POV Ron Weasley

Estávamos cumprindo detenção. Que maravilha, e espera, eu não contei o melhor. Começou a chover agora. Tudo pro meu dia ficar mais perfeito. Eu e Draco entramos no vestiário masculino enquanto Blaise ficava lá se molhando, conversando com a minha irmã.

– O que será que eles tanto falam hein? – perguntei curioso para Draco. O loiro estava dobrando algumas toalhas.

– Não sei ao certo, mas tenho uma ideia do que é – ele disse colocando as toalhas em uma pilha.

– E o que seria? – me sentei em um banco e o encarei.

– Ele me disse hoje cedo que ia “esclarecer as coisas” com ela – ele fez aspas no ar.

– E o que você quer dizer com isso? – falei já me levantando e indo em direção ao meu armário.

– Esclarecer as coisas é só um modo mais bonitinho de dizer quando você vai dar um bolo em alguém – ele riu e eu dei um sorriso de lado. Coitada da Gina.

Abri meu armário para arrumar minhas vestes do quadribol e me deparei com um envelope rosa. Não tinha remetente, só dizia “para Ron Weasley”.

– O que é isso? – fechei o armário e analisei o envelope.

– Ih, será que tem um cachorrinho aí dentro? – Draco brincou e fingiu empolgação.

– Claro, ou pode ser um zonzóbulo – aparentei ficar animado e ele riu da minha cara.

– Abre logo. Afinal, o que pode ter de tão perigoso aí dentro? Uma bomba? – Draco ironizou e eu sorri.

Dentro do envelope havia uma carta. Aquela letra não me era estranha.

Você conhece mesmo sua namorada, Ronald Weasley?
Pois fique sabendo de que ela não é tão legal quanto aparenta ser na sua frente.
Abra seus olhos, afinal, o que uma sonserina iria querer com um grifinório como você?
E se não acredita, olhe a foto que também te mando neste envelope.
E agora? Acredita em quem?

Abri mais uma vez o envelope rosa e achei a foto lá dentro. Nela mostrava Pansy e Neville praticamente se engolindo no corredor.

– E aí? – Draco me olhava curioso.

– Eu não acredito – deixei Draco falando sozinho e saí do vestiário. Eu já não respondia por mim mesmo. Que porcaria era aquela? Já não basta ontem eles terem trocado um selinho na rodinha, tinha que continuar agora?

– Aonde você vai? – passei por Blaise enquanto saia do campo de quadribol – A gente precisa limpar até a Minerva vir nos liberar – ele gritou essa última parte, já que eu continuei andando e nem dei ouvidos para o que ele falava.

É, eu não conhecia Pansy Parkinson. Tudo o que eu queria agora era falar com ela e “esclarecer as coisas” entre a gente. E por Merlin, se eu encontrar o Longbottom eu não sei o que acontece. Se ele vai pro St. Mungus ou eu que vou para Azkaban por desfigurar a cara de um colega. Tudo sem feitiços. Se ele era tão bom assim, então que viesse pra mão. Eu acabava com ele.

POV Hermione Granger

Ainda bem que não encontrei com Draco hoje. Fiquei fugindo dele o tempo todo. Nesse momento eu e Fred andávamos pelos corredores e nos dirigíamos para a torre da Grifinória. Conversávamos sobre banalidades e eu morria de rir com tudo o que saia da boca dele.

– Aí usamos o Lino de cobaia para um novo produto das Gemialidades. As Vomitilhas. Ele passou o dia todo ao lado da privada. Foi então que eu e Jorge percebemos que faltava aperfeiçoar um pouco a receita.

– O Lino é um bobo por aceitar ser cobaia de uma coisa dessas – disse enquanto chegávamos perto do quadro da mulher gorda.

– E quem foi que disse que ele aceitou? – Fred arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso travesso, enquanto eu soltei uma gargalhada gostosa.

Entramos no salão e vi Gina com os olhos vermelhos e inchados, com a cabeça deitada no colo do Neville. O que será que aconteceu agora?

– Gina – fui até ela e me ajoelhei na frente do sofá – O que aconteceu, amiga? – ela parecia muito mal.

– Ela também não me disse. Achei melhor não forçar a barra – Neville se pronunciou e eu assenti com a cabeça. Gina levantou devagar do colo de Neville e segurou minha mão.

– Vem comigo que eu te conto – ela me puxou e subimos as escadas de mãos dadas. Entramos no dormitório e ele estava vazio. Melhor assim. Ela foi até sua cama e eu me sentei. Ela tirou uma carta de baixo do travesseiro e me entregou. Era do Zabini. Li rapidamente e a devolvi. Gina rasgou em pedacinhos aquele pergaminho e eu vi lágrimas se formarem em seus olhos.

– Gina, o que aconteceu – segurei suas mãos para ela parar de picotar aquela carta. Ela permitiu que as lágrimas viessem à tona e me abraçou. O que aquele sonserino babaca fez com ela? – Tudo bem, amiga. Não precisa ficar assim – dei batidinhas nas costas dela enquanto a abraçava fortemente – O que ele fez com você?

– Eu não consigo, Hermione. Eu não consigo – ela repetiu se separando de mim enquanto grossas lágrimas saiam de seus olhos.

– Oh amiga, tudo bem – ela deitou em meu colo – Não precisa falar agora. Eu vou entender em algum momento.

E então ela seguiu chorando, e eu fui tentando acalmá-la. Ela soluçava forte e eu me lembrei de uma coisa que minha mãe fazia quando eu era pequena.

– Gina – disse calmamente e ela se levantou de meu colo para me olhar – Me dê seu braço – ela me olhou meio confusa, mas assim o fez – Quando eu era menor, minha mãe brincava comigo de trocar mudinhas.

– Mudinhas? – ela perguntou mais confusa ainda, secando uma lágrima que percorria seu rosto.

– É. Mudas de plantas. São pequenas flores que colocamos na terra para enfeitar o jardim – disse sorrindo e ela foi entendendo – Mamãe dizia que cada pelinho que temos no braço era uma flor, e que quando temos amigos verdadeiros, devemos trocar as mudinhas com eles – eu fingi arrancar um pelinho do meu braço e coloquei no de Gina, como se tivesse plantando a flor no braço dela.

Ela sorriu e também plantou a mudinha em mim. Ela havia parado de chorar e parecia mais calma.

– Eu gostei disso – disse olhando para o próprio braço. Ela sorriu e eu fiz o mesmo – Eu te amo, Mione – ela me abraçou e eu a apertei.

– Eu também te amo Gina – e então começamos a rir. Duas adolescentes brincando com uma coisa tão infantil. Muitos iriam nos chamar de idiotas, mas só pra constar, eu nunca fui muito de ligar para a opinião alheia, e passo muito bem, obrigado.

– Amiga, posso te fazer um penteado? – perguntei e ela me olhou animada. Geralmente era ela que pedia pra fazer essas coisas em mim.

Ela se virou de costas e eu fui buscar um pente e alguns elásticos de cabelo. Sentei-me novamente na cama e comecei a mexer naqueles lindos fios ruivos.

– Sabe, Gina, um dos maiores prazeres da vida é quando alguém penteia nosso cabelo – falei passando a escova por todos aqueles fios.

– Pensei que trocar mudinhas fosse mais importante – ela virou um pouco a cabeça e sorriu. Como era bom ter a Gina como amiga. Ela parecia ser uma Barbie ruiva. Sorri de volta e ela tornou a olhar para frente. Comecei então a fazer uma trança frouxa lateral no cabelo dela. Até ficou bonita. Digamos que foi um milagre, já que eu não tinha o menor talento para essas coisas.

– Acabei – disse por fim e ela se virou de frente pra mim – Não vai se olhar no espelho? – perguntei desconfiada. Gina gostava sempre de se olhar, para ver se estava tudo no lugar certo.

– Não preciso. Eu confio em você – ela disse e eu abri um sorriso tímido. Abri meus braços e ela me abraçou de novo. Deitei na cama dela e ela repousou ao meu lado. Duas garotas bobonas olhando para o teto. Que coisa mais sem sentido – O Malfoy falou com você hoje? – perguntou ela e eu me senti estranha, apenas por ela pronunciar o nome dele.

– Não. Digamos que eu fugi dele o dia inteiro – confessei e Gina riu.

– Melhor assim. Garotos não gostam do que é muito fácil.

– E como você sabe disso? – perguntei naturalmente, escutando o barulho da chuva lá fora.

– Blaise – ela disse, mas ao invés de voltar a chorar, ela sorriu – Eu fui muito fácil pra ele. Fui um passatempo. Um brinquedinho que ele usou e depois jogou fora.

– Ele é um idiota, Gina – eu disse já sentindo meu sangue ferver. Comigo era assim, defendia meus amigos com unhas e dentes.

– É verdade.

– O Neville é bem melhor do que o Blaise.

– Neville? – ele perguntou surpresa.

– O que é? Não faz nem quinze minutos e a senhorita estava deitada no colo dele.

– Ele só estava tentando me acalmar, Mione. Nada haver – ela revirou os olhos e fitou a parede.

– Gina, você gosta dele! – exclamei e ela me olhou assustada.

– Não gosto nada! Você tá confundindo as coisas.

– Ah é – desconfiei dela – Eu sei por que você gosta dele.

– E por que eu gostaria? – ela me olhou e eu senti seus olhos brilhando.

– Porque ele é emotivo. E além do mais, pelo o que a Pansy disse, o beijo dele é a oitava maravilha do mundo.

– Você tá ficando louca, isso sim – ela jogou um travesseiro na minha cara e levantou da cama.

– Então é assim dona Ginerva? – peguei um travesseiro e joguei na bunda dela.

– Hey – ela disse rindo. Pegou o travesseiro que eu havia jogado e arremessou em minha direção. Eu me abaixei e ele acabou atingindo a janela. Ainda bem que estava fechada. Fui até lá busca-lo e dei uma olhada para fora. Vi um Ron extremamente furioso entrando no castelo. Ele estava todo molhado por causa da chuva.

– Que estranho – disse ainda olhando lá pra fora.

– O que foi? – Gina veio em minha direção e parecia curiosa.

– Ron. Eu acabei de vê-lo entrar no castelo.

– E o que isso tem de tão estranho assim? – ela me olhava desconfiada.

– Só ele voltou. Ele devia estar cumprindo a detenção com os garotos à uma hora dessas. Não faz nem uma hora de que eles foram pra lá.

– Vai ver a Minerva decidiu liberá-los mais cedo por causa da chuva – Gina parecia pensativa.

– Não me parece coisa dela – disse indo em direção a minha cama – E se ela realmente tivesse feito isso, por que só o Ron voltou?

– É mesmo – concordou comigo – Isso não faz sentido. Mione me ajuda aqui com esse dever de Transfiguração?

– Claro, já fiz o meu – ela revirou os olhos – O que foi?

– Que novidade. Hermione Granger com os deveres prontos antes da hora do jantar – ela fez uma voz engraçada e eu ri. Sentei ao seu lado e comecei a explicar o que ela não havia entendido.

– Então você faz esse movimento com a varinha – usei a minha como exemplo. Ela me olhava atenta.

Então escutamos um barulho. Parecia uma grande baderna no Salão Comunal. Foi então que a porta do dormitório foi aberta com tudo. Por ela entrou Fred, ele parecia espantado.

– Gina, Mione, venham aqui. O Ron enlouqueceu.

– O que? – nós duas perguntamos juntas.

– Ele tá uma fera. Andem logo, venham – Fred implorou.

– Tá, nós vamos. Mas pelo amor de Merlin, me fala o que tá acontecendo! – me coloquei de pé junto com a Gina.

– Não dá tempo pra explicar, apenas venham ver – Fred disse parado na porta.

– Isso não é mais uma de suas brincadeirinhas não é? – Gina perguntou.

– O que você usou no Ron, Fred? – perguntei preocupada. Me lembrei do que conversamos mais cedo, sobre as Vomitilhas e do Lino ter passado o dia inteiro do lado da privada.

– Eu não fiz nada. Eu juro – ele estava falando a verdade. O barulho no Salão Comunal só aumentava, e eu comecei a ficar assustada – Agora vamos logo, não dá pra perder tempo aqui – ele pegou na minha mão e na de Gina e nos puxou pra fora do dormitório.

Foi então que eu vi aquela cena. Oh meu Merlin, o Ron só pode ter ficado louco mesmo.