A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 6
Capítulo 5 - Fuga


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Férias... Complica né? Mas vou tentar ser mais constante.



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Eu abri os olhos atordoada em uma sala que parecia balançar. Sentei-me meio grogue e olhei ao redor, com os olhos se acostumando a escuridão. Caixas de papelão ocupavam a maior parte do lugar. O que eu estava fazendo ali? Em um momento estava com Jake e no outro... Subitamente lembrei do garoto envolto nas sombras do meu quarto.

-Mamãe? Papai? – Chamei, esperando que tudo aquilo tivesse sido apenas mais um pesadelo. Minha voz ecoou pelas paredes de forma metálica. Me dei conta que era uma espécie de container. Contêiner uma ova! Era um caminhão! Eu estava sendo seqüestrada! – MAMÃE! PAPAI! SOCORRO! JAAAAAKE! JAAAAAAAAKE! – Comecei a me desesperar, batendo nas paredes e gritando cada vez mais alto. – PAAAAAAAAAAAAAI! MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! SOCORRO! ALGUÉM?!

Parei de repente ouvindo vozes fracas por trás das caixas. Deviam ser as pessoas na cabine. Era uma voz irritada e jovem, como um universitário, que gritava comigo abafada eplas caixas e pelas paredes metálicas do caminhão.

-CALE A BOCA, DROGA! NINGUÉM VAI TE OUVIR SUA IDIOTA! JÁ ESTÁ BEM LONGE DE CASA!

Longe de casa? Como assim longe de casa? O impacto daquelas palavras me acertou com a força de um meteoro recém-saído da estratosfera. Chamas lamberam meu corpo, queimando com a dor do medo. Por quanto tempo eu ficara apagada? O que iam fazer comigo? Para onde estavam me levando?!

-Eu quero ir para casa! – Gritei para o homem na cabine, debilmente. Foi o melhor que uma mente em choque pode pensar – Me leva de volta! Agora!

Uma risada estrondosa fez tremer toda a carroceria. Era alta, cínica e cruel. Não parecia haver o menor pingo de humor nela. Porque achei que seria diferente?

-Ah claro! Desista, garota. Você é propriedade de Niklaus agora. Só vai onde ele mandar.

Eu abri a boca insultada. Propriedade? Só porque estava sendo seqüestrada tinha virado uma propriedade! Soquei a parede de metal negra.

-EU SOU UMA DAMA! NÃO PERTENÇO À NINGUÉM!

Disse, de orgulho ferido. Na verdade, pertencia, lembrei tocando o entalhe de madeira, amarrado ao meu pescoço. Comecei a bater nas paredes em busca das portas da caçamba e encontrei-as com facilidade. Se eu desse golpes no lugar certo repetidamente as trancas entortariam e quebrariam ou pelo menos escorregariam para o lado e eu estaria livre. Joguei meu ombro contra a porta e ouvi a tranca ranger. Atentei novamente e a ouvi ranger mais uma vez. Arremessei diversas vezes meu peso contra a porta até que ela de repente cedeu.

Caí com a face no asfalto quente e este rasgou a pele do meu rosto e peito. Pude sentir o sangue se espalhar pelo chão e empapar minha suave camisola cor-de-rosa, mas não tive tempo de sentir dor. Pus-me de pé e corri.

Eu gostava de correr no geral. Fazia-me sentir poderosa, dona do meu próprio nariz. Fazia-me sentir livre, me dava a impressão de poder ir para onde eu quisesse e quando quisesse. Corria com Jake, com meus pais na hora da caçada, quando era mais nova brincava de pega-pega com tio Emm – sempre tive a suspeita de que ele me deixava ganhar -  mas agora, eu corria pela minha vida, rumo a um futuro incerto. Não sabia onde estava e nem para onde ia. Ao meu redor só via árvores, árvores e mais árvores por todo o lado. Passei por uma placa que marcava o KM 105 da Forest Road ( Rodovia da Floresta).

Tentei recordar dos estudos que fiz com minha família, tentando lembrar de onde era a Forest Road, mas enquanto se foge de seqüestradores é difícil se lembrar de todas as linhas rodoviárias do seu país. Corri para dentro das árvores, esperando sentir o cheiro de seiva e sentir as agulhas dos pinheiros cutucando meus pés descalços. Encontrei as agulhas, mas não eram de pinheiros,eram agulhas macias de Abeto de Douglas e troncos pardos me rodeavam e não escuros e negros como os de Forks. Corri sem um intervalo sequer, ziguezagueando pelas árvores. Apesar dos meus esforços, logo senti que os perseguidores haviam descoberto a minha fuga. Acelerei o passou, mas não foi o suficiente. Ardeu quando meu rosto foi pressionado contra as agulhas no chão.

Um corpo estava sentado em minhas costas, pressionando minhas costelas com os joelhos ossudos com uma força sobre-humana. Um vampiro. Tentei me libertar mas foi inútil, o vampiro aperto minha cabeça contra o chão com uma das mãozorras. Achei que as agulhas de abeto de Douglas tinham começado a entrar na minha pele ferida.

-Acho que você não entendeu – Disse uma voz masculina forte e perfeita – Eu disse que você pertence a Niklaus e só vai aonde ele MANDAR!

Minha respiração se tornou ofegante e tentei me arrastar para escapar, mas ele nem se moveu. Fechei os olhos com força e desejei que Jake aparecesse para me salvar mas ao abrir os olhos ele não apareceu. Não havia ninguém lá além dos troncos. Ninguém além do vampiro acima de mim.

-Você precisa de uma lição. Precisa aprender!

Ele pensou um pouco e quase pude sentir o sorriso maldoso que cresceu em seu rosto. O vampiro se levantou e virei-me para ele confusa. Ele tirou as calças e a cueca, aproximando-se devagar. Tentei ficar de pá quando percebi o que ele ia fazer mas ele foi mais rápido e pulou nas minhas costas novamente, prendendo-me no chão novamente.

-Seja boazinha e vai acabar logo.

Ele disse gargalhando. Gemi de medo e fechei os olhos com força. Eu não queria ver.

-Scott! – Chamou uma voz jovem, levemente familiar – Scott! – Um par de sapatos entrou no meu campo de visão. Estiquei o braço para agarrá-lo. Depois de quase uma hora com aquele vampiro qualquer um ou qualquer coisa era melhor. Eu me entregaria ao Professor se ele me levasse para longe – SCOTT! SEU IDIOTA! KLAUS DEIXOU CLARO QUE NÃO DEVÍAMOS MACHUCÁ-LA!

Rindo, o vampiro que supus ser Scott levantou-se, resgatando as calças e a cueca do meio das agulhas. Tudo aquilo era um jogo para ele.

-Já me diverti filhinho-de-papai, e a garota está bem. Está respirando pelo menos. Eu acho.

Senti mãos gentis ajudando-me a sentar. Olhei em volta. Os restos da minha camisola de seda favorita estavam espalhados pelo chão e todas as agulhas ao meu redor estavam quebradas e amassadas. Um quente casaco de lã foi colocado por sobre meus ombros, quebrando o frio cortante da noite que tocava meu corpo nu. Virei-me e encontrei um rosto jovem com uma expressão preocupada. Senti seu cheiro. Era parecido com o meu. Com um susto percebi que também era um mestiço. Ele tirou um lenço do bolso e limpou o suor frio e as lágrimas espalhadas pelo rosto.

-Você está bem? Ele te machucou? Quebrou algum osso?

Fiz que não. Eu sentia dores e sabia que acordaria com um ou dois hematomas, mas no geral estava bem. Os olhos castanhos do garoto encaravam os meus procurando algum sinal de desconforto, como Jake costumava fazer. Ele era bonito. Aparentava ter 17 anos mais ou menos. Indícios de barba castanha emolduravam sua boca e pequena e perfeitamente proporcional. Com outro susto, percebi que era o garoto de feições euroupeias no meu quarto. Observei seus olhos castanhos e nariz anguloso.

-Consegue levantar?

Ele perguntou ficando de pé e estendendo a mão para me ajudar. Aceitei sua mão e tentei levantar usando a sua ajuda, mas minhas pernas pareciam feitas de gelatina e caí no chão novamente. Sem que eu pudesse impedir, comecei a chorar baixinho. Estava completamente acabada e indefesa no chão depois de ser abusada por um completo estranho que alegava que eu pertencia – PERTENCIA! – a um ser de quem eu nunca havia ouvido falar.

-Ei, ei... – Disse o garoto acariciando minhas costas cobertas pelo seu casaco – Tudo bem. Tudo bem. É normal. Scott já fez isso mais do que eu gostaria de ter visto.

Ele então me pegou no colo sem esforço, como meu pai costumava fazer para me levar para o quarto quando eu dormia no sofá assistindo comédias românticas como “O Amor é Cego” ou “Amizade Colorida”. Naquele momento, senti-me exposta e impotente em estar nua e ser carregada por um estranho que até onde eu sabia havia me seqüestrado. Apesar disso, não resisti. Se Scott realmente queria me ensinar uma lição, ele não havia falhado. Eu estava lidando com algo muito maior do que qualquer coisa que pudesse ter imaginado ao fugir daquele caminhão.

Demorou um pouco mas chegamos ao caminhão, onde Scott nos esperava impaciente, encostado à carroceria ao lado das portas escancaradas. O garoto me pousou com suavidade sobre a caixa do caminhão.

-Suas roupas estão ali – Disse apontando para um punhado de caixas de papelão - Deve ter uma lanterna pelo chão. Tente limpar esses seus cortes para evitar que Scott... Se alimente de você. E depois quero minha jaqueta de volta. - Fiz que sim, ainda me sentindo estranha. – Ah, e não se preocupe. As coisas vão melhorar.

Empurrando-o Scott apareceu, revirando os olhos e fechando as portas. Antes de fechar ele me lançou um dos seus terríveis olhares.

-Quebrou meus melhores cadeados.

Tive o impulso de sorrir satisfeita, mas não conseguia encontrar os músculos certos pra isso e antes que pudesse encontrá-los ele trancou a porta, provavelmente com cadeados novos, deixando-me no escuro absoluto. Procurei pelo chão a lanterna que o rapaz tinha mencionado. Agora o que ele tinha dito sobre roupas?  Que estavam nas caixas? Bem, estava frio, qualquer coisa seria bem vinda. Abri uma caixa esperando encontrar roupas cinzentas ou alguma coisa esfarrapada para seqüestrados. Mas não. Encontrei minhas roupas. Mesmo incomodada, segurei minha curiosidade até que me vestisse por inteiro, agasalhando-me bem e estancasse o sangue nos cortes do meu rosto e peito com uma camiseta velha. E só então comecei a remexer as outras caixas, tropeçando nos meus próprios pés e sendo jogada de um lado para o outro.

 Meus cadernos? Meus livros? Tudo o que era meu estava ali! Não era um seqüestro! Era uma mudança forçada! Minhas roupas, abajures, computador, cobertores, fronhas, acessórios, quadros, fotos, caixas, cd’s e dvd’s. Tudo o que estava no meu quarto horas antes agora estava na carroceria daquele caminhão empacotados em caixas de papelão. Sentei-me sentindo-me tonta por um momento e algo abaixo de mim fez barulho. Tirei de baixo do meu corpo Caçadora, meu bichinho, que felizmente me acompanhara em todo aquele turbilhão de coisas que estavam acontecendo em uma só noite. Abracei-a, desejando minha família ali. Como eles haviam deixado aquilo acontecer? Mais do que minha própria vida, ainda dizia meu medalhão. O que mudara?


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