma resposta.

– É lindo – foi tudo o que eu conseguir dizer. Pela primeira vez em muito tempo, algo me calou.

– Aqui é bom. Tem cheiro de casa – o loiro inspirou lentamente, absorvendo tudo o que podia. O cheiro era realmente bom. Uma mistura confortante de natureza com algo que eu não sabia definir. Acho que era o cheiro de casa, de um lar especial.

– É perfeito – eu me peguei dizendo. Draco sorriu, emitindo um pequeno nasal.

– Você é a única menina que entrou aqui até hoje – ele disse, passando por mim e ficando na minha frente – Eu e Blaise éramos bem rígidos em relação à visitantes. Especialmente garotas.

– Eu me sinto honrada – levei minhas mãos até seus ombros. Draco pareceu surpreso com minha atitude, mas gostou. Mal sabia ele o que eu realmente pretendia fazer.

– UUUUH – ele contorceu-se todo, fazendo uma careta fofa. Minhas mãos acertaram seu pescoço de novo, de novo e de novo – Você vai se arrepender, Granger.

Draco foi dando passos para frente e eu, para trás. Chegou uma hora em que não havia saída. Um tronco colidiu com minhas costas e eu entrei em pânico.

– Não! – eu ria antes mesmo que ele tivesse a oportunidade de tocar em mim – Por favor, não! Draco chega para lá.

– Acho que não – ele sacudiu a cabeça sorrindo maliciosamente. Eu havia entrado em uma fria, isso sim.

As mãos dele tocaram minha cintura e eu me encolhi toda. Ele me apertava o máximo possível com seus dedos ágeis, me fazendo sentir cosquinhas até nos ossos.

– Aaaaah – eu gritava em meio a risadas e pedidos de desculpa – Paaaaaaara, por favor!

– Não até descobrir seu ponto fraco, Granger.

– - -

[Make It Whitout You – Andrew Belle]

Consegui escapar por baixo das suas pernas e corri até as almofadas, o que foi uma má ideia. Acabei caindo deitada no meio delas, e cada vez que eu tentava levantar, parecia que mais eu afundava.

– Por que Granger? – eu perguntei. Ele estava se aproximando novamente, pronto para me fazer mais cosquinhas.

– Não sei – ele foi para cima de mim antes mesmo que eu tivesse oportunidade de tacar uma almofada na sua direção. Com uma perna de cada lado do meu quadril, Draco me prendia pelo meio – Acho que só eu te chamo assim. E isso é bom.

E enquanto eu esperava a segunda rodada das cosquinhas infernais, elas não vieram.

Draco se curvou para frente, se apoiando nas almofadas com uma mão de cada lado da minha cabeça. O cabelo loiro estava bagunçado, suas bochechas, coradas pelo frio.

– O que aconteceu com a gente, hein? – ele perguntou com um fundo de dor na voz.

Senti vontade de chorar. Parecia que um buraco havia se formado no meu peito, me deixando confusa e sem saber como lidar com o loiro em cima de mim.

– Eu não sei – respondi da mesma forma. Aquilo realmente machucava.

Ele passou as costas da mão em minha bochecha. Tive a leve impressão de que uma lágrima havia escorrido antes de ele enxuga-la.

Draco aproximou o rosto do meu. De olhos fechados, eu sentia sua respiração mesclar-se a minha. Seu corpo deitando em cima do meu. Seus lábios encostarem-se ao cantinho da minha boca. Suas mãos apertarem minha cintura de um jeito bom, me trazendo para mais perto. Seus cílios roçarem na minha maçã do rosto. Sentia-o. Cada vez mais perto. E mais. E mais.

– Descobri – ele sussurrou contra meus lábios.

– O que? – continuei de olhos fechados, esperando sua resposta.

– Seu ponto fraco – ele depositou um beijo no meu queixo. Demorado e macio.

– E qual é? – eu novamente toquei seu pescoço, mas meus dedos não estavam mais frios. Desenhei pequenos círculos invisíveis desde a nuca até seu pomo de adão.

– Sou eu – ele me apertou mais uma vez. Era tão bom – Eu sou seu ponto fraco.

Sua voz rouca era o que meus ouvidos gostavam de escutar.

Seu cheiro era o que meu nariz implorava para sentir.

Seus olhos eram o que os meus gostavam de admirar.

Seus dedos me fazendo cosquinhas era o que meu corpo gostava de experimentar.

E minha boca, que gostava de sentir o gosto da sua. Sentir a suavidade e a saudade dos seus lábios sobre os meus.

Mais uma vez. E outra. E mais outra.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? :D
Me contem tudinho. Eu mereço saber depois de 7.608 palavras né? AAAAAAAAAAAAH, não sejam maldosos comigo, hahaha.
E...Eu andei lendo os primeiros capítulos de Together hoje e WOOOW, como tem diferença. *O*
Vocês me incentivaram a continuar. Me fizeram crescer e amadurecer, não só na escrita, mas como pessoa.
Por isso, eu quero dizer obrigado a todos os leitores. Aos que comentam e também aos fantasminhas. Só de saber que vocês estão lendo já é uma grande coisa para mim, acreditem.
Então... OBRIGADO! :DDD
P.S. Vocês votaram e a Batalha de Hogwarts está de pé!
P.S.S. Esperam que tenham aproveitado esse capítulo, pois acreditem, a calma termina aqui. Os próximos vão deixar vocês loucos, kkkkk.
MUUUAAHAHÁ!
Com muito amor, Giu ♥
P.S.S. ME DIGAM O QUE ACHARAM, HEEIN?
*BÔNUS:foto da casa na árvore: http://weheartit.com/entry/32646265
Beijos a la Dramione :9