Naquela noite, foi não foi fácil cair no sono, com milhares de perguntas arrebatando minha mente, perguntando-me se eu tinha feito a escolha certa, a mais sensata, de acordo com o contexto da minha situação. Mas por fim, o cansaço me venceu e pouco depois da meia noite, eu dormia feito um bebê, sonhando com pessoas amadas, porém distantes, e pessoas novas, próximas e se aproximando cada vez mais.

Lizzie

Nessie estava muito mais estranha do que o normal. Normalmente, ela era quieta, mas não parecia pensando. Estava só quieta porque não tinha nada para falar. Agora que pensava o tempo todo, eu não estava feliz, porque ela também não parecia feliz de ficar pensando o tempo todo. Imaginei se tinha alguma coisa a ver com a fotografia do moço bonito na mesinha de cabeceira dela – O hotel da Barbara, a minha Barbie fada. Eu costumo fingir que é o anúncio de uma nova temporada de alguma série legal, mas eu acho que ninguém olha tão triste assim para um anúncio.

Será que aquele moço a deixava triste? É por isso que ela pensava tanto?

Boi me cutucou com o focinho. Levantei a cabeça do travesseiro, espiando o quarto semi-escuro – Eu não dormia sem a minha luzinha noturna em forma de lua, cor-de-rosa, claro.

-Lizzie!

Chamou uma voz, bem baixinho, do outro lado da porta. Olhando em volta para ver se Nessie estava acordada. Ela continuava dormindo. Joguei minhas pernas para fora da cama e vesti meus chinelos, avançando devagar na direção da porta, com Boi em meus calcanhares.

-Rei duende, é você? Eu já falei que não vou casa’ com você até eu ser gente g’ande.

-Lizzie, sou eu, Elijah!

Elijah! Na ponta dos pés, alcancei a tranca da porta e virei a chave – A mesma que eu usava para abrir meu portal para o mundo das fadas- , depois virando a maçaneta. Elijah sorria para mim do outro lado do porta.

-Elijah! - Disse, baixinho, apesar da vontade de gritar de alegria. Estendi os braços e ele me pegou no colo. – A Nessie está dormindo...

Informei a ele.

-Eu sei, - Ele disse assentindo. – Eu vim falar com você, Liz.

-Comigo?

Perguntei, tocando meu peito, emocionada. Elijah nunca vinha me ver. Ele vinha ver a Nessie e só então brincava comigo. Ele assentiu sorrindo. Eu senti um cheiro delicioso. Ele tirou do bolso da camisa duas flores brancas. Uma delas tinha a letra E.

-São para mim?

-Uma para você, e a com a letra é para a Nessie.

-É uma su’presa?!

Perguntei, animada. Elijah fez que sim.

-Toda a noite eu vou vir aqui e vou deixar uma flor para vocês. É só você lembrar de deixar a porta aberta. Você vai lembrar?

Fiz que sim, ainda mais animada com toda aquela história. Ele me estendeu a minha flor.

-Aqui está minha Cinderela.

Cheirei a flor, como uma verdadeira princesa.

-Que cheiro gostoso! Qual o nome dessa flor, Elijah?

-Há quem chame de Vanilla, Liz. Mas eu chamo de Flor-De-Baunilha.

Ele disse, como se me contasse um segredo. Encarei as pétalas brancas.

-E é uma flor romântica?

Perguntei, tentando imaginar um príncipe escalando a sacada de uma bela princesa, desafiando a tudo e a todos, apenas para olhar nos olhos da sua amada e lhe entregar uma linda e cheirosa flor de pétalas brancas. Elijah assentiu.

-Eu acho que é. Você não acha, Liz?

-Cheira muito bem!

Eu disse, cheirando novamente.

-Amanhã eu vou trazer outra. E depois de amanhã e depois e depois. – Ele me entregou a flor com a letra – Não esquece de por na mesa de cabeceira da sua mãe, ok?

Fiz que sim, determinada a cumprir minha missão amorosa. Ele me pôs no chão e me afagou os cabelos antes de ir. Suspirei, entrando novamente no quarto. Deixei a flor branca em cima da mesa de cabeceira de Nessie, que dormia, respirando baixinho. Lancei um olhar bravo para o moço grande da foto.

-Você não vai mais deixar ela t’iste.