A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 37
Capítulo 36 - Forks


Notas iniciais do capítulo

12 dias para o aniversário de Casa de Klaus!!!



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Nessie

-Eu não... – Lizzie fungou – Eu não queria... Eu só... Eu...

-Shhh... – Pedi, acariciando seu cabelo – Shhh... Eu sei...

Lizzie não conseguia se conformar com o que acontecera com Jenna e eu não podia culpá-la. Jenna tinha sido uma segunda mãe, uma professora, uma melhor amiga. E Lizzie nunca aprendera a lidar com a morte. Parte da culpa era minha. Devia ter dito a verdade sobre sua mãe logo de cara. Bem, mas não seria agora que diria. Pelo menos Elena estava reagindo bem e dando a maior força à minha pobre menininha. Jeremy, por outro lado...

-Eu só queria brincar...

Ela tinha tentando explicar, mas ele nem ao menos quisera ouvi-la. Dera as costas a ela e se trancara em seu quarto. Também não nos dirigira mais do que um olhar de ódio no caminho para o ônibus, que agora balançava de um lado para o outro, a caminho de sabe Deus onde.

-Onde será que Klaus está nos levando agora?

Elijah perguntou, mais para si mesmo do que para mim.

-Qualquer lugar onde escorreguemos novamente e ele possa nos matar de uma vez.

Lizzie respondeu, cruzando os braços, irritada. Elijah virou-se para ela, suspirou e tirou-a delicadamente do meu colo, sentando-a no dele. Ele levantou seu rosto para que olhasse para ele.

-Klaus é mau. –Disse a ela - Ele mata pessoas. Mas você não pode deixar isso te abater. Você é a menina mais meiga do mundo. Todos aqui sabem disso. Até mesmo Jeremy. Você não fez nada de errado, e não importa o que ninguém aqui diga, você não é uma assassina, você me entendeu?

Ela fez que sim, abraçando-o.

-Obrigada Elijah. Eu te amo.

-Eu também te amo, Flor-de-Liz.

Ele disse, acariciando seu cabelo. Trocamos um olhar e eu assenti, agradecendo-o por suas palavras. Quando se tratava de Lizzie, toda a ajuda era pouca.


A chuva nos seguiu pelas próximas semanas afora. Às vezes parava, mas sempre voltava. Era como se a nuvem estivesse nos seguindo, como a algum cartoon triste. Passei grande parte desses dias dormindo. Só levantava para usar o banheiro ou quando eventualmente parávamos durante alguma brecha na chuva para esticar as pernas. Eu devia ter previsto o que ia acontecer. Os sinais estavam logo a minha frente, mas eu estava sonolenta demais para vê-los.

Chovia torrencialmente quando chegamos. Klaus anunciou a chegada e desapareceu. Levantei e tirei minha mochila, a de Lizzie e a de Elijah do bagageiro, entregando a eles e vagarosamente andando na direção das escadas. Era só mais um destino comum para mim. Desci do ônibus, seguida pelas outras sobrenaturalidades, e distraidamente chapinhei pela lama até o porta malas para encontrar a minha mala e a de Lizzie. Tirei-as, ajeitei-as nas mãos e me virei... Só para deixá-las cair.

Estava frente a frente com a mansão Cullen, que me encarava como um enorme fantasma de 20 metros de altura.

-Não é incrível? O proprietário deve ter essa cidade na palma da mão para construir esse primor nesse fim de mundo... Porque tão longe da civilização, é o que eu não entendo...

Disse Klaus, parando ao meu lado, de braços cruzados, com um sorriso satisfeito no rosto. Minha boca estava aberta, e o meu rosto quente e corado pelas lágrimas, apesar da chuva gelada ao nosso redor.

-O que eu já fiz para você Klaus? Por que... Porque você me odeia tanto?

Perguntei, tremendo.

-Te odiar? – Perguntou, como se a minha pergunta fosse uma grande surpresa para ele. Ele foi para a minha frente, pegando meu rosto entre suas mãos, acariciando-o levemente com as luvas grossas de couro – Oh, não minha querida. Eu lhe adoro. Você me deu esperanças de que Elijah não seja um completo inútil afinal de contas... Mas, para isso... Eu preciso que você esteja infeliz. Infeliz não. Devastada. Alegre-se criança, é por uma boa causa. Ou ainda melhor. Não. Alegre-se.

Disse, dando dois tapinhas de leve na minha bochecha e indo embora, deixando-me ali, sozinha, molhada e desamparada no meio da chuva. Elijah chegou logo, com a jaqueta sobre a cabeça.

-Eu não sabia, Nessie. Eu juro que não...

-Vamos entrar. – Eu disse, decidida a não deixar que Klaus triunfasse. Não enquanto eu ainda tivesse forças para me defender. – Mas se alguém sujar os tapetes da minha tia Rose de barro, vai morrer sofrendo.

Ameacei, recolhendo as malas que derrubara no chão e andando na direção da casa. Subi os poucos degraus que levavam à varanda e hesitei por um instante. Suspirei, tocando a maçaneta. A porta se abriu com um estalo, destrancada como sempre, sempre aberta para me receber, como um par de braços amigáveis e nostálgicos.

A casa estava exatamente como estava no dia anterior ao que eu a tinha deixado. As mesmas cortinas, os mesmos sofás, os mesmos tapetes, as mesmas luminárias fornecendo a mesma luz indireta, e o mesmo som da chuva batendo na janela. E mesmo eu estando diferente, aquele espaço parecia se adaptar para me recolher. Sentia-me como uma garotinha novamente. Ainda assim, não havia ninguém de olhos dourados e sorriso de pedra para me receber. Meu coração se apertou ao pensar onde todos poderiam estar e se seu sumiço tinha algo a ver com Klaus. Só esperava que estivessem bem.

Tirei os sapatos, deixando-os do lado de fora e pegando as malas. Fiz sinal para que todos entrassem, e uma a uma, as sobrenaturalidades tiraram os sapatos e me seguiram casa adentro, aliviados por saírem da chuva.

-Há três andares, cheios de quartos. – Expliquei. – Podem escolher. Era para os amigos que ainda conheceríamos. Se não couberem todos, há um sótão. Espero que gostem de morcegos.

Isso iniciou uma loucura para estabelecerem-se nos quartos. Eu permaneci ali, deixando as malas em um canto. Elijah e Lizzie me encontraram no banco do piano do meu pai, tocando nostalgicamente as teclas. Era imensamente diferente do da Casa. Não tinha ideia de como o tinha achado parecido algum dia... Talvez fosse apenas a saudade.

-Mamãe?

Lizzie chamou, sentando-se ao meu lado. Limpei uma lágrima com a mão.

-Sim, meu anjinho.

-Porque você está triste? Você está em casa.

Disse, tocando minha mão.

-Eu sei. Eu só não sabia que sentia tanta falta daqui.

Respondi, entrelaçando seus dedos pequenos com os meus.

-Porque não foi se estabelecer?

Elijah perguntou, olhando para a minha mala e a de Lizzie no canto da sala.

-Porque esta não é a minha casa.


-Ah meu Deus! Isso é lindo demais!

Gritou Lizzie, correndo para fugir da chuva, indo se refugiar sob o pequeno toldo a frente da porta do chalé. Novamente destrancado, como eu sabia que estaria. Lá dentro, as luzes se acenderam automaticamente, e os cheiros da minha infância me invadiram. Estava tudo ali, como no dia em que eu havia sido levada. Era como se eles tivessem simplesmente saído para ir até a cidade ver Charlie e voltariam logo.

Suspirei, jogando a mala de lado.

-Você vivia aqui?

Lizzie perguntou, animada, enquanto Elijah fechava a porta atrás de nós e colocava sua mala de lado.

-Vivia. Com meus pais.

-Incrível!

Sussurrou.

-Vá explorar por aí! Meus brinquedos ainda estão guardados por aqui...

Encorajei-a. Ela deu um saltinho de alegria, e bateu as palmas, esquecida de Jenna por alguns minutos, correndo para a primeira porta que viu – Que era o banheiro. Eu ri, suspirando.

-Eu me lembro daqui.

Elijah disse, vindo para o meu lado. Assenti.

-Eu sei. Você é quem me levou.

Ele assentiu.

-Nós nunca falamos nisso.

-Nunca – Concordei. – Não posso negar que fiquei curiosa... Porque Scott não veio?

-Ele veio. Mas precisou voltar – Elijah explicou, dando um passo a frente e sentando-se no sofá dos meus pais – Sua tia o viu. Então eles me trouxeram. Porque eu era um ponto cego para ela. – Ele deu de ombros – Para mim era só mais um dia sobrevivendo.

-Seguindo as ordens de Klaus, você quer dizer...

-Isso é um sinônimo de sobreviver. – Ele suspirou – Todos os outros híbridos... Seus parentes os abandonam Nessie. Os odeiam. Se eu soubesse que eles te amavam tanto eu...

Ele balançou a cabeça, sem palavras. Assenti, baixando os olhos.

-O passado é o passado certo?

Perguntei, baixinho. Lizzie voltou correndo do banheiro.

-Os brinquedos não estão no banheiro! – Disse, ainda animada – Oh, onde estão Nessie, me mostre!

Pediu. Sorri, indo até ela e guiando-a até o meu quarto. O sangue de Elijah – que ainda manchava a entrada USB do meu pen-drive – maculava a brancura dos meus lençóis. Meus pais tinham simplesmente deixado a casa.

-O que houve aqui?

Sorri de leve, indo até meu closet.

-Foi só quando eu tentei assassinar Elijah na primeira vez que o vi. – Dei de ombros – Nada demais.


O silêncio foi tudo o que eu ouvi ao pegar o telefone. Suspirei, recolocando-o no gancho. Eu devia saber que Klaus iria cortar as linhas telefônicas e toda a forma de contato com o mundo exterior. Tão perto de todos que eu já conhecera... E ao mesmo tempo tão longe... Eu sentia como se pudesse apenas sair e correr até La Push sem aviso. Ou como se pudesse pegar um dos carros e ir até a delegacia levar uma rosquinha para Charlie. Suspirei. Era incrível como a liberdade era uma coisa engraçada e muito irônica.

-Hum, Nessie? - Elijah chamou. Virei-me para ele. – Onde eu vou dormir?

Perguntou baixinho. Lizzie decidira dormir no meu quarto, abraçada a uma centena de ursinhos de pelúcia cheios de poeira, na minha antiga cama. Mas eu me esquecera de que havia apenas dois quartos naquela casa.

-Ah, bem... Eu não...

Ele assentiu.

-Tudo bem. Eu vou até a casa grande ver se ainda há algum lugar para mim.

Meu coração apertou-se ao vê-lo baixar a cabeça e andar na direção da porta. Levantei-me, indo até a batente do quarto.

-Elijah. – Chamei. Ele olhou para mim, com aqueles tristes olhos azuis – Fica. Você pode dormir comigo.

Sugeri. Ele sorriu e leve e negou com a cabeça.

-Isso seria mais do que inapropriado.

Suspirei, revirando os olhos. Ele e suas malditas maneiras.

-No sofá então. Mas não vá para o sótão.

Ele suspirou e cruzou os braços.

-Porque não? Nós terminamos, lembra?

-Elijah... – Caminhei até ele, pegando seu rosto entre os meus dedos finos e pálidos – Eu ainda te amo do exato jeito que fazia antes. Quero você seguro, quente e feliz. – Disse, dando um tapinha de leve na sua bochecha – Vou pegar cobertores e você acende a lareira, está bem?

Fui até o armário do corredor para buscar um lençol e um cobertor. Voltei logo para a sala, deixando tudo no braço do sofá. Elijah voltava da cozinha com uma caixa de fósforos e uma garrafa de álcool. Ele se ajoelhou ao lado da lareira, abrindo o baú ao lado para tirar alguns pedaços de lenha, e gravetos para que o fogo pegasse, enquanto eu forrava o sofá, mais caro do que uma casa em um país emergente, para que ele dormisse nele. O silêncio entre nós era quase palpável de tão tenso. Suspirei, alisando o lençol distraidamente. As coisas não eram para ser assim. Mas eu não podia esperar que ele reagisse bem a nossa briga. Acho que eu me acostumara com Elijah aceitando tudo o que eu dizia. E agora que ele não o fazia, eu me sentia a vilã. Talvez eu a fosse.

-Nessie?

Sua voz me chamou de repente. Desviei os olhos para ele, assustada. Ele riu e apontou para o sofá. A lareira já crepitava suavemente.

-Você já terminou de alisar o lençol?

Perguntou, sorrindo. Eu olhei para a minha mão, que ainda deslizava suavemente pelo lençol, sem nenhum propósito aparente. Eu baixei a cabeça e me permiti rir por alguns segundos.

-Acho que... Acho que eu me perdi em pensamentos.

-Você acha? - Ele perguntou, indo até o braço do sofá e jogando o travesseiro no outro canto. Suspirei, me levantando e indo na direção do quarto. – Ei.

Elijah me chamou de volta. Virei-me para ele novamente, desesperada para que ele dissesse que entendia o que eu estava fazendo. Que me desse um sinal que sabia que aquilo era a coisa certa. Qualquer coisa.

-Você falou sério?

Perguntou, virando a cabeça de lado.

-Quando?

Perguntei me encostando à parede.

-Quando disse que ainda me amava do mesmo jeito.

Assenti, me sentindo quase insultada que ele tivesse pensado o contrário.

-É claro. – O silêncio voltou a se instalar entre nós. E as palavras presas na minha garganta me carcomeram até que eu tive a coragem de dizê-las - Nós sabíamos, Elijah. Nós sabíamos desde o início que eu e você... Não era certo. Sabíamos que eu estava destinada a outro e sabíamos que um dia ele viria...

-Mas ele não veio. - Argumentou, dando um passo a frente. – Ele não está aqui agora, está? Ele não te protegeu esses anos todos, Nessie, eu protegi. Onde ele estava esse tempo todo? Porque agora você está pensando nele? Aquele sonho foi... Um sonho!

-Não foi um sonho. – Disse, firme, dando um passo a frente. Eu podia sentir nos meus ossos. – Ele está na Casa. Ele está atrás de mim. E ficar com você, sabendo disso... É como se eu o estivesse traindo.

Elijah abriu os braços e soltou-os no ar, exasperado.

-Então é isso... Você só pode agüentar ficar perto de mim se ele esquecer de você? É isso que eu sou para você?! Um estepe?!

-Não! Elijah, não!

-É isso, sempre foi isso, e sempre será! Eu sou um estepe, uma segunda opção!

-Elijah, não!

-Calada! Porque simplesmente não pode me olhar nos olhos e dizer a verdade?! Eu te amo mulher, o que mais você quer de mim?

-Quero que pare de me pressionar! Você não tem ideia de como isso é difícil para mim!

-Difícil para você? DIFÍCIL PARA VOCÊ?! É sempre TUDO sobre você! Eu cansei de ser compreensivo! Você sabe como isso tudo é para mim? Você foi a minha primeira, Renesmee. Em tudo. Você foi a minha primeira opção, o meu primeiro beijo, a primeira vez que eu toquei alguém! Você foi uma das primeiras pessoas a me amar de verdade! Por você eu desisti de tudo! Eu desisti de... Eu desisti da minha irmã por você!

O mundo se congelou a nossa volta, e o vácuo que o silêncio repentino criou quase me engoliu por inteiro. O único som que se ouvia era o crepitar da lareira atrás de Elijah. O pânico tomou conta dos seus olhos azuis, e ele deu um passo atrás, tapando a boca, percebendo que havia contado o segredo que havia guardado tão bem. Retrocedi também, com lágrimas nos olhos.

-Rebekka. Você a encontrou... Como...

-Nessie, eu...

-ME DIGA COMO!

Gritei. Ele respirou fundo duas vezes, e passou as mãos pelos cabelos, nervoso. Havia mais.

-Na casa de Bonnie. Ela me encontrou.

-Então quando você disse... Que estava caminhando... – Pisquei algumas vezes, tentando imaginar porque Elijah teria qualquer motivo para mentir para mim, e quando ele se tornara tão dissimulado. – Ela queria te levar embora, não queria? Te dar a chance de fugir. - Ele assentiu, olhando para o chão, e fechando os olhos, como se não agüentasse me olhar. – E você não foi.

Conclui. Desviei os olhos para o chão, e tapei a boca, sentindo uma mão imaginária esticar-se para dentro do meu corpo e apertar meu coração com força. Fechei os olhos com força, pressionando o peito, encostando-me à parede e escorregando até o chão devagar. Ele passara 200 anos nas mãos de Klaus, sofrendo todos os tipos imagináveis de tortura, tendo dor infligida a ele, apenas pelo bel-prazer do vampiro, sempre imaginando a hora mais sensata de fugir. E finalmente, ele tivera a chance que tanto esperara... E então eu estava lá, como uma completa idiota, um bebê chorão que precisava de ajuda, lhe dando uma razão para ficar.

-Ei, eu...

-Por favor, diga que não fez isso por mim... Por favor, diga... Diga que eu não sou tão cruel... – Ele permaneceu quieto. Abri os olhos, encarando minhas mãos, que nem pareciam mais as minhas. Eu não era assim. Eu não magoava as pessoas. Levantei-me devagar, segurando-me a parede. – Porque você não me contou? Por Deus, Elijah, nós somos uma família! Nós confiamos uns nos outros.

Ele balançou a cabeça.

-Eu não queria que você sentisse o que está sentindo agora. Eu não quero. Você não precisa se sentir culpada.

-Mas eu sou! Eu sou culpada, e você sabe! Você podia ter ido... Se livrado e tudo isso e você ficou... E eu... E eu... - Respirei fundo, tentando conter as lágrimas. – Eu estou... Piorando tudo para você.

-Foi minha escolha. Você não sabia.

-Mas eu sei agora. – Respirei fundo, mas o ar simplesmente parecia não entrar nos meus pulmões – Elijah...

-Mamãe? - Chamou a vozinha assustada de Lizzie. Ela espiava a cena que se desenrolava na sala através de uma fresta na porta, escondendo-se, deixando apenas os olhinhos azuis a mostra. Lentamente ela abriu a porta e experimentou dar um passo a frente. Seus olhos examinaram a mim e a Elijah, como se não nos reconhecesse. – Vocês dois estava brigando?

-Brigando? – Perguntou Elijah, limpando a garganta – Não. Não Liz, só estamos conversando.

Liz o examinou e então olhou para mim e para ele de novo.

-Você ia embora? – Seus olhinhos se encheram de lágrimas – Você ia nos deixar?

Elijah fez que não e foi até ela, se ajoelhando e segurando seus ombros.

-Não, Lizzie, não. Eu nunca ia deixar você;

Ela bateu nele e o empurrou para trás, fazendo-o cair sentado.

-Você devia ter ido embora! Ai Klaus não ia poder mais te machucar! Porque não foi Elijah, você ia estar seguro! Você sabe o que eu faria para poder ir embora Elijah? Qualquer coisa! Qualquer coisa!

Gritou, fechando as mãos pequeninas em punhos. Deixei que uma lágrima escorresse pelo meu rosto. Não podia agüentar aquilo por mais nem um segundo que fosse.

-Preciso de ar.

Anunciei, cambaleando na direção da porta. O sopro frio lá fora me recebeu como a um velho amigo. Havia parado de chover, e a vida voltara a povoar as coníferas. Esquilos voadores se apressavam para voltar para casa antes que a chuva voltasse, e as cabeças dos pássaros espreitavam por cima de seus ninhos, apreensivas. Mas nem mesmo a serenidade daquele cenário foi capaz de aquietar minha mente que, enlouquecida, procurava alguém ou alguma coisa para culpar. Qualquer um, e qualquer coisa... Menos a ela. Caminhei cambaleante pelas árvores, tropeçando nas raízes até que uma me derrubou.

Meu primeiro instinto foi chorar, mas eu o segurei. Não era eu quem deveria estar chorando. Elijah. Eu sentia que o havia abandonado, mesmo que nada tivesse mudado para mim. Todas as minhas defesas estavam para baixo. Todos os meus argumentos haviam desaparecido de uma hora para a outra. E agora só havia a dor. A dor de ter feito sofrer aquela pessoa que estava lá para mim quando eu mais precisei dele. E eu o fizera de uma forma tão insensível... Argh, como eu podia ser uma pessoa tão ruim, se tudo o que eu queria era ser boa?!


Elijah

-Lizzie? Posso entrar?

-Não.

Ela respondeu, ríspida, cruzando os braços e encarando a porta do closet de Nessie com raiva. Suspirei, entrando mesmo assim. Ela olhou para mim raivosa e jogou uma pequena almofada em formato de coração na minha direção.

-É surdo, por acaso?! Disse que não podia entrar! Vai embora!

Gritou, encolhendo-se como uma bolinha, abraçando um dos bichinhos de pelúcia, uma pequena foca branca. A visão daquelas lágrimas pequenas escorrendo pelo rostinho rosado doeu em mim.

-Nós precisamos conversar Liz. Eu e você.

Ela me olhou de lado, sem dizer nada, enquanto eu sentava na cama ao seu lado.

-Você devia ter ido.

Disse, magoada, cruzando as pernas e olhando para a pequena foca de pelos branquinhos. Suspirei, pousando a mão em seu ombro. Ela olhou para mim, esperando uma resposta sincera. Acariciei-a com o polegar.

-Como é que eu ia conseguir viver lá fora sabendo que vocês estariam com Klaus? Alguém precisa proteger vocês.

-É mentira. Nós podemos nos virar muito bem sozinhas... – Disse orgulhosa, e então sua atitude dissolveu-se visivelmente a minha frente. Ela se aproximou de mim e pousou a mãozinha na minha bochecha – Você é o meu papai. E a Nessie é a minha mamãe. E eu quero ver vocês seguros.

-Eu sei. Mas eu vou estar seguro. E vou estar com vocês.

Seu olhar triste discordava.

-Você sabe que está mentindo. Não sabe?

Eu assenti, suspirando. Peguei-a no colo, e sentei-a sobre as minhas pernas, fazendo-a olhar diretamente para mim.

-Vocês duas nunca... Jamais terão a menor noção do quanto eu amo vocês. Eu esperei 200 anos, para encontrar a minha família. Não vou deixar vocês para trás nunca. Ou saímos todos... Ou não saímos nenhum.

Eu disse, sorrindo e leve e acariciando sua cabeça. Ela sorriu e abraçou meu pescoço com força. Abracei-a de volta, acariciando suas costas. Bem, Lizzie agora via o que eu via... Agora vinha a pior parte.

-Eu vou atrás da sua mãe, está bem? Você fique dentro de casa, onde é quentinho.

Ordenei. Ela se afastou e assentiu, puxando a foquinha para perto. Beijei sua testa e deixei o quarto, indo para a sala, onde a lareira continuava a crepitar, e a porta ainda estava levemente aberta, evidenciando a ausência de Nessie.


Nessie

Algo quebrou um graveto ali perto. Levantei o rosto, assustada. Devia ter caído no sono, ou algo parecido. Pisquei, esperando que meus olhos se acostumassem à escuridão. Olhei em volta, sobressaltada. Nada. Então fechei os olhos, e escutei, como fazia toda vez que ia caçar. Passos quase inaudíveis caminhavam lentamente pela terra, quatro patas, andando devagar e comedidamente, como se estivesse cercando uma presa, do outro lado do córrego que corria ali perto, que depois dava na fronteira, que era, talvez não coincidentemente, o limite da área que Klaus nos dava. Certa de que eu era a presa, pus-me de pé, olhando na direção em que ouvira os passos. E do meio das folhas e agulhas de pinheiro, um par de olhos amarelos me espreitou. Respirei fundo e dei um passo atrás, apavorada. Eu havia me esquecido como os lobos podiam ser grandes.

-Não.

Sussurrei, antes que ele desaparecesse no meio das árvores, fugindo.

-Nessie!

Chamou a voz de Elijah longe. Continuei paralisada por alguns segundos, procurando por Collin na escuridão, em dúvida entre segui-lo e fugir antes que ele pudesse contar meu segredo. Meus olhos encheram-se de lágrimas, e minha mente de um ruído ensurdecedor. Não podia me mover, não podia pensar, estava condenada àquela existência inerte e apavorada. Alguns minutos depois, ouvi Elijah se aproximar.

-Nessie... – Ele sussurrou, passando o braço pelos meus ombros – O que está fazendo aqui fora? Vai congelar... Não era para ter se afastado tanto... - Bronqueou. – Ei. – Ele notou minhas lágrimas – O que houve?

-Precisamos dar o fora daqui.

Disse, apavorada, agarrando-me as suas roupas.


No meu sonho, eu estava encostada à batente de uma porta de madeira. E não era apenas uma porta de madeira. Lá dentro, Billy estava de pé, colocando café em uma cafereteira. Foi quando vi que era um sonho. Lá fora, um menino brincava correndo na chuva.

-Jake! Jake, venha para dentro, meu amor!

Pedi. Ele olhou para mim com um sorriso infantil, e correu na minha direção.

-Mamãe!

Gritou, abrindo os braços. Levei um susto ao perceber o que estava acontecendo. Eu e Jake nunca faláramos sobre sua mãe. Era estranho que agora eu estivesse sonhando com ela. E então, Jake se tornou Lizzie, e dentro de casa, Elijah estava lá.

Acordei sobressaltada, olhando ao redor e respirando fundo ao perceber que estávamos no ônibus. Lizzie dormia ao meu lado, e Elijah no banco a frente do nosso. Acalmei-me, feliz por saber que já estávamos longe da Casa, e os lobos estavam seguros. Não sabia o que faria se aquelas pessoas que me acolheram tão bem quando eu era pequena fossem capturados todos por Klaus. Felizmente, ele jamais os descobriria. Puxei minha mochila do bagageiro e procurei com a mão dentro dela atrás de Caçadora, minha pequena raposinha, a única que poderia me acalmar naquele momento. Uma companheira de casa, que passara pelo mesmo que eu.

O desespero tomou conta de mim quando minha mão não encontrou seus pelos macios. Escancarei a mochila esquadrinhando cada centímetro com os olhos. Eu dormira abraçada à Caçadora na cama dos meus pais e tinha certeza de... Não... Não tinha certeza. Revi todos os meus passos daquela manhã e em momento algum me lembrei de tê-la colocado na bolsa.

Caçadora havia ficado para trás.


Jake

O Colorado já estava começando a me dar nos nervos. Aprendera a odiar cada centímetro daquele lugar. A Casa não oferecia mais pista nenhuma, além da coleira de Boi e do seu cheiro já minguante, mas isso não impedia os Cullen de passar dia e noite analisando-a, tendo conferências intermináveis uns com os outros, e as vezes, pararem para esperá-la, como se ela tivesse ido apenas no mercadinho da esquina e voltasse logo. Eu passava grande parte dos meus dias como lobo, correndo pelas árvores, caçando e uivando para os meus primos menores. Sentia falta de casa, de Leah e de Seth. Fora difícil deixá-los para trás, e agora estava ficando cada vez mais. Um lobo solitário é a coisa mais triste do mundo.

Então é claro que você pode imaginar a minha surpresa, quando Bella me apareceu com um celular na mão, e um olhar diferente.

-Jake, é Seth. Eles têm notícias.

Disse-me, com um fiapo de voz. Com um fiapo de esperança na voz. Transformei-me, alcançando o telefone e virando-me de costas para ela, e levando-o ao meu ouvido. Do outro lado da linha, Seth não parava de falar, animado, embaralhando-se todo nas palavras.

-O que? Seth? Fale mais devagar não consigo entender...

-Collin! Ele a viu, Jake. Ela estava aqui! Você precisa vir para cá, nós estamos rastreando a casa, vocês dois vão ficar juntos de novo, vai ser TÃO INCRÍVEL!

-Seth, com calma agora. Quando foi isso?

-Ontem a noite. Ela estava na floresta, perto do chalé. A casa está toda revirada. Tem uma pá de cheiros lá, mas estão indo embora. Você precisa vir para casa, AGORA!

Suspirei, espiando Bella por cima do ombro. Ignorando completamente minha nudez, ela sorria, ficando na ponta dos pés, ansiosa por ouvir cada palavra que meu irmão de alcatéia tinha a dizer. Sorri para ela, sendo contagiado pela sua alegria. Eu estava perto! Tão perto! “Estou chegando, Nessie, não precisa de preocupar!”

–Está bem, estamos indo!


À velocidade que íamos, chegaríamos em casa em pouco tempo. Não havia palavras entre nenhum de nós, mas o sentimento era obviamente unânime. Estávamos perto de encontrá-la, de por um fim àquele pesadelo interminável, e tê-la segura novamente, conosco. O alivio era quase titânico. Sentia-me em um estado leve, quase a ponto de flutuar do chão.

De repente, ao meu redor, parei de ouvir os passos leves dos Cullen. Parei, sentindo a terra contra a parte polpuda das patas e olhando ao redor. Levantei o focinho para farejar ao redor e virei as orelhas para trás a fim de escutar. Eles conversavam com uma voz masculina que eu tinha a certeza de nunca ter ouvido na vida. Corri para retornar até onde eles estavam. O homem possuía um porte médio, tinha cabelos loiros. E olhos vermelhos.

–Eu não pretendia assustá-los – Explicou, o homem, que mantinha um tom gentil e quase... Delicado. – Eu só estou procurando a minha filha.

-Sua filha?

Carlisle perguntou, curioso. O vampiro estranho assentiu.

-Minha esposa foi tirada de mim enquanto ainda estava grávida... Parece impossível, eu sei. Mas é a verdade, e há um homem que jura ter visto a minha menina. Disse que eles moravam aqui por perto.

Aproximei-me, considerando possibilidades.

Pergunte a ele o nome da menina, Pedi a Edward. Ele assentiu.

-Se me permite, qual o nome da sua filha?

-Elisabeth.

O homem respondeu, de pronto. Lizzie, pensei. Atrás da coleira de Boi, em uma letra ainda menor, mas não por isso menos caprichada, havia os escritos: “Propriedade da Lizzie”. Nessie não é a única, cheguei à esta conclusão. Perguntei a mim mesmo quantos mais seriam.

-Nós viemos da Casa - Disse Edward. – Mas não há ninguém lá. Seja quem for que levou sua esposa, levou nossa filha também. E estão fugindo. Estamos voltando para casa. Tem notícias dela lá.

-Vocês acham que... Talvez...

-É possível – Disse Carlisle, tocando o homem no ombro – Só há apenas um meio de descobrir.



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